Os reformados, é sabido, têm um certo fascínio por obras. Cuido que as crianças e os governantes também. Pelo menos eu em criança tinha.
Casas que antecederam o prédio do alfaiate, Picheleira, 1969.
Na minha rua, dantes, não havia grandes obras. Houve o prédio do alfaiate ao lado da mercearia do sr. Albino. Quando o fizeram, devia eu ter três ou quatro, puseram uma escavadeira a tirar terras. Eu gostava tanto de vê-la no afã de carregar as camionetas que me debruçava da janela. A minha mãe afligia-se, temendo que caísse. Depois disto julgo que só levantaram outro prédio lá na rua já nos anos 90. Foi quando demoliram o 8, uma casinha onde morara o careca da leitaria, para fazerem um prédio de r/c, 1º e 2º. Foi pena a casa, que era característica dos primórdios do bairro, mas nessa época foi já obra para mim sem interesse...
Casa do careca da leitaria, Picheleira, 1969.
Uma obra que em pequeno via habitualmente fazer era calcetarem a rua. Não digo só calcetar buracos, que os havia poucos, mas calcetar o passeio de empreitada em todo o comprimento da rua. Numas vezes vinham a companhia das águas ou do gás abrir caboucos a meio dos passeios ou rente às paredes das casas. Ele devia ser por causa das canalizações. Lembro-me que punham pranchas de madeira com travessas pregadas que pareciam as dos barcos da Trafaria, mas mais pequenas, para as pessoas entrarem nos prédios. Noutras vezes - que eram as mais delas - vinham os homens da Câmara com picaretas levantar as pedras todas que amontoavam longitudinalmente ao passeio, ora na estrada, ora no próprio passeio. Vinham só alinhar [nivelar] os passeios, não cavavam buracos. Ao depois que alinhavam [nivelavam] o terreno calcetavam tudo muito bem, espalhavam a areia para colmatar os intervalos das pedras e, tinha graça, regavam com um regador de alumínio [de zinco, digo,] antes de calcarem com os maços. Não punham cimento como há quem ponha hoje impermeabilizando a calçada; e o trabalho era todo manual, não havia máquinas.
Obras municipais: calceteiros, Avenida da Liberdade, 1907.
Estas obras de abrir caboucos nas ruas ainda as há, por causa das TV por cabo e assim; já as de alinhar [nivelar] o pavimento da calçada acabaram vai para mais de trinta anos (tanto quanto vejo). São provavelmente coisa mesquinha para a grandiosa civilização dos megaprojectos de requalificação disto, de reabilitação daquilo, ou para desenvolvi-
mento sustentável já não sei do quê mais.
Ontem, com a chuva, afundei os pés numa cova do passeio cheia de água à saída da padaria. Como eu chapinhei outros poderão cair. Agora apregoem-me os modelos de excelência para qualidade de vida!...
Obras municipais: calceteiros, Largo Dom João da Câmara, 1907.
Fotografias: Picheleira, Arnaldo Madureira; calceteiros, Joshua Benoliel; todas do Arquivo Fotográfico da C.M.L..
Outra maneira de ver...
Adega de Sines, Sines, 2006.
Com o jeito certo ainda havemos de ter um bama só nosso nas próximas eleições.
Deu há pedaço no Telejornal que a mãe do sócio da Smith & Pedro mora na rua detrás da farmácia.
(Imagem do D.N.)
Há algum tempo sempre que ligava a televisão topava com um desses episódios do C.S.I. num lado qualquer dos pontos cardeais, mas nestes últimos dias só se tem visto o C.S.I. em Freeport.
Hoje pareceu-me, porém, que foi caso do Sem Rasto contra-atacar...
Onde vão já as meninices de ouro?!...
Obrigaria a empregar boys camionistas. Que seria um problema...
Camiões para a J.A.E., Lisboa, [s.d.].
Fotografia: Estúdio de Mário de Novaes (1933-1983), in Biblioteca de Arte da F.C.G..
O sr. primeiro ministro (assaz inflamado, mas lá terá as suas razões...) parece que deu em concessão 70 km de empregos no Baixo Tejo (nome apropriadíssimmo (!) para dizer o Norte da península de Setúbal). O novo sucedâneo da Junta Autónoma das Estradas, além de rasgar assim muitos quilómetros de empregos indirectos, presta-se bem a central de empreitadas. Fosse isto uma depreciação (que não pode ser, claro! - não nestes tempos) do trabalho da antiga J.A.E. e o bota-abaixismo já se vê o que seria.
