Acabou de dar na TV o primeiro ministro inaugurando uma creche. Já houve uma vez que ele inaugurou uma farmácia, hoje inaugurou uma creche. Pelo meio do discurso (sempre empolgado) havia palavras sobre o Estado social. Quem pagou a creche parece que foi a empresa Auchan (diz-se grupo, não é? - as empresas agora são em cachos).
Quem pagou a creche foi a empresa Auchan. Quem pagou o inaugurador foi o Estado social.
(Imagem em grevin.com www.stephyprod.com)
P.S.: a ministra do desemprego (i.e. do Estado social) também foi à inauguração lá inaugurar...
Devia haver uma revista Caras de esquerda - de esquerda não, progressista - com gente gira e com aqueles nomes tão finos (adoro juju Inês de Meneses).
Eu acho.
Diana Krall, Temptation
(Ao vivo em Lisboa, Portugal)
Moças alentejanas, Vendas Novas - (c) 2010.
« Um dia destes vi um jovem de 15 ou 16 anos a entrar numa casa de pronto-a-vestir que existe ao lado da loja da Nespresso, no Chiado. Chamou-me a atenção porque ia a subir os degraus com as pernas completamente abertas, quase a fazer a espargata. Pensei que era aleijado. Mas depois reparei que levava o cinto por baixo do rabo, já na zona das coxas, pelo que tinha de andar assim para as calças não caírem. Há muita gente que anda com as calças a meio do rabo, mostrando parte das cuecas [...]
Este tempo que estamos a viver caracteriza-se por se querer fazer tudo ao contrário: despentear os cabelos, pôr objectos incómodos nos sítios mais estranhos do corpo, sujar a pele com tatuagens, cobrir metade das mãos, andar com as calças a cair, usar botas altas em tempo de calor.
Mas tudo isto pode ser encarado com sentido de humor. Já que não podemos determinar a moda, podemos divertir-nos com ela. Um pouco como se estivéssemos a ver palhaços no circo.»
José A. Saraiva, Sinais de Decadência, Tabu, 27/8/2010.
(Sol, 27/8/2010.)
O normal é, por conseguinte, a média dos últimos 29 anos.
Manifestação, Terreiro do Paço, [s.d.].
Horácio de Novais, in Biblioteca de Arte da F.C.G..
Tece a estimada leitora Maria um comentário nos 27.000 dias... disto!... sobre o apreço do povo por Salazar (mais espaço houvera no Terreiro do Paço e mais gente teria aparecido). Redijo-lhe a resposta aqui.
Acredito. Se vinham constrangidos não sei. Obrigados, pela imagem, não me parecem. O que é bem conhecido é que a romagem a favor do candidato Costa na eleição intercalar para a Câmara de Lisboa foi com figurantes reformados, engodados numa excursão a Fátima, e engajados para o hotel da campanha do P.S. (cf. Carlos Abreu, «Excursão de idosos...», in J.N., 17/7/2007). Uma coisa posso academicamente presumir: com o mesmo método – apregoado aos sete ventos para os anos do Estado Novo, e por uma única vez desmascarado na IIIª República (foi notícia uns dias na imprensa em Julho de 2007) – a capacidade de mobilização do Estado Novo era bem maior. A que se devia, cada um pense por si...
Outra coisa certa é que no pedaço de discurso de Salazar que os dos 27.000 dias... deixaram passar (cuidando que o expunham a ridículo) é cristalino o seu (de Salazar) propósito (todos têm "o direito de contribuir com labor dos seus braços no esforço da defesa") e a sua ideia de governo ("Só uma palavra me acode, só uma realidade existe ao nível deste acto de comunhão patriótica – e essa é Portugal"). Pode não se gostar, mas nada do que Salazar assim afirma é mentira nem engana. A metalinguagem, decididamente, é muito mais parental da 'democracia' que da expressão do 'Estado Novo'.
Salazar, Terreiro do Paço, [s.d.].
Horácio de Novais, in Biblioteca de Arte da F.C.G..
A propósito da sua demanda dum poema e da fugaz menção pelo prof. Marcelo de Sousa, há tempos, dum livro do poeta Rodrigo Emílio, refere a escritora Rita Ferro a confrangedora prosa wikipédica sobre o dito poeta – "vão direitos à secção «pós-25 de Abril» e adjectivem a gosto." – Tem razão a escritora, mas da Wikipédia [e quejandas] não se pode esperar demais; qualquer um lá bota discurso. Já da Antena 1 não; aquilo que havia de ser uma rádio sóbria confrange muito mais. Ouça o benévolo leitor ao José Nuno Martins & C.ª na rádio hoje e veja lá, mesmo sendo de esquerda, se precisa adjectivar mais.
27.000 dias de rádio, Antena 1, 27/8/2010.
(Revisto às 11h20 da noute.)
