Dei-me conta agora que "Um desejo chamado eléctrico" já houve antes...
Carro eléctrico nº 216, Porto, 2006.
Carlos Romão, in A Cidade Surpreendente.
Duma estética original com as suas molduras [das janelas] em bico, este carro construído em 1927 sobre uma zorra inglesa do tipo Peckham tinha uma suspensão pendular que oferecia um maior conforto. A série de doze viaturas idênticas viria a ser abatida em 1972. O itinerário ao longo da Avenida da Liberdade veio a ser suprimido aquando da inauguração do metro em 1959.
MTUIR, Os eléctricos europeus em 1950-60, Lisboa.
Andou onte' o governo assaz empenhado com o carro eléctrico para cá, o carro eléctrico para lá...
Ele diz agora que o carro eléctrico é verde e sustentável, cousa maravilhosa de ver. O caso é que quando o carro eléctrico era amarelo... não prestava para nada!... Lá no bairro suspenderam o carro eléctrico há uma dúzia de anos; diz que foi provisoriamente - tanto quanto provisório é o definitivo. Os carris na' ruas foram ficando ou sendo alcatroados por cima por nã' haverem serventia. Pôr o velho carro eléctrico de novo nos trilhos teria graça e certo seria que aqui havia freguês. Mas agora este novo, verde, tão apregoadamente sustentável e tão graciosamente sustentado pelo sr. primeiro ministro - à laia das tabletes Magalhães -, este não me inclina nada sustentá-lo...
Carro eléctrico da Graça, Martim Moniz, [c. 1950].
Fotografia: Estúdio de Mário de Novaes (1933-1983), in Biblioteca de Arte da F.C.G..
Há tempos numa pizzaria vi umas fotografias antigas emolduradas decorando as paredes. Enquanto esperava o almoço apontei umas notas no caderninho. Não me recorda ao certo o que escrevi mas cuido ter anotado algo sobre uma certa luminosidade extraordinária nestas imagens antigas que não acho facilmente em Lisboa hoje em dia. Não sei se isto fará sentido, deve ser crença minha. Esta tarde porém, sobre o frontão da casa em frente pousava essa extraordinária luminosidade de fotografia antiga e prolongava-se no azul do céu, miraculosamente sem nuvens àquela hora neste chuvoso dia de Junho. Por um instante dissipou-se o bulício imparável da cidade. Por um instante cuido que entrevi ali, sobre o frontão e o telhado da casa em frente, aquela luz antiga dos retratos de Lisboa de há sessenta, setenta, oitenta anos. |
Palacete Sotto-Mayor, Lisboa, [ant. 1947].
Paulo Guedes, in Arquivo Fotográfico da C.M.L..
Uma das petulâncias mais enjoativas deste mundo contemporâneo é a de medir com uma régua o que não é palpável. Para medir a felicidade, por exemplo, a ideia que dá é que bastam uns tipos de bata branca colhendo cuspo numa proveta e, ao depois de centrifugarem as amostras na Bimby dum laboratório universitário, a conclusão se há-de ler, infalível, num talão de supermercado: 66 a 73% dos portugueses andam satisfeitos ou são felizes.
Sem margens de erro como nas sondagens e com direito a editorial na telefonia amanhã às dez.
Melhor só a indignação hoje do jornalista da rádio com o resultado: - "Como é possível?! Tantos portugueses não conseguirem aquecer a sua casa em noites frias de Inverno, não poderem gozar uma semana de férias, não poderem dar prendas no Natal, e apesar disso serem felizes?!..."
Melhor ainda a conclusão a seguir: - "Pobres e resignados. Vem isto do Salazar" - que não sabe o jornalista se era bom economista, mas que - "era muito esperto e entendia muito bem a índole dos portugueses." - Mantê-los como eram, quando eles o eram por sua natureza foi uma maldade que não se faz.
É um brilhante raciocínio. Com a mesma lógica, outros libertadores - talvez não podendo inculpar Salazar, por anteriores a ele - inculparam a Inquisição e o absolutismo. Para esses, tanto fazia que o regime de 1820 levasse de vigência mais de cinquenta anos moralmente superiores. Tal como não se desmerece agora a III República que leva 35 anos de acção libertadora da tenebrosa 'longa noite...' Nem tão pouco interessa - tornando ao caso - a esta moderníssima ciência de excelência que o I.S.C.T.E. se meta de fita métrica a medir, no presente - e do presente, não do tempo de Salazar - meros padrões de conforto do catálogo da Worten ou da barraquinha da Abreu montada à porta e conclua pateticamente 73% de felicidade para os portugueses.
Pois disto, vede: a mim, se me inquirirem depois duma opípara sardinhada quanto, de 1 a 10, me sinto feliz, pode ser que até responda mais de 7,3 - dependerá do tinto.
E também há-de ser culpa do Salazar.
(Imagem através do Google.)
(Ajeitado às18h10 para melhor clareza.).
Eu largo a TVI se tu deslargares as eleições no mesmo dia.
Negociantes de peles descendo o Missouri, 1845.
George Caleb Bingham, (1811-1879).
Óleo sobre tela, 74 cm x 92 cm, Museu Metropolitano de Arte, Nova Iorque.
Chegada a Lisboa de D. Estefânia em 18 de Maio de 1858, pelas 12:00 horas.
Amédée Lemaire de Ternante. 19.8 x 23.6 cm.
