« Não estava previsto [pelos E.U.A. o pagamento do empréstimo feito a Portugal ao abrigo do Plano Marshall]. Transmiti imediatamente esta posição a Lisboa, pensando que a notícia [de não ser preciso pagar] seria bem recebida, sobretudo numa altura em que o Tesouro Português estava a braços com os custos da guerra em África. Pensei mal. A resposta veio imediata e chispava lume. Não posso garantir a esta distância a exactidão dos termos mas era algo do tipo: "Pague já e exija recibo!"»
Luís Soares de Oliveira, A bem da Nação, apud Corta-fitas, 27/IV/2010.
Stand da firma "Casa Portuguesa", Feira das Indústrias Portuguesas, 1950.
Mário Novais in Biblioreca de Arte da F.C.G..
(Revisto às 25 para o meio-dia.)
A lua cheia deitou-se hoje ali a adivinhar o Verão... - Vai de embalar a noite.
Esta cantiga é formidável. A senhora Garrett fica aquém da Oleta Adams, mas sinceramente, não era esperado que a igualasse. A orquestração e o cantor, o Orzabal, não saíram mal. Nos coros finais... soa-me que há por ali uma desarmoniazinha (ou não?), ma' vamos lá, não deslustra. De resto, do que achei desta cantiga na rede, em apresentações ao vivo, esta vale por ser a menos artificial das que estão capazes de se ouvir. É um desempenho honesto e, honestamente, embala.
Já se sente o Verão...
Tears For Fears & Lyrica Garret, Woman In Chains
(Night of the Proms, Antuérpia, 2006.)
Deram-me hoje mais um jornal agrafado na bomba. Sempre que pego em jornais tenho por hábito ver os títulos, virar o jornal e ver a última página. Neste que me deram vem hoje isto a toda a altura da última página.
Por Catarina São Luís. Exclusivo i/The New York Times.
Dando de barato a falta que fazia importar da terra do Bush jornalismo tão cabeludo sempre vou cá dizendo com os meus botões que a estética tem progredido imenso. Compare-se o estado da Arte...
Carlos Reis, Cantigas d' Amor, 1929.
(Fotografia publicada na capa da revista Ilustração.)
Sábado comprei o livro sobre Carlos Reis. O único da livraria, exemplar de exposição creio, com a sobrecapa dando mostra de muito manuseamento. Nada disto é mau sinal, porém...
Não cuido que seja obra rara (ainda). Podia decerto achá-lo noutra livraria mas estava pressuroso da obra e fiquei com aquele logo ali. De resto e salvo a sobrecapa de papel, o livro estava (e está) em bom estado e, ao cabo e ao resto, tudo somado beneficiei até dum desconto sem ter de o mendigar...
É tomo de muito peso este álbum; de tal maneira é denso que mete respeito a um cataclismo que lhe apareça. Do autor, na introdução, descortino-lhe com efeito essa intenção: fazer um livro que dure e faça perdurar a memória do pintor Carlos Reis e da sua arte.
O que pus ontem com o título Carlos Reis foi mais sobre outra coisa que propriamente sobre Carlos Reis. Justo seria que houvesse deixado cá exemplo dalgo que desse ao benévolo leitor jeito de formar por si algum juízo.
Dusty Springfield, The Look Of Love
(1969)
«Por coindicência estava nessa época [1992] a ser preparado em Torres Novas, terra onde nascera Carlos Reis, um espaço nobre a que a Câmara Municipal de então tinha intenção de dar o nome de Museu Carlos Reis [...]
Durante as jornadas em Torres Novas, foi-me apresentada a Senhora Doutora Augusta Maia, formada em História de Arte, que teria sido encarregue pela Câmara Municipal de escrever um livro sobre Carlos Reis. A Dr.ª Augusta Maia pediu-me acesso à documentação que a família de Carlos Reis possuísse, ao que acedi com prazer e sem restrições.