Chamaram-me hoje à atenção para a engenhosa maneira deste cavalheiro se referir diariamente ao grau académico do sr. primeiro ministro. Confesso que estava a Leste. Ou relativamente informado, a bem dizer.
Tudo sumido até ao cinema Avis. Inclusive. Inclusive aquele palacete cujo frontão espreita por cima do eléctrico (e não sei agora se a casa que o antecede ainda lá está neste momento).
É Lisboa seguindo a carreira do sumiço; a mesma do eléctrico 24 (acabou provisoriamente, li já não sei onde) e até do autocarro 16, que também levou sumiço do Arco do Cego. Esteve para acabar este Verão; de Benfica, queda-se afinal por São Sebastião, já não segue para o Chile.
Lisboa: - Siga aquele eléctrico!, Arco do Cego, [1984].
Cristóvão Leach, in Busworld Photography.
Este é assunto de defensores acérrimos. Esforçam-se muito nisto, os defensores acérrimos, por esbater a função matriarcal; forçoso é sobrarem só papéis viris a desempenhar. De preferência por mulheres, com acérrima paridade, para lá de qualquer mérito (e já agora com empenhada promoção de comportamento feminino nos homens). A sanha revisionista entra já pelas definições de 'homem' e 'mulher' estabelecidas historicamente nos dicionários (ouvissem uma Sandra Ribeiro, in Sociedade Civil, R.T.P. 2, 5/7/2010). Ora isto é querer rescrever a História; a divisão sexual do trabalho remonta à pré-história e fez-se assaz naturalmente conforme a fisiologia do homem e da mulher. Foi o que foi, deu no que deu, mas não agrada mesmo nada que assim haja sido. Só que já foi. E será o que vier a ser. Todavia o desígnio agora é que a nova língua de pau forje a igualdade pelo léxico. Porque entender o passado ou a natureza das coisas é um erro; porque toda a diferença é uma injustiça; nos dicionários e nas leis os termos 'casamento' e 'parental' (con)fundem já o que é materno ou paterno por natureza. Pelo léxico, o futuro adivinha-se um monolito de todo o tamanho.
Diz que o matraquilho-mor teve um bebé.
Por causa do calor recomendam no noticiário uma série de cuidados às pessoas frágeis de saúde. Excelente enunciado para dizer gente débil; dá na conversa doutros débeis... mas não se deve ao calor.
Língua de pau, Algarve - (c) 2010
A vitrina dos editais, na praia, tem um autocolante oficial na parte de trás, voltado para os líquenes da falésia. Diz em moderna língua de pau: água com qualidade compatível com a prática balnear.
A água do mar está a 24º, vi no teletexto. As algas não vinham no teletexto. Tomamos banho em caldo verde.
O mar hoje cospe os banhistas. A custo se consegue entrar. A rebentação está forte e há fundões. Contrasta com a sopa de algas de ontem. Puseram esta manhã a bandeira amarela, coisa rara.
(Vim a saber depois que era um fenómeno chamado tsunami meteorológico no golfo de Cádis - deve ser um fenómeno japonês...)
Sempre acho muitos sósias quando estou a banhos. Já vi o do sr. Phelps e um outro muito famoso que já esqueceu... Lá adiante está uma sósia da A.B.A. - ou será mesmo ela?...
E agora parece-me que até já vejo sósias de sósias: uma aqui ao lado é sósia da sósia da Miss Piggy, uma que trabalha lá na...
... disse que numa reunião com sr. presidente do Porto este lhe afiançou que o Moutinho só iria para o Porto com o assentimento do Sporting. E acto contínuo crucificou o Moutinho pela rebeldia de querer ir para o Porto.
Não cuida ele de quem fomentou a rebeldia do moço?!... Que tenrinho que é este presidente do Sporting!
Este hábito meu de chorar pelas cebolas do Egipto levou-me a dar por perdido o gesto dos guarda-freio mudarem a bandeira dos carros eléctricos socorrendo-se do retrovisor. Já me alertaram que estava enganado. O gesto continua a dar-se nas carreiras de eléctricos que sobrevivem em Lisboa. Por isso eis-me cá a pôr os papéis em ordem.
Fotografia: Chefe dos eléctricos (factor da carris?) despachando a papelada, Rua da Conceição (Tim Boric, 1980).
O folhetim do treinador Queirós lá segue. O confrade Funes expôs na justa medida há dias e até com graça, a vilanagem de que se trata ("Uma questão de justiça", Funes, el memorioso, 11/8/2010). E conclui ele muito certo que em Portugal não há justiça porque sempre fazemos do Direito torto e usamos o torto como se Direito fosse. A este propósito há, fresco, aquele deputado dos dedos leves que se apropriou de coisa alheia mas não roubou porque afinal o roubo era acção directa, por frases que não disse mas lhe foram roubadas. Mais torto feito Direito...
