Ontem embelezei... (acho que sim) a cozinha com dois quadrinhos: mostram tupperwares muito muito antigos, entre outros motivos apropriados.
Óleos: Luís Meléndez, Natureza-morta com melão e peras (1770) e Natureza-morta com laranjas e nozes (1772), respectivamente no Museu de Belas-Artes de Boston e na Galeria Nacional de Londres.
Domingo passado o sr. primeiro ministro anunciou com pompa e circunstância a concessão da E.N. 125 ao Grupo Rodoviário Algarve Litoral. Ouvi nas notícias que a concessão é por 30 anos; mas o valor do negócio é tão mal papagueado que nem se percebe... Vamos lá ver se entendi eu.
A concessão da E.N. 125 por 30 anos assemelha-se-me uma enfiteuse (*). O enfiteuta há-de pagar de foro € 28.400.000,00 pelo senhorio útil da estrada.
" Segundo o M.O.P.T.C., a escolha do vencedor baseou-se ainda no facto da Edifer propor o pagamento de 28,4 milhões à Estradas de Portugal, S.A. (E.P.) pela exploração da concessão ao longo de 30 anos, o que é inédito no programa de concessões rodoviárias apresentadas pelo Governo, uma vez que a E.P. vai receber em vez de pagar, quando o estudo de viabilidade apontava para um esforço financeiro da parte da Estradas de Portugal próximo dos 50 milhões de euros."
A.E.C.O.P.S., in Algarve Litoral.
Se bem entendo, num estudo de viabilidade (o mesmo é dizer um estudo) feito por si, a empresa Estradas de Portugal, S.A. previa uma perda (esforço financeiro é mais chique, bem sei) com a E.N. 125 de quase 50 milhões em 30 anos; a enfiteuse (ou concessão) produz um ganho superior a 28 milhões.
Sei pouco destes negócios e nem sei como se obtém ganho na exploração duma estrada nacional onde não há nem vai haver (em princípio) portagens. Mas, sendo possível fazer das rodovias sem portagens um negócio lucrativo, a sucessora da J.A..E. devia sabê-lo. E a final de contas faz um estudo de viabilidade (mas viabilidade porquê?) em que estima gastar ao todo 804 milhões em grandes obras nos próximos três anos, mais manutenção nos próximos trinta; somada a renda obtida da exploração da estrada (que inclui dotação dos impostos, presumo) obteria um saldo negativo de 50 milhões. Em simultâneo, um consórcio de empresas propõe-se, se lhe derem o senhorio útil da estrada, fazer o mesmo gastando ao todo 399 milhões (e daqui tirando necessariamente o seu lucro) e ainda por cima pagando ao Estado (por intermédio da Estradas de Portugal, S.A.) 28 milhões e tal.
Admitindo que ambas as partes, a Estradas de Portugal e a foreira Edifer, são ambas idóneas para estimar estas coisas, será possível tamanha disparidade nas contas duns e doutros? Fizeram as mesmas contas? Com as mesmas variáveis?!...
Será paranóia minha?
Entendamos-nos: a viabilidade do tal estudo parece manobra para disfarçar o contrário.
Fazem-me espécie estas concessões de obras em estradas nacionais. Dantes era missão da J.A.E. construir e zelar pelas rodovias nacionais. Missão e trabalho. Noto que desde há tempo as sucessoras da J.A.E. pegaram com ambas as mãos na missão mas foram descartando os trabalhos... O assunto é polémico. Julgo que seja dos últimos tempos da J.A.E. a sua metamorfose em singela central de concursos de empreitada com comissão de avaliação de propostas. Cuido que lá subsista residualmente um qualquer gabinete de estudos... de viabilidade...
No fim disto lembra-me o seguinte: um consórcio de empresas que não são públicas que tome o senhorio útil duma estrada nacional pode entregar directamente todas as subempreitadas que entender: a empresários familiares, amigos, conhecidos, ex-condenados, ex-o-que se-queira... Inclusive governantes... O potencial de transferir riqueza desta forma a partir do erário é aliciante e pode ter compensações inimagináveis. Não é ilegal nem constitui ilícito, como dizem agora esquecendo que ilícito também significa contra a moral. Ora, que eu ouvisse no anúncio de domingo passado, o imperativo moral são 1000 empregos nas obras para os compatriotas do sr. primeiro ministro (e ninguém fala em discriminação?!). O resto é cosmética:
A E.N. 125 tem pontos negros.
