No fim de contas cá me decidi poupar-me a maiores incómodos e mandei, sem regatear, vir o livrinho do Brito Camacho. Chegou hoje pelo correio. Quando abri o pacotinho alguém me comentou rápido e em tom jovial:
- Ena! Que livro tão velho!
- Psst! Saiba a menina que, pelo preço que custou, se trata dum livro antigo. Custasse dez vezes menos então sim, seria um livro velho.
« Espinho dá uma impressão de frescura, mas começa aqui a impertinencia da areia, como se a linha ferrea assentasse nas dunas, e a columna d'ar que o comboio desloca, marchando a sessenta à hora, as varresse para cima das carruagens. »
Brito Camacho, Jornadas, Guimarães & C.ª, Lisboa, 1927, p. 98.
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Ontem perguntaram-me: — Então, pá! E o Carnaval?
— Olha que foi porreiro, pá! Passei no McDonald's.
— ?!...
— A atender-me havia uma cachopita com a cara pintada a fazer de bigodes e de barbicha. À Dartacão. E lá sentados a comer vi uma data de gigantones. Poupei-me de ir à Mealhada ou a Torres, vê lá tu!
McDonald's, Estrada de Mem Martins, 2008.
O sr. dr. António Costa satisfaz-se por lhe aceitarem, entre outras ideias, a da diminuição da altura da ponte a construir em Marvila por forma a [já não se diz 'para'?] diminuir o impacto visual da obra. Uma preocupação estética mui louvável do sr. presidente da Câmara duma cidade onde só se admitem edifícios com menos de 3 andares nas mais emblemáticas avenidas por motivos... estéticos?!...
Tela publicitária, Lisboa, 2008.
Rua do Alvito, Lisboa, [s.d].
Augusto de Jesus Fernandes, in Arquivo Fotográfico da C.M.L..
Soube há dias da edição recente duma espécie de jornadas em Portugal escritas por duas senhoras estrangeiras: Ann Bridge e Susan Lowndes (Duas Inglesas em Portugal: uma viagem pelo país nos anos 40, Quidnovi, [s.l.], 2009). Foi escrito no Verão de 1947 a pedido dum editor inglês para ser publicado como guia de viagens (The Sellective Traveller In Portugal, Evans Brothers, London, 1949). Resolveu a editora Quidnovi (que não actualiza a sua página na rede da Internete) publicá-lo agora cá, sessenta anos depois, mas parece-me que em boa hora; apesar de como guia estar fora de prazo, como documento histórico deve estar já suficientemente maduro. Não sei se não será livro monótono; encomendei pela Rede uma 1ª edição inglesa (encadernada) que, incluindo portes, não me chega a custar £ 9.00 (uma edição de 1967, também encadernada, acha-se na Rede a £ 2.00 + portes). Pela bitola dos cifrões - que parece ser a que mede tudo hoje em dia - custa menos ler o bárbaro que o Português... Desgraçadamente desta vez enveredei por essa via.
A edição portuguesa custa € 15,90.
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Sobre jornadas doutros tempos em Portugal, descobri excertos das de Brito Camacho no blogo da Rua Onze (mudou-se da Rua Nove). Não conhecia e suscitou-me a obra interesse - as impressões que ficaram do Portugal antigo são deveras deliciosas. Como a limonada...
in Brito Camacho (1862-1934), Jornadas (1927).
Descobri um exemplar destas Jornadas num alfarrábio do Porto. Hesito em comprá-lo porque me parece caro. Não cuido que seja livro tão raro assim; e comparando com edições de livros novos...
Tenho ideia que dantes encontrava edições antigas a muito bom preço nos alfarrábios e que foi por ter tal deixado de acontecer que se espantou cá o freguês...
Em «A Ponte de Alcântara e suas circunvizinhanças. Notícia histórica» (separata do nº 18 de Olisipo, Boletim do Grupo «Amigos de Lisboa» - 1942), escreve o engº Augusto Vieira da Silva o seguinte:
Nos terrenos conquistados ao Tejo [em Alcântara] acham-se abertas muitas vias públicas, das quais a mais importante é a Avenida da Índia, começada a construir há muitos anos, sendo o último troço a concluir-se o que vai desde a actual Avenida 24 de Julho até à actual Rua do Cais de Alcântara.
[...]
