Um dos comentadores encartados - ouvi de relance, que me falta o fôlego para lhes acompanhar as maratonas - tecia há pedaço um fino discurso sobre uma federação Portugal e ilhas adjacentes, a propósito do Estatuto dos Açores. E que não o escandalizaria.
Julgo que sim. Com o Ultramar também faria sentido mas já é tarde. Além do mais, só pensá-lo é ignominioso sacrilégio. Pena é que os entreguistas de 74 tenham sido tão racistas, quando não o comentador estaria a defender agora briosamente uma federação Portugal-Berlengas. Isto se Portugal ainda existisse.
Redescobrir o sal, Padrão das Descobertas, 2008.
Fotografia de Nuno de Sousa, in Nuno Photo's Space.
Jakab Bogdány, Natureza morta com flores, [s.d.].
Óleo sobre tela, 48 x 113 cm, colecção privada.
Ouvi que o sr. presidente da República promulgou com alguns adjectivos o Estatuto dos Açores.
A Valsa das Flores e o quadro são da Web Gallery of Art.
Há dias ouvi num noticiário que apanharam umas mulheres em flagrante assaltando uma casa em Telheiras. Na notícia associaram as ladras ao bando que na noite de Natal assaltara mais de vinte casas em Lisboa. O método delas e do bando coincidiam: uso de radiografias ou cartões de plástico para abrir portas de residências só no trinco.
Sucede que na véspera, para ilustrar a notícia dos vinte e tal assaltos na noite de Natal, já noutro canal a jornalista Felgueiras sabia o método simples dos ditos "ladrões sofisticados". Até ilustrou a prática dos ladrões abrindo a porta duma casa de banho e tudo com um cartão e uma radiografia.
Oxalá ninguém se lembre de associar a jornalista Felgueiras ao bando.
Em 1985 comprei o álbum do Phil Collins No Jacket Required. A minha mãe enfastiava-se bastante do banzé que eu às vezes fazia sair do gira-discos. Quando ouviu o One More Night porém comentou-me:
- Essa do Mònai é engraçada. Põe lá outra vez.
Phil Collins - One More Night
(Ao vivo em Berlim.)
Procurei à senhora se tinha alguma história, alguma recordação de Natal. Não se lembrava de nada. Só lhe ocorria Bom-Bokas.
Bom-Bokas?! Era alguma história?
- Era um anúncio sobre a incompetência do Pai Natal.
Bom-Bokas. Oferta de misteriojuveni.com.
A história.
É meia desgarrada.
Em Dezembro de 87 fiz um périplo por terras do Sul. Umas conhecia, outras ouvira só falar, outras nem nada: - Odiáxere foi um nome estranho que aprendi. - Agora que puxei o fio à memória, 87 mostra-se-me como um ano completo, menos radioso e estival do que a sensação que me dá ao ouvir as velhas cantigas que povoaram o meu walkman. Devo ter sublimado as coisas a dado ponto...
O ano começara mal. Em Janeiro falecera-me o avô João e passada uma semana a minha mãe. Os estudos não marcharam; a tropa, inevitavelmente, interpôs-se. Em 88 entraria nas fileiras. Um desabono! Quando a Glória - acho que era Glória, a moça da Norma - me perguntou se queria fazer umas entrevistas no fim-de-semana - "É na província, ganha-se mais", disse - aceitei. - "Vais com o Orlando. Ele leva o carro e orienta o resto."
Quem era o Orlando? Como faria eu...?
Era um engenheiro reformado. Andava naquilo dos estudos de mercado para passar tempo, dizia a Glória. Apresentou-mo. - "Orlando Ferro. Muito prazer!" - e procurou acertar rapidamente as agulhas: - "Moro nos Olivais. Pode estar sábado de manhã a tal hora no Relógio?"
Ficou combinado. Ao pé da Shell.
À hora marcada havia outro freguês da Norma para se juntar a nós que vim ao depois por coincidência a reencontrar na tropa. Mas já lá vamos: às coincidências...
Abalámos à hora marcada e fomos bater Évora e a seguir Beja. De permeio demos num lugarejo qualquer nos arredores de Évora. Dali demos boleia a um magala até não sei onde - até uma estação de comboios, parece-me. Não me lembro por onde começámos o Algarve mas lembro-me bem onde pernoitámos. O Orlando levava-a fisgada: tinha alojamento na Aldeia das Açoteias; um apartamento de férias da família. Era Dezembro, podíamos pernoitar lá de graça e embolsar a diária por inteiro. Nada mau. Foi assim que fiquei a conhecer a Aldeia das Açoteias, afamada então pelo Cross das Amendoeiras em Flor e pelos estágios de pré-época do Sporting, mas já em início de decadência, via-se. Mais tarde vim a conhecer melhor o lugar, já em época estival, por causa dum namoro - mas não vem ao caso. Adiante.
O restante périplo resume-se ao fim e ao cabo pelo nome dalgumas terras algarvias - Odiáxere, incluida. A última cidade que parámos foi Ourique - curioso que também começa por 'o'. Ao depois deste périplo não soube mais do engº Orlando Ferro.
