Inaugura-se no dia em que o Arquivo Fotográfico da C.M.L. comemora a independência de Angola.
Afinal a sociedade e a corte portuguesas de há 500 anos sempre se complicaram. O que faz dos portugueses de então bem menos primitivos, ou não?
O sábio da exposição que se exprime neste modo, com ecos pelos jornais de letras,artes &c., comunica muito mais do que consegue dizer. A aquisição de produtos artísticos denuncia-o logo como tratante, não como curador de exposições de Arte. É como pensar em Calouste Gulbenkian e em Joe Berardo; o primeiro coleccionou arte, o segundo adquire produtos artísticos. – O benévolo leitor perceberá, por certo.
Eruditos como Oliveira Caetano, que dizem as coisas nesta maneira, não são naturais de cá; arribam-nos contentorizados e certificados da Europa; daí a expansão portuguesa afigurar-se-lhe como extra-europeia. Quando Portugal era Portugal, e nós naturalmente portugueses, a expansão portuguesa depois da Reconquista foi simplesmente ultramarina... – Mas é muito complicado, não?!...
O Museu de Arte Antiga vai realizar uma exposição de pintura portuguesa dos séculos XV e XVI. São os séculos de maior explendor da nossa História.
E qual foi o nome que resolveram dar à exposição? – Primitivos Portugueses.
Primitivo é um adjectivo bem achado. Remete os portugueses da Idade Média para além das cavernas e livra os comissários da exposição de se misturarem muito com aquela molhada dos painéis de S. Vicente.
É, pois, uma exposição que "complexifica mais do que simplifica" (Jornal de ... Artes e Ideias, 3/11/2010).
É no falar dos agora não primitivos assaz complexos portugueses que se nota a complexificabilidade em que isto se tornou.
Um disparo no conta-quilómetros ali ao lado (320 entradas neste blogo hoje em meio-dia quando foram 355 ontem o dia inteiro) é um estranho fenómeno. O Sitemeter revelou o destino: um verbetezinho sobre o aivião Airbus 380 (http://biclaranja.blogs.sapo.pt/34810.html) de há três anos. Coisa de motores de busca atirando gente para cá, por certo. Mas porquê tanta busca por A380?
Pois bem: um incidente, que não um acidente.
No terra.com.br leio:
O fabricante aeronáutico europeu Airbus reconheceu nesta quinta-feira que o incidente ocorrido com A380 da companhia Qantas, que teve de fazer uma aterrissagem de emergência em Cingapura, é o maior de passageiros do mundo desde a entrada em operação em 2007.
Felizmente nada de pior a lamentar. Apenas três apartes:
Ele há coisas que não entendo. Quem possua um prédio de cinco andares, sólido, em plena Av. da República em Lisboa há-de de ter jeito de fazer negócio, seja arrendando as casas, seja vendendo os andares, seja até vendendo o prédio todo. Mais estranho é não fazê-lo tendo uma tela publicitando a venda há muitos meses. O sacrossanto mercado não proporciona um encontro de valores para uma venda? Ou os mercados, como agora se diz, serão mera ditadura da oferta a preços absurdos...?
Ou será a venerada economia de mercado algo surreal, em que o senhorio dum prédio, em vez de promover o legítimo negócio das suas propriedades, se recria (é o verbo recriar, não confundir o prémio municipal) em campanhas publicitárias a obscuras maçãs azuis enquanto deteriora a propriedade com as janelas escancaradas às intempéries?
De feito, foi no café "A Cubana", que era neste prédio, que o Alexandre O'Neill conheceu o Mário Cesariny em 1945. Dois homens do Surrealismo, pois então.
Av. da República, 37, Lisboa - (c) 2010
Notai as janelas abertas no piso da mansarda e no 1º andar junto à árvore. A fotografia é de ontem ás 14h00. Hoje às 9h30 da manhã havia muitas mais, completamente escancaradas.
Esta agora serve de recado para uma Aguirre Newman e uma outra imobiliária sonante que pespegaram há meses na fachada uma tela a dizer «vende-se edifício».
— Os senhores costumam arruinar as propriedades que têm para vender?
De há meses até sexta-feira passada havia duas janelas entreabertas na mansarda do lado da Miguel Bombarda. Pois na dita sexta-feira — precisamente: o dia em que choveu que Deu-lo dava, com alertas da Protecção Civil e tudo — à hora de almoço passaram as tais janelas da mansarda a ver-se despudoradamente escancaradas; as duas do lado da Miguel Bombarda e mais uma (esta foi novidade) do lado da Avenida da República. Isto é o que vê quem passa, porque nas traseiras sabe Deus a incúria em que irão...
Este prédio tem pormenores de Arte Nova, cada vez mais raros de achar nas avenidas graças à bruta avidez das imobiliárias e à grosseira conivência dos entendidos da Câmara. Já em 1969 o prédio parece que era para demolir; a fotografia abaixo assim o indicia. Um banco, e ao depois uma loja de cozinhas espanhola, mutilaram-lhe desgraçadamente a fachada. A Sociedade Portuguesa de Matemática foi arredada do 4.º andar e mandada um quarteirão para diante há dois ou três anos. O 3.º andar assemelha-se a um desses parques de empresas que todos os autarcas hoje fazem nos termos dos concelhos com tortuosas rotundas pelo caminho: Lisinur, Euro-atlântica, Imoatlântica, Sodege. Tudo imobiliárias ou parecido. Tudo negócios idóneos, não duvido. Mas amontoam-se todas no mesmo andar? Talvez repartam o custo a renda; talvez passem testemunho umas às outras…
No meio disto dois cafés e uma florista vão mantendo porta aberta (e o prédio de pé?). Por quanto tempo mais?
Prédio para demolir, Lisboa, 1969.
João H. Goulart, in Arquivo Fotográfico da C.M.L.
Jorge Mascarenhas, Sistemas de Construção – V, 3ª ed., Livros Horizonte, [Lisboa], 2009, p. 165.
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