Em 26 de Junho de 1929 o Ministro da Justiça e dos Cultos, dr. Mário de Figueiredo, publicou a Portaria 6 259, a célebre «portaria dos sinos», que esclarecia quanto à autorização prévia das autoridades públicas para a realização de procissões e, mais importante como se viria a vêr, anulava a proïbição do toque dos sinos ao depois do pôr do Sol. Sôbre o toque dos sinos a portaria esclarecia que o mesmo era permitido a qualquer hora, sem necessidade de autorização ou participação às autoridades administrativas valendo para tanto o art.º 2.° do Decreto 3 856, de 22 de Fevereiro de 1918 que dispunha que o «culto público de qualquer religião pode, de harmonia com as leis, exercer-se nos lugares adequados e a qualquer hora, sem dependência de licença da autoridade pública».
Na reünião do Conselho de Ministros de 2 de Julho de 1929 alguns ministros — mòrmente o Ministro da Guerra, Júlio de Morais Sarmento — opuseram-se à «portaria dos sinos» invocando que violava a Lei de Separação do Estado e a Igreja. A «portaria dos sinos» foi anulada nêsse dia 2. O dr. Mário de Figueiredo, desautorizado que foi, apresentou imediatamente a demissão.
No dia 3 de Julho, o dr. Oliveira Salazar, Ministro das Finanças, pediu também a sua exoneração ao Presidente do Ministério (de há tempo diz-se em Portugal «primeiro-ministro», à inglêsa), o coronel Vicente de Freitas.
No dia 4 de Julho de 1929 o sr. Presidente da República, general Carmona, promoveu um Conselho de Ministros. Após a reünião do Conselho fôi distribuída uma nota oficiosa à imprensa:
« Por divergencias de opiniões no seio do gabinete, o presidente do Ministerio aprsentou [sic] a Sua Excelencia o Presidente da Republica a demissão colectiva do mesmo, que foi aceita. O Chefe do Estado iniciou as consultas para a resolução da crise. Os ministros continuarão a gerir as pastas até á sua substituição». (Diario de Lisbôa, 5-7-929.)
Alembrou-me hoje isto, nem sei bem dizer porquê. A rábula do ministro dos aeroportos não tem nada que vêr. Nem o ministro se demitiu nem o govêrno caíu.
Torre sineira da capela real da Ajuda, Lisboa [s.d.].
Horácio Novais, in bibliotheca d' Arte da F.C.G.
Fui vêr o preço do barril de Brent e vi que em 2013 estava pelo mesmo valor de há pedaço: 114 dólares americanos. O gasóil na bomba é que não era 2 eurodólares como hoje.
Não se pode andar por aí assim como dantes.
Castelo de Sesimbra, Portugal, post 1937.
Horácio Novais, in bibliotheca d'Arte da F.C.G.
Comprei-o há quási 20 anos. Cuidei que podia ser interessante…
Eduardo Nobre, Paixões Reais, 3.ª ed., [Lisboa], Quimera, 2002.
Levava-o aí a mais de meio quando o passei à senhora. Despertaram-lhe o interêsse estas «Paixões…»; pelo entusiasmo em que me via por elas fora e, do que lhe delas ia contando. Não no retomei ao depois senão agora ao cabo dêstes anos tôdos. E tomei-o agora do princípio com o gôsto de então, porquanto entre tanto me passara da memória o que já lêra.
A trama genealógica da família real requere certa atenção à leitura (como as genealogias em geral, inclusivè a própria) e acredito poder não ser inteiramente fácil ao leitor médio actual. Ou talvez não, não sei… O estilo do A. é suficientemente claro para que se perceba, porém. Nalgumas histórias revelam-se barbaridades bem além de simples episódios picarescos. É o caso do imperador do Brasil que, diz, pontapeou a imperatriz Leopoldina na barriga achando-se ela grávida. Por má ventura veio o coice a acabar-lhe com a vida (à imperatriz, não à imperial cavalgadura). Legou esta imperial cavalgadura por fim o coração ao Pôrto ao cabo de o gastar com inúmeras mulheres. A alma, contudo, tinha-a com aquêle fundo de bêsta que ficou para os anais. Cuido que se haja arrependido, mas não sei haverá perdão…
Outras paixões reais foram todavia mais serenas, passe alguma contradição aqui.
Da de D. Fernando II já viúvo, pela condessa de Edla, desarrisco agora a rasura que pus em D. Carlos num apontamento de há anos sôbre a compra pela Coroa do Palácio da Pena deixado em testamento à condessa pelo rei D. Fernando. O que lá escrevi inicialmente (D. Carlos) e emendei ao depois (para D. Luiz) é que estava certo — flagrante caso de pior a emenda que o soneto. Foi de feito já no reinado de D. Carlos que a Coroa se entendeu com a condessa de Edla sôbre esses bens entendidos como nacionais e talvez tenha sido aqui que o houvesse lido.
