Os limites são inadequados e os radares são um atraso de vida, dizem alguns (muitos, quase todos).
Passo e observo o jardim. Hoje vinha um senhor de fato claro com uma pasta na mão. Não se alongou no caminho até à passagem subterrânea. A velocidade modera-se logo à saída do túnel de Entrecampos. Aposto que há-de atravessar ali sem correr sequer.
Num banco um maltrapilho imóvel - vejo-o de costas - parece dormir sentado. Ontem um homem lia o jornal no banco a seguir; um casal passeava o cão. Do outro lado uns operários entaipavam o velho prédio do nº 180; - que mamarracho brotará dali? - penso. Passo o Quebra-Bilhas e ocorre-me sempre o nome do casarão aonde se encosta: o palacete Beltrão que foi de Fausto de Figueiredo. Hoje diz que pertence à Opus Dei.
Subo o Campo Grande sem semáforo que me detenha. A menos de 50. E dou comigo a pensar calmamente nisto tudo e no rápido ritmo da mudança que me é induzido por consultores e outros arautos da competitividade [mais um desses palavrões da moda].
Competitivo para quê? Para gerar mais e mais riqueza, sempre mais e mais depressa? Para poder pagar carradas de qualidade ISO 9000 plastificada? Para comprar segurança...?
Os radares põem-nos paradoxalmente no ritmo certo. A vida é que anda com excesso de velocidade.
Soubéssemos nós perceber isso.
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Jardim do Campo Grande, Lisboa, 1966.
Fotografia de Jorge Guerra in Arquivo Fotográfico da C.M.L..
Os de fora dizem que os de Lisboa não têm terra. Mas não é Lisboa uma terra como outra qualquer?
- Terra? - dizem-me. Qual terra?! Lisboa é só cimento e alcatrão.
Talvez seja por isso que os de Lisboa acabam também por ir de férias como os de fora: para a terra.
Há meses publiquei esta fotografia da Av. Guerra Junqueiro em Lisboa, e alvitrava poder ser uma leitaria o estabelecimento antecessor da Mexicana, cujo toldo vedes à esquerda. Ontem tive o grato prazer de receber um elucidativo comentário nesse verbete sobre a dita pastelaria.
Agradeço ao benévolo leitor Ricardo Jorge a interessante informação. Apraz-me muito saber estas curiosas histórias, mormente quando se trata de lugares que me são tão familiares como a Mexicana. Redijo esta nótula à margem para dizer que fui à Mexicana hoje à tarde para café e refrescos na esplanada. Para evitar os pardacentos torcionários das redondezas optei por pôr o carro no parque subterrâneo. Admirou-me que a entrada do parque tivesse o gradeamento descido vedando totalmente o acesso. Fiquei até na dúvida se o parque estaria aberto, mas uns dizeres pintados no portão - Aberto 24 horas; toque à campainha para ajuda - desfaziam o equívoco; aquilo deve ser para vedar a entrada à fauna indesejável que por ali pulula com tanta diligência em arrumar carros. Todas as entradas e saídas, as de peões também, estavam trancadas. Admira-me eu é passar-se isto num domingo à tarde, no Verão. Triste Lisboa!... |
Há muito tempo, quando o Rui Veloso ainda usava óculos, havia um barzito a par de São Vicente onde eu ia muito. Chamava-se Casa da Lina; tinha um artista lá - um certo Luís Duarte - um tipo forte e divertido que tocava muito do repertório do Rui Veloso, coisa que me agradava. Outro bar onde me lembra de o ver actuar era um na Rua da Bombarda, às Olarias, mas cujo nome já não tenho ideia.
O Luís Duarte não consta no Tubo, mas o Rui Veloso do tempo em que usava óculos sim, o que - não desfazendo - é uma vantagem.
Rui Veloso - Sei de uma Camponesa
| O caso da menina inglesa mostra toda a sofreguidão dos noticieiros. No Sol havia há pedaço 206 títulos indexados ao triste caso (*). Títulos, não notícias, porque a grossa maioria é boataria gratuita. Leio salteadamente alguns dos títulos. É aflitiva a nulidade noticiosa e mental naquele rol de nada. |
(*) Não julgueis que os contei um a um (trabalhos me deram!); fiz parecido com o alegado (eh! eh!) acessor do dr. Filipe Meneses de Gaia: seleccionei, copiei e colei os títulos numa folha de cálculo e vi logo quantas linhas dava. |
Nota: será o parágrafo à parte para falar só dos terceiros um exemplo de reverência também por parte de Vicente Jorge Silva? |
Abstraindo para já do triste caso da menina atentai à gramática. "A Polícia Judiciária transmitiu...": ora o verbo 'transmitir', sendo transitivo, pede complemento directo; mas lendo pergunto: transmitiu o quê? Há ali algum complemento?