Em pequeno, dalguns passeios que dava, tinha juntado alguns postais. Sabendo disso, uma namorada do meu irmão - a que me deu o primeiro livro dos Cinco - viu-os e resolveu oferecer-me a colecção que tinha. Talvez se quisesse livrar dela. Eu gostei dos postais, eram muitos e de variadas terras; guardei-os numa caixa de sapatos. Ainda guardo. Há anos - já muito depois do périplo de 87 pelo Sul - vi que um dos postais da colecção fora circulado em 1978 para a Rua de Manhiça que é nos Olivais... Vede só a quem era dirigido!...
Não é isto, bem sei, conto nenhum de Natal, sequer há aqui uma moral da história. Há só que o mundo é pequeno.
Em todo o caso Feliz Natal!
Sete Cidades - As Lagoas, Açores, [s.d].
Postal circulado de Ponta Delgada para Lisboa no Natal de 1978.
António Balestra, Adoração dos Pastores, c. 1707.
Óleo sobre tela, 564 x 261 cm, São Zacarias, Veneza.
Um dos problemas de escrever este blogo há três anos é não me repetir. Porém o Natal repete-se todos os anos, tal como o hábito que tenho de enviar cartões de Natal à família mais distante. Sucede que é uma grande dificuldade encontrar cartões de Natal com o motivo óbvio. Já não há. Há do Pai Natal, do barrete do Pai Natal, de árvores de Natal, de gatinhos de Natal, de ursinhos de Natal, de sininhos de Natal, de prendinhas de Natal de bonecos de neve de Natal, de bolas de Natal, eu sei lá. Do Natal não consigo achar. Temo que já nem me esforce o devido a procurar porque, deveras, não acredito que ainda haja tipógrafo que saiba imprimir uma Sagrada Família ou o Presépio. Qual a razão de ninguém se dar conta que a representação do Natal não é ursos nem bonecos de neve?
Esta soa-me mais a Verão e a ir para o Sul. Vá lá perceber-se o porquê desta ideia. Fazia parte da casse-
te MCMLXXXVII. Vendo daqui, de 2008, não me lembro de 87 sem ser Verão...
Não! Minto. Há uma história curiosa de Dezembro, voltada a Sul...
António Pinho Vargas, Tom Waits
(Deixem Passar a Música, R.T.P., 1987)
Associação Protectora de Meninas Pobres, Rio de Mouro, 2008.
Em atravessando o Rio de Mouro, na antiga estrada de Sintra - a queirosiana, não a E.N. 249 que circunda a povoação pelo Norte - há uma casa antiga, fechada, que há muito me despertou curiosidade por causa duns azulejos que tinha diante que diziam algo que nunca conseguia ler bem. Há dois meses fotografei-os fugazmente do carro. Percebo o que diz o painel de cima, mas com a falta de jeito deixei aquele painel com a imagem oculto por trás do pilar do portão. Fui adiando um melhor trabalho mas agora é tarde. Hoje quando passei vi que foram todos tirados. Roubados, temo.
Provavelmente já só há meninas ricas, também!...
A partir de agora os dias começam a ser mais compridos. No resto (aquecimento global, arrefecimento do planeta em 2008) a doutrina divide-se...
Tricotar, Alcochete, 2008.
Crónica de Lisboa à roda dum prédio sem remédio. Há um ano e picos, esquecido já, na Cidadania LX. Lisboa está perdida. Ergue-se a cultura do vazio.
« Morei durante anos no nº 42 da Av. Duque de Loulé. O meu quarto era no 3º andar. Precisamente aquele que tem a porta aberta para a varanda. Era um prédio magnífico. Apenas o 1º andar tinha um cabeleireiro e uma habitação. Os ou-
tros apenas 1 habitação por andar. 10 assoalhadas, apenas 1 tinha janela para o saguão. Todas as outras eram viradas para as 3 ruas. 39 portas e janelas, 35 m de corredor. Nos anos 80 começou o êxodo dos lisboetas para as periferias. O presidente da Câmara autorizou a venda para escritórios de todos os prédios de habitação. Destruíram-se edifícios de grande valor arquitectónico para construirem o que hoje se vê. Das Avenidas Novas sairam milhares de pessoas. Na Duque de Loulé desapareceram os vizinhos, fecharam as lojas de bairro, os cafés mudavam para lojas de comida à pres-
sa e em pé. Deixou de passar o ardina que atirava o jornal dobrado para a varanda. Desapareceram as senhoras que ven-
diam fruta todo o dia em frente da mercearia da espanhola que passou a ser uma casa de comida rápida. Os passeios pas
saram a estar ocupados por carros todo o dia e vazios à noite. "O Noite e Dia" passou a ser uma outra coisa que só ser-
via a noite. Destruíram-se vivendas, abandonaram-se outras. Abriram-se portas. foi assim no nº 42. Os inquilinos do 4º andar morreram, as portas foram escancaradas e quando chovia, no 3º andar quase tinhamos que andar de gabardina e chapéu.
