Prospecto das frontarias que hande ter as ruas principaes que se mandaõ edificar em Lixboa baixa arruinada e se dividem com colunelos para separaçaõ do uzo da gente de pé do das carruages.
Desenho a tinta-da-china, aguarelado a carmim, assinado por Sabastião Joseph de Carvalho e Mello e Eugénio dos Santos e Carvalho. Dim. 340 x 1000 mm. InMonumentos, nº 21, Setembro 2004, p. 70.
Na era dourada dos cursos da C.E.E. julgo que criei na mente uma espécie de aura de sonho com a descoberta da Lisboa pombalina. Não sei se isto se entende.
Frequentei um curso da C.E.E. no Largo da Abegoaria (o Paulo Pires, aquele que faz teatro, também andou lá) e costumava subir da Baixa à Trindade observando ruas e casas. Tentava perceber-lhes nas fachadas sóbrias que marcas lhes davam a origem setecentista ou oitocentista: o ferro forjado raiado do tímpano duma porta que por vezes trazia data; o velho feitio das janelas de guilhotina; o esconso das escadas; o piso nobre de sacadas; o acanhado das trapeiras... Queria ver vestígios de cena pombalina que amalgamava na mente, com antiga gente imaginada nebulosamente nos seus distintos modos e roupagem. Um livro que resgatei por esse tempo na Barateira da Trindade (Suzanne Chantal, A Vida Quotidiana em Portugal ao Tempo do Terramoto, Livros do Brasil, Lisboa, s.d.) forçou mais o devaneio. Coisas da imaginação, ou pior.
O fenómeno, quando o explico, adensa-se em algo mais extraordinário porque se dava com o walkman (o barbarismo derivou em fones e, até ver, no neobarbarismo hi-pod) nos ouvidos, nalgumas vezes com música pouco a condizer: uma cassete dos primórdios de Suzanne Vega. Pois com toda esta mistura, ouvir velhas cantigas da Suzanne Vega traz-me sempre a aura diáfana do devaneio em que naquele tempo punha a imaginação. Calculo que os meus itinerários da Baixa se gravaram em fundo na cassete da Suzanne Vega e no fim, refundida a cassete, plasmou-se tudo cá na ideia. Assemelha-se-me isto - agora que o conto - a uma involuntária lavagem ao cérebro, porque a busca incessante de vestígios do passado tornou-se-me numa mania em todos os caminhos que percorro. Não sei se é coisa que faça bem.
Suzanne Vega, Ironbound (Fancy Poultry)
Madrid, 1989.
Em meio de Agosto de 91 - caneco, fez já 18 anos! - guiaram-me uns amigos para uma discoteca de Tavira... ou de Faro, já nem sei... Conhecia muito pouco do Algarve naquele tempo - particularmente discotecas - e essa vez até nem teve que contar. Apenas uma coisa: tocou na discoteca uma cantiga dum cantor que eu não sabia o nome mas cuja voz reconheci de outra cantiga que ele cantava e que eu gostava mais. De nenhuma das duas cantigas eu sabia também sequer o título. A que não passou na discoteca foi esta.
Seal - Crazy
Festival de Montreux, 2004 Ao vivo na TV, 1991.
No adro da igreja do Carmo dois rapazolas com um patinete (o bárbaro consagrado é skate) macaqueavam para lá e para cá. — Pás! Pás! — faziam naquela macaquice mesmo nas barbas da Guarda do quartel do Carmo.
Abeirei-me da sentinela (vamos lá ver o que isto dá, pensei com os meus botões) e perguntei-lhe serenamente porque permitia a Guarda aquilo ali.
— Não sei... — balbuciou — Não tenho ordens... Mas o senhor fale com o cabo da guarda — e tocou uma campainha.
Veio o cabo e procurei—lhe então à mesma se à Guarda lhe não incomodava aquela macaquice ali ao pé.
— Ali onde estão é o museu. Desde que não venham dali para cá — e apontou o pau da bandeira — não fazemos nada.
