Há por aí uma ideia feita que o 'p' de óptimo e o 'c' de director são consoantes mudas. Pois mudas não são. Se alguém há que as não ouça, deve ser surdo.
Os da S.I.C., na certa para encher o vazio que lhes ocupa as 'cachas' cranianas, abriram há pedaço um enlatado sobre abóboras e chapelinhos de bruxa.
Enfim! Parece que tenho que aturar cada vez mais este folclore de segunda porque aqui a parvónia, de há um tempo para cá anda só povoada de imbecis que esqueceram completamente de que terra são.
É nisto que vamos: uma arca pré-fabricada cheia de animalejos deslumbrados com brindes de cereais e descontos nos hamburgos. Depois duma geração rasca e do dilúvio que se lhe seguiu, bem podem ir fazendo todos os 'pugreides' que isto como vai já não leva melhora. Nesta apagada e vil tristeza nacional nem seria mau recuperar um velhinho auto da fé, daqueles em que se queimavam espantalhos feitos de palha: o mais que não fosse, para judiar com este bullying sistémico parido dessas cabeçorras de abóbora que por aí vegetam enfeitadas com chapéu de bruxa.
width=500 style="border: 0 none;" src="http://purl.pt/13105/2/e-4670-p_JPG/e-4670-p_JPG_24-C-R0072/e-4670-p_0001_1_p24-C-R0072.jpg" alt="Representação de um Auto da Fé [Visual gráfico. - [Lisboa : Typ. Maigrense, 1822]. " />
Água forte: Martins Barata, Rua de S. Miguel (Alfama).
É curioso que apesar da capa, nesta obra póstuma de Gomes de Brito não existe verbete próprio da dita Rua de São Miguel, embora lhe haja referências esporádicas ao longo dos três volumes. Uma delas a propósito do Beco do Mexias: — « Não duvido que assim esteja nos dísticos, mas devem emendar-se, tirando-se-lhe o s final; Mexia é apelido de família antiga e desta forma se encontra no Itinerário lisbonense, de 1818: [o beco é] o primeiro à esquerda na rua de S. Miguel de Alfama, vindo do nascente e termina no chafariz de Dentro.» — Mexia e não Mexias, portanto, porque é nome de família antiga...
Ainda por isto de mexias e da coisa de mexer [cá nos bolsos] e da sua muita antiguidade, logo na introdução (vol. I, pp. VII e VIII) da obra, António Baião dá-nos a descrição dum códice do arquivo da Câmara muito estudado por Gomes de Brito para dar corpo às Ruas de Lisboa:
« Em 1563, reunidas as côrtes n'esta cidade, prometteram os povos a el-rei, para satisfação de suas dividas, a quantia de cem mil cruzados (40:000$000 reis).
Tratou a corôa de promover o desempenho da promessa, expedindo ás camaras do reino o alvará do lançamento, acompanhado do regimento para cobrança e mais diplomas inherentes a este serviço.
Em Lisboa, os vereadores e procuradores da cidade e dos misteres d'ella, reunidos em sessão, elegeram os lançadores, nomearam os sacadores, attribuiram ao thesoureiro da cidade, André Luiz o encargo de arrecadar o cobrado, e commetteram, emfim, a Bastião de Lucena, futuro «procurador da cidade», em companhia do seu collega Alvaro de Moraes, que tambem estava a servir pela primeira vez, o trabalho de arrolamento, ou, como hoje [1897] diriamos, do recenseamento dos contribuintes [posteriormente, creio, muitos dirão sabiamente elencagem].
Fez-se este arrolamento conforme o alvará mandava.
Completo, bem encadernado e bem conservado, atravessou os seculos e suas vicissitudes, guardado no Archivo da Camara [...]»
Mais adiante (vol. II, p. 67):
« Nesta derrama não figura senão o povo. O clero e a nobresa tiveram processo áparte. Do povo, só não contribuia quem tinha praça de bombardeiro, quem tinha emprego na casa de Sua Alteza, quem era familiar do Santo Officio.
Nos officios, os unicos mechanicos privilegiados eram os moedeiros. Privilegio do Estado, que aproveitava a funccionarios seus.»
Um códice com toda a actualidade. É uma pena que não contenha uma certa notável fotografia dos velhos e novos Andrés Luizes, Bastiões Lucenas, e Álvaros de Moraes...
Ref.ª: J.J. Gomes de Brito, António Baião (pref.), Ruas de Lisboa: Notas para a história das vias públicas lisbonenses (3 vols.), Sá da Costa, Lisboa, 1935.
« Se o taboleiro do Rossio era alagadiço ou não, que o demonstre a inesperada chuva que em Lisboa caiu desde 8 de Outubro a 31 de Dezembro de 1755 [i.e. 1575]. “Da cópia das águas — diz Barbosa Machado — se formou um lago, que cercava a praça do Rossio e a rua Nova”; e enfim que o demonstrem certas demonstrações da autoridade; por exemplo: a ordem de el-Rei D. Manuel I para se esgotar [encanar para esgoto] uma vez a água da dita praça.
