Aerop. de C. Ruivo, Av. Marechal Gomes da Costa, 1960.
Artur Goulart, in archivo photographico da C.M.L.
De Joe Bernard a 20 de Novembro de 2017
Ainda me lembro quando a SACOR fez a refinaria em Cabo Ruivo, em que, com a chama a reflectir-se em céu carregado de nuvens, as pessoas chamavam os bombeiros porque havia um incêndio...
A chaminé conserva-se no meio da rua, ornamentada de mamarrachos Eipxo.
Cumpts.
De gato a 21 de Novembro de 2017
Era mesmo um «aeroporto». Ali amaravam (a-rio-avam) hidro-aviões. Durante anos houve uma carreira, creio que inglesa, que ligava Lisboa com Funchal. Acabou quando um hidro-avião desapareceu deste mundo pouco tempo após ter saído de Cabo Ruivo. Não houve qualquer comunicação rádio.
Por só ter passado a haver comunicação por navio, é que Salazar não foi operado por Eduardo Moradas Ferreira, o nosso melhor e brilhante neurocirurgião. Estava na Madeira e levaria dois a três dias a chegar. Coisa que Eduardo Coelho não aceitou pelos riscos da demora.
E chamaram um neurocirurgião reles (Vasconcelos Marques, mação reconhecido) que nem operou Salazar. Desinfectou-se e não entrou na sala operatória. Quem fez a trepanação (coisa de há milénios) e aspirou o hematoma foi o seu ajudante. Não me lembro de seu nome mas o Expresso publicou uma entrevista com sua viúva onde se contava tudo. Talvez o José da Loja a tenha em arquivo.
Era um aeroporto a valer, era. Desconhecia o seu relevo no caso de Salazar.
O saco de plástico, o que disser deve estar pejado de ditadores, pides e censura desbragada.
Cumpts.
Um esclarecimento.
Não sei se a carreira de hidroaviões Lisboa-Funchal durou anos. O Martin Mariner CS-THB que se perdeu teve licença provisória da D.G.A.C. em 4/11/1958 para operar transporte aéreo regular. A licença caducava em 3/12/1958. O hidroavião desapareceu sem rasto em 9/11/1958, apenas cinco dias depois de ter licença de operação. Não foram encontrados destroços nem vestígios doutra espécie até 14/11/1958, durante as buscas. Presumiu-se que o hidroavião tivesse caído na posição geográfica de 37º 12' N e 11º 16' W. A última mensagem recebida do radiotelegrafista do CS-THB pelo Centro de Controlo Regional de Navegação Aérea do Continente foi «QUG Emergência», i.é: «sou forçado a amarar imediatamente».
O hidro CS-THB havia servido em missão militar na Marinha dos E.U.A. e fora comprado pela ARTOP, sendo modficado em Setembro-Outubro de 1958 por pessoal das O.G.M.A. e da T.A.P. para operar transporte aéreo civil. A ARTOP operava nesse tempo a rota Cabo Ruivo-Funchal havia 1 mês (um mês) com um outro hidoavião idêntico, o CS-THA, que sofrera a mesma conversão de militar para civil antes do CS-THB, o que foi estudado pela Comissão de Investigação da D.G.A.C. ao acidente procurando descobrir se as modificações poderiam ter produzido falhas de funcionamento do aparelho que tivessem levado ao acidente.
Nada se achou.
Quem tiver curiosidade pode ver o resumo e ler lá o relatório; as primeiras 19 págs. dizem o suficiente.
Posto isto, a operação da ARTOP com o CS-THA teria c. de um mês à data do desaparecimento Martin Mariner do CS-THB — este com 5 dias de licença de operação; não sei se realmente fez algum voo nesses 5 dias. Não sei se a ARTOP ou outra companhia operou a rota Cabo Ruivo-Funchal até 1958 antes com outro tipo de hidros, mas parece que sim. Se a rota Cabo Ruivo-Funchal, porém, acabou ali por razão do inexplicado acidente do CS-THB em 9/11/1958, como cuido ter sido o caso, dificilmente alguém lhe poderia dar relevo no que sucedeu com o Dr. Salazar em Setembro de 1968. De mais a mais com o aeroporto do Porto Santo inaugurado em 28 de Agosto de 1960 e o da Madeira em 12 de Julho de 1964. Não foi por falta de ligação aérea que o Dr. Moradas Ferreira não veio do Funchal a Lisboa para operar o Dr. Salazar. O embaixador Franco Nogueira nem refere tal pessoa nos seis vols. da biografia de Salazar.
De Valdemar Silva a 22 de Novembro de 2017
Interessante. O Dr. Eduardo Moradas Ferreira indicado pelo Prof. Eduardo Coelho e que estava no Funchal era um conhecido opositor com ligações ao PCP.
Valdemar Silva
Interessante ou talvez não é que, da reportagem do saco de plástico, isto andava tudo minado.