A Dr.ª Augusta Maia revelou um profundo interesse por Carlos Reis, além do naturalmente relacionado com o seu compromisso por, segundo disse, ter recebido intensa mentalização no sentido contrário quando da sua passagem pela Universidade em Lisboa, o que lhe teria aguçado a curiosidade de aprofundar o seu conhecimento sobre o artista e o homem tão "mal amado" no seu curso de História de Arte...
Uma visita a livrarias e o folhear de algumas páginas de autores "considerados eruditos", como Augusto França, bastaram para confirmar o que dissera a Drª Augusta Maia... (*)
Tudo passou , então, a bater certo e a confirmar que, infelizmente, o presente não é de todo diferente do que tantas vezes ouvi de meu Pai no que respeita a às tentativas de condicionar a memória artística dos portugueses por desinformação, omissão ou eliminação progressiva da presença visual ou escrita, daqueles artistas cujo perfil artístico, postura pessoal ou política não correspondesse aos desígnios dos "ditadores" das artes... (**)
[...]
Com desaparecimento dramaticamente prematuro da Drª Augusta Maia e não tendo tido conhecimento de terem tido sequência as intenções da Câmara Municipal de Torres Novas no que respeita ao livro sobre Carlos Reis, decidi tomar essa tarefa em minhas mãos, o que explica estar agora aqui convosco, por devoção a meu Avô, a meu Pai e à Verdade, no cumprimento do dever que me impus.»
Pedro Carlos Reis, Carlos Reis, A.C.D. Editores, [s.l.], [2006], p. 13 e ss..
(Imagem: Leiloeira Côrte Real)
(*) Se necessário fosse, cinco fugazes menções a Carlos Reis no vol. III da História da Arte Portuguesa sem reprodução de nenhum quadro do pintor corroborariam esta asserção.
(**) O desígnio tem resultado notório. Cf. a enciclopédia popular para comprovar como sem ovos não se fazem omoletes.
Tenho andado nestes dias com os Dispersos do grande olisipógrafo, o Eng.º Augusto Vieira da Silva. Li há poucos dias no vol. II um artigo «Gonzaga Pereira e a sua obra» (p. 137 e ss.) que serviu de prefácio aos Monumentos Sacros de Lisboa em 1833, manuscrito do dito Luís Gonzaga Pereira dado à estampa pela Biblioteca Nacional de Lisboa em 1927.
Luís Gonzaga Pereira (1796-1868) foi artista gravador — assim é citado por Raczynski em 1847 no Dictionnaire Historico-Artistique du Portugal —, foi desenhador e abridor de cunhos da Casa da Moeda. Numismatas e medalhistas dão notícias biográficas dele; Brito Aranha conheceu-o e aduziu também dados biográficos seus no tomo 16.º do Dicionário Bibliográfico Português, de Incocêncio F. da Silva. O interesse que Gonzaga Pereira tinha pela arte levou-o a deixar-nos o seu legado mais interessante: desenhos e descrições de edifícios e monumentos, mormente religiosos, e nota dalgumas riquezas artísticas que eles possuíam; Gonzaga Pereira refere-lhes o estado em 1833 e as alterações sofridas posteriormente à extinção das ordens religiosas.
Isto é o que nos diz o Eng.º Vieira da Silva. O leitor interessado, caso não tenha à mão qualquer dos volumes atrás mencionados, pode com proveito ainda assim saber mais pelo resumo biográfico publicado na página electrónica do Gabinete de Estudos Olisiponenses.
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Nestes mesmos dias, num dos últimos verbetes (que nada tem até que ver com o assunto) cruzaram-se alguns comentários a propósito dalgo que publiquei há mais de quatro anos sobre a Quinta dos Embrechados. Comentou o prezado leitor Attenti sobre o que se recordava e não recordava a propósito da tal quinta, aduzindo que do que não tinha ele a menor ideia era duma certa Azinhaga do Curral. Respondi um tanto à nora que da tal azinhaga nem eu sabia, sem prestar atenção à legenda da imagem onde eu próprio escrevera: "Quinta dos Embrechados [tomada da Azinhaga do Curral, que partia da Calçada da Picheleira, anos 60]".
Eis a imagem:
Foto: Vasco Gouveia de Figueiredo, in Arquivo Fotográfico da C.M.L.