A E.N. 125 vai ter 71 rotundas.
Da antiga E.N. 125, Algarve, 1993.
Fotografia de Manuel, in H-Gasolim Ultramarino.
(*) Em rigor, a ser enfiteuse, o enfiteuta seria em primeiro lugar a Estradas de Portugal, S.A., que subcontrataria a concessão. Em todo o caso, neste negócio, a Estradas de Portugal parece que se limitou a ser consultora do governo. O tracto da E.N. 125 parece ter sido directamente tomado em mãos pelo governo; depreendo isto pelo grosso volume de informação (só propaganda) na página do M.O.P.T.C. e a omissão completa dela na da Estradas de Portugal, S.A..
« O monumento, nada famoso, concepção dos franceses Elias Robert, escultor, e Jean Davioud, arquitecto, que venceram o concurso aberto, e no qual foram apresentados 87 projectos vindos de todos os pontos da Europa! A construção é de Germano José Sales.
O pedestal é de mármore de Montes Claros, e a coluna coríntia, canelada, foi arrancada de Pero Pinheiro; a base é de granito dos arredores do Pôrto.
Essas figuras nos ângulos da base do pedestal representam a Justiça, a Prudência, a Moderação, a Fortaleza; quatro figuras em baixo relêvo adornam a parte superior do fuste. O segundo envasamento é ornamentado com os escudos de dezasseis cidades dos país.
E lá em cima, a 18 metros de altura, no bronze «eterno», D. Pedro IV, em general, cobertos ombros pelo «régio manto», cabeça coroada de louros. »
Rossio, Lisboa, post 1938.
Fotografia: Estúdio de Mário de Novaes (1933-1983), in bibliotheca d' Arte da F.C.G.
« [...] Finalmente em 29 de Abril de 1867, a esforços de uma comissão de que fizeram parte o Duque de Palmela, os Marqueses de Sá da Bandeira e de Sousa Holstein, o Conde de Farrobo, os Viscondes de Benagazil e de Menezes, lançou-se a primeira pedra para o monumento que aqui vês, inaugurado três anos depois, a 29 de Abril de 1870, com extraordinária solenidade. »
Norberto de Araújo, Peregrinações em Lisboa, XII, 2.ª ed., Vega, Lisboa, 1993, pp.67-68.
« Na produção [ao plutocrata] não lhe interessa a produção, mas a operação financeira a que pode dar lugar; na finança não lhe interessa a regular administração dos seus capitais, mas a multiplicação por jogos ousados contra os interesse alheios. [...] Não conhece os direitos do trabalho, as exigências da moral, as leis da humanidade.
[...] O plutocrata age no meio económico e no meio político sempre pelo mesmo processo - corrompendo.»
António de Oliveira Salazar, «Problemas da organização corporativa, discurso proferido na sede do S.P.N. em 13 de Janeiro de 1934», in Discursos 1928-1934, Coimbra Editora, 1939, pp. 283-298, apud Helena Matos, Salazar, vol. 2 (A Propaganda), Círculo de Leitores, [2003], pp. 11, 12.
O sr. ministro Lino gesticulava muito ontem no Algarve defendendo as obras na E.N. 125, queixando-se da visão cinzenta e salazarenta dalguns sobre o fomento nacional que - segundo disse - nos deixou um país atrasado (v. RTP, Telejornal de 27/4/2009).
O sr. ministro Lino, bem vejo, ignora que o plano rodoviário nacional que lhe legou a E.N. 125 foi feito em 1945 com recursos próprios do Estado. Pode, pois, o sr ministro Lino agigantar-se aos ombros dum anão, como corta-fitas de emprazamentos a 30 anos para umas quantas rotundas. Mas por mais cinzento ou salazarento, é devido que um anão que realize um plano rodoviário como o de 45 seja no mínimo considerado gente capaz.
Estrada Marginal, Caxias, [s.d.].
