Há manifestações ditas artísticas que, por razões evidentes, necessitam ser compostas... O campo da Ataca, próximo de S. Torcato (Guimarães), onde se deu a batalha de S. Mamede foi atacado. Sete minhocas elevando-se do chão num cantinho do tal campo é um desses arranjos ditos artísticos que, por razões evidentes, necessitam ser compostos com tracinho, monumental. Artístico-monumental, portanto. O título da minhoquice é "Os Afonsinhos".
Os Afonsinhos [arranjo artístico-tracinho-monumental], Guimarães, 2006.
— Ó pai! Olha aquele afonsinho é um cavalo.
A primeira corrente que tive notícia chegou por carta dactilografada prometendo boa sorte aos que a mantivessem. A minha mãe não deu importância àquilo mas o meu irmão, meio crescidote e com modos de responsável tomou o assunto em mãos. Não quis ele arriscar – a coisa podia dar para o torto em quebrando a corrente. Era necessário enviar uma cartinha igual a, se não me engano, cinco destinatários, sem esquecer de pôr uma moeda de $50 em cada. Lá convenceu a minha mãe a dar-lhe 25 tostões. Mas dinheiro para selos (talvez 20$00), isso é que a minha mãe não lhe deu. Se quisesse prosseguir no intento que deitasse ele por mão própria as cartas no correio dos destinatários.
Afinal a boa fortuna acabou por sorrir a mim: julgo que comprei pastilhas com os 2$50 que a minha mãe me deu para igualar o que lhe dera.
Vem isto a propósito duma corrente que, pelas memórias me foi amavelmente passada pela Margarida. Manda a corrente que divilgue aqui seis dicas sobre mim, uma tarefa árdua, considerando o minimalismo daquele Bic Laranja ali no cabeçalho...
Cá vai: 1) gosto de dias longos e noites abafadas; 2) gosto de conservar hábitos (aliás: se algo está bem, mudar serve para quê?); 3) aflige-me não haver limite para o aumento do P.I.B.; 4) desconsolam-me os eufemismos politicamente correctos; 5) não tenho telefone móvel; 6) um melão, não sendo pepino, sabe sempre a Verão.
Quebrados assim os grilhões (a estimada Margarida que me perdoe a sinceridade) sinto-me incapaz de acorrentar mais alguém.
O 17 nunca foi um autocarro muito demandado por mim. Era-o sim pela Armanda sapateira e pelo Semestre, que moravam nas Galinheiras. Recorda-me bem - há-de ter mais de trinta anos, era eu miúdo - de ouvir a minha mãe comentar com o meu pai que o 17 já não ia [só] para as Galinheiras, quando mudaram o percurso para os Fetais [2/IV/1976]. Onde eu via muitos 17 passar, a par do 35, a caminho do Cais do Sodré, era no Chile e na Morais Soares. Estranhamente, nunca me lembra de ter visto um autacarro de porta atrás nesta carreira...
Até hoje!
Prédio em construção, vendo-se um autocarro na paragem, Av. do Brasil [L.N.E.C.], 1961.
Fotografia de Arnaldo Madureira, in Arquivo Fotográfico da C.M.L.
Estava aqui a lembrar-me...
Em meninos, antes de jantar o meu irmão e eu soíamos ir ao Saraiva buscar meio litro de palheto para o pai. Quando queríamos laranjada levávamos a garrafa vazia de Schweppes Pomar porque o Saraiva da taberna não vendia refrigerantes sem vasilhame. A garrafa tinha um valor: se a levássemos sem ser à troca à taberna do Saraiva ou à do sr. João lá ao fundo da rua, devolviam-nos os quinze tostões do depósito — salvo erro era quinze tostões.
A Schweppes Pomar acabou.
Os donos das fábricas de refrigerantes resolveram poupar na lavagem do vasilhame.
Talvez tenham investido os lucros daí obtidos em unidades de produção de garrafas, ditas de tara perdida. Perdida para quem compra, que paga a bebida e o vasilhame, de certeza. Porque compra uma garrafa, dizem, sem valor.
Talvez os donos dessas fábricas de refrigerantes (e de cervejas, de águas naturais ou gaseificadas de múltiplos sabores a tudo o mais) tenham achado bem investir os novos lucros em vidrões e plasticões. Talvez tenham até reinvestido em novas linhas de lavagem... Lavagem ao meu cérebro incutindo-me uma qualquer ideia de fazer o bem se lhes devolver de graça a matéria-prima para me venderem mais garrafas — as ditas da tara perdida; se lhas depositar onde lhes dá mais jeito ir recolhê-las.