E bom! Alertado pelo prezado leitor para a dita legenda, lá me justifiquei que devo andar precisado de rever o que aprendi, talvez relendo-me a mim mesmo, enfim!...
Que Azinhaga do Curral era esta, afinal?
Uma serventia sem importância. É assim chamada em 1908 na planta 13 L do Levantamento da Planta de Lisboa — 1904-1911; partia da Calçada da Picheleira (n.ºs 85-87) em direcção à Calçada do Teixeira, com cuja se ligava atravessando o fecho da linha de cintura [i.é, linha de convergência] que vai de Chelas a Xabregas.
Na dita planta 13 L identifica-se bem a azinhaga, ao centro, na descendente, sensivelmente a ⅓ da altura da planta; no meio das hortas identifica-se uma construção em L invertido: é o aqueduto que se vê na fotografia.
Quase que se poderia haver crismado a Azinhaga do Curral como Rua Direita do Casal do Pinto, tal foi o horror de barracas que se ergueram ao longo dela; tal qual uma pequena povoação.
Pois esta Azinhaga do Curral foi de facto crismada pela C.M.L. em 28/12/1956. Sabeis como?
Nem de propósito! — Rua Luís Gonzaga Pereira.
Imagine o benévolo leitor que a companhia do gás se intoxica e lhe factura o triplo...
Não! Não! Não!
Imagine o benévolo leitor uma civilização em que o preço unitário dum papo-seco seja achado, não em função do kg da farinha ou do pão, mas em função duma unidade energética potencial pela ingestão do papo-seco – p. ex. flexões de braços por minuto – calculada através duma fórmula rocambolesca que inclua os índices médios mensais de massa corporal da população, temperatura média em ºC na zona da padaria, arcos de curvatura dos pepinos eurocomunitários, algo assim, tudo somado ou ponderando.
Se consegue o caro leitor conceber uma civilização com tal avanço poderá já perceber porque é que os fluidos gasosos ditos naturais que fluem nas canalizações se vendem agora em kWh e não em m3. É em função disto que reguladoras ERSES, devidamente escudadas em civilizadoras directrizes bruxeleantes, lhes afixam (aos gases ditos naturais) o valor unitário. Dizem-me que é simples, por natureza.
Cheira-me que não.
Figueira da Foz - Peixeiras de volta do mercado, ed. Adelino Alves Pereira, 1910.
Coleccção de Ana Gaspar (Lisboa), apud "Das Margens do Rio".
Porque fica bem, porque o mandam as metodologias (ou porque lá se darão às vezes conta que o seu saber tem a consistência do papel de jornal) sempre vemos os jornalistas ilustrando noticiários com painéis de especialistas dizendo coisas.
Esta manhã uma rádio pôs no ar um vulcanólogo soprando de jacto que parar a aviação era um exagero.
Ontem havia uma senhora na TV que tinha um pneumologista de Coimbra para compor um painel de aeronauticólogos.
(Imagem do Jornal Digital da Anastácia.)
Verdes anos, verdes quintas, logo abaixo do Areeiro...
De entrada uma vista girando pelos montes de Marvila e Chelas - será? - com o Tejo em fundo. Não sei se as vistas são tomadas da Quinta da Bela Vista se da Quinta do Armador se... E que casario poderá ser aquele em que se fixa a imagem aos 20"? A Picheleira? O Alto do Pina?... - Quem dera haver por aí mais alguns metros de filme, do que serviu para a montagem desta introdução...
E ao depois vem a carroça; será que chega à Quinta da Holandesa, lá para os lados da Fonte do Louro, nas abas do Casal Vistoso? É o resto do Areeiro rural nas traseiras da progressiva Av. do Aeroporto. Daí em diante são já uns farrapitos das avenidas novíssimas: Av. dos Estados Unidos, Av. de Roma, Alameda...
Depois é o filme, que não encontro à venda.
Os Verdes Anos [excerto].
(Paulo Rocha, 1963.)
