Carlos Paredes - Mudar de Vida (música de fundo)
Fotografias de Helena Corrêa de Barros in Arquivo Fotográfico da C.M.L.
Música em www.anos60.com.
Procurou-me o meu bom amigo Fernando C. há tempo pela maternidade Pro-Mater (Pro-Matre *). Se não haveria nada que a mostrasse. Na altura não lhe dei resposta conveniente. Ei-la em 1970 pela objectiva de João H. Goulart: Av. da República, n.º 18. Outrora na esquina com a João Crisóstomo, agora no Arquivo Fotográfico da C.M.L.
(*) Pro-Matre e não Pro-Mater. Alguém publicou daqui para o livro das fuças e outro alguém lá o comentou a corrigir o nome. Faz sentido. O nome é do latim (= pró-mãe, em favor da mãe). Pro é preposição latina que rege ablativo e o ablativo de mater é matre. Erro de palmatória de que me penitencio hoje, 13/XII/22.
No Rádio Clube deu de manhã uma curta reportagem sobre a Escola António Sérgio no Cacém; sobre como ali se dão meninos de 18 nacionalidades.
Sóbria e concisa, a jornalista focou a aculturação (na peça diz-se integração, mais corrente) dos meninos emigrantes, a normal curiosidade sobre a cultura uns dos outros e o modo natural de se darem assim todos. Ilustrou com depoimentos duma menina de Xangai, meia envergonhada por ser do campo lá na China; dum menino de Angola, com saudades da casa grande da avó; e se não me engano, duma menina da Roménia, que aprendeu com toda a facilidade o Português. Deu gosto ouvi-los exprimirem-se correctamente no nosso idioma.
Inteligentemente, a jornalista Débora não maçou com folclore politicamente correcto que ficasse bem, muito na moda quando os temas dão para isso. Factos são factos, valem por si: meninos de 18 nacionalidades numa escola é um bom tema, não é preciso exagerar.
Lembrou-me do Xan e do Fernando de Angola no meu tempo de liceu. Salientavam-se compreensivelmente pela etnia mas eram tão camaradas como os outros que jogávamos à bola nos intervalos das aulas. Naturalmente!
Estudo sobre o Vira
Aguarela de Roque Gameiro
em Luís Cabral .org
Alguém sabe dalgum curso de vocabulário para intrépidos repórteres de marrafa e ar ultramoderno, daqueles com oculozinhos de aros estreitos e grossos em massa?
O caso é que dantes instruíam-se os meninos na escola primária em dizer açude, represa ou comporta para designar aquelas vedações em cimento que represam as águas dum rio. Mas hoje em dia vejo que o Ensino se trabalha por justificar Formação até para... respirar.
Rio Nabão em Tomar, [s.d.].
Fotografia: Arquivo Fotográfico da C.M.L..
Em Junho de 1147 D. João Peculiar, arcebispo de Braga, num discurso que fizera aos mouros de Lisboa durante uma trégua aconselhara-os a pôr-se com as vossas bagagens, com haveres e pecúlios, com mulheres e crianças [...] a caminho da terra dos mouros de onde viestes, deixando a nossa para nós. | |
![]() | « À frente, pois, ia o arcebispo e os outros bispos com a bandeira da Cruz do Senhor e a seguir entram os nossos chefes juntamente com o rei e os que para este efeito tinham sido escolhidos. |
No alto da Galafura há uma moura encantada. Uma princesa moura muito bonita, muito bonita; como todas as princesas mouras, naturalmente. Há muito tempo, o rei mouro seu pai, expluso pelos cristãos, teve que partir para longe, para além do rio Douro. E a D.ª Mirra lá ficou, encantada no seu palácio magnífico, todo coberto a ouro e prata, com farta mesa posta. Ainda lá está hoje a D.ª Mirra, à espera que algum homem valente a livre do encantamento. Ajeitado às 10 da manhã. |
Começa a cheirar ao Natal…
O tempo nas cidades também é redondo, não é só no campo com as colheitas. Como todos os anos, o labor sazonal produz os seus frutos. Com edital acabadinho de afixar no seu telejornal e a recomendação do enciclopédico professor logo a seguir — foi o 1º da lista —, a colheita já pode começar.
Há um ano, o anão aos ombros de gigantes transfigurou-se em código postal. O 632 parece que afinal era no bairro de Mascarenhas Barreto, mas o caudex, habilidoso, cifrou essa informação. Eu compreendo-o: o segredo é a alma do negócio.