Talvez tenham inclusive investido em plasticões e vidrões domésticos para eu lhes separar o trigo do joio com mão-de-obra graciosa. Talvez até mos vendam (os plasticões domésticos) se eu me domesticar para comprar; ou talvez os vendam ao presidente da junta para ele domestica(da)mente os dar…
Talvez um macaco aprenda numa hora a separar o lixo.
E.M. 526 (Albufeira), Vale de Parra, 2006.
A não ser pela Schweppes, nada do que vem escrito acima tem que ver com a intenção de agradecer e retribuir a engraçada menção do Manuel. Devo-lhe ao fim e ao cabo a solução de como ilustrar este verbete que tinha meio alinhavado.
Rotunda das Picoas era como ao princípio se chamava à Praça Duque de Saldanha. Hoje chamamos comummente a esta praça 'o Saldanha'. E a rotunda desfizeram--na: moldaram-na em forma de avenida para melhor fluir o trânsito.
Mas então...?!
Cortejo de viaturas antigas, Saldanha, c. 1930.
Ferreira da Cunha, in Arquivo Fotográfico da C.M.L..
[Viaturas antigas são as que desfilam...]
António Costa, que falava à margem de uma visita à associação Moinho da Juventude, na Cova da Moura [...] lembrou o trabalho realizado em conjunto pelo Serviço Estrangeiros e Fronteiras (S.E.F.) e pela G.N.R. com a Guarda Civil espanhola na «securização [!] da fronteira espanhola [!!]». («Imigração ilegal é problema conjunto da União Europeia», Lusa, 21/8/2006.)
Desfile de efectivos da Polícia de [Securização] Pública, Lisboa, 1918.
Fotografia de Joshua Benoliel, in Arquivo Fotográfico da C.M.L.
O Sousa Tavares conta no saco de plástico que no Algarve a grande novidade agora são prédios com vista para rotundas (é como em Portugal). Não se lembrou ele de contar quantas havia só na Armação de Pêra e fez bem, que senão ainda agora lá estava...
Esta que aqui tendes é em Albufeira. É uma das 12 rechonchudas chicanas que polvilham a E.M. 526 entre a Armação de Pêra e o lugar do Rojapé, um percurso de pouco mais de 20 km.
[Por cada nova rotunda os presidentes das câmaras devem sentir-se como estes golfinhos.]
Os habituais pregoeiros de desgraças, quando lhes falece assunto ardente ou trauliteiro (incluo aqui a bola...) fazem-nos desabar o céu sobre a cabeça. A tristeza assiste-lhes na inversa dum amanhecer soalheiro. Que é o mais normal em Lisboa.
Av. D. Rodrigo da Cunha, Lisboa, [s.d.].
Fotógrafo não identificado [Claudino Madeira], in Arquivo Fotográfico da C.M.L.
Ali mesmo ao lado estava a senhora dos romances aos murmúrios. Depois, quando já íamos da praia, vinha o sr. Phelps. No outro dia veio outra vez. Depois já não; talvez fosse em missão...
Houve outro bastante famoso; já o vi na televisão mas ultimamente só me lembro dele no dentista. Este acompanhou-nos as férias quase todas. Umas vezes já lá estava, outras chegávamos nós primeiro. Houve até uma vez que saímos em simultâneo da praia.
É claro que não lhe perguntámos nada do que andava ali a fazer...
Foi ao lado da praia dos Tomates. Não se estranhe haver gente famosa, portanto.
Praia da Rocha Baixinha (antiga dos Tomates), Algarve, 2006.
Mas pode ser que este verbete se autodestrua em 5 segundos.
Enquanto os jornaleiros duma certa televisão incendiavam o sr. ministro da agricultura e outro (não me lembro qual), o sr. ministro Costa do interior foi louvado como o único que deu a cara. Já o ouvi três vezes dizer na televisão que viu as imagens a arder.
Se bem entendi, ora está à frente da televisão a ver imagens a arder, ora está em frente das câmaras de televisão dando a cara, dizendo que viu as imagens a arder.
Portugal: bombeiros [com meios movidos por animais], c. 1890-1910.
Foto: Charles Chusseau-Flaviens, in George Eastman House.
Parece que amanhã o S. Pedro vai coordenar os meios aéreos.