Fica algum amargor quando se encerra o livrinho, porém. A última historieta tem desfecho infausto nos amores do exilado infante D. Afonso, o popular «Arreda», irmão de el-rei D. Carlos, às mãos duma amaricana divorciada, contumaz caçadora de fortunas por via de casamentos interesseiros e, no caso, de nobilitação. A I.ª República não soube ou não quis atalhar-lhe e do Palácio da Ajuda logrou a «cabeça de víbora da americana» carregar várias galeras em 1920 com os bens do infante D. Afonso à guarda da Repartição de Património da Direcção-Geral da Fazenda Pública. Mas isto, porém, são já os desamores da República Portuguesa a Portugal…
Salazar ligeiro, ligeirinho (agora diz-se light, não é?...), para entreter as massas...
Na badana:
Um livro indispensável para conhecer a história recente de Portugal. — Javier García, El País.
A propaganda badanal faz parte do que se quere para endrominar a gente, seja para induzir a compra, seja ao depois para doutrinar por reflexões avulsas, pelas opiniões caprichosas do A. ou pelos mexericos das tais máscaras (eufemismo para os depoentes que ventilam sôbre Salazar ou, inclusivè, não), que são assim passados à Nação como factos. Como prosa livre pode o A. até contar umas coscuvilhices mais inconvenientes, sórdidas, reles até. Passa por isenção, originalidade. Como rolha Abrilina — e homossexual principalmente — ninguém no condenará.
Já de Salazar, mais que objecto, é meio e garantia de boa tiragem com chuvada de reedições. Nada mais. Está muito bem assim e não podia ser de outra maneira!
Arrumado em meia dúzia de págs. no ano 17, repescado de recurso agora para encher o vazio duma semana na praia. Calha com o vento e a areia…
Hoje, porque choveu e como estamos em Junho, lembrou-me dum escrito de há anos, mas… Hoje não. A luz não é aquela tal.
Palacete Sotto-Mayor, Lisboa, [s.d.].
Paulo Guedes, in Arquivo Fotográfico da C.M.L.
As primeiras quatro carreiras da Carris foram inauguradas sem bandeira de número (e a quinta também). O 1 e 2 dos Restauradores ao aeroporto e volta em percursos alternados pela Rodrigo da Fonseca, Alferes Malheiro e, Duque de Loulé, Areeiro; o 3 e o 4 dali, dos Restauradores, às avenidas novas (à Miguel Bombarda) e volta, em rota circular oposta — salvo êrro o 3 pela Rodrigo da Fonseca e o 4 pela Duque de Loulé. Foram essas primeiras quatro carreiras inauguradas em 9 de Abril de 44. (A quinta, o 5 do Areeiro, foi inaugurada em 2 de Março de 48). Eis uma data (9/IV/44) que enquadra a fotografia.
Em fins de 1947 o terminus dos auto-carros da Miguel Bombarda nos Restauradores foi prolongado à Praça do Comércio. Vista a bandeira dos Restauradores sôbre a porta de entrada do auto-carro, eis outra data para enquadrar a fotografia dêste A.E.C. modêlo Regente EL-11-11 com o n.º de frota 4, na carreira 4 dos auto-carros da Miguel Bombarda.
A.E.C. modêlo «Regente» n.º de frota 4 na carreira 4, Restauradores, 1944-47.
Horácio Novais, in bibliotheca d'Arte da F.C.G.
(Diario de Lisbôa, 30-5-926, adaptado dumas fotocópias manhosas da fundação do irmão do dr. Tertuliano.)
(Diario de Lisbôa, 29-5-926, adaptado dumas fotocópias manhosas da fundação do irmão do dr. Tertuliano.)
(Diario de Lisbôa, 28-5-926, adaptado dumas fotocópias manhosas da fundação do irmão do dr. Tertuliano.)
Av. Almirante Reis logo acima da Portugália, Lisboa, c. 1939.
Horácio Novais, in bibliotheca d'Arte da F.C.G.
No ano das vuvuzelas ou no anterior lancei umas sementes de petúnia à floreira duma sardinheira. Nos anos seguintes tornaram a florir, menos, até que num ano qualquer deixaram; não floriram. Passado um par de anos ao depois disto admirei-me quando refloriram umas poucas de petúnias. Sempre naquela floreira da sardinheira que passei para a sacada dum quarto. Alegrei-me, mas não fiz mais caso, embora haja ficado meio curioso de não florirem por um par de anos e ao depois reaparecerem. Êste Maio reapareceu uma meia dúzia delas ao fim duma meia dúzia de anos em que, nada. Pensando eu no que houve diferente agora, sucede que podei bem rente aquela sardinheira; tanto que ficou só a terra e uns esparsos de pés de sardinheira. Cuido que, pois, houvesse latentes na terra algumas sementes de petúnia que germinaram ao receberem o Sol, coisa que nos anos passados não sucedia pelo frondosa que estava a sardinheira. São coisas de que não sei nada.
Dionne Warwick ao vivo no 27 Club, Knokke, 1964
Scenas de Blake Edwards, O Regresso da Pantera Cor-de-Rosa, 1975.
