Deambular nas faldas do Monsanto, lá onde se encontram a estrada de Queluz, a Avenida das Descobertas e a auto-estrada do Estádio, não é lá coisa muito original.
É uma documentada tradição familiar que remonta a 1955.
Ao ouvir Dancing Queen dos ABBA veio-me à ideia que gostamos mais desta ou daquela cantiga pelas emoções agradáveis que nos provoca. Gostamos tanto mais quanto mais emoções aprazíveis obtemos ao ouvir esta ou aquela cantiga. Quando gostamos muito duma cantiga, cada nota ultrapassa o mero sentido de nossa audição; cada timbre instrumental descobre recordações apagadas na nossa memória; cada compasso projecta imagens animadas na nossa retina; cada verso da letra torna-se poesia sob a pele. Em três minutos duma cantiga sonhamos à velocidade do som telediscos cujo cenário pertence ao tempo da memória e ao espaço das emoções.
Segue-se ilustração legendada dum teledisco que a memória compôs.
Os ABBA davam na telefonia...
O Austin 1100 do primo Zeca durou toda a década de 70. Tinha uma telefonia...
O Tyrrell de 6 rodas só dava na televisão em 76 e 77, não tinha telefonia.
As moedas de 25$00 foram uma novidade e não têm nada que ver com os ABBA.
Nem as projecções de filmes do Trinitá ao ar livre na Escola Primária nº 28.
Jogar à carica talvez.
Arranjávamos muitas na leitaria d'O Príncipe que tinha uma jukebox com músicas dos ABBA.
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A planta 8 K representa o troço da velha Travessa de Estêvão Pinto e a Travessa da Rabicha.
Planta 8 K [Planta Topográfica de Lisboa], in Arquivo do Arco do Cego (C.M.L.), 1909.
A Estrada de Campolide está representada em diagonal no terço central da planta 8 K (sentido SSE-NNO). No canto inferior direito temos a Travessa de Estêvão Pinto (sentido SO-NE), ligando com a igreja de Santo António de Campolide e com o antigo Colégio. Subindo aquela Travessa, à direita, há o beco de Estêvão Pinto, sem saída. No outro extermo visível da Estrada de Campolide, a Travessa da Rabicha desenha-se num cateto e na hipotenusa dum triângulo rectângulo cujo outro cateto se inscreve na própria Estrada de Campolide; o ângulo S do triângulo conflui com a Estrada de Campolide numa espécie de largo; daí desce para o vale a Travessa do Tarujo (sentido SO); em 1909 era um estreito caminho ladeado por árvores. [A Travessa do Tarujo, a meio caminho entre este ponto e a Travessa de Estêvão Pinto, descia para O, inflectia para NO, e de novo para O até à] A Ribeira de Alcântara. [Esta] vê-se no terço esquerdo da planta 8 K, na forma de um crescente de NO-SO, desaparecendo no caneiro debaixo da via férrea. No limite esquerdo da planta 8 K a velha estação de Campolide.
Outros elementos há (com alguns nomes engraçados) que não pude identificar no âmbito da planta: o Asilo Espie Miranda, o Casal do Sola, a Quinta da Rabicha, o Caminho Público, as Terras do Colégio de Campolide, as Terras das Domingotas, a Quinta da Atalaia e a Quinta do Mouzinho.
O mesmo troço da Rua de Campolide em 2005 segundo o Google Earth.
Comparemos: 1) há maior densidade viária e de edificação, o que é natural (ou civilizacional), mas podia ser pior; 2) rasgou-se a Av. Calouste Gulbenkian (sentido NE-SSO) que se cruza com a Rua de Campolide sobrepondo-se a dois prédios que me provocaram esta cisma; 3) a Rua de Campolide foi alargada e desviada entre a Travessa do Tarujo [o limite S da Travessa da Rabicha] e a Travessa de Estêvão Pinto; 4) o troço desta entre a Rua de Campolide e o Beco de Estêvão Pinto desapareceu para dar lugar à Av. Miguel Torga 5) edificou-se a Faculdade de Economia da U.N.L. no que devem ter sido terras do Colégio de Campolide; 6) a Travessa do Tarujo desenha [situa-se] hoje um U com a perna [mais a] norte, a coincidir com troço [do estreito caminho ladeado de árvores] da planta 8 K; 7) as instalações ferroviárias de Campolide estenderam-se até ao leito da ribeira de Alcântara cujos vestígios se sumiram.
Uma panorâmica tomada do lado N do vale em 2004 aqui.
Se quiserdes dar alguma achega a esta desinteressante confusão...
Emendado em 9/6/06.
face=arial size=2>Alguns anos após entrar no ramo da construção consegui a minha primeira casa.
vspace=5 border=0>
Modernamente consegue-se o dobro em 1/10 do tempo.
Lembrou-me há pouco dalguém que por fogos fátuos enterrou a pátria consigo.
Alcácer Quibir: reconhecimento do cadáver de D. Sebastião.
