Entro no café e cruzo-me com uma roliça de alguns 50, caminhar tronchudo, a exibir as carnes tatuadas por fora dum vestido primaveril. Sem os adornos tingindo-lhe os lombos a gaja não valeria nada.
Estava aqui a ouvir o Take Five de Dave Brubeck e, não sei porquê, veio-me à mente a Av. dos Estados Unidos nos anos 70. Não sei porquê.
Av. dos E.U.A., Lisboa, 1974.
Artur Pastor, in Archivo Photographico da C.M.L.
« Muitos discos estavam proibidos de se transmitir em [i.é, no] R.C.P. [Rádio Clube Português]. Algumas largas dezenas! — Somente uns pares de exemplos: O Menino de Sua Mãe, de Fernando Pessoa, Baile de Roda Mandado, do folclore algarvio ...» &c. &c. (Matos Maia, Aqui Emissora da Liberdade, 2.ª ed., Caminho, Lisboa, 1999, pp. 173-174, apud Delito de Opinião.
Era de facto tenebroso: umas largas dezenas (dezenas) de cantigas proibidas de pôr no ar, de que sobrou memória duns pares de exemplos... Parece folclórico! Atenho-me ao Baile de Roda Mandado...
Margarida foi à fonte
Com sapatinhos de lona.
Escorregou, partiu a bilha,
Espetou os cacos na teeesta!
Há-de ter sido disso, pois... A mesma coisa que meia dúzia de anos marchados em liberdade entendeu cobrir a pentelheira àquelas miúdas das escolas secundárias... Piii!
Censura com Patchouli não deve ser censura. Vamos que é folclore.
Grupo Folclórico de Faro, Baile de Roda Mandado e rapsódia.
(Faro, 2013)
O artigo 199.º da Constituição diz: Competência administrativaCompete ao Governo, no exercício de funções administrativas: ... g) Praticar todos os actos e tomar todas as providências necessárias à promoção do desenvolvimento económico-social e à satisfação das necessidades colectivas (C.R.P.). -- // -- Assim: Nos termos da alínea g) do artigo 199.º da Constituição, o Conselho de Ministros resolve: 1 - Determinar que, a partir de 1 de Janeiro de 2012, o Governo e todos os serviços, organismos e entidades sujeitos aos poderes de direcção, superintendência e tutela do Governo aplicam a grafia do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa [...] (Resolução do Conselho de Ministros n.º 8/2011) -- // -- Agora, quanto a meter o AO/90 no conteúdo da alínea g) do artigo 199.º da Constituição, é uma violência vergonhosa! Realmente, qual é o desenvolvimento económico-social resultante da vigência do AO/90?! Pelo contrário, é só prejuízo e retrocesso económico-social — os pais dos alunos afectados com os novos manuais escolares, etc. que o digam. E quais as necessidades colectivas que o AO/90 vem satisfazer? (Carlos Fernandes, O Acordo Ortográfico não está em vigor; prepotências do governo de José Sócrates e do presidente Cavaco Silva, Lisboa, Guerra e Paz, 2016, pp. 52-53.) |
— Mas porque tem esse horror aos partidos?
E Salazar, explicando-me, claramente, o seu pensamento:
— Está enganado… Eu não tenho horror aos partidos, dum modo geral ; tenho horror ao partidarismo em Portugal. A Inglaterra vive, pode dizer-se, ha seculos com os seus dois partidos alternando-se no poder, e até ao presente tem-se dado bem com isso. A educação cívica do povo leva as massas a deslocarem-se entre os dois, levadas por grandes movimentos de ideias, ou por grandes aspirações, ou por necessidades nacionais. Em Portugal, porém, êsses agrupamentos formaram-se à volta de pessoas, de interêsses mesquinhos, de apetites, e para satisfazer êsses interesses e apetites. Ora, é essa mentalidade partidaria que tem de acabar, se queremos entrar num verdadeiro periodo de renovação. A terapeutica da Nação doente, retalhada, exige-nos uma imobilização, que pode ser definitiva ou demorada, de toda a acção politica fragmentaria.António Ferro, Salazar : o homem e a sua obra, [Lisboa], E.N.P., 1933, pp. 140-141.
Nancy Sinatra — These Boots Are Made for Walkin'
(1966)
A apresentação (despida) das artistas deve-se a não haver pronto-a-vestir antes do 25 de Abril.
Sugeriu o leitor Mário Cruz no Solar da família Mayer um «antes e depois» com esta de Judah Benoliel. Antes, em 1901, a Av. de Fontes exibia placa central arborizada em jeito de boulevard, com gente elegante em promenade; depois, por moda ou progresso (ou pela moda do progresso) obliterando-se as árvens em prol do desafogo rodoviário. Ainda assim foi um depois só ainda premonitório do tráfego a haver, pois vedes que não havia...