— Mas o museu é monumento nacional... — e fitei-o.
Hesitou, admirado, e repetiu a arenga: — Desde que não venham dali para cá... — Ao que depois aduziu: — Na verdade até agora ninguém se queixou. Mas se o senhor quiser pôr o caso ao comando... — e virou-se fazendo face ao quartel sem contudo me voltar as costas.
— Não é caso para isso. Muito obrigado — despedime.
Mais tarde calhei passar a S. Bento e pus-me a questão se ali a Guarda fará mais pelo decoro ou se será como no Carmo, meramente decorativa.
Convento do Carmo, Lisboa, [s.d.].
Fotógrafo não identificado [Carlos Alexandre da Cunha]. Arquivo Fotográfico da C. M.L.
(Texto revisto: 0h56. Imagem e legenda repostas: 12/VIII/18 às 18h00.)
Jovem de 35 anos...
Notícia da RTP.
(Tristemente o jovem faleceu. Mas não é doutra coisa que aqui tracto.)
Hoje também há a greve nos aeroportos, mas basicamente é isto...
Bagageiro, Aeroporto da Portela, [s.d.].
Fotografia: Museu da TAP.
O mundo está para acabar num espirro por causa da gripe pandémica. Tenho esperança que o ministério das máscaras ainda nos possa salvar cá em Portugal, vamos lá a ver... Vai ser trabalhoso, pois a gripe é pandémica porque sim. Como aquela outra gripe pandémica, também porque sim, dos pássaros. Isto é tudo muito sério e por tal estou até aqui meio ralado porque havia hoje um melro morto naquele pedaço ajardinado entre o 27 e o 28 lá onde trabalho e não consigo agora encontrar o nº azul da gripe aviária para avisar para lá. Já procurei em todo o lado e não consigo achar...
Melro de Novembro.
Richard Allen, Aguarela, 27 x 32 cm.
Fala-se muito por aí agora em sinalética (parece que é sinónimo de sinais, mas com mais ciência) que não é respeitada...
Montado no Google Streetview eis um belo exemplo de sinalética: oficial e não oficial. Da não oficial parece que haveriam as autoridades oficiais de enquadrá-la no meio da diarreia legislativa em que se perdem - era o mínimo para mascarar a candente falta de autoridade. Da sinalética oficial sobra aquele aviso de Hospital ali para sinalizar em 2009 um hospital fechado e vendido, salvo erro, em 2004. À relaxada mulher de César (autoridades oficiais, leia-se) já tanto dá parecer séria como perra. Deixa-se andar, governa sem vergonha, improvisa sinalética oficial que não se consegue assimilar e cuida que salva a autoridade desde que lhe não grafitem o palácio. Entretanto enfarta-se de democracia e arrota eleições porque talvez assim se salve.
Hospital de Arroios, Lisboa, 2009.
Maravilhosa colecção de fotografias dos eléctricos de Lisboa em 1977. É um preciosíssimo inventário ilustrado de todas as carreiras que eu ainda conheci em circulação (acho que não houve nenhuma destas em que eu não tivesse andado). Noto o ar descuidado dos carros eléctricos (e da cidade em geral), estranhamente tão familiar na minha memória, que contrasta com imagens comparáveis dos anos 60 (cf. Praia e 24 - P. Chile) e com o brinco que é o 28 hoje em dia. Nalgumas fotografias outros pormenores passam à margem dos carros eléctricos a quem tenha a paciência do olhar atento; como aquela do 27 para o Poço do Bispo, no jardim da Praça Paiva Couceiro, onde uma família enlutada parece confortar-se sob o olhar do guarda-freio. O cemitério não é longe...
Eléctricos de Lisboa; fotografias antigas. Trams aux fils, 1977.