Fotografia: Estúdio de Mário de Novaes (1933-1983), in Biblioteca de Arte da F.C.G..
(Ligeiramente ajeitado às 4h25 da tarde.)
Marques da Silva porquê? — foi a pergunta que deixei por responder no Caracol da Penha. Ainda que um dos comentários lá haja dado já a solução (habilmente colhida na Toponímia da C.M.L.), não deixa de ter interesse — cuido eu — para o benévolo leitor curioso de novidades antigas, a história da demanda do topónimo pelo ilustre olisipógrafo e amigo de Lisboa, Luiz Pastor de Macedo. Ei-la, a demanda do Marques da Silva da rua do dito, tresladada abaixo em pública forma. Se bem que um pouco extensa, pode o leitor apreciar nela a uma vez o belo estilo e o método simples, mas rigoroso, do ilustre autor da Lisboa de Lés-a-Lés:
« [...] Perguntemos agora: Marques da Silva porquê? quem foi aquele senhor? que fêz ele? Marques da Silva que conhecêssemos com probabilidades de merecer consagração municipal por intermédio duns letreiros de tinta preta pintados nas esquinas de qualquer artéria, só nos lembrávamos de um, o arquitecto Adolfo António Marques da Silva, que foi um dos fundadores da Associação dos Arquitectos Portugueses, o auxiliar de Parente da Silva nos trabalhos preparatórios para o projecto de restauro da Sé, etc. Mas este Marques da Silva não podia ser o que ficou memorado nos cunhais do antigo Caracol da Penha porque tendo nascido em 1876 não podia com 15 anos de idade merecer a atenção dos edis lisbonenses. Que Marques da Silva era pois aquele? O padre António Marques da Silva, ex-frade dominicano, que publicou dois sonetos e uns Erros de concordância do relativo «cujo» demonstrados e emendados em 13 páginas, segundo informação de Inocêncio, e que acabou os seus dias empregado na Biblioteca Nacional? Ná... Não víamos ponta por onde se lhe pegasse... E fomos ao local. Talvez nos dísticos camarários houvesse alguma indicação. E havia, sim senhor. Lá estava Rua Marques da Silva — 1844/1907 — Escritor.
O leitor que não se dá ao trabalho inglório da investigação, mal adivinha a alegria que experimentam os rebuscadores de novidades antigas, quando, perante um caso fechado se encontra, laboriosamente, uma porta de entrada. Não é a sorte grande, por certo (que nós não sabemos o que é ser-se contemplado com a sorte grande da Santa Casa) mas é a sorte que dá uma alegria que por sua vez garante umas horas ou dias, conforme o alcance da descoberta, de esplêndida disposição. Pois nós, depois de termos passado um ror de tempo a querer vislumbrar o autêntico Marques da Silva, através de mil hipóteses formuladas de parceria com os nossos botões, não tivemos uma alegria ao lermos o dístico da artéria, tivemos e justificadamente um alegrão. Pronto. O Marques da Silva era afinal um escritor que tinha nascido em 1844 e que falecera em 1907. Não era tudo, evidentemente, mas era quási tudo.
No entanto — confissão completa, que o leitor merece a nossa consideração e a nossa confiança — no entanto a‑par da nossa alegria, ìntimamente, muito ìntmamente, revirava-se com certa irreverência uma pontinha de despeito. Sim. E bem vistas as coisas, a pontinha de despeito tinha toda a razão em revirar-se no nosso íntimo, travando e arrefecendo um pouco o nosso alegrão. Na verdade era imperdoável que não soubéssemos que tinha havido um escritor Marques da Silva e para mais um escritor que tinha merecido uma homenagem municipal. Mas se a pontinha de despeito, passados os primeiros momentos, refreou a alegria, a alegria, por sua vez não consentiu que nos sentíssemos excessivamente envergonhados perante a nossa indesculpável ignorância. E começámos a deitar abaixo as nossas prateleiras à procura do escritor que com certeza todos conheciam excepto nós.
Trabalho baldado. Nem um breve rastro se nos deparou. Decidimo-nos então a perguntar e escolhemos claro está o nosso amigo mais íntimo. Sempre é menos vexactório mostrarmos a nossa ignorância a um amigo íntimo.
