Helder Guégués, segundo me parece, participa numa espécie de laboratório de língua portuguesa com professores. Os disparates de que dá notícia decorrentes da aplicação do aborto gráfico por eles mostram o que se adivinhava. Em sendo professores a dar erros, que achais que o futuro vai dar?…
" [...] Vejo que alguns escrevem (e não são professores de Física disléxicos) «fição», outros escrevem (e não são cegos) «diotrias». É o novo acordo ortográfico e são professores que assim escrevem. Pês e cês é tudo para deitar abaixo a esmo e a eito. Vamos a ver se o que sobra é legível."
Helder Guégués, Ensandeceram, in Assim Mesmo, post 4488, 24/2/2011.
Pandora (a espreitar a caixa), J. W. Waterhouse, 1896.
(Imagem em Hellenica.de)
(Texto publicado originalmente na pág. da I.L.C. Contra o Acordo Ortográfico em 25/2/2011.)
Convento de Mafra, [s.d.].
Estúdio de Mário de Novais, in Biblioteca de Arte da F.C.G.
« Convém, a propósito, recordar que Portugal se tem regido pela ortografia aprovada conjuntamente com o Brasil em 1945, segundo o Acordo então firmado, que o Brasil inicialmente homologou e depois revogou, na sequência de enorme celeuma levantada, no seu Senado, em que, à mistura com o Acordo, segundo consta o anedotário, os distintos Senadores brasileiros consumiram largo tempo a discutir os malefícios da colonização lusitana e o ouro levado do Brasil, no tempo de D. João V, etc. e tal, como invariavelmente acontece nas acesas discussões linguísticas entre os nossos putativos irmãos de fala.
[...]
Para a coesão do idioma, mais importante do que a ortografia é a sintaxe, em que a divergência luso-brasileira não pára de se alargar, principalmente por violação sistemática das regras gramaticais do Português, na boca da população brasileira.»
António Viriato, «O trigo e o joio, a propósito do desacordo ortográfico», in Alma Lusíada, 23/III/2011.
Muito mais trigo do que joio nas avisadas reflexões de António Viriato sobre vergarem-nos à nova grafia brasileira. Merece a pena todo o artigo, que resume com ponderação o essencial do caso.
Uma escola pública propôs a uma grande empresa do Estado a ida de professores para umas sessõezinhas de esclarecimento (doutrinação) aos empregados sobre as regras do Acordo Ortográfico da escrita brasileira.
Teme-se seriamente que ninguém apareça.
Entretanto a iniciativa prossegue.
(Fotografia do sr. António Fernandes.)
Com alguns desafinanços mas, enfim... Andava à tarde com esta no ouvido sabe-se lá porquê. A senhora veio agora dizer-me: — "Estás todo electrónico, hem!." — (Tinha eu aqui a grafonola um bocado alta.) — Electrónico?!... — Estou sim com aquele misto de sensações que estas relíquias já esquecidas, empoeiradas de décadas, sempre nos fazem aflorar à pele. — Mas vede! Deu-me ela a chave que faltava para o título do verbete: "Todo electrónico".
Mike Oldfield, Guilty
(1979)
Rua dos Cavaleiros, Mouraria, 1940-45.
Estúdio de Mário de Novais, in Biblioteca de Arte da F.C.G.
width=249 height=360 data-mce-style="border: 0 none;" data-mce-src="https://fotos.web.sapo.io/i/Bb106387c/8200435_CsNEl.jpeg">
Cá está!
Não conhecia a palavra «idioleto». Sabeis como a li? Idiolêto... (1)
A primeira vez que me aconteceu [o fecho de vogais protónicas (2) motivado pelo brasileiro] foi no tempo da escola primária com o Tio Patinhas, o pato mais rico do Mundo, que faturava, fa-turava, fâ-tu-rá-va que se fartava. E eu nunca tinha ouvisto uma factura sequer.
(Tio Patinhas in Universo Disney.)
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(1) Idioleto é escrita brasileira; a forma correcta é, naturalmente, idiolecto e pronuncia-se com o 'e' aberto como facilmente o leitor perceberá pela consoante etimológica.
(2) O fenómeno de fechameneto das vogais característico do português agrava-se com a leitura da escrita brasileira e afecta inclusivamente vogais tónicas, como vemos aqui com o pouco conhecido idioleto lido dum brasileiro, e como veremos mais cedo ou mais tarde com os aberrantes diretos da R.T.P.
Não sei que espécie de gente o governo recruta para o censo. A gente que há agora, com certeza.
– Sobre o telhado do edifício: é um telhado de telha, inclinado?
– O edifício tem um telhado de duas águas.
– Desculpe! Que é um telhado de duas águas?...
Com o folheto dos censos: – Está a ver um telhado? Uma água; duas águas – enquanto lhe apontava para lá e para cá as faces inclinadas do papelucho semi-aberto.
Perguntou-me se eu era arquitecto.
Sensos - (c) 2011.
Não sei que espécie de gente o governo recruta para os censos. Gente empenhada em despachar serviço, com certeza.
Primeira preocupação: se tenho Internete.
– Isso é uma pergunta do censo? – procuro saber.
– Não, é para lhe dar a senha para responder.
– Minha menina, tenho a Internete mas é minha. Não para fazer eu o trabalho do Governo.
O Martim Moniz em 1984 sensivelmente do mesmo lugar daquela segunda de sexta-feira, embora mais de esguelha; o fotógrafo rodou para a esquerda, para NE.
Martim Moniz, Lisboa, 1984.
Christopher Leach, in Busworld Photography.
Clannad & Bruce Hornsby, Something To Believe In
(Sirius, 1987)
Quando o madeirense Vicente Silva veio com a geração rasca (a minha; a primeira alfabetizada a ir à escola após o grande acidente nacional) eu achei que sim. Mas para me livrar da sarna passei a dizer que, depois de mim (dela, da minha geração), era o Dilúvio.