Quem não aceitou de boamente este motivo foi o dr. Miguel Castelo-Branco, como deu justa nota em devido tempo lá nas Combustões.
Li há tempo que o Absonante se dedicou no Natal passado a deglutir aquele caudex tão publicamente publicitado. Mas vede como se lhe empalideceu a digestão do petisco:
Ora bem! Vi no telejornal das oito que Deus este ano ensinou a Sua fórmula ao caudex. Só que o caudex não conseguiu aprender. A fórmula de Deus não se escreve neste códice nem se deve mascarar de notícia em telejornais da R.T.P. É exactamente ao contrário.
Uma dúvida surgida ao prezado Je Mantiendrai n'«O táxi do sr. Casaca...» sobre o palácio do conde de Vimioso e sobre o palacete Beltrão acabou por me remeter para o Retiro do Quebra Bilhas, que é contíguo àquele último. Fotografias: Eduardo Portugal, in Arquivo Fotográfico da C.M.L. |
Muitas vezes naquele tempo — vendo um táxi deste modelo, daqueles da letra A — me lembrava eu automaticamente do sr. Casaca. Ao depois via logo que não era, claro. Nem faria sentido. Mais certo era o sr. Casaca estar para a Azinhaga ou para o Pombalinho em serviço. Mas antes, num pequenininho instante antes, achava sempre que podia ser.
Palácio Valença-Vimioso [e um táxi como o do sr. Casaca], Lisboa, [c. 1970].
Fotografia: Arquivo Fotográfico da C.M.L.
Oliveira da parte da mãe. Shop da parte do pai.
Castro Daire — © 2006
Passei na auto-estrada por vários destes cartazes. A 120 km/h, os inúteis que se pelam por que eu lhes delegue democraticamente o Poder impingem-me a preços de mercado a responsabilidade da sua inépcia.
Só desta vez, aceitei. Decidi o verde. E agora?
[Não devia o 'mérito' ser meu?]
Geografias de infância no velho bairro da Picheleira com personagens reais. No Bar do Justo.
Bairro da Picheleira, Lisboa, 1965.
Armando Serôdio in Arquivo Fotográfico da C.M.L..
Suponho que eram os gregos antigos que diziam que um homem se libertaria da lei morte conquanto perdurasse a sua memória nas gerações vindouras.
Vejo agora aí uns da TV nacional muito afadigados por submeter a votos a memória dos heróis da nossa pátria. Brilhante! Finalmente haverá uma História democraticamente eleita. E elegendo assim um hemiciclo de heróis imorredoiros teremos finalmente a Democracia guindada à categoria de Metafísica. Apenas por € 0,60 mais I.V.A..
Da Democracia e da Metafísica estamos conversados. A História, prefiro-a como ela é.
Jacques Moderne - Trois branles de Bourgogne
Paço dos Duques de Bragança, Guimarães, 2006.
Mas deixemos estas vielas, que dentro de uma dezena de anos terão passado à história topográfica e toponímica de Lisboa, e tomemos a Rua do Arco do Marquez do Alegrete. [...] Esta sim, na sua pobreza urbanista, tem qualquer coisa de pitoresco, vista em enfiamento, com o seu arco ao fundo, o estendal às janelas, e os estabelecimentos populares tão característicos. [...]
Ora aí temos o Arco do Marquez do Alegrete, no aspecto de 1674, ano em que foi transformada a velha porta de S. Vicente da Mouraria, assim chamada ainda em 1554. Intitula-se do Marquez do Alegrete, porque a êle se encostou o palácio cosntruído pelo Conde de Vilar Maior, antecessor da Casa dos Alegretes, depois Penalvas e Taroucas (Teles da Sylva).Norberto de Araújo, Peregrinações em Lisboa, III vol., 2ª ed., Lisboa, Vega, 1992, pp. 78, 79.
Arco do Marquês do Alegrete
Roque Gameiro, Museu da Cidade
Bem longa foi esta jornada, que nos trouxe pela Almirante Reis e pela Rua da Palma até ao Socorro, onde nem a estratigrafia do Metropolitano regista memória do nome. Percorremos as ruas da velha Mouraria já sem risco de rufias e navalhadas; já sem ruas, pois então. Vimos o decadente palácio desses marqueses que deram nome a ruas, travessas e ao famoso arco, e agora vivem apenas na memória, ou nem isso. Teimava o nosso guia Norberto de Araújo em acabar seus passeios em poesia, de redondilha menor: assim acabamos nós esta jornada, embalados pelos pregões daquele azeiteiro e daqueloutra varina. A ver vamos o que se segue...