— Ora diga-me cá. V. sabe quem foi o escritor Marques da Silva?
— Quem?
— ... Aquele que mereceu em vida pintarem-lhe o nome nas esquinas do Caracol da Penha...
— Marques da Silva?
— Sim. Que faleceu em 1907...
E quando esperávamos que o nosso amigo exclamasse admirado: — Pois V. não sabe quem foi? Essa agora..., etc. etc. — respondeu naturalmente:
— Não. Marques da Silva que fosse escritor, não me recordo de nenhum...
Mais afoitos, perguntámos a outro amigo, depois a outro, em seguida a outros, por fim a todas as pessoas do nosso conhecimento que encontrávamos. Não. Marques da Silva e então um Marques da Silva que merecesse como escritor aquela homenagem muncipal, ninguém conhecia, ninguém se lembrava...
Fomos em seguida aos livros de actas das sessões camarárias e dispostos a ir ao fim do mundo se nos palpitasse que só lá descobriríamos o decantado escritor. Mas felizmente não tivemos necessidade de passarmos das actas. Na que diz respeito à sessão de 25 de Setembro de 1891 lá está patente em bom cursivo o Marques da Silva almejado. Caiu-nos porém a alma aos pés. O Marques da Silva que se tratava não nascera em 1844, não falecera em 1907, nem fora escritor... Então? Era ao tempo um comerciante que morava na rua dos Anjos e que era proprietário da célebre Quinta da Imagem, ali ao Caracol da Penha, ao virar para a rua de Arroios, quinta da qual o sr. João Marques da Silva, — era este o seu nome — ofereceu uma fatia à Câmara para alargamento da travessa do Caracol! E lá vimos que foi nessa sessão que o vogal da Comissão Administrativa do Município, sr. Costa Lima, propôs, e foi aprovado, para que a travessa passasse a ter o nome do proprietário local que contemplou a cidade com aquela nesga de terreno da sua quinta.
Ora veja lá o leitor como estas coisas são!
Mas ficava ainda um caso por resolver: o dos letreiros com a indicação do homenageado ter sido escritor e ter nascido e morrido em tais datas. Que estava mal, estava; mas as indicações também não tinham sido postas ali à toa. Tratava-se pois, evidentemente, duma confusão. E o escritor Marques da Silva aparecia outra vez. Com que homem de letras se teria confundido o Marques da Silva da Quinta da Imagem? Continuámos percorrendo a vereda das pesquisas, até que por fim chegámos à conclusão de que o escritor que os serviços camarários supunham estar memorando nos dísticos da artéria era o Salvador Marques que também era da Silva e que na verdade nascera em 1844 e falecera em 1907. Deve-se porém notar que o escritor dramático Salvador Marques foi sempre conhecido por este nome e nunca por Marques da Silva.
E basta. Ponhamos de lado este assunto mas já agora convidemos a Ex.ma Câmara a apagar dos dísticos da torcicolada via pública as datas que lá estão e a substituir o adjectivo escritor pelo de benemérito.Luiz Pastor de Macedo, Lisboa de Lés-a-Lés, vol. IV, Pub. Culturais da C.M.L., Lisboa, 1968, pp. 54-58.
À Quinta da Imagem lá iremos... a seu tempo.
Rua Marques da Silva, 44 (antigo nº 7 ou 9?) e Av. Almirante Reis, 107 (actual 113), Lisboa, 1898-1908.
Arquivo Fotográfico da C.M.L..
Numa jornada atrasada vinha eu na Rua de Arroios. Tinha o propósito de chegar ao Largo e dizer algo da sua história mas detive-me um pouco abaixo para falar antes na Fábrica de Lanifícios; entretanto dispersei-me. Torno aqui àquele caminho, mas antes de prosseguir para Arroios merece o benévolo leitor que reproduza aqui o que nos disseram os autores antigos sobre o (passe a repetição) antigo Caracol da Penha:
Rua Marques da Silva, Lisboa, [s.d.].
Artur Goulart, in Arquivo Fotográfico da C.M.L..