Agora que há tráfego e não como deixar de haver, a premonição do Medina enxertado é que deixe de haver e daí a fúria no replantio das árvens...
Bom! A verdade é que no final fim [dos] anos 50, mesmo com progresso, a Av. de Fontes era bem pouco claustrofóbica.
Av. de Fontes Pereira de Mello pela manhã, Lisboa, 195...
Judah Benoliel, in archivo photographico da C.M.L.
A religião em vigor comemora o dia mundial da marijuana.
(Beato Louçã incensando urbi et orbi, ao balcão, entre copos... [n]o mundo visto em contramão.)
A comoção ardente que caustica o fosso encefálico do Medina enxertado para plantio de árvores em solos de alcatrão rodoviário desbordou ùltimamente da 2.ª circular para Av. da República. Desafortunadamente, do crepitar subcapilar e inter-orelhal deste enxertado Medina não chispou faúlha de jeito para atear fogo ao Campo Grande, onde — aí sim — o arvoredo a replantar seria de vulto e de muito maior monta a encomenda aos hortos da adjudicação directa municipalo-partidária.
Não recebendo o empreendedorismo arboricultor medinal tal bênção, houve de inovar (esse verbo transitivo boçalmente vulgarizado agora por empreende-duríssima inovação gramatical), salgando segundo os cânones da religião pe(i)daleiro-municipal a sagração das rodovias laterais da Av. da República à ciclobeatitude: uma para lá, outra para cá, em duplicado e à maneira de certas auto-estradas …
Na rodovia central sobejante, no entanto, haverá cruzamentos do Saldanha ao Campo Pequeno onde caridosamente poderá o ímpio automobilista virar à direita e (muito melhor) à esquerda: uma outra salga para o tráfego rodoviário piedosamente incensada de mais arvoredo no separador do eixo da avenida para expiação do pecado das emissões, certamente.
Postos então ali os cruzamentos de superfície ao nível da sua superficial sapiência, parece ao Medina enxertado ser bom e útil e até lindo escavar a avenida pelos alicerces do viaduto da linha de cintura ante a Feira Popular (esse marco do empreendedorismo de inovação) e unir os dois túneis que ficaram curtos naquele outro troço de avenida onde não há cruzamento nenhum que se veja. Como ideia de descer o nível é imbatível.
A minha mãe ensinou-me a procurar o melhor nas pessoas.
Acho este Medina enxertado na câmara de Lisboa com cara de pouco esperto. Mas concedo, pois, que ronha de sabichão lhe não falta.
(Imagem do P.S. de Cedofeita.)
Revisto.
Shirley Bassey, Smoke Gets In Your Eyes
(Morecambe & Wise, 1971)
Ontem alguém dizia com meia ironia que o Bloco de Esquerda ia mudar o nome para «bloque» para ser neutro.
— E a «esquerda»...?
— A «esquerda» não mudam porque é feminino.
— Pois... como a «merda».
(Imagem da pipoca mai' doce.)
Os especialistas dizem que o facto de ser homem e de ser um europeu ocidental jogam contra ele. («Guterres defende candidatura à O.N.U.», Jornal da Noite, S.I.C.,12/IV/16.)
Imagem do Sapo.
A religião do meu tempo
Sim, meus caros, é mágoa, é desalento
Os toldos vermelhos fecharam-se nas praias.
e se uma leitora ao menos der por isso
vale a pena fingir o que deveras sente.Faltam homens sem qualidades.
Já todos entendemos
que um tempo acabou.Acabou o seu tempo,
(Luís Filipe Castro Mendes, «O novo ministro da Cultura em 10 poemas», Observador, 11/4/2016.)
diz-me o psicanalista, lá nos anos 70,
a acordar num bocejo e a olhar para o relógio.
Ou
A [mesma] religião do meu tempo
Sim, meus caros, é mágoa, é desalento e[,] se uma leitora ao menos der por isso[,] vale a pena fingir o que deveras sente. Os toldos vermelhos fecharam-se nas praias. Faltam homens sem qualidades. Já todos entendemos que um tempo acabou. Acabou o seu tempo, diz-me o psicanalista, lá nos anos 70, a acordar num bocejo e a olhar para o relógio.»
(Idem.)
Tanto em verso sem rima como sem verso nem rima, é... poético!...
Não tanto como contos eróticos em castelhano, porém...
As Musas: Melpomene, Erato e Poliímnia
Eustáquio Le Sueur, 1652-55
Óleo sobre tela, 130 x 130 cm
(Museu do Louvre, Paris)
Shirley Bassey — Goldfinger
(1968)
Certa vez em que na minha guerra fui escalado de reforço à porta Norte do quartel, onde era a cadeia, havia lá um soldado condenado em oito dias de prisão pelo comandante. Um outro injuriara-o e ele, agravado, pregara-lhe um murro sem meia medida. Quinze dias passados calhou-me de escala o mesmo serviço na mesma porta Norte onde era a cadeia. Admirei-me de lá ver aquele mesmo que esmurrara o outro e procurei-lhe como era que ainda ali estava. Pois respondeu-me que, daquele murro, cumprira ele a pena já, mas que lhe o comandante tornara a dar oito dias por, em saindo, ter ido pregar novo murro no outro. Dizia que só com dois murros se desagravava.