Praia da Costa, Costa da Caparica, [1946].
Fotografia: Estúdio de Mário de Novaes (1933-1983), in Biblioteca de Arte da F.C.G..
Uma das referências que veio à baila para a datação da fotografia da Avenida, de Mário de Novais e que aqui deixei há dias, foi o prédio, ou prédios, do quarteirão oriental da Rua do 1.º de Dezembro no troço acima do Largo de Dom João da Câmara. Pois no que esgravatei por causa do caso no Arquivo Fotográfico da C.M.L. encontrei esta muito antiga. Mostra o troço de rua do Hotel Avenida Palace antes da abertura da Avenida da Liberdade. O portão que se vê adiante é do jardim do Passeio Público que havia no lugar de Valverde, hoje Restauradores, e que vinha do tempo do Marquês de Pombal. Ocupava todo o espaço que vai até por altura da Rua das Pretas. Aliás, o prédio que se vê nesta fotografia ao cimo do passeio público era num largo que ligava a Rua das Pretas à Praça da Alegria; chamava-se Praça da Alegria de Baixo.
Rua do Príncipe (actual do 1º de Dezembro), Lisboa, 1882.
A seguir o mesmo troço de rua pela lente de Eduardo Portugal em 1943 e, na conjectura do arquivista, c. de 1952. De todo o modo, ambas anteriores à demolição do quarteirão oriental acima do Largo de Dom João da Câmara. Na segunda notam-se os grandes toldos dos afamados cafés Martinho e Suisso.
Rua do 1º de Dezembro e Largo de Dom João da Câmara antes das demolições, Lisboa, 1943.
Rua do 1º de Dezembro e Largo de Dom João da Câmara antes das demolições, Lisboa, c. 1952.
Fotografias do espólio de Eduardo Portugal, in Arquivo Fotográfico da C.M.L..
O tio de Sócrates não tem existência própria. É um sucedâneo mediático com marca de origem. Nesta medida o seu valor nunca se livrará da paridade com a casa-mãe.
Ou casa-sobrinho.
O fotógrafo Eduardo Portugal subia o Campo Grande; parou o automóvel para tirar esta... A carroça ia além.
Prosseguiu no carro; parou lá ao cimo e tirou outra... A carroça ainda lá vinha; ficara para trás.
Pelo caminho parou por altura do 180 para olhar para trás, quere-me cá parecer...
Campo Grande, Lisboa, 1941.
Eduardo Portugal, in Arquivo Fotográfico da C.M.L..
E quere-me cá parecer também que parou mais vezes entretanto...
Um eufemismo para anunciar a demolição daqueles prédios de rendimento mais altos, ao fundo desta fiada que dá certo ar de vila operária novecentista.
Que admirável mundo novo...
Campo Grande, Lisboa, 1941.
Eduardo Portugal, in Arquivo Fotográfico da C.M.L..
Se os donos da bola nem de ler o que escrevem são capazes, como haveriam então de saber contar golos sem meter os pés?!...
Mas nisto, como nos desafios de rua da nossa infância, é preciso deixar sempre jogar os donos da bola, que senão eles levam a bola para casa.
Jogo de futebol, Lisboa, [s.d.].
Fotografia: Estúdio de Mário de Novaes (1933-1983), in Biblioteca de Arte da F.C.G.
A 20 de Janeiro, uma hora por inteiro...
Portugal: homens do campo, [s.l.], c. 1890-1910.
Foto: Charles Chusseau-Flaviens, in George Eastman House.
(A casa na colina poderá dar alguma pista deste lugar?)
A mera hipótese (um diz-que-diz, portanto) dum cão de água português vir a servir de mascote ao bama da América é matéria para certo jornaleirismo logo se empolgar. Uma rádio de palermas chegou ao cúmulo de pedir aos ouvintes que ligassem dando opinião. Pois se o ridículo encaracolasse o pêlo, cuido cá que o cão de água português teria séria concorrência dessa raça de caniches noticieiros.
Imagem ...