« Marques da Silva (Rua) — Freguesia de Arroios e da Penha de França — O nome mais antigo que sabemos ter tido é o de calçada da Penha de França (desde 1710), passando alguns anos depois, ao tempo do terremoto, a ser designada por Caracol da Penha ou por travessa do Caracol da Penha.
Castilho, que na sua Lisboa Antiga [vol. IX, 2ª ed. p. 173] se ocupou desta serventia pública, diz-nos: « O próprio Caracol da Penha (que parece tão calado) se o interrogarmos, dir-nos-á que ainda em 1857 não era mais que uma estreita e pitoresca azinhaga, com foros de caminho de pé posto. Passar aí de noite, só Amadis de Gaula ou Ferrabraz da Alexandria; quaisquer outros mortais eram exterminados.
« Em sessão de 2 de Abril desse ano de 1857 (nos dirá o Caracol) recebeu da Câmara de Lisboa participação de haver sido aprovada pelo Conselho Distrital a deliberação tomada em 2 de Março antecedente, para expropriação de certo terreno afim [sic] de se começarem ali alguns melhoramentos projectados (Anuário do Mun. de Lisboa, 1857, n.º 33, p. 260).
« Em sessão de 10 de Dezembro, autoriza a Câmara o alargamento do Caracol, segundo a planta do engenheiro (Idem 1859, n.º 44, p. 361).
« Finalmente, em 11 de Julho de 1859 determinou-se que se anunciasse a arrematação da obra da muralha (Id., ib.), na estrada que trepa elegantemente aquela encosta a pino.»
As obras então ali feitas tiveram incontestàvelmente alguma importância, e por isso, em 1863, Vilhena Barbosa já nos dizia: « do lado oeste mostra o monte a sua maior altura com muito íngreme declive, por onde dantes subia o escabroso e tortuoso caminho chamado Caracol da Penha de França, que ora vemos substituído por uma bela estrada macadamizada, em zig-zag, orlada de árvores e iluminada a gaz» (Arq. Pitoresco, vol. VI, p. 71.).
No entanto não teriam de ser estes os últimos melhoramentos com que a Rua foi beneficiada, e assim, chegados a 1891, vemos a que a artéria tinha sido de novo alargada, se não em toda a sua extensão, pelo menos na parte que desemboca na Rua de Arroios. Neste ano, também, foi a rua crismada e da pitoresca denominação de Caracol da Penha passou, insìpidamente, a ter a de Rua Marques da Silva. Assim o determinou o edital saído a 5 de Outubro.
Perguntemos agora: Marques da Silva porquê? [...] »Luiz Pastor de Macedo, Lisboa de Lés-a-Lés, vol. IV, Pub. Culturais da C.M.L., Lisboa, 1968, pp. 52-54.
Inaugurar o Largo Dr. Salazar no dia 25 de Abril é idêntico à apropriação do nome da ponte sobre o Tejo. Cuido que há forma mais elevada de fazer as coisas. No caso do largo em de Santa Comba Dão seria inaugurá-lo na data de nascimento do homenageado, dia 28 de Abril. Temo é que não haja gente à altura.
| |
Música: Ribeira, Jafu-Mega (1981).
Fotografias: Carlos Duarte, in Pura Terylene Virgem.
Postais: Fórum Auto-Hoje.
(Revisto em 26/XI/17 e na sexta-feira Santa de 2020 (cantiga).)
O que eu gostava de saber é se alguém usou a minha televisão, com o objectivo de obter alguma vantagem, ilegítima...
O que eu gostava de saber é se alguém usou a minha televisão, com o objectivo de obter alguma vantagem, ilegítima...
O que eu gostava de saber é se alguém usou a minha televisão, com o objectivo de obter alguma vantagem, ilegítima...
Quando os fundadores da Biologia, da Botânica, etc. se dedicaram à taxionomia, como homens eruditos que eram, foi com naturalidade usaram o Latim (e o Grego) para nomearem as espécies. (Mesmo os casos extravagantes obtêm nomes latinizados.) Desde então (ou na era mais recente) a banalidade ganhou foros de ciência e muito iletrado alfabetizado em massa ganhou estatuto de doutor.
Isto posto, alguém encontra a razão do sórdido nome do conselho para o tratamento da infertilidade?
