Palacete Anjos (Direcção de Serviços de Exploração dos Correios), Restauradores, [post 1939].
Francisco dos Santos Cordeiro, in Fundação Portuguesa das Comunicações.
Norberto Araújo, no livro XIV das Peregrinações em Lisboa (2.ª ed. Vega, 1993), faz menção à família Anjos como «industriais e comerciantes de bom nome» que construiram no séc. XIX, sobre chão que fora dos condes de Castelo Melhor, o palacete Anjos e nele habitaram. Edifício de dois andares e águas furtadas dava frente para o Passeio Público e para a Travessa de Santo Antão. Tinha nove janelas na fachada que dá hoje para os Restauradores, três de sacada no andar nobre e no superior. Foi adquirido em 1938 pelo Estado e em 10 de Junho de 1939 entraram a funcionar nele um posto e outros serviços dos Correios. «Tôda a decoração do pavimento baixo é de Almada Negreiros; merece citação especial o quadro, à esquerda do átrio, que representa a "Mala Posta", delicada composição de tintas brandas» (Norberto Araújo, op. cit., p. 24). – Não sei se ainda se lá acha alguma coisa disto...
O edifício foi alteado de um piso nos anos 40 e ficou despojado dos ornamentos mais notáveis da fachada: as esculturas que sobrepujavam as sacadas do andar nobre e os florões no cunhal; os pináculos originais ao gosto romântico que coroavam os cunhais foram substituídos por uns em pirâmide, em gosto Português Suave, imitando, ao que julgo, o estilo D. João V.
Não sei se foi Policarpo Pecquet Ferreira dos Anjos (1845-1905) que mandou fazer o palacete ou se o herdou. Conselheiro, par do reino, industrial ligado à importação e exportação de têxteis, accionista do Banco Lisboa & Açores e da Companhia Geral do Crédito Predial, dirigente da Associação Comercial de Lisboa, filantropo da Real Irmandade de N.ª Senhora da Conceição da Rocha, casou em 31 de Agosto de 1871 com Alice Joyce Munró (1850‑1934), de ascendência escocesa e irlandesa. A família Anjos tinha meios e proeminência social. Uma das filhas, Matilde, veio a casar com o conde de Arnoso depois de ele enviuvar; outra, Berta, com o 12.º conde de S. Lourenço. Algures na descendência desta família entroncam os Empis, mas deixai a via genealógica que é um novelo denso...
Policarpo dos Anjos adquiriu por 1870 outro Palacete Anjos ao Príncipe Real, n.ºs 21-23, hoje dependência do Banco de Portugal (v. Agostinho da Paiva Sobreira, «Praça de Príncipe Real VI», in Ruas de Lisboa com Alguma História). Mandou, além destas casas, fazer ainda o célebre chalet de Miramar, em Algés, onde a família passava temporadas de veraneio; o chalet (também dito Palácio Anjos) foi edificado em data incerta entre 1880-86 (Maria del Sol Adragão, Centro de Arte Colecção Manuel de Brito, &c., dissert. de mestrado em Museologia, U.N.L., 2010, p. 41), mas já estaria posto a uso em 1885, conforme se tira da data do diário de Maria Leonor, a filha mais velha do conselheiro Policarpo e de Alice Munró dos Anjos. Se bem me lembro a Vila de Miramar em Algés foi biblioteca municipal; actualmente é o Centro de Arte Manuel de Brito. Mencionou-me a prezada leitora Maria quando me deu o mote para estas nótulas, uma casa da família em Loures; não achei dela agora notícia. Ou não a soube eu procurar.
Família Anjos na sua casa de veraneio, o Chalet Miramar, Algés, [s.d.].
Alexandra Carvalho Antunes, O Veraneio da Família Anjos; Diário de Maria Leonor Anjos (1885-87), Oeiras, C.M.O., 2007, apud pH Neutro.
No palacete Anjos moraram com a família duas irmãs solteiras de D.ª Alice Munró, Cristina e Francisca (Fanny). O palacete Anjos nos Restauradores tinha capela, teatro e o atelier de Fanny Munró, artista pintora discípula de Silva Porto. Fialho de Almeida refere-se-lhe a propósito da 1.ª Exposição do Grémio Artístico em 1891: «A sr.ª D.ª Fanny Munró tem tres quadrosinhos, com seguras qualidades de factura e colorido. Sente-se a estudiosa que procura, ajudada d'um mestre que não costuma lisongear precocidades problemáticas, e por isso mesmo avançando com segurança mas sem pressa.» (Vida Ironica; Jornal d'um Vagabundo, 2.ª ed., A. M. Teixeira, Lisboa, 1914, p. 290).
Tinha-se Fanny Munró por excêntrica por acompanhar com amigos de condição social diferente. Enamorou-se dum moço Filipe de Andrade que não era da alta sociedade; correspondia-se muito com ele até que dum dia para o outro as suas cartas deixaram de ter resposta. Soube-se depois pelos jornais que Filipe de Andrade fora achado sem porquê afogado no Tejo. O mar que Fanny representava nas suas telas levara-lhe o amor. Foi um grande desgosto (v. Sandra Leandro, «Patrimónios pouco visíveis; pintoras Josefa Greno (1850-1902) e Fanny Munró (1846-1926)», in Boletim da A.P.H.A., n.º 4, Dez. 2006).
