Parafraseando o Dragão, podem gravar na pedra, porque é dito por um americano.
Na continuação, o autor diz:
Em 1965, quatro anos desde o início da guerra, o orçamento da defesa atingia 48% do orçamento geral do Estado. Comparando, este valor superava o doutras nações europeias, do Canadá, ou dos E.U.A.; o segundo mais alto era o dos E.U.A., 42%, seguido do do Reino Unido, 34%. Os analistas, porém, tendem a descurar o contributo das províncias ultramarinas na sua defesa. A soma dos recursos ultramarinos permitiu a Portugal não só poder despender mais como sustentar a defesa por 13 anos. As três províncias contribuíam em 16% do orçamento de defesa no fim do conflito. Este contributo, assim como a ponderação económica do Ultramar, significa que Portugal despenderia na defesa, em média, sòmente c. 28% do seu orçamento, com um pico de 34% em 1968. Estas percentagens mostram um gasto imediato mais sustentado e põem Portugal equitativamente a par dos orçamentos de defesa nacional doutros países. Deve também notar-se que grande porção do orçamento de defesa se destinava a programas de benefício aos povos, na saúde, na educação e na agricultura, contribuindo directamente para o fomento económico da África portuguesa.
(John P. Cann, Counterinsurgency in Africa;The Portuguese Way Of War, Helion, 2012; traduzi eu.)
(*) Para paladinos do novo primado civilizacional da Economia na vida das poleis.
Marcelo Rebelo de Sousa, há pedaço, disse que já leu o livro do Sócrates e que lhe parecia ser ele o autor.
Ele também me parece que o farol de Portugal leu a lista telefónica toda e gostou muito.
(A lista de Marcelo outrora na periférica.)
Esta contou o Carl Sagan. Certa vez, quando os astrónomos viraram os telescópios para Vénus, observaram o planeta coberto por uma camada de nuvens. Por mais que olhassem não viam senão nuvens. Naturalmente supuseram que Vénus teria muito vapor de água. Com vapor de água a cobrir todo o planeta, natural era que a superfície fosse húmida, pantanosa. Ora em havendo pântanos, havia de talvez haver cobras, crocodilos e répteis assim; quem sabe dinossuros, até...
Bem... Observação: não se vê nada. Conclusão: dinossauros.
Uma que se lhe assemelha contou o prof. Hermano Saraiva do duque de Saldanha. Disse ele que o Saldanha não tinha uma única ideia na cabeça. E como não tinha ideia nenhuma na cabeça podia ter todas. Viu-se nas saldanhadas todas que armou na sua longa carreira político-militar, sempre por ideias sopradas àquela cabeça de vento...
Aos Alpes:
Quando soou que se despenhara um avião nos Alpes ouvi logo pegada à notícia uma certeza de que não fôra terrorismo. Sabia-se ainda e só que se despenhara o avião, mas foi imediatamente certo não ser terrorismo.
Pois bem, do que já disse tiro daquela máxima de não haver nada nas cabeças que, havia ela de dar para admitir tudo, até revoluções ou dinossauros... -- Mas terrorismo, não, não...
Dizem agora que foi demência. Que é afinal o terrorismo?
E que será entretanto isto?...
Répteis à cata de souvenirs nos Alpes?!...
Fotografias: Caixa negra (gravador de comunicações do cockpit) da Reuters; répteis in Bamada.net, 2015).
Há anos publiquei um gratificante comentário do Sr. Artur Goulart, autor de inúmeras chapas no Arquivo Fotográfico da C.M.L. que tanta vez aqui mostro. Foi um extraordinário encontro. Mas único e sem sequência.
Esta manhã recebi um pedido da Sr.ª Ana Saraiva, investigadora do arquivo municipal, procurando-me elementos biográficos ou alguma forma de contactar o Sr. Artur Goulart. Infelizmente não possuo nem uns nem outra. Naquela única vez que o Sr. Artur Goulart me comentou cá não deixou contacto para resposta.
Considerando o caso, o melhor que posso fazer para ajudar é publicitá-lo aqui. Oxalá haja resposta.
Rotunda, Lisboa, c. 1960.
Artur Goulart, in archivo photographico da C.M.L.
Tenho visto representações anacrónicas de muitas cenas históricas, como nos quadros de Manuel Ferreira e Sousa dos passos da vida de Santa Joana Princesa (em cima) ou, como neste (à direita), de João Baptista Pachim, representando Santa Joana com o Menino. Nestes exemplos temos figuras notoriamente barrocas representando em cenas do séc. XV. Tenho ideia que tal sucede por simples perda da memória. Nos exemplos dados medeiam dois séculos entre as histórias e a sua representação, mas no mínimo basta uma geração emudecer para a seguinte acabar surda. Foi o que aconteceu ontem numa notícia da Rádio Renascença à 1h15 da tarde sobre a mudança do Museu dos Coches. Ao landó real chamou a locutora repetidamente landau por erradamente ler à portuguesa o étimo francês. E a pronúncia esquecida côche, ensinada pelos dicionários ainda há uma década ou duas, tornou-se já cóche, com a legitimação do erro a ser-nos servida sem justificação pelo lamentável Priberam. |
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(Texto revisto a 1/4 para as sete da tarde.)