Maternidade Dr. Alfredo da Costa, Lisboa,[s.d.].
Fotografia: Estúdio de Mário de Novaes (1933-1983), in Biblioteca de Arte da F.C.G..
(Ajeitado às 11h20 da noite.)
Robert Palmer - Know By Now
(1994)
Ouvi anteontem a srª procuradora Cândida de Almeida a enunciar o enriquecimento sem causa. - Esta façanha de haver alguém enriquecendo sem causa deve remeter para o Divino pois não se concebe nada sem causa senão Ele. Por este ponto de vista só, seria avisado pôr mais ponderação na caça aos ricos, vá lá saber-se em que malha nos iremos enredar... - No caso, faltou à srª procuradora dizer, é claro, causa conhecida. O como enriquece alguém.
Este assunto de como se ganha muito dinheiro na vida assombra alguma gente (como eu, que fico assombrado com a dor de cotovelo que me sempre dá ver passar qualquer figurão num descapotável). Até aqui, a Lei considerava o enriquecimento como tendo causa legal ou ilegal. Ultimamente uns novos moralões ditam que se incrimine quixotes-
camente o porquê da riqueza; a Assembleia legisla obedientemente e delega na consciência do almoxarife (o que torna a dor de cotovelo aleatoriamente perigosa).
Está certíssima a nova terminologia enriquecimento ilícito: a semântica da nova lei propõe penas ao enriquecimento contrário à moral e à consciência. Conto que a moral dos ricos e a consciência dos enriquecidos venha a ser muito debatida na especialidade para servir de guião aos fiscais dos impostos. Como exemplo estude-se o caso daquele ex-ministro das Obras Públicas que se demitiu de consciência (politicamente) pesada por ruir uma ponte; por ironia ganha agora honestamente a vida como administrador duma grande empresa de obras. Calculo que fique mais rico de ano para ano, sem negar que pague justamente os seus impostos. Ele próprio admitiu em entrevista que, por conhecer governantes, ex-governantes, políticos de aparelho, todos os banqueiros e outros empresários, família, amigos, compadres, etc. potencia os negócios do seu patrão. Disse-o tão naturalmente quanto sabe o impossível que é taxar a rede clientelar de qualquer tratante (salvo indirectamente nos próprios negócios, se forem claros). Tal como não se pode incriminar alguém por ganhar dinheiro só porque conhece muita gente de negócios. Este modo de ganhar a vida pode só recriminar-se, nada mais. Não gera receita fiscal. Mas pode fazer-se de conta: através duma lei que cobre 60% ou 70% de imposto quando alguém tropeçar, digamos... numa mala cheia de dinheiro. Propaga (propagandeia) isto com vantagem uma certa moral que colhe votos e a mim reconforta da dor de cotovelo pelos descapotáveis dos outros.
Aos fiscais das Finanças não imagino...
" A Susan Boyle é feia? Ou somos nós? No sábado à noite ela esteve em placo no Britain's Got Talent [espécie de Chuva de Estrelas?]; baixa, gorducha, com nariz achatado, dentes tortos e cabelo mal amanhado. Vestia um vestido rendilhado que lhe dava o ar dum porquinho num napperon. Entrevistada antes pelo Ant e pelo Dec [elementos do júri, suponho], disse-lhes que estava desempregada, era solteira, vivia com um gato chamado Pebbles e nunca fora beijada [...] "
Tanya Gold, The Guardian, 16/4/2009 (a tradução é minha).
Parece impossível, do que vejo da televisão e do mundo do espectáculo, que não houvesse naquele programa um maquilhador, uma cabeleireira, etc... O fenómeno Susan Boyle é tão burlescamente encenado que mete dó. Que os fabricantes da moda fashion e os anotadores da agenda mediática se possam sentir mal com os modelos frívolos que propõem não me admira. Agora que queiram pespegar em mim os engulhos de consciência que (não) têm, desenganem-se.
Tem-me certas vezes dito alguém que prezo que as ironias daqui sobre alguma gente grada despertam poucos comentários porque as pessoas se arreceiam.