Desde a Avenida 24 de Julho até à muralha do cais de Alcântara, do lado oriental da via férrea e da cobertura do caneiro, ao lado das oficinas da Câmara Municipal, e daí até ao Tejo, rasgou-se uma rua a que primeiro foi dado o nome de Rua 14 de Maio (*), e hoje se chama do Cais de Alcântara (**).
Rua do Cais de Alcântara; cruzamento com a Avenida da Índia, Lisboa, 1940.
Eduardo Portugal, in Arquivo Fotográfico da C.M.L..
Nota:
O artigo mencionado encontra-se também publicado em Augusto Vieira da Silva, Dispersos, vol. III, Publicações Culturais da C.M.L., Lisboa, 1960, pp. 73, 74. Os asteriscos no excerto remetem para as notas 46 e 47 no pé da p. 74 da ob. cit., a saber:
(*) Deliberação da Comissão Executiva da Câmara, 9 de Julho de 1915 , e edital de 19 do mesmo mês. Em sessão camarária de 14 de Fevereiro de 1937 propôs-se denominá-la Rua do Marquês de Marialva; é esse o nome que por lapso puzemos no nosso mapa V, e que deve ser rectificado para Rua do Cais de Alcântara;
(**) Deliberação camarária de 12 de Agosto de 1937, e edital de 19 do mesmo mês.
A ponte tinha a direcção dos carris da linha dos carros eléctricos, e o seu arco normal àquela linha, fica por debaixo da segunda carroça que se vê na gravura.
Augusto Vieira da Silva, «A ponte de Alcântara e suas circunvizinhanças; Notícia histórica», Dispersos, vol. III, Publicações Culturais da C.M.L., Lisboa, 1960, p.43.
Sítio da ponte de Alcântara, Lisboa, 1941.
Eduardo Portugal, in Arquivo Fotográfico da C.M.L..
No vale da ribeira de Alcântara, entre a calçada do Baltazar e o caminho das Pedreiras, cortado pela ribeira, o sítio de Santana parecia um lugar aprazível. Dez anos de progresso fizeram-no evoluir assim, conforme as fotografias ilustram. As duas últimas foram tiradas da pontezinha sobre a ribeira que vedes no canto inferior esquerdo da primeira da série...
Vista geral do sítio de Santana, Vale da Ribeira de Alcântara, 1939.
Largo de Santana, Vale da Ribeira de Alcântara, 1944.
Idem, 1949.
Entretanto sumiu-se do mapa.
Fotografias de Eduardo Portugal, in Arquivo Fotográfico da C.M.L..
No intervalo aqui da arrumação de papéis.
Mercado de Alcântara, Lisboa, 1939.
Eduardo Portugal, in Arquivo Fotográfico da C.M.L..
O psi-20 estava esta manhã a perder zero vírgula vinte por cento. Se fosse zero vírgula duzentos por cento pareceria o cenário 10 vezes mais negro, não é verdade?
Um parâmetro para o I.N.E. levar em conta para medir o clima de confiança económica.
Panorâmica do clima sócio-económico da rua cá fora tirada do I.N.E., Lisboa, 1935.
Eduardo Portugal, in Arquivo Fotográfico da C.M.L.
My Fair Lady, 1964.
...
Principalmente mas nem toda...
Alguma água baldeou para o saco de plástico. O Mapa Espanha 2009 traz a legenda FRANCIA em espessa (ou expessa) letra garrafal; a legenda PORTUGAL nivelou pela escala das províncias de Navarra, Aragón, &c.
O meu bom amigo Fernando C., português de boa cepa, ficou contrariado. Mas dá-se que as tipografias do rectângulo fecharam quando Portugal acabou. E o Expesso (Expesso, exactamente) se soubesse geografia escrevia-se talvez com mais propriedade em crioulo em vez de andar a boiar na enxurrada.
Ao Lisboa S.O.S. pelo apreço, com pedido de desculpa pelo plágio inadvertido [sim, é possível]. Só me dei conta agora, que ponho a leitura em dia. Mas obrigado principalmente pelo profundo retrato íntimo de Lisboa. O labor do Lisboa S.O.S. é duma força inegável no presente (uma prova, entre outras, é que o Saldanha foi deixado em sossego) e um monumento inestimável para memória futura.
À Gigi de Verde Água que simpaticamente acha esta blogo maneiro. É um bonito elogio que muito orgulhoso me deixa. Todavia peço escusa das regras 5 e 6 (cf. remissão) e em alternativa à nº 3 junto o blogo Verde Água à lista das ligações preferidas aqui à margem.