A feitura do Metro (inaugurado em 29 de Dezembro de 59) levou à alteração de várias carreiras de eléctricos nos eixos periféricos de Benfica, Carnide e Lumiar. Algumas carreiras foram encurtadas para os limites da ligação ao Metro, outras foram desviadas para eixos transversais, como o 1 e o 13 que passaram a ligar Benfica e Carnide ao Chile.
O segundo passo desta restruturação [de 1960] foi a desactivação da linha da Avenida da Liberdade, que tinha ficado “decapitada” com a supressão das carreiras a norte da Alexandre Herculano. Foi finalmente construída a ligação entre a Alexandre Herculano e o Conde Redondo (a linha anterior vinda do Rato entroncava na Avenida sem a atravessar; a ligação ao Conde Redondo era feita por outra linha que subia pela Barata Salgueiro) e as quatro carreiras restantes (6 e 20, entretanto em regime de ida-e-volta com dois terminais muito próximos, e as circulações de S. Bento e da Estrela) restruturadas.
Cruz-Filipe, A minha página da Carris.
Ora se a linha da Alexandre Herculano, vinda do Rato, só passou a atravessar a Avenida com a restruturação dos eléctricos em 1960, então a fotografia da Avenida foi mal datada por mim. Na verdade baseei-me em dois aspectos para a circunstanciar entre 53 e 58: 1) a data da construção do prédio abaixo dos Restauradores, oposto ao Hotel Avenida Palace, que tenho ideia ser de 53; 2) a data do Metro, que cuidei ser 58 e afinal foi 59. O resultado foi tão grosseiro quanto eu fui descuidado.
A linha vê-se aqui bem neste recorte que destaquei da fotografia original (fi-lo na boa fé apenas de melhor ilustrar a ideia que exponho), que é então do ano de 60 ou posterior. Olhando, porém, mais atentamente também se vêem na imagem os estandartes da Ordem de Cristo engalanando a Avenida. Pois se são eles, como suponho, por motivo das Comemorações Henriquinas, arrisco então (esta mania já não leva emenda) datar a fotografia do próprio ano de 60.
Eléctricos atravessando a Avenida na Rua Alexandre Herculano, Lisboa, 1960.
Fotografia: Estúdio de Mário de Novaes (1933-1983), in Biblioteca de Arte da F.C.G..
Uns quarteirões na Avenida mais ou menos intactos. Antes do Metro ter arredado os eléctricos de lá. Em ampliando a fotografia acham-se detalhes mui interessantes, desde a publicidade dos eléctricos ao convento da Graça ou ao rio Tejo.
Avenida da Liberdade, Lisboa, [1953-1958].
Fotografia: Estúdio de Mário de Novaes (1933-1983), in Biblioteca de Arte da F.C.G..
Ford Lusitana, Lisboa, [s.d.].
Porfírio Pardal Monteiro, 1897-1957. Interiores de um projecto de 1930; concluído em 1932. Edifício parcilamente demolido em 1967; definitivamente em 1974.
Fotografia sem data. Produzida durante a actividade do Estúdio Mário Novais: 1933-1983.
Casa Camelo (Campo Grande, 394-396), Lisboa, 1941.
Eduardo Portugal, in Arquivo Fotográfico da C.M.L..
Uma faixa em rodapé na S.I.C. Notícias dizia: U.E. quer casamentos homossexuais reconhecidos pelos 27 membros. A notícia do IOL aduz as razões da deputação de Estrasburgo para sustentar a coisa: estímulo à circulação de pessoas (no caso, homossexuais, parece claro); concessão de asilo a vítimas de perseguição por causa da sua orientação sexual (homossexuais, portanto).
Hum!...
(Como diabo é que se sai desta confraria?)
Dois prédios condenados - um de belo estilo, fazendo lembrar, talvez, Paris ou Roma - exibem em quase toda a fachada uma dessas modernas telas anuncinado edificação nova disponível brevemente, ou lá o que é.
As árvores despidas pelo Inverno e a luz da tarde podem ser boas para a fotografia. O título "Baile armado" pode ter graça num verbete, ao depois.
Entretanto...
Campo Grande, 180, Lisboa, [s.d.].
Arnaldo Madureira, in Arquivo Fotográfico da C.M.L..
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