« Era o tipo de violência que se vinha verificando em Portugal há [havia] décadas e cuja supressão há [havia] muito constituía a principal missão do Exército.»
Há uma desconformidade de tempos verbais nesta frase. Será português macarrónico ou serei eu…?
É isto tirado da edição portuguesa da biografia de Salazar de Filipe de Meneses (D. Quixote, 2010, p. 170). Já Vasco Pulido Valente, creio que no Público, se referiu aos trejeitos do idioma naquela tradução.
Este não é o único exemplo.
Adenda em 1/X/2010 às vinte para a uma da tarde.
Como esta terra não tem já muito mais que dar vai agora de explorar o mar. O empreendedorismo perfila-se no litoral a adivinhar a inovadora dobra do Bojador e iniciativas mais além, conjugadas num projecto de excelência co-financiado pelos fundos da Boa Esperança, em que o indígena - dito comum - usufruirá de amplos espaços de lazer onde o mar começa e a terra acaba. O empreendimento permitirá ver navios onde antes se veria passar os comboios.
A História (re)começa agora. Quem tragou a Pátria e aboliu o passado não tarda a arrotar Os Lusíadas.
Estou para ver se no fim sobra alguma sardinha.
Litoral, Abraham Jansz Begeyn, 1662.
Óleo sobre tela, 90 x 119 cm,
Museu Hermitage, Sâo Petersburgo.
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Nota: nas duas notícias para que remeto o benévolo leitor, duas pérolas; numa, a criação duma cátedra na Universidade de Aveiro para, segundo o reitor, "promover o avanço científico do mar"; noutra, jornalistas que não atinam com a concordância em género - "Foi atribuído a Portugal a responsabilidade de gestão de quatro novas áreas marinhas..."
E 'olá' num dos crioulos do português.
Prédio(s) para demolir, Lisboa, [196...]
Artur Inácio Bastos, in Arquivo Fotográfico da C.M.L..
Prédio(s) para demolir, Lisboa, [2007-10]
(c) Microsoft Corporation (imagem adaptada).
Hotel Altis Marquês, [s.l.], [s.d.].
Projecto de João Paciência [Deus me dê muita!...], in Lx Projectos, 20/9/2006.
O cavalheiro da música de discoteca resolveu hoje acordar-me e à vizinhança com martelada. Eram 9h00 da manhã e, não sendo madrugada, é domingo. Ao domingo prezo dormir um pouco até mais tarde, mas já que me ele acordou, por cortesia pu-lo eu a ouvir a Aretha...
A lua vai hoje pouco mais ou menos assim e ia há pedaço para aquele lado: do Mar da Palha.
Já houve tempo em que se lá não via silhueta de ponte nem se intrometia diante o betão armado dos Alfinetes. Quando muito recortava-se a margem de cá com as ruínas da Salgada ou uma construção mais extravagante. Mais cá ainda percebia-se a Estrada de Cima de Chelas e a Calçada do Teixeira. Em fundo, só horizonte de lezíria. E o brilho de prata do Tejo.
Vista sobre o Mar da Palha, Picheleira, c. 1990.
Ouvi esta hoje na telefonia do carro. Soou-me bem e lembrei-me de a cá pôr a tocar.
Sting, Englishman In New York
(c) 1987 A&M Records
A calçadinha de Santo António era uma serventia pedestre, ou pedonal, como agora se diz. Partia da Estrada de Chelas por umas escadinhas que ainda existem e desembocava nuns casais na Rua do Sol a Chelas. Quem na percorresse de cabo a rabo, mais ou menos a meio caminho encontrava sobre a via um arco que fazia ligação entre as casas que ladeavam o caminho dum lado e doutro. Estas casas não tinham porta para a Calçadinha, apenas ja-
nelas muito altas. Eram casas tão velhas que dizíamos que deviam vir do tempo do Camões - um exagero. Naquele tempo, cuido, nem saberíamos o nome da Calçadinha de Santo António, de modo que passámos a referir o lugar como Camões.
A memória apagou-se-me. Não me lembraria jamais de tal Camões não fora o comentário dum amigo de velhas er-
râncias infantis em busca por lugares misteriosos à maneira dos Cinco. Mas isto é de pouco interesse. Bem mais in-
teressante seria descobrir a antiguidade daquele velho caminho rural; que casas foram aquelas e quem nas cons-
truiu; a que quintas pertenceram; quem foram os seus senhores; que vidas, que trabalhos ali houve; que histórias há do lugar que ainda se guardam - houve combates das guerras liberais por ali em Setembro de 1833...
A casa que tinha esse arco era uma com telhado de quatro águas que se vê no plano inferior da fotografia de Xabregas; uma com duas janelas espreitando para cá.
Fotografias: A.H.Goulart e Vasco Gouveia de Figueiredo (anos 60, 1972), in Arquivo Fotográfico da C.M.L..
Vista sobre o Vale de Chelas até Xabregas, Lisboa, c. 1990.
A demanda da fotografia da quinta das Ameias que pus há dias levou-me a revolver um velho baú onde jazem empoeiradas uma vãs aspirações a fotógrafo. Esta não é famosa - é dum dos poucos filmes a preto e branco que resolvi experimentar. Uma vista sobre Xabregas tirada do fundo da Rua Capitão Roby, à Picheleira. Uma janela muito minha para o Tejo com mais do dobro do tempo que tem esta fotografia.
