Quem me conhece sabe que não sou de militâncias nem vou em democracias. Mas há maneiras de prosseguir intentos. E nesta demência duns dromedários linguistas e duns asnos eleitos - conte-se as respectivas pandilhas da Assembleia e dos jornais - em estupidamente abrasileirar por decreto o idioma, confesso que me tenho visto em cuidados e sem bem perceber que propósito anda por trás desta trama ortográfica. Entenda o benévolo leitor a minha aflição; genuflectir a quem nos usurpa a identidade não é digno.
" Lido nas entrelinhas, o A.O. contém uma silenciosa 'Base XXII', nunca declarada, jamais admitida, mas sempre presente. O seu enunciado poderia ser assim:
Em caso de divergência da ortografia portuguesa em relação à ortografia brasileira, deve a portuguesa ser alterada no sentido da prática brasileira (exemplo: em Portugal escreve-se "Junho" e no Brasil escreve-se "junho"; logo, devemos agora todos escrever "junho"). Mas, em caso de divergência da ortografia brasileira em relação à portuguesa, mantém-se a ortografia brasileira, a par da portuguesa, através da criação da correspondente regra da facultatividade (exemplo: no Brasil não se escreve "amámos", para o diferenciar de "amamos", como em Portugal; logo, ambas as formas podem ser utilizadas facultativamente)."
(João Roque Dias, "Tá Tudo Doido, 28/6/2010.)
Se lhe parece que exagero, benévolo leitor, note bem até onde nos afundam nesta humilhação.
" A sessão realizada na Academia das Ciências de Lisboa a 14 de Abril [de 2009] teve laivos de surrealismo: 1) Uma delegação de um dos estados contratantes do A.O. (Brasil) apresenta na sede do "órgão consultivo do Governo Português em matéria linguística" [Academia das Ciências de Lisboa] um V.O.L.P. [Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa] unilateral "brasileiro", já que, segundo o seu responsável, Bechara, «em nenhum momento o Acordo fala em vocabulário comum» [errado: o art.º 2º do Acordo refere-o expressamente]; 2) na mesma sessão, foi também apresentado pela "Academia Galega da Língua Portuguesa" um 'Léxico da Galiza' (mas então, em galego, não se diz Galicia?) para ser integrado no Vocabulário Ortográfico Comum da Língua Portuguesa". Lindo! Portugal de cócoras, a dar guarida às manias das grandezas de brasileiros (propalando os 190 milhões de "falantes" de português) e de galegos (a eterna política das diversas autonomias espanholas contra o poder centralista de Castela)."
(Id., ib.)
Algo se deve, pois, fazer! Uma Iniciativa Legislativa de Cidadãos pode ser levada à Assembleia - um instrumento da sempre bendita democracia que carece de 35.000 assinaturas de cidadãos eleitores devidamente identificados, em papel. E todavia, porém...
" Escusado será dizer, sem qualquer desprimor para ninguém, é claro, que nenhum dos chamados “blogs de referência” – os 5 ou 10 mais conhecidos e visitados – mencionou a I.L.C. contra o Acordo Ortográfico. Trata-se de uma questão de divulgação, portanto, e aqui reside também boa parte do problema: não se pode esperar que haja grande adesão a algo que as pessoas desconhecem sequer existir."
(I.L.C. contra o A.O., 16/6/2010.)
Pouco dado, como disse, a iniciativas deste género - e muitíssimo menos a apregoá-lo -, cá fica a excepção que inevitavelmente dita a regra. É triste que esta nação tenha chegado a este ponto. A reclamação do direito natural de me não sujeitar a estrangeiros nas leis da recta escrita do meu próprio idioma segue preenchida e firmada em impresso próprio, amanhã, por correio.
Uma das vantagens de Portugal em relação à Espanha é a eficácia por meio de barbarismos. Em Portugal, numa assembleia geral de accionistas, uma golden-share vale por todas as acções e mais uma. É desta excelência golden, cuido eu, que nos germinam também muitos pintos dourados...
Forum Picoas, Lisboa, 2004.
