« Na madrugada de 25 de Abril de 1874, quando o curro que no dia seguinte devia ser toureado no Campo de Santa Ana chegou ao largo de Santa Bárbara, tresmalharam-se dois touros e andaram passeando pelas ruas da cidade alarmando a povoação.
Um dos bichos andou a rondar um posto da guarda municipal e foi também passar revista à sentinela do Hospital da Marinha... Foi depois o mesmo animal ao cais dos soldados; aí apanhou a jeito o carregador dos caminhos de ferro António Rodrigues, por alcunha o Lagartixa, atirou-o ao ar e vazou-lhe o olho esquerdo...
O segundo bicho fugido da manada fez grandes ferimentos em António Augusto de Araújo, servente do Teatro do Príncipe Real... Colheu também Serafim dos Santos e um inglês que esteve em risco de não voltar à sua pátria e ficar depositado no cemitério.
Por fim o referido animalejo dirigiu-se à praça da Figueira com grande surpresa das vendedeiras que não esperavam tão amável freguês. O brutinho era guloso por fruta e satisfez o seu grande apetite comendo o que desejou e à borla.
Saíu do mercado com o baú de tal forma cheio que já nem podia correr, sendo por isso apanhado na rua dos Fanqueiros... » (1)
(1) Rodovalho Duro, História do Toureio em Portugal, pp. 130 e 131, apud Luiz Pastor de Macedo, Lisboa de Lés a Lés, vol. III, 3ª ed., Lisboa, Publicações Culturais da C.M.L., 1985, pp. 174 e 175.
Nevoeiro à saída da ponte sobre o Tejo (dita 25 de Abril), Lisboa, 2005.
Adenda (1/5/07 às 21h42): o seu a seu dono; a fotografia é de Luísa Gonçalves.
Dantes em Lisboa havia muito quem chamasse jornaleiros aos ardinas...
Ele há agora um anúncio com a jornalista Judite simulando ser jornaleira numa banquinha de centro comercial porque não acabou os estudos. Se o anúncio vier a ter o êxito que eu espero, qualquer um há-de poder vir a ser jornaleiro porque haverá planos de estudos cientificamente elaborados e cursos superiores para essa profissão. A de jornaleiro ardina, entendei. Hão-de ensinar até os antigos pregões dos ardinas. Por agora a pobre jornaleira Judite, sem estudos, não sabe apregoar sequer os vespertinos:
- Ó DIÉRI' POPLEEERE!... À CAPITÁÁLI!...
Obviamente esta campanha é obra dalguém assaz, como direi... incentivado a acabar os estudos. Bem vejo que lhe deram agora uma nova oportunidade. O publicitário esgotado há-de-se recompor no Allgarve...
Imagem do Cachimbo de magritte.
O último troço da Rua do Sol a Chelas que ainda não foi desfeito - que por acaso é o primeiro pois a rua começa na Estrada de Chelas - é o dos putos aí abaixo; despega-se da dita estrada para poente; resta um pedaço entre aquela estrada e a linha de fecho da cintura ferroviária (a do Túnel da Bruxa) que vai de Chelas a Xabregas.
Aqueles cachopitos estão ali a meter-se com o homem lá adiante: da cantilena que lhe estão a atirar adivinho alguma alcunha pouco honrosa cheia adjectivos menos próprios. Dos gestos que lhes vejo e do que conheço do género autóctone daquelas paragens a pantomima deve ser uma berraria de impropérios repetida até fartar. Se o homem lhe dá de inverter a marcha para lhes dar caça, imagino os putos desatando a fugir por aquela ribanceira acima. O homem há-de desistir logo ali da caça. Dá impressão que vai para o trabalho e não se irá meter pelas terras. Faz o ameaço para os espantar e chega. Os putos ainda hão-de gritar alguns impropérios desde cima da ponte mas logo se põem em caminho da estação de Chelas ou do túnel de Xabregas; qualquer dos lados dá mais aventuras certas...
Subir por aquelas terras para a linha do comboio era uma tentação...
Viaduto Ferroviário [da Rua do Sol a Chelas], Lisboa, [1961].
Artur Goulart, in Arquivo Fotográfico da C.M.L.
Carlos do Carmo - Os putos(Cantiga nos Anos 60 ponto come.)
Diz a D. Scarlata que a rua tem um nome romântico que não combina com o aspecto. Pois aqui está uma vista que recordava ainda em [talvez] 1961 o aspecto campestre deste caminho. Ao fundo a encosta N. do cemitério do Alto de São João - de que se vê apenas o muro os contrafortes - que aqui vemos povoada de oliveiras. Estas terras foram em tempos duma Quinta do Pinheiro. No vale ao fundo daquela encosta - esta estrada ia lá dar - havia a quinta do sr. Abel; se era num talhão roubado à dita Quinta do Pinheiro não sei; nem sei se ele - o sr. Abel - era rendeiro se proprietário. Sei que em menino fui lá muitas vezes com a minha mãe ao leite...
Rua do Sol a Chelas, Lisboa, [1961].
Artur Goulart, in Arquivo Fotográfico da C.M.L.
Cá o sítio parece que não anda apreciável. Só vultos encobertos se aproximam. Se se aproximam...
Rua do Sol a Chelas, Lisboa, 1961.
Artur Goulart, in Arquivo Fotográfico da C.M.L.
Acabar com o puxão de orelhas foi quanto bastou. Os meninos das fisgas cresceram e já governam a pólis.