Hoje é dia da Meteorologia, dizem-me na emissora. O almanaque diz-me que é dia de São Toríbio de Mogrovejo, mas como agora o missal é pagão, vale o outro... -- Que celebrem, pois, então, a Meteorologia e por ela libem agora aí oficiosamente os novos entes pagãos Mar, e Atmosfera, e o Ambiental, e as fontes, e os pássaros, e... -- E pois, bem, que o façam, mas ponham-lhe acertado sincretismo, como o bom povo sàbiamente faz e todos entendem; celebrem a Meteorologia em dia de S. Pedro ou de Santa Bárbara e não em dia de São Toríbio. Assim é que era democrático (outro deus). E inteligente. Mas estou a pedir de mais, não?...
Vista érea sobre o Campo Grande, Lisboa, c. 1934.
Pinheiro Correia, in archivo photographico da C.M.L.
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Vista aérea da Avenida, Rotunda, Parque Eduardo VII &c., Lisboa, c. 1953.
Abreu Nunes, in archivo photographico da C.M.L.
Natalia Pikoul (piano e arranjos), Richard Tomes (violino), Canção da Primavera n.º 1 (Francisco Filipe Martins)
(Concerto na Biblioteca Joanina, Coimbra, 26/10/2013.)
O Dia do Pai é mais uma dessas derivas com omissão do santoral e propaganda ideológica de novos missais.
Esta manhã a progressista emissora nacional apregoava no éter o corolário a que chegámos: fundada numa reportagenzeca de encher jornal (cf. Marta Cerqueira, «Pais do século XXI são afectuosos, mudam fraldas e dão a papa», jornal I, 18/III/15), o dia do pai resulta já em, nada mais nada menos, que... emancipação da mulher.
O pai de João Miguel Tavares nunca mudou uma fralda [...] A «parte chata» de dar papas, escolher a roupa, pôr a dormir e dar banho é dividida de forma quase igualitária com a mulher: «Digo quase porque a mulher continua a mandar mais dentro de casa.»
Ora bem!... Levem lá a bicicleta.
(A bicicleta como naperon da emancipação da mulher em...)
É setor. Parece que dá aulas ao pescado.
(Fotografia do setor peixe, in Mundo Português, 20/III/15.)
Vão ampliar a casa de Camillo, ouvi na emissora 2 esta manhã. Já lhe haviam encolhido o nome -- Camillo passou a Camilo, Castello a Castelo e o Branco acha-se sujo com grafias cada vez mais absurdas. -- Agora ampliam-lhe a casa. Leio no «Público» que para mais acolhimento a visitas e ampliação do «serviço educativo a crianças».
Bom! Eu do que queiram ensinar de Camillo aos meninos pequeninos não sei; sei é o que deviam ensinar ao locutor da emissora 2 que disse haver sido nesta casa que Camillo escreveu grande parte da sua obra incluindo o Amor de Perdição.
(O recorte pejado de erros é da Casa de Camillo ponto org.)
O que está por provar é que não sejamos animais.
Tem graça. Ruy Ribeiro Couto, Olegario Marianno, José de Sá Nunes, um deles ou outro da delegação brasileira que negociou o Acordo de 1945 foi célere em cantar vitória num telegrama do Rio de Janeiro publicado pelo Diário Popular de Lisboa em 22 de Dezembro de 1945. Se temos hoje inquestionada a grafia «perguntar» (pràticamente só brasileira em 1945) foi por imposição brasileira. Do genuíno e generalizado «preguntar» português («90% dos portugueses -- cultos e incultos preguntam» -- V. B. de Amaral, «Bases da Ortografia Luso-Brasileira», p. 18) não há nem memória, salvo nuns iletrados populares que falam como dizem e pronto. Outro capricho brasileiro deu-nos, aos portugueses, em 1945, «quer» por «quere», «cacto» por «cato», «tecto» por «teto», «corrupção», por «corrução», «aspecto» por «aspeto». E se damos alvíssaras e não «alvíçaras» a tantas destas coisas devemo-lo ao Dr. José de Sá Nunes, que chefiou a delegação brasileira para fixação da ortografia em 1945. Devem ser estas as regras mais próximas fònicamente dos portugueses que à boca cheia se apregoam e repetem.
Pondo doutro modo: 1) muitas das consoantes abominadas pelo caco gráfico de 1990 foram reintroduzidas na ortografia da língua portuguesa em 1945 por causa dos brasileiros; por causa da fala dos brasileiros, que as pronunciavam e pronunciam e, por conseguinte (bem), não abdicaram delas; os portugueses submeteram-se; 2) o vetusto vernáculo preguntar dos portugueses foi extirpado do português correcto e respeitável (e em poucas gerações do falar popular, até) porque... Enfim, porque os brasileiros dizem pêr-gun-tar!