Ao estimado Dr. Engº porque nomeou este blogo de notas um dos que gosta mesmo. É recíproco. Junto-o às remissões à margem pedindo desculpa por não lhe ter chegado a agradecer (parece-me) o prémio dos dardos há algum tempo.
Ao prezado confrade João Távora do Risco Contínuo a pública nota do seu interesse por este alinhavo de palavras que me brotam às vezes da ideia.
A ordem da enumeração foi a da frescura no Technorati e não outra. A alguém que eventualmente me haja escapado peço desculpa por não haver reparado. São bem-vindos a apresentar reclamação.
E por agora é só mais isto:
O bama da América honrou SS. Exas. de cá com uma cópia da minuta n.º 2 do copiador lá da chancelaria. Que bem! Mandem-lhe as Nossas Exas. um galinho de Barcelos e um convite para as comendas do dia da raça para mostrar como, em bicos de pés e prostradas à boa imprensa, SS. Exas. de cá podem ser magnânimas.
(O galo é do via Gasolim Ultramarino.)
The Turtles - Happy Together
(1967)
Há aquele jornalista que parece que tem uma casa da Câmara, que fez moda da frase: - Onde estava vossemecê no 25 de Abril de 74? |
Pois eu tinha um vaso com terra e uma saqueta de sementes que me custou € 0,25. Adiava a semeadura, que jardinagem não é comigo, e há oito dias a tia Idalina mandou-me buscar as sementes. Deitou-as à terra e regou. O vaso quedou-se na varanda voltada ao Norte até que quinta-feira sem novidade; resolvi mudá-lo para uma janela cheia de sol. Reguei. Hoje admirei-me de ver tantos rebentinhos brotando da terra.
Se florir passa este honorariamente a... blogo de cheiros?
Alcochete, 2008.
O meu gosto por música pop já definha desde os anos 90. Pela música pop nova, a que foi aparecendo, porque a dos anos da adolescência perdurou algo (e sobra alguma) ainda cá no gosto. Declínio de qualidade? Declínio dos artistas? Da música? —Ou velhice? Declínio meu, portanto...
A verdade é que caminhando para o fim do século cada vez menos artistas novos seduziam e dos da juventude, cada vez mais iam cansando. No virar do século julgo que não havia sequer uma mão-cheiinha de artistas pop novos com cantigas do meu agrado... A música pop tem este quê efémero; no fim restam talvez as que transportam a carga dos afectos mais marcantes. Passada a idade das vivências à flor da pele torna-se gradualmente indiferente quase tudo o que surja... Como tudo, de resto, o que nos chega em doses industriais.
Esta foi das últimas novas artistas que apreciei. Já lá vão quase quê? Dez anos...?
Outro sinal de velhice.
Dido - Here With Me
Anteontem foi o dia de doutrinação europeia para Internete segura (consciencialização é como o dizem brandamente). Como manda o figurino, os doutrinadores de serviço acotovelaram-se em reportagens nas escolas a propósito de as criancinhas andarem na Internete como a Leonor que ia para a fonte: formosas e não seguras. Uma professora entrevistada para a rádio infirmava das conversas dos alunos uma atitude incauta na Internete e expunha-o no melhor português que conseguia: - "Eu vejo eles dizerem..."
1) O jornalista comentador Camilo Lourenço dizia esta manhã [ontem] no Rádio Clube que a Igreja não deve dar aos fiéis orientações de voto. Talvez o jornalista Camilo Lourenço e os outros jornalistas comentadores devam ser eles a orientar as orientações da Igreja aos fiéis. A doutrina agora é daqueles e de mais ninguém.
2) Formidável do princípio ao fim a entrevista do dr. Pires de Lima ontem [anteontem] à Ana Lourenço, a jornalista com a mais sóbria compostura da televisão (branda colocação de voz, sem atropelos aos interlocutores). Se parecer que exagero veja-se o nível do debate parlamentar...
3) Ouvi que um jornalista escreveu um livro - "Seja Mais Esperto que a Crise" - ensinando como evitar gastos supérfluos. Cuido que poupar em livros oportunistas de ciência duvidosa seja conselho contido no dito livro.
Com prefácio do professor Marcelo, pois claro.
4) Graças a Deus o governo do sr. engenheiro Sócrates decretou hoje e amanhã [ontem e hoje] em Lisboa céu azul e sol radioso.
Monumento aos heróis da Guerra Peninsular atrás da publicidade, Lisboa, 2008.
Adamastor (O)
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