O coreto da José Fontana passou a ser armazém de garrafas vazias, abrigo de quem não tinha casa. A António Arroio mudou-se para as Olaias. O Camões esteve quase abandonado. A Escola de Medicina Veterinária mudou-se. O Monu-
mental foi arrasado. Ainda recordo a Laura Alves em frente dos destroços a gritar já louca. Fechou o Monte Carlo, o Mo
numental, a Paulitana (acho que era este o nome)... E desde os anos 80 ainda ninguém parou com a destruição de Lisboa.
[...] Criminosos!»
Comentário de V.M. em 11/12/07 às 4h10 da tarde. Imagem: Ciddania LX.
No edifício do Saldanha Residenso há o risco de derrocada dumas lages de revestimento da parede exterior. Não é risco sistémico, é só na frente que dá para a Av. Fontes Pereira de Melo. Há mais de dois anos a Câmara pôs um sinal de trânsito e umas grades bloqueando o passeio (Diário de Notícias, 8/4/2006). Calha a quem passa haver ali uma galeria com montras (e agora até é Natal) por onde se pode caminhar. Calha melhor o risco ali do que no lado da Rua Engº Vieira da Silva, por exemplo, onde não há galerias e as montras estão do lado do Atrium.
(Imagem do DN)
Se não me engano o Saldanha Residenso foi construído em 1999. Foi já no século passado, portanto não admira o mau estado. Mas pode ser que por dentro as casas não estejam a cair.
Ouvi que a electricidade vai aumentar não sei quantos por cento. Há quem diga que é pouco. Talvez seja. Con-
siderado o custo da matéria-prima...
Ventoinhas Mercedes, Serra de Montemuro, 2006.
Sociedades Reunidas de Fabricações Metálicas, S.A. (ou S.A.R.L.).
Vista quase irreconhecível da Reboleira. Distingo à esquerda a incipiente (pelos padrões de agora) mancha urbana da Damaia. O Forte do Monsanto recorta o horizonte. À direita o primeiro poste da catenária deixa semi-descoberta uma das casinhas do aqueduto.
A locomotiva parece-me da série 2500. E aqui confesso a minha ignorância. Haverá alguma metalurgia nacional que fabrique vagões, carruagens ou locomotivas?
Sorefame, Reboleira, post 1962.
Fotografia: Estúdio de Mário de Novaes (1933-1983), in Biblioteca de Arte da F.C.G..
A Moya Brennan (a irmã mais velha da Enya) diz: — «Esta canção foi cantada com um cavalheiro de Dublin. Esta noite vai ser cantada com um cavalheiro de Belfast». Por acaso o de Dublin já recebeu uma comenda de Belém num dos últimos 10 de Junho. Mas isso também o sr. Bernardo. — Berardo, digo. Bernardo era o meu bisavô. — Mas adiante.
O canto do moço de Belfast parece-me aqui e ali um tanto aquém, mas ainda assim a actuação é aceitável. Ou posso bem ser eu, porque sempre apreciei muito esta canção.
Clannad, In A Lifetime
(Ao vivo, 1998)
(Tempo colhido no Sapo.)
A seu tempo este verbete mostrará o tempo que estava hoje.
Comentador SIC, comentador TVI, comentador RTP e não comentadores da SIC, da TVI nem da RTP. Noto que o pendor da linguagem exprime uma realidade em rápida mudança: o atributo dos sujeitos funde-se neles. Mas não deveriam as normas de certificação mandar nestes casos usar um ferrete para lhes marcar os lombos? Comentador SIC-PSD, comentador SIC-PS, comentador SIC-Bloco e assim por diante... A bem da transparência dos mercados, também.
(Imagem do DN)
Corrigido às cinco para as onze da manhã.
Companhia das Lezírias, Ribatejo, [s.d.].
Fotografia: Estúdio de Mário de Novaes (1933-1983), in Biblioteca de Arte da F.C.G.
(Imagem da SIC.)
Notícia da inauguração do Cais das Colunas.
Onde a legenda diz que o monumento inaugurado agora tem três séculos. Onde a sra. jornalista peremptória diz que foi construído há precisamente 250 anos. Onde a dita sra. jornalista esquece o significado de 'cais' e descrê do velho alfacinha que lhe diz dos barcos que ali se descarregavam.
Onde - tem-te lá, vê se não cais das colunas - o sr. ministro das obras públicas presidiu à inauguração da vetusta obra distribuindo parabéns à cidade e à gente grada presente ansiosa por trepar para as colunas... Onde o sr. presidente da Câmara anunciou sorridente que o cais inaugurado ali irá pelo cano do novo colector de esgoto cujas obras começam no mês que vem.
Cais da fantochada. No Terreiro TMN do Paço.
(Imagem do Público.)
Como centro de mesa, serve para enfeitar.
Adamastor (O)
Apartado 53
Bic Cristal
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