O vale de Chelas espraiando-se entre o alto da Madre Deus e o Alto de São João, atulhado de velhas fábricas com as suas características chaminés. À esquerda uma fiada de casas operárias; ao fundo, a fachada do palácio dos marqueses de Nisa dão o curso da Rua Gualdim Pais. O plano de fundo, tão esbatido, é o nevoeiro do Tejo pela manhã. A névoa mais próxima, porém, era coisa a arder no Carrascal...
Calhando, agora, talvez saia do baú mais um ou dois enganos daquele tempo.
Sobre o trabalho de Salazar no governo em fim dos anos 20, início dos anos 30, havia os que criticavam as suas obras e duvidavam dos números. Tudo mentiras que, todavia, «estavam a tornar-se realidade em toda a parte: estradas velhas eram reparadas e novas construídas, o mesmo sucedendo com portos, escolas, caminhos de ferro, linhas telefónicas, projectos de irrigação, navios de guerra...» (1)
Devia ser mesmo tudo mentira porque ainda agora andamos com as mesmas obras.
Sobre essas mentiras o discurso de Salazar:
« [...] Equilíbrio, saldos, diminuição da dívida, estabilidade monetária, reservas, ordem financeira, tudo é mentira - uma mentira amável, condescendente, fecunda, enfim, uma mentira que se comporta há seis anos, que se comportará toda a vida, tal qual como se fosse verdade.» (2)
A História é o que foi e a realidade é o que é. A linguagem é que pode baralhar.
(1) Filipe Ribeiro de Meneses, Salazar, 1ª ed., Dom Quixote, [Alfragide], p. 136.
Estrada Marginal, Santo Amaro, [post 1936].
Estúdio de Horácio de Novaes (1930-1980), in Biblioteca de Arte da F.C.G..
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(2) António de Oliveira Salazar, «Contas públicas de 1933-34», in Diário da Manhã, 16/11/1934, apud op. cit..
O sr. António de Vasconcelos deve ter manuseado o calhamaço de Filipe de Meneses sobre Salazar, mas lê-lo... Só assim se explica que o resumo que faz dele (de Salazar, não do livro) seja o habitual chorrilho de lugares-comuns que nestas ocasiões tão bem compõem uma colunazinha de cultura no jornal. Metodicamente, porém, no último parágrafo faz-lhe um conciso reparo (neste caso é ao livro): o não ter enfatizado a devastação cultural de que o país ainda não se recompôs (e dá o apagamento da memória histórica como exemplo; aonde terá ido ele buscar esta?)
O sr. António de Vasconcelos - perdão, o sr. António-Pedro de Vasconcelos - é boa prova da tal devastação cultural que diz, e também ele se não recompõe. Se é por causa de Salazar ou por causa do hífen, das duas uma.
O sr. Jacinto Apóstolo propôs e foi considerada para concorrer ao Orçamento Participativo da C.M.L. a obra de recuperação como jardim, parque infantil e de merendas, do arruinado Casal Vistoso, ou Quinta das Ameias, ao Areeiro. A obra carece apenas de três trabalhos: limpar os matos mantendo arvoredo; consolidação das ruínas e do talude sobre a Av. Afonso Costa e; reconstrução de parte das casas para instalações de apoio ao jardim (restaurante/bar e W.C.).
Como é simples, não é verdade?
O projecto é o 813, tem prazo de execução de 24 meses.
Desejo vivamente que a proposta do sr. Jacinto Apóstolo vá por diante.
Casal Vistoso, Areeiro, c. 1990.
Terei ouvido bem? O escritor Miguel Tavares dizer no programa da Ana Lourenço que os investidores não acreditam que póssamos pagar?!...
Imagem da rede...
O problema.
Essa miséria mental que rege o P.S.D., empoleirada numa plataforma de construir ideias, deu em elaborar sobre um novo problema. Não o enuncia mas mesmo assim propõe-lhe solução: regionalização gradual do rectângulo, cujo o primeiro passo pode ser uma experiência-piloto. Portanto, o problema deduz-se: Portugal é um país nacional. Como tal é um empecilho tremendo a não sei bem o quê, vai de rever a Constituição urgentemente. Só após nos livraremos de ser a pobre nação que somos e haveremos de ter então cá no rectângulo prósperas e administrativas regiões (e muitas mais constituiçõezinhas regionais em que nos ocupar).
Isto é o que deu na ideia ao cavalheiro.
Pois eu, do que vejo desde que cá ando, apenas noto que o menos que tem faltado são experiências-piloto para pôr Portugal em frangalhos; do entreguismo ultramarino à capitulação como Estado soberano perante a C.E.E. & Suc. - não esquecendo omnipresentes jardins nem felgueirices esquivas -, o esfrangalhar nacional é todo um programa.
Pena que gente bisonha lhe custe tanto perceber a realidade. Mas no caso pode o regente alternativo começar com um exercício simples: já que mora em Massamá carreie a tal plataforma pelo I.C. 19 e construa ab-initio na sua cabecinha a ideia de engarrafamento. Depois esforce-se por daí enunciar um problema concreto.
I.C. 19, Cacém, 2007.
(Verbete revisto.)
Arenga da sr.ª Ministra da Educação.
Rua Sésamo - Vaca
Se eu soubesse desenhar desenharia um desenho assim.
(Postal-convite recebido por correio.)
Ponte da Arrábida, Porto, post 1963.
Horácio de Novais, in Biblioteca de Arte da F.C.G..
Adamastor (O)
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