E continua de vento em popa, fatal como o destino: as duas primeiras palavrinhas da reportagem rezam na mais acabada liturgia o Pai Nosso e a Avé Maria da historiografia sobre o Estado Novo — «O ditador».
Grande ditador, que para se tratar na doença não tinha senão comunistas e mações. Fosse ele menos ditador e não tinha ninguém porquanto estariam todos esses oposicionistas mortos ou exilados na União Soviética.
Cumpts.
De Valdemar Silva a 23 de Novembro de 2017
...pois, teria que haver alguém de jeito para lhe tratar da saúde.
Valdemar Silva
De [s.n.] a 22 de Novembro de 2017
No fim dos anos sessenta esta Estrada tinha muito melhor aspecto e sei-o porque a percorri inúmeras vezes a caminho do Aeroporto. E que saudades.
Sobre o terrível acidente do hidro-avião de que fala o comentador Gato, nele ía a irmã mais velha de uma amiga nossa. Era uma das hospedeiras. O facto de o avião ter desaparecido no Mar sem que não se soubesse exactamente em que local nem nenhum dos corpos dos passageiros do pessoal de cabine e do cock-pit terem aparecido, causou-nos uma imensa tristeza. Isto, porque a irmã mais nova desta hospedeira era bastante minha amiga.
Ainda não refeita pelo horror daquele acidente (todos nós e sobretudo a família da hospedeira nossa conhecida, esperávamos que o avião tivesse sido desviado por piratas do ar e aparecesse em qualquer lado a qualquer momento), quando perguntei ao meu Pai o porquê do avião ter desaparecido sem que tivesse havido qualquer contacto para a Torre de Controlo mais próxima, ele, com o seu profundo conhecimento da política mundial, respondeu - para minha total admiração por nada conhecer de políticas e menos ainda da mundial, dada a minha juventude - "foi raptado pela Argélia, aquele país está cheio de terroristas"(!?).
De facto ainda hoje nos podemos interrogar sobre o que é que originou aquele trágico acidente (falha no motor?) e o porquê de nem pedaços do avião nem um ou mais corpos dos que nele viajavam jamais terem aparecido.
Belas fotos e excelentes textos, como sempre. Parabéns.
De [s.n.] a 22 de Novembro de 2017
O comentário acima é meu, claro. Assinei-o mas ele apareceu a meio do texto, resolvi apagá-lo e depois esqueci-me de voltar a fazê-lo:)
Maria
O acidente deu-se em 1958. O Palma Inácio só inaugurou a pirataria aérea em 1961. O avião caiu por razões mais prosaicas, decerto. Pode ser que o venham a achar no fundo do oceano. Mas antes é preciso vontade de procurá-lo.
Cumpts.
De [s.n.] a 23 de Novembro de 2017
Pois eu sei que foi por esse ano que o acidente se deu. Li a sua minuciosa e excelnete explicação sobre a origem desses dois e únicos hidro-aviões e fiquei bastante admirada por saber que tinham primeiramente pertencido ao exército norte-americano e também dos seus problemas técnicos antes (e depois já cá e em serviço) de serem adquiridos pela F.A. e posteriormente transformados para transporte civil.
Isso que refere d'alguém tentar descobrir os destroços do avião, de facto com os dados que já se conhecem sobre o local preciso onde ele se afundou, hoje um tal feito está perfeitamente ao nosso alcance e seria o ideal. E digo isto porque desde há anos que existem inúmeras pessoas que se dedicam à arqueologia submarina. Portugueses... e até estrangeiros que por cá (ao largo dos Açores) andam a fazer o mesmo a tentar descobrir tesouros nno meio dos destroços de barcos de piratas ou corsários, no tempo em que os havia e que também navegavam por aqueles mares...
Vejo que foi referido que o Prof. Vasconcelos Marques, um dos médicos de Salazar, era maçon. Seria de facto? Curioso. Ele foi o ortopedista do meu Pai e segundo frisou um dos melhores do País. Bem nessa altura era muito nova para ter conhecimento (ou interesse) sobre o que era a maçonaria, aliás até ao 25/4 nunca tinha ouvido falar em seitas maçónicas ou outras em lado algum, mas também é verdade que em Portugal raramente se falava de política, fosse ela desta natureza ou doutra qualquer.
Discutir política era assunto para gente adulta e entre amigos, nunca em casa (nós, filhos, éramos muitos e todos pequenos e o nosso Pai não queria influenciar-nos polìticamente nem para a esquerda nem para a direita e a minha Mãe era monárquica, o que impedia discussões republicanas por uma questão de respeito para com ela e família) como acontecia e só quando o meu Pai se reunia com ex-colegas de Coimbra.
Sobre a ideologia de V.M., o que sei é que lá em casa nunca tal facto foi referido.
Maria
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