Nos primórdios das Avenidas Novas achava-se que os prédios de rendimento as desvirtuavam. Rasgadas em quarteirões como boulevards mandaria o bom gosto que se delas arredasse o mal amado prédio de rendimento. Lisboa havia de respirar o luxo e o requinte duma cidade civilizada. A instituição do prémio Valmor foi para isso, embora a edificação dos lotes tenha acabado por reflectir essencialmente a condição económica e estética dos proprietários. Na verdade ainda é hoje isso que se passa: são sobre todas as coisas os limites - e que limites - económicos e estéticos dos actuais proprietários dos prédios que ditam as avenidas que estamos tendo. Se em tempo se não evitou que o desgraçado prédio de rendimento se edificasse nas avenidas, menos mal que ainda assim muitíssimos exemplares edificados assimilaram a estética pretendida: cinco andares rematados com piso de mansarda, com mais ou menos elementos decorativos de requinte nas fachadas e interiores. E no que deu?!... Visto daqui nada ilustra mais a fantasmagoria de Lisboa que o fado do prédio de rendimento; sobranceiramente desprezado no final de oitocentos pelo gosto do luxo ecléctico das moradias unifamiliares com cercados de jardim e fachadas de postal ilustrado que se impunham a uma cidade civilizada, acaba aviltado na pior ruína pelo canibalismo imobiliário e arquitectónico que campeia infrene. O prédio de rendimento significa vizinhos e uma cidade começa por ser a gente que nela mora; mas uma cidade que se traga assim à dentada e cospe habitantes como caroços só pode dar em assombração. Ora vede lá se não é no que Lisboa deu?!... Av. da República, 67. Prédio para demolir, Lisboa, 1970. Adaptado de Nuno Barros Roque da Silveira, in Arquivo Fotográfico da C.M.L.. |
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