O Terreiro do Paço é uma praça de ostentação do Poder. Da arcaria monumental aos imponentes torreões; do majestoso rei Dom José a cavalo ao arco que triunfalmente o enquadra quando olho do cais das colunas, o Terreiro do Paço é toda uma alegoria ao Poder. Praça aberta ao rio, exibe esse Poder magnífico ao forasteiro que chega. Na arquitectura da primeira cidade do reino o Terreiro do Paço não se fez para mais que isto: a ostentação do Poder. Nesta medida, pois, cumpriu e cumpre a sua função. Ora vede vós as demonstrações: o Poder sumptuoso em desfiles e recepções reais; a anarquia, pois, no regicídio; o Poder férreo e orgulhoso nas aclamações e desfiles militares do Estado Novo; a solenidade do Poder executivo com o estabelecimento de ministérios. - Não foi à toa que o tomaram de assalto no 25 de Abril. - E ao depois da dita auspiciosa alvorada cá continua o Terreiro do Paço ostentando o Poder que nos rege: um ridículo Poder de polícias de giro à mangueirada a polícias em manifestação; um Poder folclórico de árvores de Natal publicitárias; um Poder miserável - isto custa - com mendigos dormindo em papelão debaixo das arcadas à porta de ministérios...
Chegados a esta desgraça, se ainda há Poder ele é patético: só assim concebo que o Estado haja abdicado da jurisdição do Terreiro do Paço a favor duma qualquer sociedade comercial para ela o vestir em padrão Burberry para os bem-aventurados 100 anos do barrete frígio.
Em continuação, segue-se, quiçá, o corridinho e o fandango de ranchos aventaleiros em padrão a condizer... Será mais uma ostentação do Poder. Para o bem ou para o mal, com ou sem farturas e churros ao domingo à tarde, o que o Terreiro do Paço mostrar, será a imagem do Poder que nos rege.
(Padrão Burberry onde se queira.)
(Texto revisto ás 9h00 da manhã e ajeitado à 1h00 da tarde.)
Eu bem tenho dito que a Europa não é cá.
O locutor de serviço no canal das notícias, referindo-se a uma página da Internete da qual lia em directo a nova do passamento do cantor Michael Jackson: - "Notícia de última hora avançada pelo site TMZ, onde se pode ler R.I.P., do inglês Rest In Peace..."
Soubesse o locutor algum Latim e provavelmente ocorrer-lhe-ia Requiescat In Pace.
Que a terra lhes seja leve. Ao cantor e ao Latim.
Conjunto escultórico de António Machado, 1774.
Largo Dr. José de Figueiredo, Janelas Verdes, 2004.
Há bichos na selva que marcam território urinando nas plantas. O seu cheiro assim espalhado avisa outros da espécie sobre quem manda no território. Na selva urbana os cães não perderam o instinto; na falta dum tronco de árvore mijam na roda dum carro...
Os mamíferos humanos, menos olfactivos, compram latinhas de tinta para serem como os bichos.
Texto revisto d' Os bichos; imagem adaptada de Lisboa S.O.S..
No plinto do monumento ao Duque de Saldanha está a estátua duma figura feminina alada, muito bela, de bronze, em representação da Vitória. Dirigidos a quem sobe a Av. Fontes Pereira de Melo foram postos antes das eleições uns cartazes de propaganda pouco altos, talvez por pudor em ocultar a estátua do Duque no seu pedestal dórico. Ironicamente - não sei se os fautores do trabalho se deram conta - ocultaram a Vitória. Pois as eleições foram vai já para três semanas e as Libertas, mais os que não baixam os braços, lá continuam com a sua propagandazinha. A Vitória, sintomaticamente, permanece encoberta.
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... ao desempenho das artes.
The Corrs - Radio
(Concerto acústico)
The Corrs - Only When I Sleep
De relance passei ontem na entrevista do primeiro ministro Sócrates. Dizia gravemente S. Ex.ª à jornalista Ana Lourenço, chocado com tamanha barbaridade que por aí ouvira: - "Repare! Eu seria incapaz de afirmar que o casamento é para procriar!..."
Ora bem, quando o marialvismo ainda era a contra-cultura dominante o casamento reservava-se muito a uma espécie de semental de ganadaria. Esse tempo de facto já passou. Modernamente a procriação tornou-se mais coisa de aviário regida — a democratização parece que tem destas coisas — por um conselho de sábios. E o casamento, esse, anda para ser entregue à bicharada como bem se há-de ver. O sr. primeiro ministro Sócrates tem, pois, boas razões para pôr um ar grave e se mostrar chocado com certas barbaridades...
O bama da América possui o dom da vida nas mãos. E o da morte à chapada.
Totem de cartão em cubecraft.
Ganhou a senhora o hábito há anos de, nestas noites quentes, desligar a televisão e pôr algo mais apropriado na grafonola. A estranheza que senti pela falta do fundo televisivo em casa ao serão - e no meu caso cresci com isso - não resistiu trinta segundos ao embalo desta cantora.
Diana Krall - The Look Of Love
No Sapo, há 5 minutos, o boletim de tempo para hoje era este. Mas cheira-me que logo à noite virá aí pela televisão um vendaval de alterações climáticas...
"Ministra da Saúde evita alarme após confirmação de terceiro caso de gripe A" - li na primeira página do jornal.
Padaria e pastelaria de Castanheira & Fernandes, sucursal d' O Século, Jardim Constantino, 1910.
Joshua Benoliel, in Arquivo Fotográfico da C.M.L..
Adamastor (O)
Apartado 53
Bic Cristal
Blog[o] de Cheiros
Carmo e a Trindade (O)
Chove
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