Presuntos Implicados - Cómo hemos cambiado
(Ser de Água, 1991)
[E as 'pachalitas' a cacilhar? G'anda cena, man!]
Página da banda em www.presuntos.com.
« Ali se acendeu hûa forte e crua batalha ferida de guolpes quais os homens têm a costume de dar e não quejandos alguns escrevem. Pera que diremos guolpes, nem forças, nem outras rezões compostas por louvor de alguns, nem aformosentar estória que os sesudos não hão-de crer, de guisa que de estórias verdadeiras façamos fábulas patranhosas? Abasta que de hûa parte e outra eram dados tais e tamanhos guolpes como cada um melhor podia apresentar àquele que que lhe caía em sorte, de guisa que os muitos por sogegar [subjugar] os poucos e os poucos por se ver isentos de seus imigos, lidavam com toda sua força.»
Fernão Lopes, Crónica de D. João I, vol. 2, [s.l.], Civilização, imp. 1994, p.106.
A grafia foi actualizada excepto nos casos em que denota pronúncia diferente. O 'u' em hûa lê-se nasalado.Nesta data comemora-se o dia da Infantaria.
(Como o Rei de Portugal derrotou o Rei de Castela em Aljubarrota.)
Excerto de Fernão Lopes adicionado às 21h 21m.
A sra. D. Maria Luísa trouxe do super um sabonete líquido. É da marca do super e tem um perfume igualzinho às pastilhas!...
height=200 alt=Gorila hspace=0 src="https://fotos.web.sapo.io/i/Bbc0639af/8564767_WOrNy.jpeg" width=200 border=0>
[Será que fez compras no super Gorila?]
Uma história desagradável (felizmente que é inventada) que ocorre em Nova Iorque... Suavizada com a candura velada da Suzanne Vega. |
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A metáfora do avião cheio de crianças é uma bola de neve. É uma avalancha.
É um plágio dos antigos — coisa requentada lá de fora, vendida neste umbigo rectangular como se fora original. O texto — injusto e descortês para a aeronáutica civil — é afinal a parte mais... criativa: «todos os anos cai um avião cheio de crianças em Portugal»; interessante é a elipse em «todos os anos a velocidade nas estradas vitima um avião cheio de crianças», que se presta a nexos de causalidade absurdos:
— Então a velocidade vitima um avião? Que é lá isso?! O que vitima, ou melhor, o que faz cair um avião é o oposto: a falta de velocidade. Entre outras coisas...
Ou leituras mais ou menos gramaticais:
— Um sujeito veloz na estrada tem como predicado vitimar de tanto acelerar acaba voando e... choca com um objecto directo do voo - um avião - vitimando-o. Para piorar, é um avião com um complemento circunstancial intensamente povoado de crianças.
Ora aí tendes o mais importante: um complemento circunstancial (va bene, leia-se crianças). Mas apesar da intensidade (avião cheio), a tragédia agrava-se com o outro complemento: o de tempo — «todos os anos...»
Esta avalancha criativa dos publicitários ultrapassa em alta velocidade a P.R.P., capaz só de campanhas a 10 à hora, do tipo «se conduzir não beba» ou «comigo a criança vai sempre atrás». O custo de produção desta original campanha foi vertiginoso: atingiu meio milhão à eura — já com I.V.A. e avião incluídos. Coisa assim, só possível a esse Fórmula 1 cheio de energia que é Galp. Eis a anti-sinistralidade rodoviária à grande vitesse — que é o mesmo que à grande e à francesa — e que é coisa bonita de ver a uma empresa pública... Perdão! É uma S.A.
Não quis o sr. ministro Costa do interior ficar atrás e toca de acelerar a 1 milhão à eura com o Fundo de Garantia Automóvel no grande prémio da divulgação. Pública. Na comunicação social: pública e privada. E... (qual pescadinha de rabo na boca) nos 800 postos da Galp!
Se bem que os aceleras hajam de continuar só a ouvir os subwoofers da estereofonia do carro, as crianças que andam de avião hão-de ficar mais felizes.
E as que os pais tenham empresas que facturem a divulgação da campanha ao sr. ministro Costa do interior também.
Ora aí tendes o mais importante: complementos circunstanciais.
O mais triste é que face ao que se adivinha já sobre aviões e segurança, as pobres crianças — seja na pele delas ou na pele de adultos — nem uma garrafa de ¼ de litro de água haverão de poder levar na cabina: pode ser explosiva. Uma ironia para os mais de 60% de água que o corpo humano é.
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