Todos os anos há caras que se repetem na praia. E escritos que quase se repetem...
O homem que devorava livros já o vi lá no preâmbulo das férias. Cuido que lá estará na continuação. Devorando livros, talvez. Ou lendo só o jornal.
O homem que devorava livros lendo só o jornal, Algarve, 2009.
Há dois anos a Espanha foi campeã e eu dava graças por estar na província só com eco dos grilos (v. Europeu). Hoje satisfaço-me com as trombetas se terem calado.
Ilustração de Maria Keil para uma publicação turística do S.N.I. sobre o Algarve (1947).
In "O Gato Maltês".
Trombeta. (c) 2010
O saco de plástico deu agora em grafar à brasileira. ‘O passado é um lugar que definitivamente já abandonámos’, justificam-se. Prenhes de futuro, ignoram donde vêm e arribam, quais novos-ricos deslumbrados, ao kitsch da moda. Institucionalões (auto-proclamam-se uma instituição), nem o instituto jurídico em vigor parecem conhecer.
A ortografia portuguesa rege-se pelo decreto n.º 35.228, publicado no Diário do Governo de 8 de Dezembro de 1945; foi revista pelo Decreto-Lei n.º 32/73 de 6 de Fevereiro, que aboliu acentos graves e circunflexos nos diminutivos e nos advérbios de modo. Que me dê conta, as leis portuguesas só não vigoram no estrangeiro.
Mas tudo indica que Portugal acabou e isto cá é outra coisa que nem ouso dizer o nome.
(Revisto em 3/VIII/13.)
Aretha Franklin - I Say A Little Prayer
Quando certa vez procurei ao meu pai sobre os lugares de Alvalade e do Campo Grande e ele se me saiu com uma história de ciclistas, era isto que vedes em baixo que eu queria que ele me descrevesse. Em boa verdade eram campos, sem muito que se lhe dissesse. Mas podemos agora tentar...
A vista foi tomada do do Hospital de Santa Maria ainda em construção. A imagem é um fragmento duma fotografia de Horácio de Novais publicada originalmente na Biblioteca de Arte da F.C.G.. A data provável é 1944/45 (cf. "Do Hospital de Santa Maria em construção").
Isto de as auto-estradas serem nacionais e só os portugueses com automóvel pagarem é muito pouco democrático. O chipo devia ser posto na cabeça da gente. A portagem seria por cabeça (como os votos) e não por automóvel, o que seria até mais rendoso. Como bónus podiam até pôr o 9º ano das novas oportunidades e outras promoções no tal chipo e tudo.
Portagem na auto-estrada do Norte, Sacavém, 1967.
João Brito Geraldes, in Arquivo Fotográfico da C.M.L..
Diz que há crise (parece-me mais decadência). Que é preciso aumentar a produtividade. A produtividade...
Um embolador que trabalhe de segunda a sexta e que faça 5 embolas numa semana, posso medir-lhe a produtividade numa embola por dia. E se numa semana com feriado em dia útil ele fizer 4 embolas, obtém-se de si a mesmíssima produtividade, 1 embola/dia. O que deixará satisfeito o embolador (por gozar um feriado) e deixará a produtividade sem quebra (apesar do feriado). Mas se eu que ando folgado me lembrar de tirar o gozo do feriado ao embolador e ele der nesse dia em não fazer a ponta dum corno qual será no fim a produtividade?
Se me é permitido gostaria também agora de dar a minha humilde opinião sobre os feriados nacionais e a produtividade na Assembleia.
- Ele há cabeças donde brotam cá umas ideias!...
(Imagem, in Terceira Taurina.)
Há mês e tal notei que o nome do Hospital de Santa Maria aparecia em grandes letras de néon sobre o edifício. Vê-se da 2ª circular e não sei se é farol para alguma ambulância do I.N.E.M. que ande por aí perdida. Cuido que seja mais importante o hospital identificar-se assim ao longe do que tê-lo melhor apetrechado para os doentes. E dou de barato que a electricidade gasta no reclamo seja mais 'sustentável' e 'verde' que aquelas luzinhas de 'standby' das televisões... Mas não é disto que vos quero falar...