Bem! Há um indirecto: os magistrados; mas não se percebe o que lhes foi transmitido. Só se dissessem A Polícia Judiciária transmitiu aos magistrados &c. que acredita fortemente na possibilidade de blá blá blá.
Há no texto da notícia um erro de concordância, portanto; o complemento directo não concorda em número com sujeito. A menos que o (a) jornalista ache que a Polícia Judiciária é um substantivo colectivo e force - alegadamente - por aí o plural.
Ou talvez não saiba - alegadamente - contar...
Que me lembre, este caso da menina inglesa — segundo os jornalistas - já foi rapto sórdido levado a cabo - alegadamente - por um luso-britânico; a menina já foi vista na Holanda; já houve um - alegado - pederasta suíço que morreu; os pais da menina já foram ao Papa e a Marrocos à procura; há dias um cão descobriu que a menina morreu; a — alegada — culpa passou para os pais; a culpa anteontem era dum amigo dos pais; ontem a menina foi vista em Espanha; hoje diz que houve um acidente dentro do apartamento há três meses...
Há erros de concordância na notícia, portanto. Ou os jornalistas não a sabem contar. Alegadamente.
No princípio de Julho de 84, com as férias grandes a perder de vista e com juvenil desejo de descoberta e aventura que bebera talvez dos livros d' Os Cinco, propus à malta da rua irmos para à praia. O projecto tinha inclusivamente um plano para fugirmos às bichas da ponte: ir de autocarro a Belém apanhar o barco da Trafaria: daí para São João da Caparica podia ir-se a pé; poupava-se no transporte. Secretamente este plano recordava-me à passagem a velha praia da minha infância mai' recuada que a marcha do progresso tornara imprópria.
O plano foi aprovado só formalmente com um - É... podemos ir... -, sem nenhum entusiasmo: era aventura algo extravagante para a malta, que era mais amiga de jogar à bola logo ali de imediato, na rua, que cansar-se até São João da Caparica para fazer o mesmo. Além disso estava muito vento, o que é mau para a praia.
De acordo. O vento era aborrecido, mas se o vento passasse...
- Ah! Isso podíamos ir.
O vento não passava; por mais que eu procurasse ao Anthímio ou ao Costa Alves na televisão, o boletim só dava vento moderado a forte. E assim, mesmo que eu insistisse, aqueles dias iam correndo e o vento foi refrescando o entusiasmo da aventura juvenil, da mesma forma que refresca em 2007 o Verão mais quente de todos os tempos.
Provavelmente acabei por ir à praia em 84; e hei-de ter feito alguma coisa mais, mas o que me lembra mais vivamente agora desse Verão de 84 é do ventoso que foi - como este de agora. Não creio, porém, ter ouvido nessa vez o anticiclone ser responsabilizado como agora.
Comboio da Costa da Caparica, [s.d].
Fórum Motor Clássico.
Corrigido às 7h06 da tarde.
Trocando os algarismos à data da fotografia... Já posso ir à Rua do Açúcar. Às vacinas...
[Algo sucedeu à ponte ferroviária!...]
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Eléctrico 332 sob o viaduto ferroviário de Xabregas, Lisboa, 1983.
Fotografia de Phil Trotter, in The Portuguese Mono Tramway File.
Em pequenos, uma maneira típica de dizermos os eléctricos era cantarolar:
- Plim Plim, Xabreeegas!
Viaduto de Xabregas, Lisboa, 1938.
Fotografia de Eduardo Portugal, in Arquivo Fotográfico da C.M.L..
As notas dos euros têm arcos.
Também Xabregas.
border=1 width=665 alt="Xabregas (A.Madureira, 1968)" src="http://arquivomunicipal2.cm-lisboa.pt/xarqdigitalizacaocontent/Imagem.aspx?ID=2330205&Mode=M&Linha=1&Coluna=1">
Viaduto de Xabregas, Lisboa, 1968.
Fotografia de Arnaldo Madureira, in Arquivo Fotográfico da C.M.L..