A Filomena Mónica dá-nos hoje em torrente (como lhe é característico) a taxonomia do Dilúvio, das subgerações "à rasca": "são os mitras, os boys e os betos. [...] Dentro de cada grupo, há de tudo. Uns são inteligentes, outros burros; uns são trabalhadores, outros preguiçosos; uns são cultos, outros ignorantes; uns são de esquerda, outros de direita; uns são rapazes, outros raparigas; uns são ambiciosos, outros resignados; uns são activos, outros passivos." («Os mitras, os boys e os betos», in Público, 13/3/2011).
A geração dita "à rasca" parece-me mais os iogurtes nos "hipers" (plural precário; 4ª acepção). É fazer a correspondência...
(Imagem duma página espanhola, via Guglo.)
Tenho o Público no Kindle. Paga-se como Público em papel mas não tem publicidade (salvo as próprias notícias). Também é edição tipograficamente mais descuidada. Hoje num artigo de opinião não assinado leio exemplos de descuido do jornal dito "de referência", em quatro edições sucessivas (de 8 a 11 de Março).
Do jornal — a desgraça não é só na edição do Kindle, portanto.
Os exemplos dados vão de notícias erradas por papagueanço irreflectido, à transmissão de opinião sensacionalista por notícia isenta, passando, claro, pelos inevitáveis erros de português. Um destes que me já tinha ficado atravessado na sexta-feira foi o dos hipermercados ao domingo; o erro apontado é a discrepância entre "Viana e Amadora recusam (...)", na capa, e "Viana do Castelo e Almada contra (...)", na notícia na pág. 16. Mas, e o objecto? - Hipers ao dominigo?! Hipers!...
Primeiras demolições na Mouraria.
A Rua do Martim Moniz ao virar da esquina (esquerda), que deu no pavoroso largo... Para diante a Rua da Palma; para cá idem. À direita o fim da Rua do Martim Moniz prosseguindo as escadinhas da Calçada do Jogo da Péla. Um bairro alfacinha a caminho de desaparecer. Os transeuntes vão indiferentes. A vida corre como se nada fosse.
O fotógrafo passou por lá.
Rua da Palma, Mouraria, 1940-45.
A Rua do Martim Moniz - que com as demolições se já abria em largo - e a tardoz do vetusto palácio do Marquês de Alegrete. Adiante cruza-se a Rua da Palma.
Rua do Martim Moniz, Mouraria, 1940-45.
Fotografias: Estúdio de Mário de Novais, in Biblioteca de Arte da F.C.G.
Vendedor de hortaliça, Largo do Carmo, 1890-1910.
Charles Chusseau-Flaviens, In George Eastman House.
O discurso de posse dum presidente é uma daquelas coisas em que o conteúdo prolixo vai dirigindo a atenção prò lixo menos óbvio da forma (no caso não morfologia mas sintaxe). Lede vós:
Como Presidente da República, faço um vibrante apelo aos jovens de Portugal: ajudem o vosso País! Façam ouvir a vossa voz. (**)
(*) O ex é latino; a horta é das nabiças.
(**) A informação do lixo na forma de dizer deve-se ao avisado Venâncio neste foro; o discurso lê-se na própria Presidência.
" Embora tenha havido e talvez ainda continue a haver petições contra o A.O., não é de uma ou mais uma petição que se trata [...]
Uma Iniciativa Legislativa de Cidadãos (I.L.C.) «pode ter por objecto todas as matérias incluídas na competência legislativa da Assembleia da República» (Artigo 3.º da respectiva lei ver) com as excepções previstas no mesmo artigo e limitações previstas no Artigo 4.º. A I.L.C. de revogação da Resolução da Assembleia da República n.º 35/2008, de 29 de Julho, não está abrangida por nenhuma dessas excepções e limitações. Uma I.L.C. é examinada em comissão, apreciada e votada na generalidade e na especialidade, e objecto de uma votação final global (Artigo 9.º a Artigo 12.º), à semelhança do que acontece com os projectos de lei apresentados pelos deputados ou propostas de lei apresentadas pelo Governo à Assembleia da República. Uma vez aprovada pela A.R., após a promulgação pelo Presidente da República, segue-se a publicação no Diário da República sob a forma de Lei, para a entrada em vigor.
  Espera-se que estas breves notas tenham sido suficientes para dar a perceber a grande diferença que há entre uma petição e uma I.L.C."
Virgílio A. P. Machado, in Goodreads, 8/3/2010 [sublinhados meus].
Claro que o benévolo leitor já percebeu que é para pôr uma Lei à votação contra o desconchavado Acordo Ortográfico. Mas há sempre gente nova a chegar e, os que estamos contra, temos família e amigos que duma maneira ou doutra, sabemos, padecem humilhação com esta mania de os governantes nos pregarem com leis que nos ferem e resultam em nosso prejuízo. Podemos só reclamar em família. Podemos talvez berrar em manifestações. Ou podemos fazer algo tangível, na mesma medida que o despudorado governo e deputados passam a vida a fazer-nos. Impor uma Lei.
Imponhamos nós uma Lei.
ilcao_assinaturas [caracol electrónico] cedilha.net
Refª:
Maria Luísa Torres Pires, Francisca Laura Batista, Glória N. Gusmão Morais, Livro de leitura da primeira classe, 1ª ed., Lisboa, Papelaria Fernandes, 1967. - Ilustrações: Maria Keil, Luís Filipe de Abreu, in Planeta Tangerina.
I.L.C. - Iniciativa Legislativa de Cidadãos contra o Acordo Ortográfico de 1990.
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