Aí mesmo havia havia um cano de vasão junto aos Estáus (depois sede da Inquisição, depois paço da Câmara, depois Tesouro público, Teatro de D. Maria II [...]), até à Caldeiraria na freguesia de S. Nicolau, o qual cano mandou el-Rei D. Manuel tapar (talvez por já inútil) e que a Câmara aforou, para o cobrirem e fazerem casas sôbre ele.
Além do Rossio passavam as águas do esteiro no sítio onde veio a fundar-se o Convento de S. Domingos [...] Aí mesmo cortavam [cruzava] as águas a antiga Corredoura chamada no século XIV Carreira dos Cavalos, depois rua das Portas de Santo Antão [...]
As águas torciam-se aí numa volta, ao sopé duma espécie de promontório que forma o monte de Sant' Ana, e alastravam-se para o nascente, por aquela região plaina que no século XVI se chamava os canos de S. Vicente, por causa da proximidade da porta de S. Vicente [antigo Arco do Marquês do Alegrete, diante da ermida da Senhora da Saúde, hoje no largo do Martim Moniz]. Esses tais canos, segundo se depreende das narrativas que Frei Luiz de Sousa nos deixou das medonhas inundações de S. Domingos, eram valas de escoante abertas para as águas confluentes das encostas visinhas [...] Além disto, em vários pontos da cêrca do Hospital de Todos-os-Santos (área hoje ocupada pela praça da Figueira) vejo no meu plano sinais de charcos, que bem revelam a natureza da formação daquele terreno.
Por causa dessas tendências para o charco, motivadas pelas águas das encostas visinhas, que por vezes eram torrentes, serviam para muito os sabidos canos da Moiraria; e observo que depois do terramoto de 1755, logo em 27 de Novembro, o alto espírito do homem que se chamou Pombal ordena ao Senado da Câmara de Lisboa, em decreto especialíssimo que, “pela indispensável necessidade... de se desentulharem os aquedutos da rua do Canos... antes que as grossas inundações das águas que por êles se evacuam, sendo estagnadas, se corrompam com irreparáveis prejuízos”, se proceda prontamente ao desentulho.
Júlio de Castilho, Lisboa Antiga; Bairros Orientais, 2ª ed., vol. I, Lisboa, C.M.L., 1939, p. 275 e ss..
width=665 border="1" alt="Mértola - © 2010" />
O sr. Jacinto Apóstolo propôs e está em votação no Orçamento Participativo da C.M.L. uma obra de recuperação do Casal Vistoso, ao Areeiro. Orgulho-me que um modesto escrito meu aqui possa ter valido dalguma coisa a uma ideia muito mais valiosa: transformar num aprazível jardim, com parque infantil e de merendas, um grosso matagal e umas lastimáveis ruínas donde já quase se não tiram sequer memórias.
O projecto é o 813 e pode votar-se até ao próximo dia 31 de Outubro.
Quinta das Ameias ou do Casal Vistoso, Areeiro, c. 1990.
Cais do Sodré - (c) 1989
Haverá ainda no mercado oportunidades sem janela?
Adenda:
O Jornal de [poucas] Letras não põe 'c' em 'recto'. Faz bem, mas não é assim que se livra de brasileiradas...
No artigo retratado diz que o romance Sargento Getúlio, de Ubaldo Ribeiro, foi publicado no Brasil nos anos 60; foi publicado na América em 78; e ao depois foi traduzido para um ror de línguas. E agora rejubila: «O leitor português ganha agora, finalmente, numa louvável iniciativa [...] a sua primeira edição.» - Pois é! Faltava ser traduzido para português. Afinal no Jornal de [poucas] Letras sempre sabem que o que se escreve no Brasil não é bem português.
(Em 27/X/2010, à meia-noite e meia.)
Os telediscos dos Genesis tem tendência para se apagar. Vamos se este dura...
Genesis, Follow You Follow Me
(Roma, 2007)
Aquela sr.ª dr.ª Manuela Leite — que se não foi ministra das Finanças quando o €uro entrou, andou perto — ecoou anteontem de Badajoz de molde [i.e., de modo] a ter algumas dúvidas sobre a nossa independência económica [os Estados ou são independentes, de todo, ou não são, mas enfim…]
Pois anteontem também, na demasia de € 5,00 que dei para pagar não sei o quê, recebi € 1,00 com cunho da República Francesa, outro com cunho da italiana e mais duas moedas com efígie do rei dos espanhóis.
Aquela dr.ª Manuela Leite não calha muito lidar com trocos. Se não, talvez do molde dos cunhos [aqui aplica-se molde] tivesse já ela deduzido a verdadeira natureza da asfixia que em tempos por aí apregoou. E com isto assim trocado por miúdos podia ser que pudesse intuir alguns porquês do T.G.V. também. Antes que lhe falte o ar…
(*) « Português foi o nome dado por D. Manuel I, às grandes moedas de ouro, do valor de 10 Cruzados [=4$000 rs.], que mandou lavrar para que Vasco da Gama levasse na sua armada para mostrar ao Mundo a moeda do rei de Portugal, e ainda há as que foram cunhadas com ouro vindo da India, não só no reinado de D. Manuel I, mas também no de D. João III. Tal era a sua magificência e prestigio que era imitada por vários locais da Europa, dando origem aos Portugaloser.»