Ora, mas tudo isto vem para um caso! De haver aí um (auto) flagelador ministro da cultura à bofetada, logo agora, quando no ministério da guerra se cultivam batalhoas no lugar de batalhões.
* * *
Duelo entre Mello Barreto, jornalista, e Rodrigues Nogueira, do Partido Progressista, Ameixoeira, 1909.
Joshua Benoliel, in archivo photographico da C.M.L.
Bem me pareceu.
O sr. ministro dito da Defesa Nacional incomoda-se com paneleirices no Colégio Militar. O direito à paneleirice parece que vem na Constituição, portanto, nada a obstar à Defesa Nacional com tropa paneleira...
Não admira é, porém, com tropa coisa e ministro da Defesa de tal Fé (isto deve andar tudo ligado), que os púlpitos radiofónicos doutrinem hoje o povinho em geral e os meninos da escola em particular para o dramalhão de poderem vir a ser refugiados.
Portanto: E se fosse eu? (que houvesse de fugir), é o nome (completo) da campanha promovida pela Plataforma de Apoio aos Refugiados, mai-los catequistas me(r)diáticos todos em peso e em freiral uníssono.
Ninguém ousará discordar da catequese e o presidente D. Marcelo, que vai a todas e não falha uma, associou-se ao simulacro infantil da mochila cheia de «kits de refugiado» em vez de livros da escola e disse paradoxalmente mais: que lhe acrescentaria espaço para... livros; a Guerra e Paz talvez não, que é calhamaço pesado — ou talvez sim havendo edição de bolso —, mas talvez levasse o Ulisses do James Joyce ou outro estrangeiro que me já não lembra. A Bíblia? — a instâncias dum repórter — é que seria opção mais remota...
Deus nos guarde!
Deus nos guarde, porque esta espécie de gente — que nem já nas modas vai, mas voga nas meras tendências — não enxerga o óbvio. Quando os queridos refugiados nos tomarem a terra, para onde havemos nós de fugir? Para a terra deles?... Ou haverá aí mais europas?...
Fotografia: Mocidade Portuguesa das 600 escolas festejando os refugiados. Original s.d. do estúdio de M. de Novaes, in Bibliotheca d' Arte da F.C.G.
Verbete revisto.
Este é o vermouth do annuncio na mercearia da Rua do Arco do Cego, a par do chafariz da Duque d' Avila.
(Poster de 1935, em...)
Chafariz da Av. do Duque d'Avila, Lisboa, 1953 (?).
Fernando Pozal, in archivo photographico da C.M.L.
* * *
Chafariz da Av. do Duque d' Avila, attr. a Fernando Pozal, photographo, anno de 1953...
Duvido.
Se o chafariz era onde cuido, no início da Duque d' Avila — onde confluiam nos annos 30 as ruas dos Açores, do Visconde de Santarem, a Av. de Rovisco Paes e a Rua do Arco do Cego — então o que vemos é a velha Rua do Arco do Cego virando para a Av. de Rovisco Paes. Os trilhos do electrico indiciam a última, cuja deliberação e alvará municipaes lhe officializaram o nome em Outubro de 1932.
Os gailoeiros além do chafariz dão idéa de que não estariam para durar, o que percebeis sabendo como foi supprimida a parte inical da velhinha Rua do Arco do Cego que ia a par do Instituto Superior Técnico: correu este trôço entre as avenidas do Duque d'Avila e do Visconde de Valmor e resistia ainda em 1940. A malha das avenidas impôs-se, porém, no plano da cidade e, com ella, obtivemos duas novas ruas: de Dona Filipa de Vilhena (edital de 1933) e do General Sinel de Cordes (actual Alves Redol); entre ambas era redundante a Rua do Arco do Cego e foi supprimida.
Do que me parece, estas casas além do chafariz jaziam onde a Rua do General Sinel de Cordes veio a entestar á Duque d' Avila. Tambem deve ser aquella dos annos 30, mas, como o nome lhe foi mudado para Alves Redol em 1974 por «necessidade de eliminação dos nomes afrontosos para a população, pela sua última ligação ao antigo regime» (C.M.L., Toponimia) fico sem saber quando foi feita.
Todas estas datas são importantes para circumstanciar a photographia do chafariz, cuja data attribuida no archivo (1953) me parece tardia. O trôço inicial da Rua do Arco do Cego foi demolido pelos annos 40, cuido, e o prédio que (quase) occupou o lugar d'aquelles outros no gaveto da Duque d'Avila com a Sinel de Cordes é de 1951-52.
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