Bom! Sei que no tempo antigo o respeitinho era muito bonito, mas oiço por todo lado dizer que isso era dantes e que entretanto acabou. Em boa verdade, ele pode ser que sim, pode ser que não... Não sei. Certo é que uma mentira muitas vezes repetida parece que se torna verdade; a gente convence-se. Mas também sei que a ironia é um exercício difícil e, em sendo fraca, tende a não suscitar comentários de espécie nenhuma. — Como no caso da gente grada que viso daqui! — Cuido que é disso que se trata: falta de acerto com a ironia. Vale-me que cativam facilmente, sem obrigar a tomar partidos, umas fotografias nostálgicas ou umas historietas de quando era miúdo... — Como aquela de eu gostar de comer caldos Knorr aos bocadões, sem moderação. A minha mãe não apreciava aquilo; dava-me só umas lascas e dizia: — "Cautela, filho, que isso em demasia pode fazer mal!"
(Imagem adaptada dos Dias que Voam.)
Não acho que tenha nada a ver. A Origem das Espécies fechou.
Ontem pus cá que o sr. primeiro ministro fora a Sintra dizer coisas sobre comarcas judiciais. Em rigor em rigor, a coisa agora dá pelo nome de 'Mapa Judiciáiro'. A diferença aparente de nos referirmos a comarcas ou a um 'mapa' é a que vai dum sisudo oficial da velha guarda do ministério a um assessor de fato folgado, nó de gravata certificado e gabinete a seguir ao do ministro... E que faz desenhos num mapa.
(A imagem é da Não-Enciclopédia e só por disparate calhou cá.)
O sr. primeiro ministro - que aparece todos os dias na televisão a dizer coisas - foi hoje a Sintra dizer coisas sobre comarcas judiciais. O sr. presidente da Câmara de Sintra - que aparece todas as semanas na televisão dizendo sobre coisas da bola - lá o recebeu ao pé do tribunal.
O que eu gostaria de ouvir destes senhores é se acham que o I.C. 19 já vale a pena.
I.C. 19 vai valer a pena, Cacém, 2008.
(c) Luísa Gonçalves.
Hospital de Santa Maria inaugura hoje farmácia... O sr. primeiro ministro e a srª ministra da Saúde comparecem à cerimónia. O hospital inaugura e Suas. Exas. comparecem. Parece macarrónico mas ficaria mal pôr no jornal: Primeiro ministro e ministra da Saúde inauguram hoje uma farmácia...
De todo o modo, abrir lojas de remédios ao lado das Urgências dos hospitais é um ovo de Colombo. Mérito ao governo, pois claro! Mais brilhante - assim que me lembre agora - só se fosse abrir lojas de inaugurações ao lado de ministérios.
De dar a um particular o rendoso negócio da venda de remédios à saída da Urgência, enfim... é a moda que nos rege: é de senso comum que os hospitais não são para gerir farmácias, mesmo possuindo dispensários. Calhando sabem melhor ser senhorios. E inaugurar inquilinos.
Hospital Escolar - entrada principal, Lisboa, c. 1954.
António Passaporte, in Arquivo Fotográfico da C.M.L..
Adamastor (O)
Apartado 53
Bic Cristal
Blog[o] de Cheiros
Carmo e a Trindade (O)
Chove
Cidade Surpreendente (A)
Corta-Fitas(pub)
Delito de Opinião
Dragoscópio
Eléctricos
Espectador Portuguez (O)
Estado Sentido
Eternas Saudades do Futuro
Fadocravo
Firefox contra o Acordo Ortográfico
Fugas do meu tinteiro
H Gasolim Ultramarino
Ilustração Portuguesa
Lisboa
Lisboa de Antigamente (pub)
Lisboa Desaparecida
Menina Marota
Meu Bazar de Ideias
Paixão por Lisboa
Pena e Espada(pub)
Perspectivas(pub)
Pombalinho
Porta da Loja
Porto e não só (Do)
Portugal em Postais Antigos(pub)
Retalhos de Bem-Fica
Restos de Colecção
Rio das Maçãs(pub)
Ruas de Lisboa com Alguma História
Ruinarte(pub)
Santa Nostalgia
Terra das Vacas (Na)
Tradicionalista (O)
Ultramar
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.