Faz-te mercê, barão, a Sapiência
Suprema de, cos olhos corporais,
veres o que não pode a vã ciência
dos errados e míseros mortais.Os Lusíadas, X, 76.
Renato Epifânio tem uma coluna n' O Diabo: «A Via Lusófona». -- Só este nome...
Renato Epifânio publica esta semana uma «Carta Aberta ao Ministério da Educação do Governo de Portugal» (O Diabo, 23/VI/15). Saúda, em associação à Associação de Professores de Latim e Grego, a pretensão do dito Ministério de desenvolver um projecto de Introdução à Cultura e Línguas Clássicas. -- Note o benévolo leitor bem: a pretensão de desenvolver um projecto de Introdução à Cultura e Línguas Clássicas... -- i.é, a vontade (uma ideia) de um projecto (outra ideia), a ser desenvolvido (que não existe senão em ideia, portanto), ao que se seguirá levar a cabo a introdução duma disciplina (a realização, finalmente...) de... Introdução à Cultura e Línguas Clássicas. Não será pròpriamente uma disciplina de Cultura e Línguas Clássicas, mas uma disciplina de Introdução, um intróito em jeito de sucedâneo.
Menos mal. À falta da mestria (i.é, saber consolidado com aptidão de fazer obra e que se traduz em português pelo poético know-how), saúde-se, pois, a funda elaboração teórica da ideia duma vontade de fazer um projecto de ensinar pela rama cultura e línguas clássicas aos meninos da escola primária. Ou do ensino básico...
Renato Epifânio afirma (bem) que Portugal deve preservar a sua matriz cultural... contrariando uma certa inércia para o esquecimento histórico, bem patente, por exemplo na diluição da raiz etimológica de grande parte do nosso vocabulário que o novo acordo ortográfico propõe.
Na última parte, porém, é que Renato Epifânio é fraquito: a certa inércia para o esquecimento histórico não é inércia, é trabalho empenhado de apagar a memória histórica; e tal labor é (tem vindo a ser) levado a cabo com afinco; quem dera fosse, como lá atrás, mero pregão da pretensão de desenvolver um projecto de -- neste caso agora -- esquecimento histórico (não passaria de uma ideia...) E somando-lhe a diluição da raiz etimológica de grande parte do nosso vocabulário não é, como o Epifânio diz, o novo acordo ortográfico que propõe; o verbo é mais imperativo e o seu agente é feroz e empenhado no propósito: é como o Governo de Portugal e o respectivo Ministério da Educação -- a quem Renato Epifânio se meigamente dirige -- ditam, impõem.
Renato Epifânio afirma ao depois (bem, também, mas todavia aquém...) que Portugal deve renegar a saloiice de atitudes como a do bom aluno europeu que sucessivos governos assumem (pior, digo eu, fomentam e elegem em doutrina) a olhar de baixo os restantes povos europeus, concluindo que, não temos, em suma, de sentir um complexo de inferioridade em relação a qualquer outro povo deste nosso comum continente.
Muito bem, muito bem! Mas... mal se enxerga Renato Epifânio. -- Que faz ele para aí com o qualificativo «lusófono/a»? -- Não encerra este termo todo um sentido de diluição e complexo de inferioridade em relação a qualquer povo daqueloutro nosso comum Mundo Português? -- Não é a Via de Renato Epifânio «lusófona» por medinho de afirmar-se portuguesa em toda a sua dimensão material e espiritual, ou seja Lusíada?
Enquanto não puxar pela mioleira bem pode Renato Epifânio prosseguir nas (trans)vias da luso-fonia cujo literal significado mais não será que luso-gargarejo: ou seja, a velha e vernácula garganta!
(Imagem: Tétis revela a Gama a máquina do Mundo. Carlos Alberto, óleo s/ tela (?) da colecção do autor, in Os Lusíadas de Luis de Camões ilustrados por Carlos Alberto Santos e anotados por João Manuel Mimoso.)
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