Estes são singelos exemplos. Mais haveria.
E daqui remeteu-se Portugal a uma dignidade serôdia mantendo uma ortografia com regras fabricadas em larga medida em 1945 por brasileiros que logo as renegaram com pregão à falsa fé, até hoje, de ser aquela uma ortografia... lusitanizante! -- Pois não havia de sê-lo nada, nem um só pedacinho?!...
E para cúmulo flagelar-se disso Portugal por complexo de não sei quê, rebaixando-se a uma indignidade imprópria por tornar ainda a negociar com os párias do português, tomando-lhe agravos como se nada fossem, indo a ponto de descurar o valor diacrítico das consoantes etimológicas para a linguagem escrita e falada dos portugueses apenas e só porque os brasileiros esquizofrènicamente as desprezam como desprezam o que seja português.
Se não é isto mania, fixação obstinada, prazer mórbido em servir de capacho, não sei o que seja.
O presidente parece que farejou (salvo seja) a pré-campanha e resolveu dizer que não entra em lutas partidárias. -- Por acaso teve razão, o olfacto não no enganou. -- O seu caso é que, ventilando lá o que ventilasse ou calando ali o que houvesse, não tinha como não cheirar também. Odores que há muito nos chegam democràticamente ao nariz. Normalmente antes de impostos...
Revolução dos Cravos Grande Acidente Nacional, Lisboa, 1974.
Henri Bureau, in Corbis.
Tom Jones, Fly Me To The Moon
(1969)
«Em 1 de Março de 1565 [Estácio de Sá] funda a nova cidade de S. Sebastião do Rio de Janeiro na terra firme, em lugar em que há água e com acesso próximo a mantimentos (História da Expansão Portuguesa, v. 1, 1.ª ed., Círculo de Leitores, 1997, p. 211).»
É um facto. A data de fundação do povoado de S. Sebastião na baía de Guanabara foi em 1 de Março de 1565. Dele elaborei há 8 dias um tanto sobre aparentes contradições: Rio de Janeiro em Março; S. Sebastião, cujo dia se celebra em 20 de Janeiro, para orago dum povoado fundado... em Março; confusão de rio com baía (de Guanabara).
*
* *
O rei de França teve pretensões a um império à custa dos portugueses e cobiçou o Brasil. Por 1555 Vilaganhão guiou uma expedição; com um punhado de colonos que não sabiam bem se eram calvinistas ou católicos, mas que eram na essência ex-presidiários, levantou uma paliçada na ilha das Palmeiras, uma ilha sem água na baía de Guanabara. A História chamou ao grande feito a França Antárctica.
Da sua efémera história rezam as crónicas do fervor religioso de Vilaganhão que obrigava os colonos que se naturalmente juntavam com nativas a casarem-se catòlicamente e, ao mesmo tempo, forçava os Tamoios a acabarem com a sua tradicional antropofagia. Como reforços ao esforço civilizador recebeu de Genebra uma seita de calvinistas. As lutas religiosas entre católicos e protestantes em França replicaram-se na França Antárctica...
Pois, Estácio de Sá foi lá e deu uma vassourada naquilo. Os franceses que se safaram fugiram para a mata (não rezam as crónicas de os Tamoios os cozinharem), mas para segurar definitivamente o lugar nas mãos dos que o descobriram e baptizaram em 1502, fundou então Estácio de Sá o povoado de S. Sebastião, entre a Cara de Cão e o Pão de Açúcar. Foi isto em 1 de Março, como já ficou escrito. Chamar S. Sebastião ao povoado talvez se explique nalguma lenda encoberta...
Não curo agora de saber se é do tempo desta vassourada nos franceses a lenda das Águas de Março, mas sei que é dele a lenda da garota de Ipanema.
A lenda é que foi um gaiteiro de Miranda que ia na armada do Estácio de Sá em 1565 que, enamorado da bela filha do chefe dos Tamoios, compôs a famosa cantiga. Como os marotos dos Tamoios andavam aliados aos franceses contra os portugueses foram todos colonialmente dizimados e aí o nosso gaiteiro desistiu das cantorias, desencantado de amores impossíveis. -- Càiu nà rèau, né! -- Os pergaminhos em que escrevera a notação musical da cantiga enterrou-os num baú no areal de Ipanema juntamente com um fio de cabelo da amada e umas libras de Tours pilhadas aos franceses. E lá ficaram até quando um cão desenterrou nos anos 60 o baú e apareceu com ele na boca diante do Vinicius e do António Jobim que desfaziam a sede e o calor com uns chopes no bar do Veloso, à esquina da Rua do Montenegro em Ipanema...
As moedas deram à justa para pagar mais uma rodada.
As imagens do ataque português ao forte de Vilaganhão (Autor anónimo, 1567) e Rio de Janeiro em 1844 (Alexandre Cicarelli) são da enciclopédia coiso.
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