A esta fotografia do Hospital de Santa Maria em construção dá o arquivista, embora com dúvidas, o ano de 1950 (a construção foi de 1940 a 1953). Cuido que a chapa é mais antiga que 1950 mas não anterior a 1943/44.
Guiando-me pelo horizonte noto a silhueta do aeroporto da Portela; junto ao edifício da aerogare identifico nitidamente um hangar. Ora cuido (mas é mera conjectura) que o hangar 1 do aeroporto da Portela não seja mais antigo que 1944 (ou 43, admitamos). Logo é como disse...
Ainda guiando-me pela paisagem que se abre diante dos olhos é fácil perceber que, salvo uma linha de casas a toda a largura da imagem mais ou menos perceptível pelo meio de arvoredo - o Campo Grande - e uma estrada que corre em linha recta para a linha do horizonte - a actual Av. do Brasil -, nada há construído na zona que veio a ser bairro de Alvalade; nem o desenho duma rua. Pois eu tenho ideia que a Av. de Roma foi rasgada por volta de 1946 e que as primeiras casas do bairro de Alvalade só se começaram nesse ano ou no seguinte. Digo isto de memória e quase mais por conjectura que de ciência certa: esta fotografia é de 1944 ou 45. Corrijam-me por favor se estiver enganado.
Do que se identifca na paisagem conto dizer qualquer coisa mais amanhã ou depois...
Hospital de Santa Maria em construção, Lisboa, 1940-53.
Fotografia: estúdio de Horáco de Novais, in Biblioteca de Arte da F.C.G..
Está é tremida.
Sobre a sua impossibilidade de comentar neste blogo recebi do Sapo um pedido adicional dos seguintes elementos:
Responda-me s.f.f. para o meu correio electrónico.
Obrigado!
Estação dos Correios, Figueira da Foz [Beja], [194...].
Estúdio de Mário de Novais, in Biblioteca de Arte da F.C.G..
Santa Luzia de Tavira. (c) 2010
Anteontem correu a notícia dum novo conceito de agregado familiar. Tenho que isto de 'agregado familiar' é um sensaborão cozinhado lexical – à la Estado Laico – do comum conceito de família. Um nome técnico, enfim! Mas de elevado potencial: como um embrião cuja essência leva a necessária noção de 'família' mas capaz de todas as ramificações sócio-progressistas que sejam da moda. A recente revisão técnico-administrativa do conceito de casal confirma a revolução civilizacional em marcha. Se é concertada ou não, não sei, mas bem parece. Paternidade e maternidade são conceitos que há pouco tempo passaram por decreto a indiferenciada parentalidade. Agregado familiar, não há-de tardar em evoluir, talvez para colectivo familiar: a modos dum bando de 'okupas' em qualquer 1º andar devoluto ou até um esquadrão de lanceiros na caserna do 7º de Cavalaria da Ajuda.
Esta metalinguagem oficializada em despachos e decretos é notadamente escopro do homem(-mulher) novo. A realidade seguirá atrás. Mas não suba o sapateiro além da chinela. Nestes desígnios contra a opressora natureza das coisas dá-se o caso de, com dois sapatos do mesmo pé no altar, os sogros e restante família se emaranharem em pares de atacadores trocados – é bizarro que genros, noras, &c. seja tudo meias-solas...
Pois eis que o empenho da heterodoxia dominante na resolução crise (que o presidente pressupôs na bênção que deu à babilónia casamenteira) se alvoroça antes para que na próxima legislatura um chanato venha caprichosamente a tomar o género da sandália (previsivelmente de salto alto) com retroactividade ao certificado de origem; e que para isso baste um simplex requerimento na conservatória, sem necessidade sequer de moldagem na fôrma do sapateiro...
Desta sorte de absurdos e aberrações dizia-se dantes com todo nexo que talvez viessem a realizar-se, sim, mas lá para o ano da mosca ou para a semana dos nove dias. Pois não tarda temos aí a semana dos nove dias.
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