Muito significativo é que um dos primeiros documentos conhecidos em português seja justamente uma 'Notícia de Torto' (o que nasce torto tarde ou nunca se endireita). Já vai para 800 anos de malfeitoria.
Pois francamente, no caso do treinador Queirós, para a coisa ser direita, o que há é despedi-lo e indemnizá-lo como disser o contrato. E depois é pedir contas (não responsabilidades, mas contas - de contado) ao matraquilho da F.P.F. que firmou o contrato injustificadamente com cláusula de rescisão tão avultada.
O director do Sol diz esta semana na sua coluna de Política a Sério:
É fácil constatar que Portugal está hoje muito pior do que estava há 30 anos: a indústria tradicional (vidro, têxteis, calçado, etc.) ficou obsoleta e não foi substituída por nada, a agricultura não resistiu às tropelias decorrentes da P.A.C., as pescas entraram em crise prolongada, a marinha mercante afundou-se, a construção naval fechou…
Junte-se-lhe a siderurgia, a metalomecânica, as fábricas de material de guerra... – Falo nestas e lembra-me que andam para aí umas comissões de parlamentares à procura das contrapartidas duns submarinos, não é verdade? Pois andam a ver o filme ao contrário. As contrapartidas são eles mesmos, os submarinos. Como os T.G.V., as compras à Airbus, e tudo o que a Europa nos vender vantajosamente ou nos subvencione por darmos cabo dos meios de produção nacionais. Se isto não vem expresso nos tratados desde 85, vem cristalinamente subentendido. E como os analfabetos cá são tão poucos que até fecham escolas...
Companhia Portuguesa de Pescas.
Barco da Companhia Portuguesa de Pescas, em reparação na doca seca da C.U.F. – Estaleiros Navais de Lisboa, Rocha do Conde de Óbidos.
A Companhia Portuguesa de Pescas, fundada em 1920, situava-se no concelho de Almada, na zona de Cacilhas (Olho-de-Boi)
Fotografia sem data. Produzida durante a actividade do Estúdio Mário Novais: 1933-1983.
In Biblioteca de Arte da F.C.G..
Onde se vendiam os postais do fotógrafo José Artur Leitão Bárcia, em fotografia de Eduardo Portugal.
Papelaria Corrêa & Rapozo, Lda., Rua do Ouro, [s.d.].
Eduardo Portugal, in Arquivo Fotográfico da C.M.L..
Desenvolvimento da notícia d' A Bola de ontem.
"O Instituto Nacional de Infra-Estruturas Rodoviárias (InIR) pediu ontem justificações..." (Ionline, 18/8/2010).
O InIR (sintomática sigla que abrevia 'Nacional' com 'n' minúsculo) é um típico produto do estado a que chegámos. Dá impressão de emparelhar com a ex- J.A.E., com o sucedâneo da D.G.V., com um Observatório das Estradas, com as E.M.E.L., &c. na multiplicação das sinecuras para a rapaziada da situação.
Este InIR parece que teve o génio de criar uma empresa S.I.E.V., S.A. (de capital público) que haveria de licenciar os chipos certos para se cobrar portagem nas secutes (o InIR, só por si, não saberia como fazê-lo?). A S.I.E.V. por sua vez teve como presidente executivo um fulano a ganhar não sei quantos mil euros por mês e que meteu sabática a dada altura. Pois esse fulano apareceu sem espanto, depois, com bom cargo na justa empresa que fabricava os chipos cujos ele, como presidente executivo da S.I.E.V., licenciara. Entretanto para a abandonada S.I.E.V. foi enviado um funcionário do InIR porque parece que não havia lá mais ninguém para atender o telefone... (cf. Micael Pereira, «S.I.E.V. a empresa-fantasma que gere as portagens», Expresso, 26/6/2010).
(Em baixo a sede da S.I.E.V., empresa do InIR para o licenciamento dos chipos das portagens.)
Fotografia: Russell Lee, Dakota, 1937, in Shorpy.
Corria hoje por aí a notícia da factura duma subsidiária da Mota Engil (quem mais haveria de ser?!) por trabalhos nas portagens das auto-estradas onde não há portagem. Alguém me dizia que era, talvez, uma dessas artimanhas das centrais de propaganda, posta a correr para incutir na carneirada a ideia de as secutes darem agora ainda mais despesa à conta duns empecilhos ao bom governo.
Não creio. Demasiado rebuscado para cabeças tão despenteadas.
O que é natural e fica bem é cada um usar o cabelo com que nasceu: no caso, os despenteados do governo apressaram-se mais seus piolhos a ir assinar contratos que (n)os oneram sem antes cuidarem de poder obter receitas. Mas é apenas óbvio que assim seja. Nós já estamos carecas de saber que os piolhos lhes comem os cérebros.
Secute do Pacífico, América, 1928.
In Shorpy.
(Texto revisto.)
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