Música de Henri Mancini, The Greatest Gift, 1975.
Montagem de Mr. Fotakias.
Parece que já nas paredes de Pompeios e Herculano se acharam graffiti em copioso número. Era um tempo em que não havia muito como passar as idéias, apregoar estados de alma, prègar uma fé, fazer uma lista de compras. Na falta de talões do super, agendas e moleskines, cadernos de cópia ou de desenho, cartazes e écrans gigantes a tolher horizontes, jornais, blogos, rádio e TV, rabiscar paredes era há dois mil anos uma maneira prática de passar recados.
Thyas não quere amar Fortunato [Zé Bastos a desejar boa sorte]. Adeus! (C.I.L. IV 4 498).
Hoje a civilização soma para cima de dois mil anos em camadas de verniz e, todavia, de há tempos para cá não há esquina que eu dobre nesta cidade que não ache reles javardice sem sentido na parede a seguir. Se vamos além das esquinas e das paredes, qualquer pedra serve. Não chegam, pois, já, as paredes ou as pedras nos matos? Vai de adornar o alcatrão…
Montes Claros, Monsanto — © 2021
Empreendendo bem no caso, nivelar obra de arte pela cota dos pavimentos dessas ruas não é de agora; v. os cãezinhos!… O nível, porém, é tal, já, que nem aos cãezinhos apetece cagar-lhe em cima, o que é pena; obra assim em duplas camadas dobraria, no mínimo, o valor cultural a transmitir ao transeunte — o cheiro genuíno do ornamento canino largado acrescentaria justíssimo realismo à coisa.
Uma obra de grandes dimensões, Arroios (Valter Leandro, «A arte urbana [sic]
saiu dos muros para o chão, em Arroios», in Lisboa Secreta [sic], 22/VI/21)
Esta coisa dos graffiti — perdão! arte urbana — mancha tôdo o lugar em que vagueiem as rêses das urbes e muito até das suburbes. Na praia é tal qual; à falta de muros, calhaus de tamanho capaz ou asfalto consistente para arte urbana, servem os próprios lombos de escaparate; dantes, graffiti no lombo do gado eram simples ferro do ganadero. Agora…
(Revisto às 7 de 20.)
Álbum a evocar Lisboa com poesias inéditas de David Mourão-Ferreira, fotografias a p/b em alto contraste, de Pepe Diniz, com patrocínio do Metropolitano de Lisboa.
Fotografias desfocadas, tremidas, cortadas (mal tiradas), a fazer de que é arte. Poesias como que em forma de assim…
Parece às vezes que o Tejo
é Tejo sob outro Tejo
como às vezes o desejo
sob o desejo é desejo
Que uma só ponte é a mesma
tanto por cima do Tejo
como por baixo do Tejo
pedras e corpos os mesmos
tão sob e sobre o desejo
como sem desejo mesmo
Mas se isto acontece às vezes
a grande culpa é do Tejo
Produto típico duma certa intelectualidade urbana. Pouco provê à cultura de Lisboa, dos lisboetas ou dos portugueses. Antes provê à bolsa dos intelectuais, comissionistas e agentes da produção dos 3 000 ex., com o dinheiro da empresa do Metropolitano de Lisboa.
Subterfúgios culturais do subproduto intelectual. Há-de haver quem aprecie!…
Lisboa Luzes e Sombras / Pepe Diniz (fotografias), David Mourão-Ferreira (poesias). — Lisboa : Metropolitano de Lisboa, 1992. — 102 p. : Il.; 24 cm.
Era uma vez… Portugal…, [s.d].
Portimagem, in Flickr
Júlio Pereira, Nortada
(Cádoi, 1984)
Cheira a torradas na escada. A D.ª Tânia do 2.º tem hoje o «Papa Don’t Preach» da Madonna. Ressoam de lá muito os anos 80. No outro dia era o «True» dos Spandau Ballet. Mediante isto não devia havê-la por D.ª, antes só Tânia. Mas os anos 80 foram há já trinta anos… Oitenta por oitenta — em tempos de há oitenta anos, entendei —, se soasse seria o Fado Malhoa ou assim; numa telefonia sintonizada na Emissora ou no Rádio Clube. E por Tânia do 2.º haveria de ser Amélia; D.ª Amélia. Descontando a naftalina disto tudo, o cheiro a torradas havia de ser igual.
Na esplanada do café (coisa moderna, a armar ao fino; mesmo assim, já dos anos 70 e, logo aí em largos e praças de aldeias, porque… — porque era o progresso; e porque antes dêle seria ao balcão da taberna)… Dizia eu: na esplanada do café (duas mesas de plástico com cadeiras postas na calçada do passeio) um, com uma cerveja de ante; outro, com uma tacinha de tinto. Ambos mais a dormir do que acordados, que o petróleo às tantas já deixa de alumiar… — Por castiço salva-se o do tinto; se fôr do carrascão.
Está um daquêles dias incertos de Abril. Ora chove; ora há uma olheirada.
Amália, Fado Malhoa
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