Noto esta civilização em cacos.
width=500>align=left width=500 color=#ff0000> Prémio de 2007 para desenhos humorados na imprensa mundial.
Do país do Calimero ao Sítio do Picapau Amarelo.
Mas para brincar ao faz-de-conta, que tal os Barbapapas, hem?!
(*) Uso o linguajar da moda por soar assaz adequado à modernidade faz-de-conta. É não é?
Ou de como no termo de Istambul ainda há hortas... Nem só de betão vive o Homem!
Muro de Constantinopla, Istambul, 2006.
Linhares da Beira, 2007.
Fotografia de Funes, o memorioso.
Este, quadro, esta cena delicada, saíu-me para comentar numa prova há muitos anos... Não me recorda o que escrevi; algumas baboseiras sobre a infância no Antigo Regime, coisas dessas que me tinham ensinado no 12º ano. Não creio que tenha dito nada sobre parecer um retrato de grupo, idílico, encenado como que por um fotógrafo. Um da cidade.
- Vós, senhora, quedai-vos aí com o bebé!
- Ó menino, podes tocar a tua flauta?! Vós as três, subi ali para a carroça!
- Meninas! Ide para além mais para a beira dos porquinhos.
A aparente inexpressividade é porque não são actores, estes camponeses. Não é hábito posarem para retratos; não sabem bem que hão-de fazer e mostram-se pouco à-vontade. O menino na carroça toca timidamenrte...
O retratista fixa com olho fotográfico a cena, deixa uns luíses por conta dos ovos que leva e segue para o atelier para revelar a cena que imaginou. Porque na realidade talvez os miúdos dançassem e corressem e pulassem ali na quinta, e não isto... E talvez a mulher lhes berrasse que estivessem quietos, desesperada com o bebé que chorava desalmado.
Mas olhando para o quadro, talvez não...
(François Couperin, Les Nations — La Françoise, 1725)
Um avião quadrimotor descola de Luanda para Lisboa com 108 passageiros. Avaria-se um motor após pouco tempo de voo. O quadrimotor que falo, sem mais incidências anormais, consegue voar apenas com três motores e as tripulações técnicas são treinadas para isso (e depois habilitadas para a tarefa: uma autoridade passa-lhes um papel). Neste caso o quadrimotor só não prossegue até ao destino porque somado à avaria num motor se notou um excesso de vibração na asa, o que esforçava demasiadamente a estrutura do avião. Regressam a Luanda.
Substitui-se o motor avariado e o avião pode prosseguir já com plena potência para a Lisboa em voo não regular e sem passageiros, i.e. um voo ferry.
Afinal a tripulação original que, não fora a vibração na asa, teria voado até Lisboa com 108 passageiros e menos um motor (estava treinada para isso; e habilitada, não esqueçamos o papel), não pôde ao fim e ao cabo tripular o avião na condição ferry, com quatro motores e sem passageiros, condições aparentemente menos perigosas.
Porquê? - perguntar-me-eis.
Ora, porque lhe não deram equivalência. Logo, não estava habilitada. Ou seja, faltava-lhe o papel.
Super Constellation "Infante Dom Henrique" da TAP sobrevoando Lisboa, [1955-67].
Fotografia de André Malhão publicada em...
A questão d' o papel é muito importante. E à cautela há quem opte por ter dois...
Se a nora é a que está indicada pelo nº 4 duma fotografia da Praça do Chile que já vos cá mostrei, então estas damas são vizinhas ancestrais da Dona T. dos Dias que Voam. Vão elas aqui no Chile como quem torneja da Morais Soares a caminho da Av. Dona Amélia (Almirante Reis). Ao fundo a Penha de França; no sopé do monte o muro da Travessa do Caracol da Penha e as casas da quinta do Saraiva, que agora são sítios ali pela Rua dos Heróis de Quionga.
Panorâmica da Penha de França, Lisboa, c. 1900.
Paulo Guedes, in Arquivo Fotográfico da C.M.L..
- Repare! Foi há 14 anos... - defendeu-se.
Terrível foi aquele olhar de esguelha da jornalista Flor Pedroso enquanto juntava as fotocópias onde um bach. atamancado quase rasurava a engenharia.
Ponte Salazar, Lisboa, c. 1966.
(Col. Portugal Turístico, 901/L)
Com tamanha falta de... memória, admirem-se da Ponte Salazar vir a ganhar o concurso das maravilhas.
Ref.ª: Maria Luísa Torres Pires, Francisca Laura Batista, Glória N. Gusmão Morais, Livro de leitura da primeira classe, 1.ª ed., Lisboa, Papelaria Fernandes, 1967. Ilustrações: Maria Keil, Luís Filipe de Abreu.
Na zona dos acantonamentos os melhores estaminets são as mess dos officiaes e dos sargentos. Outros tem um piano mecanico e á tarde os soldados de Portugal vão para ali curtir a nostalgia da sua aldeia distante ouvindo a maquina desafinadissima, fazendo durar o copo de cerveja e galanteando a moça, que, a meudo tem de exclamar « Non compris » ou de empregar as primeiras palavras de portuguez que as mulheres de França aprenderam : « Esteja quièto »...
«Migalhas da Guerra», Portugal na Guerra: Revista Quinzenal Illustrada, n.º 6, Novembro de 1917, p. 10.
Billy Preston - My Sweet Lord
Vidrão rima com arquivão.
E nem a arrumação do popó desengrossa...
Torre do Tombo, Lisboa, 2007.
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