Quadro de Caetano Moreira da Costa Lima.
Todos os verões há um grande concurso nacional de fogo real. E há muita gente concorrendo por ganância de fogos fátuos.
[...]
Mas o mouro é que conhecia o deserto
de trás para diante e de longe e de perto
o mouro é que sabia que o deserto queima e abrasa
o mouro é que jogava em casa
E o D. Sebastião levou tantas na pinha
que ao voltar cá (aí) encontrou a vizinha
espanhola sentada na cama, deitada no trono
e o país mudado de dono
[...]
Excerto d' Os Demónios de Alcácer Quibir, Sérgio Godinho.
Nota: alguns julgam saber mas ignoram; o desastre deu-se em 4 de Agosto de 1578.
Vasculhando no arquivo fotográfico da C.M.L. encontrei uma panorâmica do Vale de Alcântara e Calçada dos Mestres. Ao fundo do vale está a estação ferroviária de Campolide; imponente lá longe, recortando o horizonte, avista-se o Hospital de Santa Maria. A fotografia é mais recente do que a ribeira de Alcântara; não se identificam vestígios sequer do caneiro com que foi vestida. Mas por outro lado é tão antiga que não fora construída ainda a Avenida Calouste Gulbenkian; há-de essa via passar abaixo das moradias em 1.º plano, a caminho do arco maior do aqueduto das Águas Livres. Presumo que para cruzar a velha Rua de Campolide tenham sido demolidos os prédios que se vêem à direita: creio que eram uns que me intrigava desde há tempo onde seriam.
Vale de Alcântara e Calçada dos Mestres, Lisboa, 1950-59.
Foto: Judah Benoliel [de cima do aqueduto], in Arquivo Fotográfico da C.M.L.
Veja-se a velha Lisboa desde São Pedro de Alcântara.
Velha Lisboa, Roque Gameiro.
Detrás da encosta prolonga-se ainda a velha Lisboa.
A imaginação anda assim...
Praia das Maçãs, 2004
E a memória está neste estado.
Praia das Maçãs, 2004
A explicação do topónimo desceu o rio que desagua no lugar desde aqui.
Para a passagem de ano de 89/90 o pessoal conseguiu juntar uma data de discos. Eu ia levar a aparelhagem para a festa e por isso os discos foram sendo reunidos na minha casa. | ||
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Aproveitei a oportunidade para gravar algumas cassetes e comprei até uma com fita de metal. Custou-me mais de 900$00 e escolhi gravá-la com música sempre a abrir. Sempre a abrir, fatiota original. Orgulhei-me que toda a malta curtisse a cassete e ma pedisse emprestada. Eles queriam copiá-la, mas tinham gravadores tão farsolas que deixavam a fita cada vez mais marada; houve finalmente um freguês que rebentou a fita e a colou com fita-cola. Era um gajo porreiro; amigo de um amigo. Pediu desculpa... -— Dá para gravares outra? Eu pago-te uma nova. Desculpei-o, mas não havia remédio; os discos tinham tornado à procedência havia muito. | ||
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Ficámos assim. Melhor ou pior ia dando para ouvir, mas resolvi não emprestar de novo a minha cassete Sempre a abrir. Só que desgraçadamente tinha que estar no leitor de cassetes do carro quando mo gamaram de lá anos depois... Há tempos atrás, consegui reconstituir tal qual a tralha perdida. Desta vez num disco compacto. |
Owner of a Lonely Heart - Yes
Why Can't This Be Love? - Van Halen
Look - Roxette
China Girl - David Bowie
She's a Beauty - The Tubes
I Was Made For Loving You - Kiss
Roadhouse Blues - Doors
Hurt So Good - John Cougar
Jack and Diane - John Cougar
Money - Pink Floyd
Airport - Motors
Heart of Glass - Blondie
Who Can It Be Now - Men at Work
Down Under - Men at Work
Celtic Soul Brothers - Dexy's Midnight Runners
Come On Eileen - Dexy's Midnight Runners
Tearing Us Apart - Tina Turner & Eric Clapton
It's Only Love - Tina Turner & Bryan Adams
Modern Love - David Bowie
Dreams - Van Halen
E sabeis onde o deixei ficar?
[Revisto em 3/3/2007.]
A empregada costuma vir de manhã no dia combinado. Melhor dizendo: a empregada não costuma vir no dia nem na hora combinada; negoceia sempre com a senhora o dia seguinte ou o dia após esse.
No dia combinado avisou a senhora que ia faltar enviando-lhe um telegrama desses dos telefones móveis. A mensagem tinha marcada a hora: 13:27. A empregada costuma vir de manhã no dia combinado. Melhor dizendo: ...
Bem, adiante. Afinal tudo se resolveu.
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A empregada era a colaboradora que limpava mais ou menos, mas não a fundo. A empregada é uma moderna colaboradora despromovida.Foto desta drogaria.