In Forum dos Numismatas, Moeda #9.
Um cavalheiro que bota discurso muitas (e também poucas) vezes – um que entaramela as sílabas e lhe só sai um retorcido 'pugresso' – calhou-lhe hoje uma ainda mais tramada: imperetivelmente. Um estranho caso em que falar custa mais que ter feito naufragar a marinha mercante por inteiro, mais toda a frota de pesca.
(Quem não esteja para gramar a arenga toda, é aos 9min 40s.)
Fotografia: António Passaporte, in Arquivo Fotográfico da C.M.L..
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Perdido no aparato de notas do badalado calhamaço sobre Salazar há uma história engraçada.
Em Novembro de 1940 o dr. Salazar adquiriu dois dicionários. – Naquele tempo o afã de Salazar por manter a guerra longe de Portugal era grande e por tal acumulava as pastas da Guerra e dos Estrangeiros, além da Presidência do Conselho (não sei de que ganhasse por três ministros, mas tudo é possível...) – Pois bem. Os dicionários, um de Português-Inglês/Inglês Português e um Westminster English Dictionary – certamente pelos trabalhos de diplomacia em mãos –, foram comprados na livraria Sá da Costa. O primeiro sabe-se que custou 180$00 pois há recibo. E no recibo Salazar anotou: "Na Bertrand pediram 200$00".
(Imagem in «Salazar. O Obreiro da Pátria».)
«O 98 da Duque de Loulé», in Lisboa S.O.S., 5/IV/09.
Um comentário hoje ao verbete do «Projecto cor..., Crono», que escrevi há dias, dum cavalheiro que não diz o nome, afirma não ser correcto eu fazer comparações entre besuntar com grafitti um prédio em ruínas e a real recuperação do edifício. Lá lhe respondi que pelo preço do m2 deve a administração municipal estar a oferecer a artistas duvidosos os cavaletes mais caros do mundo. Por conseguinte, e porque andamos numa fase de contar tostões, pergunto se é correcto a Câmara Municipal ser tão perdulária. Perdulária por não conseguir fazer simples contas de merceeiro ao m2 de terreno, porque quanto a avaliar artística e arquitectonicamente o produto, melhor é esquecer. Por menos aritmética que seja precisa, seria necessário haver por aí entre os mamíferos que tomaram de assalto a coisa pública uns que soubessem ao menos distinguir um fresco dum mural. Mas como ele é mais boys para um palácio...
(Revisto às 11h00 da noite.)
Em menino, na véspera de ir para a primeira classe, andava angustiado com a escola. Falaram-me de ter que ir para a escola e ter de obedecer a quem lá mandava; professores, contínuas; e sobretudo devia estar quietinho e calado na sala de aula. Lembro-me de uns dias antes andar a treinar o 'a' num caderninho como que para espantar o medo. Lembro-me de num desses dias a D.ª Adelina, uma senhora rija, já perto dos 80, que visitava amiúde a minha mãe para tomar chá e conversar, me ensinar o 'e'; para o caderno não ser só 'aa'. Lembro-me de achar o 'e' feio; tão feio que nem devia ser uma letra a sério; devia ser invenção da D.ª Adelina.
Pois bem. No primeiro dia de escola a angústia deu em pânico. Soube que iria para a sala da D.ª Idalina. O Vijó, o meu amigo de brincar ao Bonanza, não era dessa sala. Era da da D.ª Maria do Rosário. O pânico deu num choro copioso, tanto que a minha mãe nesse dia já me não obrigou.
No dia seguinte, porém, levou-me com ela às compras de manhã (as aulas eram de tarde, da uma e meia às cinco e meia). Comprou-me uma tablete - eu gostava de chocolates. E lá me ia dizendo que a sala da D.ª Idalina também era boa; havia lá o Zezinho da D.ª Joana. Eu era amigo do Zezinho, não era?...
Era, mas era pouco. O pânico dava já em birra. Por conseguinte a minha mãe lá tratou duma troca e, por fim, no portão da escola só me disse: - "Tu agora vais para a sala do Vijó. Vais aqui com a D.ª Alda (a contínua). Mas ouve bem: se no fim ela me diz que te portaste mal, eu lá em casa logo te digo!..."
Sentença lida, lá fui. Quando se abriu a porta da sala o Vijó levantou-se logo acenado-me. Foi imediatamente repreendido pela professora: - "David Jorge, sente-se!" - E a mim mandou ela friamente sentar na carteira da Ana Maria que tinha um lugar livre. Sem mais, tornou à lição: estava a ensinar a letra 'i'...
O leite com chocolate foi na hora do recreio. Os meninos, íamos na forma à cantina onde a D.ª Alda e as contínuas nos davam um pão com mateiga e uma garrafa de leite com chocolate. Eu não gostava de leite, nem sendo com chocolate. Bebi-o todo, a custo, enjoado, e sem queixas. À hora do recreio tinha noção certa de que o crédito para caprichos se havia esgotado.
(Imagem em OLX Leilões.)
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