Semana a semana tenho vindo a ler com deleite o Álbum de Memórias do professor Hermano Saraiva. Na outra semana deixei-me atrasar. Enquanto tento recuperar a leitura fixo-me num passo de 1992 - as primeiras impressões sobre a América. Convidado para proferir lá algumas palestras, aconteceu em cada dia um dos anfitriões ser escalado para acompanhar o professor Saraiva. Numa das vezes...« Acabam por me levar a uma galeria comercial para fazer compras. Tinha vagamente pensado em levar à Maria de Lourdes um blusão de cabedal, mas de pele mais macia, leve e, se possível, branca. Digo-lhes isso e corremos a galeria à procura. Nada que se pareça. Mas os meus companheiros dizem-me que não devo sair sem comprar alguma coisa. Seria repreensível. E sugerem-me camisas e camisolas que acham muito bonitas: são as mais assarapantadas, garridas, absurdas. Vejo por fim uma, completamente branca, e compro-a, para me livrar da pressão. Mas não, ainda não. É preciso continuar a comprar. Estamos na época do Natal. Devo, portanto, comprar artigos natalícios. Esta insistência não é uma exigência indiscreta, mas um gesto de amabilidade. Para os meus torcionários, viver é consumir. Trazem-me às compras como se me levassem a um paraíso terreal. Procuram proporcionar-me o maior prazer que conhecem: comprar. Até que ponto o consumismo pode moldar-nos a alma! »
J. H. Saraiva, Álbum de Memórias, 8ª Década (Anos 90), I parte, 1ª ed., [Lisboa], Sol, 2007, p. 31.border=0>
Centro Colombo, Lisboa, 1997.
Imagem em ...
Olhando para "Os ciclistas" avisto três casas: à esquerda o antigo palacete da Av. da República, 77, que já foi abaixo; à direita o nº 87 da dita Avenida da República; ao meio, vejo de lado um prédio de rendimento que julgo ser o nº 5 da Av. Júlio Dinis. Os dois últimos milagrosamente estão hoje de pé. Aliás, na Av. Júlio Dinis creio que só aquele nº 5 (e o nº 7 que lhe é gémeo), se aguentam. Todas as mais casas do princípio das avenidas novas que lá houve veio a dar-lhes o... camartelo.
Av. Júlio Dinis [vista da 5 de Outubro], Lisboa, [anos 60]
Av. da República, 85 [esquina com a Av. Júlio Dinis] e 87, Lisboa, [c. 1970]
Avenida da República, [81 a] 85, esquina com a Av. Júlio Dinis, Lisboa, 1970.
Fotografias: Arnaldo Madureira e Artur Inácio Bastos, in Arquivo Fotográfico da C.M.L..
1º Acto
O anticiclone dos Açores está a ser responsabilizado [sic] pelo Verão fresco... - anuncia o apresentador que sabe a fórmula de Deus no seu habitual estilo bombástico.
Responsabilizado? Irão processá-lo? (Ao anticiclone, claro.)
2º Acto
O meteorologista Costa Alves aparece a substanciar: Três em cada dez verões são frescos... O anticiclone costuma posicionar-se [que foi feito do verbo pôr?] a oeste... Este Verão está a sudoeste.
Das duas uma: ou enquadram este Verão na normalidade dos 3 em 10 ou amarram o anticiclone ao sítio dele. Agora é só escolher.
src="http://fotos.sapo.pt/biclaranja/pic/000pce2q/s500x500" border=0> face=times size=2>(Imagem do Livro da Primeira Classe.)
Parece que sobra aí tanto tempo que vai de encher chouriços...
Não me apetece muito exaltar Aljubarrota. Orgulho-me do feito; mormente da consequência histórica. Mas sinto que hoje qualquer exuberante manifestação me soa demasiadamente como o estrebuchar dum moribundo...
A transcrição de Fernão Lopes que há um ano cá deixei é exemplar: Aljubarrota foi um acto em que os muitos, por subjugar os poucos, e os poucos, por se verem isentos de seus inimigos, lidavam com toda sua força.
A batalha continua.
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align=left width=125>Postal de Antigamente.
Certa vez que procurei ao meu pai o que se lembrava ele dos lugares de Alvalade ou do Campo Grande antes daquilo tudo ser urbanizado saiu-se-me ele com uma história duma corrida Porto - Lisboa no tempo do Trindade e do Nicolau. Devia ter ele uns seis ou sete anos — disse-me ao cabo de contar a história — o que leva esta história para 1935 ou 1936. ![]() Corrida de bicicletas em Lisboa, [Campo Pequeno], [c. 1910]. Fotografia: Arquivo Fotográfico da C.M.L.. Uma outra consequência foi a minha avó lhe ter pregado à chegada dois açoutes no rabo por se ter escapado para tão longe e ela afligindo-se sem saber dele. |
(*) Publicado originalmente em 12 de Agosto de 2007 às 4h06 da tarde. Trasladado conforme o original a esta data (7/VIII/2013), com todos os comentários, por capricho do autor. E reposto na data original em 20/VIII/2013.
Caso aquela flexão do verbo 'realizar' ali sublinhada vos pareça extravagante ou pouco clara, o seu sentido vem explicado na Britânica: vale a 3ª acepção.
O professor de Direito diz muitas... muitas coisas. Isso desgasta-lhe o Português.
Segui o conselho. Ora vede lá quem faltava...
height=375 alt="Pinto da Costa box" src="http://fotos.sapo.pt/biclaranja/pic/000p9rse/s500x500" vspace=6 border=0>
Parece que não atendeu.
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