Palácio do marquês do Alegre te demolido para alargamento da via pública, Lisboa, ant. 1946.
Fotografias (acima e à dir.): Mário de Novaes, in Arquivo Fotográfico da C.M.L.
O velho palácio do Alegrete, que teve uma certa aura na Lisboa de setecentos, é hoje uma ruína, pouco mais que um pardieiro, condenado à demolição, mas onde estão instalados ainda estabelecimentos de vária natureza e casas de habitação. Tem a forma de um rectângulo contido entre a Rua da Mouraria (junto ao Arco, onde avulta aindo o portal brazonado dos Sylvas, entrada hoje de uma serralharia), a Rua Martim Moniz (onde existe um portal do antigo tipo arquitectónico), a Rua da Palma, agora em muro raso (desde que em 1935 foi demolido o prédio da ourivesaria Cunha, que se encontrava a êste tôpo do palácio) e o Largo Silva e Albuquerque, antiga Rua dos Canos (onde na fachada se rasgam dois portais também do tipo dos antecedentes).
O Arco, sôbre o qual assentam dois andares, cada um com a sua janela, pertence ao prédio da Rua do Arco do Marquês do Alegrete, que se lhe encosta, e que é propriedade da família dos condes de Tarouca.
Norberto de Araújo, Peregrinações em Lisboa, III vol., 2ª ed., Lisboa, Vega, 1992, p. 78.
Palácio do marquês do Alegrete, Lisboa, 1946.
Fotografia: Eduardo Portugal, in Arquivo Fotográfico da C.M.L..
Tivesse eu que dar a notícia do falecimento dalguém à família, certamente lamentaria a fatalidade e ficaria constrangido com a tarefa que me calhara em sorte. Pois a SIC Notícias andou a tarde inteira orgulhosa porque foi quem deu a notícia à família da vítima portuguesa que seguia bordo do avião que caiu no Brasil. E foi asinha lá filmar a dor.
Vejo agora por que andam sempre à cata de vítimas portuguesas em todas as catástrofes.
Tudo isto — que é um dédalo — eram os canos da Mouraria, que transmitiram o nome às nossas contemporâneas Travessa, Beco e Rua dos Canos, de dístico substituído em 1885, por êste actual de Silva e Albuquerque, operário muito culto, um apóstolo da instrução primária gratuita, falecido em 1879.
Como já disse tôda esta área foi alagadiça, depois de ter sido um verdadeiro rio, e assim por aí acima, pelo Bemformoso e Anjos, até Arroios.
No séulo XVI isto por aqui eram os «Canos de S. Vicente» (da porta de S. Vicente), e no século seguinte «Canos da Mouraria».
Estas horriveis serventias, Beco da Póvoa, Rua dos Vinagres (onde havia a póvoa dos vinagreiros), Rua dos Álamos, já de 1550, e mais vielas, eram tudo — os «Canos».
E êsses canos eram umas valas abertas no leito da rua, escoantes das águas que, no vale, corriam das encostas de Sant'Ana e do Castelo, e vinha já de Arroios. Em 1840 ainda aqui havia sumidouros, cobertos de grades, como os do Rossio, nos passeios laterais.Norberto Araújo, Peregrinações em Lisboa, III vol., 2ª ed., Lisboa, Vega, 1992, p. 79.
Legenda:
A) Hospital de S. José; B) S. Domingos; C) Castelo.
1) R. da Palma; 2) Igreja e Largo do Socorro; 3) R. do Socorro (a poente, saía-lhe a Tr. do Socorro para a R. do Arco da Graça); 4) R. das Atafonas; 5) R. Mouraria; 6) Ermida da Senhora da Saúde; 7) Palácio do Marquês do Alegrete; 8) Arco do Marquês do Alegrete; 9) Rua Martim Moniz (R. de São Vicente à Guia) ; 10) Tr. Silva e Albuquerque (Tr. dos Canos); 11) Largo Silva e Albuquerque; 12) R. Silva e Albuquerque (R. dos Canos); 13) R. dos Vinagres; 14) R. do Arco do Marquês do Alegrete; 15) Rua dos Álamos; 16) Poço do Borratém.
Planta 11G (URBA-LT-03-05-5-11G) do Levantamento da Planta de Lisboa: 1904-1911.
Verbete revisto em 1/11/2009 e em 26/IX/20.
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