Com o objectivo de adequar a oferta à procura nos períodos de menor utilização do transporte público (sábados à tarde, domingos, feriados e período nocturno), no dia 23 de Agosto de 1982 (2ª feira) a carreira 23 de eléctricos [para S. Bento] é suprimida. O seu serviço continua a ser assegurado pelas carreiras 6 de autocarros, que é reforçada e passa a funcionar no período nocturno, e 26 de eléctricos.»
C. Filipe, A minha página Carris.
Eléctrico 23, Conde de Redondo, 1977.
Fotografia: Trams aux fils.
« A partir do dia 17 de Novembro de 1947 (2ª feira) a carreira 23 de eléctricos [para S. Bento] é reforçada.»
C. Filipe, A minha página Carris.
Eléctrico 23, Rossio, c. 1948.
Horácio de Novais, in Biblioteca de Arte da F.C.G..
Muito provavelmente em vésperas da demolição.
Praça da Figueira, Lisboa, 1949.
Espólio de Eduardo Portugal, in Arquivo Fotográfico da C.M.L..
Avenida da Torre de Belém, Lisboa, 1940.
Espólio de Eduardo Portugal, in Arquivo Fotográfico da C.M.L..
Há escutas em Belém.
A folhinha do calendário diz que é dia de S. João Eudes, mas não é isso que diz no jornal. Diz que é dia da fotogra-
fia.
Rampa da Estação do Rossio, Lisboa, [s.d.].
Espólio de Eduardo Portugal, in Arquivo Fotográfico da C.M.L..
Travessa da Saúde, Lisboa, [s.d.].
Espólio de Eduardo Portugal, in Arquivo Fotográfico da C.M.L..
O mais notável desta é que o burro está do lado da universidade que depois ali houve...
Um desses canais que debita "notícias" 24 horas por dia atirou-me perto das 11h00 da noite com uma reportagem de bonecos de Lego movendo-se dum lado para o outro como se fora uma grande demonstração científica. Doutrinadamente a treta ecoa com chavão panfletário - no domínio das tecnologias - acompanhada de recado igualitário - elas pedem meças a eles. Tecnologias serve para crismar bonecos de Lego em robots (coisa sofisticadíssima). Enquanto isto numas legendas em pé de página os 'robots' ajudam o combate à gripe A (!!!). Era o ingrediente desta anedótica civilização que faltava para salgalhar os melhores clichés da moda numa autêntica salada russa. Dantes havia governos - já o aqui disse - que pagavam excursões à Sibéria aos mais reticentes em assimilar a doutrina da ciência certa. Agora pago eu TV por cabo para me injectarem (o verbo aqui não é inocente...) a ciência certa em casa. Sem poder mais com a doutrinação desvio a atenção, não sem perceber ainda de raspão o sr. Nabeiro dizendo coisas sobre aquilo. Empreendedorismo e excelência hão-de ser os chavões que se seguem... Não quero saber mais. Ocorre-me só uma notícia desta manhã:90% das notas de dólar têm cocaína. Aí tendes a explicação desta sofisticada civilização da treta: é da droga. Não admira que se queira tudo cada vez mais verde e sustentável. |
(A Verdadeira Treta é do Mais Portugal.) |
Jardim de Santo António dos Capuchos com casario algo castiço.
Alameda de Santo António dos Capuchos, Lisboa, 1940.
Eduardo Portugal, in Arquivo Fotográfico da C.M.L..
Tinha chegado eu ao largo de Arroios e... divergi. Retomando.
« Na sua simplicidade, fachada banal com uma única porta e com três janelas envidaraçadas, tudo liso, apenas com um apontamento arquitectónico nas pilastras de ordem jónica — é esta a Igreja de S. Jorge de Arroios. Podemos fazer-lhe uma pequena visita.
S. Jorge de Arroios é uma das mais pobres igrejas de Lisboa embora, cheia de claridade, e — simpática. Possue uma única nave. Ostenta quatro capelas laterais: do lado esquerdo, a começar da entrada do templo, a primeira capela é de S. Miguel, N.ª S.ª do Carmo e N. S. do Perpétuo Socôrro, e a segunda (antiga do Santíssimo) é do Senhor dos Passos e de N.ª S.ª das Dôres; do lado direito as capelas são do Sagrado Coração de Maria e de Santa Terezinha, a primeira, e do Sagrado Coração de Jesus e Santa Cecília, a segunda. Nos topos há os altares pequenos de Santo António e de N.ª S.ª de Fátima.