Instado por mim a visitar este blogo, um bom amigo que encontrei ao almoço ligou-me à tarde dizendo que estivera já lendo os meus desabafos.
- Sabes, água já não é OH2 há muito tempo - disse solenemente.
Meio embasbacado respondi que sim senhor, eu sabia; mas o meu blogo pretendia ser literário, se possível com ilustrações cativantes; que lhe tentava dar um aroma enigmático com uma pitada de ironia. Isto quanto à forma; o conteúdo podia ser um qualquer...
E expliquei concretamente.
- Não vês tu? A fórmula OH2 destina-se a reagir quimicamente com o oh! de admiração que todos fazemos pelo egocentrismo jornaleiro. E assim não se perde a ideia de água! Ou seja: com OH2 poupamos H2O, água.
- E não percebes o silogismo? A desordem no título reflecte a desordem jornaleira. É tudo uma desordem pegada!
- Ah é isso?! Mas tens que explicar!
[...]
Para meter mais OH2, ficou o H2O.
O último aguadeiro de Olhão, conhecido por Joaquim Aguadeiro, in Museu Fotográfico de Olhão.
Não consigo saber quando vi pela primeira vez livros aos quadradinhos. Lá em casa havia alguns destes.
Interessei-me genuinamente pelo seu conteúdo por altura da 2.ª ou da 3.ª classe (antes disso acho que pensava que serviam para arrancar folhas e testar canetas Bic). Mas só pelos bonecos, as letras ainda davam muito trabalho. Porém, chegado à 4.ª classe lá lia toda a conversa com sotaque inscrita nos balõezinhos.
Mas o pior estava para vir.
O meu irmão, que enveredara pela idade do armário, namorava uma moça que decidiu fazer de mim um juvenil. No Natal de 76 recebi deles uma prenda decepcionante:
— Um… livro?! — balbuciei.
— É dos Cinco — disse ela. E sorrindo perguntou — conheces?
— Não.
— É para leres, ouviste! — disse o autoritário do meu irmão.
Fiquei aflito. Abri o livro e em quase 100 folhas voando debaixo do meu polegar não vi senão meia dúzia de ilustrações. Era palavreado a mais. Com tão poucos bonecos eu não ia conseguir perceber a história sem ler. Como sabia que eles me perguntariam algo sobre o livro, não tinha remédio senão ler aquilo.
— Leio um bocadinho por dia — pensei — se me perguntarem, não há muito a dizer.
No dia de Natal li o primeiro capítulo (e aprendi que o livro se dividia em capítulos).
— Então, gostas do livro?
— É… Já li um capítulo.
Durante quatro dias a cena foi a mesma. Eu aflito e eles percebendo…
No dia a seguir, que era quarta-feira, os Cinco salvaram o tio e… eu. Fora uma fabulosa aventura por passagens secretas no castelo da ilha Kirrin. Os espiões foram presos e o tio Alberto fez grandes descobertas científicas. E eu tinha acabado o livro!
Enid Blyton, Os cinco salvaram o tio, Lisboa, Emp. Nac. de Publicidade, 1974.
Quando o meu irmão chegou do namoro perguntei-lhe se a namorada tinha muitos livros dos Cinco.
— Eu peço-lhe para ela te emprestar os dela — e sorriu. Em 1978 deu Os Cinco na televisão. .
______
[A recordação foi inspirada por isto.]
Em 1972 ou 1973 comecei a trabalhar na construção. Não tinha muita experiência no ramo mas o mano mais velho ia dando alguma ajuda. Ele na altura dedicava-se principalmente aos transportes; só não me recordo bem se conduzia o camião dos congelados se o do leite.
Pouco depois passei eu a controlar os transportes e a construção até que os transmiti a um sobrinho que já se reformou do negócio.
Esta noite a Praia das Maçãs ameaçava esconder-se nalguma névoa.
No regresso, depois do café, a bruma dissipara-se.
Uma alternativa radical à moderna publicidade.
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face=times>Desenho de Alice Rey Colaço.
Litografia da Papelaria Guedes, Lisboa, [191...], nº 139 daqui...
[Quem souber entoar o pregão fica encarregue de publicá-lo.]
« Os feitos não se fizeram só para ficar na história para brilho e fama que cobriam de renda alguns descendentes dos heróis. Os feitos fizeram-se para a conquista do comércio, embora este não figurasse na árvore genealógica ou nas lousas sepulcrais.»
António Borges Coelho noutro contexto (ou talvez não).
Passado o tempo dos heróis, tanto faz que os feitos sejam heroicos ou infames. Sejamos corajosos e assumamos a lei do mercado como Constituição. Eu possuo algumas lousas sepulcrais anunciando já: aluga-se este espaço.
[A despropósito: alguém sabe quanto acrescenta um incêndio ao produto interno, incluindo-se a indústria das notícias?]
Adamastor (O)
Apartado 53
Bic Cristal
Blog[o] de Cheiros
Carmo e a Trindade (O)
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