Fotografias: Estúdios de Horácio e Mário de Novais. Biblioteca de Arte da F.C.G..
Nat King Cole Trio, Got The World On A String
(The Complete Capitol Transcription Sessions, vol. I)
(Antropometria: Nova Enciclopédia do Mundo)
Os noticiários radiofónicos à hora de almoço davam e repetiam com muita ênfase a resposta do sr. primeiro ministro à destruição dos seus telefonemas na Face Oculta. Disse ele no seu estilo soberbo: - "Não é próprio de um político comentar essas decisões, nem me ocupam um milímetro do meu pensamento".
Os noticiários deram e repetiram - "nem me ocupam um milímetro do meu pensamento".
Sempre me saíram cá uns marotos estes jornalistas, a ironizarem assim com a medida do pensamento do sr. engenheiro.
Cf. património idêntico...
E.M. 559 (E.M. 559-1), Castro Daire, 2006.
Dei-me hoje conta ao almoço que ignorava o resultado do Benfica-Sporting de anteontem. E por acaso até ouvi notícia do jogo ontem num pedaço do telejornal da R.T.P. a que assisti. Só não fiquei a saber o resultado (sem o procurar deliberadamente) porque o jornalismo moderno às tantas fez-se caro: em lugar de informação clara e concisa tornou-se poesia nas mãos de autênticos artistas da palavra. Por isso recebi apenas uma vagamente inspirada informação de que o Benfica tivera "via-verde para o título".
border=0 src="https://farm4.static.flickr.com/4027/4284801766_bba191f654.jpg" alt="Estádio da Luz, Lisboa (H. Novais, 1954?)" />
Estádio da Luz, Lisboa, [1954].
Fotografia: Estúdio de Horácio de Novais, in Biblioteca de Arte da F.C.G..
Ainda agora estou para saber o resultado.
Calhei esta manhã ouvir na telefonia o sr. ministro da Economia queixar-se que não entendia como estava a gasolina tão cara. Ora o sr. ministro da Economia não entender uma coisa destas é como o padre não saber a missa. Mas tem bom remédio; com o pouco que conseguiu entender (que a gasolina está cara — e mérito se lhe conceda por entender o óbvio) fácil lhe fica resolver o problema: ordene tão só à gasolineira do governo para descer os preços ou decrete muito simplesmente um preço justo para a venda da gasolina. Se no fim de singelamente resolver o problema ainda tiver o sr. ministro pretensões a sábio poderá então dedicar-se à problemática subjacente, que tanto dá; pode até fazer como os ilustríssimos srs. deputados fizeram aqui há tempo e convocar um génio aí da nossa praça para que lho explique.
Sacor, Laranjeiro, [s.d.]
Augusto de Jesus Fernandes, in archivo photographico da C.M.L.
1º Condomínio privado, Vendas Novas, 2010.
J. D. Alvarez, Lda., fabricante de cortiça, Vendas Novas, 2010.
Quem conheça Lisboa sabe que 'Olivais' não se trata de oliveiras nem azeite mas de plantações de cimento com uma entremeada de relva, nos casos mais antigos, porque o recomendava a Carta de Atenas.
Por extensão entendereis facilmente um montado como plantação de natureza idêntica mas que, pela democratíssima evolução social e urbana das rolhas (mesmo as mais provincianas) dispensa populares entremeadas em favor dum privadíssimo muro atrás do qual se acastelam aos poucos estas novas riquezas que sabemos. Assim se mantêm as rolhas à tona (como é aliás seu timbre) mas em selectas piscines e ambiente controlado, o que só melhora a vida da espécie. No fim dos montados (os naturais, de sobro), como é de lei, sobrarão algumas competentes rolhas para implementar e dinamizar um qualquer acrónimo museu MUCO ou MURO (*) numas quaisquer catacumbas de extinta riqueza ancestral como é caso agora desse chiquérrimo (e bastamente típico nosso) museu da moda e do design que puseram na Baixa.
Será essencial mostrar ao mundo toda esta luso-obra criacionista.
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(*) MUCO - MUseu de COrtiça; MURO - MUseu da' ROlhas.
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