A capela-mór guarda hoje o Santíssimo no centro do altar, e sôbre ela a imagem, tão graciosa, embora sem valor artístico, de S. Jorge; aos lados N.ª S.ª da Conceição e S. José.
O grande interêsse da Igreja é, porém, o Cruzeiro — considerado monumento nacional.»Norberto de Araújo, Peregrinações em Lisboa, IV, 2ª ed., Vega, Lisboa, 1993, p. 84.
Igreja de S. Jorge de Arroios, fachada principal, Lisboa, 194…
Eduardo Portugal, in Arquivo Fotográfico da C.M.L.
Este templo, acima descrito, foi levantado entre 1820-1828. O terramoto arruinou o templo anterior e a paróquia abrigou-se na ermida de Santa Bárbara até 1770. Nesse ano passou para a ermida do Senhor Jesus da Boa Sorte e Santa Via Sacra no largo das Olarias e finalmente, uns anos depois, para ermida de Santa Rosa de Lima, no palácio dos Senhores de Murça, depois Mesquitelas, na Rua de Arroios. Em 8 de Novembro de 1829 a paróquia tornou ao Largo de Arroios para a nova Igreja de S. Jorge; o próprio rei D. Miguel assistiu ao cerimonial (cf. Norberto de Araújo, loc. cit. e Luiz Pastor de Macedo, Lisboa de Lés-a-Lés, vol. I, Pub. Culturais da C.M.L., Lisboa, 1981, pp. 185 e ss.).
Foi demolido este templo por volta de 1970 — diz[ia] — por ter sido considerado pequeno, dando lugar a outro mais amplo — diz[ia] também (apesar de no mesmo terreno) — mas para cujo gosto arquitectónico não acho qualificativo.
Há dias mencionava aqui a demolição da fábrica da Portugália fazendo a ponte para uma mais antiga fábrica de cervejas em Arroios: as cervejas Leão. Eis cá, pois, mais uma memória de Arroios industrial. As cervejas Leão ficavam na Rua de Arroios 46-48, com frente também para a Rua Frei Francisco Foreiro. O seu aspecto à volta de 1901...
Fábrica das cervejas Leão, Arroios, [1901-1908].
Arquivo Fotográfico da C.M.L.
« O largo de Arroios - diz Vilhena Barbosa - é célebre na história moderna de Lisboa pelas cenas populares de que foi teatro por ocasião da invasão francesa de 1810. A capital encheu-se de gente fugida das diversas terras do reino ao aproximar-se o exército do general Massena. Algumas praças de Lisboa, e entre elas o largo de Arroios, transformaram-se em acampamentos obstruídos de bagagens, por meio dos quais se aninhavam as famílias desoladas.
O habilíssimo lápis do nosso querido pintor Domingos António de Sequeira fêz um quadro de uma dessas cenas, que consternaram tôda a cidade, desenhando o largo de Arroios, no momento em que se distibuía aos míseros fugitivos, por ordem do Govêrno, a sopa diária. Deste desenho de Sequeira fêz uma grande e excelente gravura Gregório Fernandes de Queiroz, discípulo do célebre Bartolozzi.»
Vilhena Barbosa, Arquivo Pitoresco, vol. VIII, p. 26, apud Luiz Pastor de Macedo, Lisboa de Lés-a-Lés, vol. I, 3ª ed., Pub. Culturais da C.M.L., Lisboa, 1981, p. 184.
Sopa de Arroios, Lisboa, 1810.
Buril e água forte: Domingos António de Sequeira, Gregório. Francisco de Queiroz, 1813, in Biblioteca Nacional Digital.
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