Acha-se dispersa e em parte talvez incerta a obra da artista Fanny Munró. Na rede da Internete apenas achei esta tela numa leiloeira; não dão o título e pergunto-me se não será o Saveiro, que apresentou à exposição do Grémio, em 1892...
MUNRÓ (FANNY), Saveiro (?), 189...
Óleo sobre tela, assinado. 48 x 63 cm, in São Domingos.
Diz que o primeiro passarão foi hoje com a pássara do ambiente inaugurar a central de tratamento de esgotos da ribeira de Alcântara (TVI 24, 29/4/2011). Esta foi a primeira vez que se inaugurou a coisa desde a ultima vez em que a coisa foi inaugurada (TVI 24, 22/1/2011). Conta-se que amanhã ou depois passem por ali outra vez para inaugurar o aqueduto das Águas Livres.
Calçada da estação, Campolide, c. 1940.
Estúdio de Horácio de Novais, in Biblioteca de Arte da F.C.G..
Do dia de hoje, 28 de Abril, há umas poucas notícias antigas que sei. O aniversário do nascimento do dr. Salazar, que à ortodoxia em vigor provoca brotoeja, a menos que se diga muito mal, muito mal, e que atrasou Portugal... — Eu vejo Portugal hoje bem diminuído e atrasado... — Nasceu em 1889; há 122 anos, portanto.
Virando o capítulo há uma espécie de sucesso (leia-se sucedido, como era seu sentido antigo) que foi a chegada do dr. Soares a Santa Apolónia em 1974, depois da viradeira de 25 de Abril. Deu na telefonia de manhã pela voz da ortodoxia em vigor, portanto, fiquei ensinado. Cuido que obrou logo aí um histórico feito três-em-um: chegou, viu e venceu. Portugal... adiante!
Outras duas que sei são novidades antigas de conta redonda. Há 125 anos inaugurou-se o obelisco aos Restauradores de 1640, com S.M. el-rei D. Luís e S.A.R. o príncipe D. Carlos a descobrirem as estátuas pelas quatro e meia da tarde. Tocou o hino da Restauração, houve guarda de honra pelo regimento de Caçadores 5 e salva de estilo duma bateria de Artilharia 1 postada para o efeito no Terreiro do Paço. Assistiu a restante família real, o ministério (agora diz-se governo), a câmara municipal, membros do corpo legislativo, autoridades civis, eclesiásticas e militares, e membros da Comissão Central do 1º de Dezembro.
« E ahi está erguido, magestoso e bello, o monumento levantado á memoria dos restauradores da independência nacional, affirmando que Portugal quer conservar e manter a sua independencia nacional, a sua autonomia, e que recorda com saudade a memoria d'aquelles que concorreram para sacudir o odioso jugo estrangeiro [...]»
(Meyrelles Tavora, in O Occidente, vol IX, nº 265.)
Em Norberto de Araújo lembro-me de ter lido que se fez nesse mesmo dia 28 de Abril de 1886 a inauguração solene da inacabada Avenida da Liberdade, em tenda montada para o efeito sobre os escombros do Passeio Público. Presidiu Rosa Araújo. As coisas parece afinal que nunca mudam.
Hoje apanhei a carreira para o Areeiro e meti-me ao depois para apanhar metropolitano. Numa outra vez que fiz isto, na bilheteira do metropolitano não me venderam um bilhete porque o cartãozinho tinha carregada uma viagem da Carris. Como lhe contava assim a história ao jantar, admirou-se-me cá a senhora fitando-me intrigada. — "Devem ser sistemas informáticos muito avançados mas incompatíveis; o do Metropolitano e da Carris..."
Nessoutra vez não quis fazer mais caso e deixei o metropolitano para ir apanhar o autocarro. Agora, porém, quando me meti para apanhar o metropolitano e me lembrava disto ia descansado; não havia de suceder o mesmo, pois se já gastara a viagem de autocarro!...
Pois sim, mas a final de contas a empregada da bilheteira sai-se-me com outra:
— Cartão caducado; o sistema não deixa carregar.
— Então isso tem prazo como os iogurtes?!
— Um ano.
— Bem vejo. E para pagar uma viagem
...?
— ... Tem de comprar um cartão novo.
— Mas que grande negócio! E tal é o descaro. — Alguém atrás sorria-se.
Paguei o esbulho só para ter o elementar direito de comprar um reles bilhete de metropolitano (paguei o esbulho e paguei o bilhete) e segui. Já no caminho lembrou-me duma que ouvira... E então, na estação de destino, antes de sair, lá bati o cartãozinho com a respectiva factura na bilheteira. O meu sistema também não é compatível com a intrujice de só vender bilhetes de metro a quem compre, previamente e por prazo limitado, o direito de os poder comprar. Fiquem lá com o cartãozinho de volta. Ó para cá o dinheiro!
Metropolitano de Lisboa, Avenida, c. 1960.
Estúdio de Horácio de Novais, in Biblioteca de Arte da F.C.G..
Aqui há semanas falei do palácio da Condessa de Camarido. Este palácio oitocentista quando foi feito dava frente para a velha Estrada das Picoas tal como vedes na imagem. Com o rasgar das avenidas novas passou o jardim a dar para a rotunda das Picoas, depois baptizada Praça Duque de Saldanha. O palácio sobreviveu até 1939. Nele funcionou o Colégio Normal de Lisboa. A perspectiva aqui é tirada da Av. Cinco de Outubro e as fundações no terreno em frente são as do troço ocidental da Av. da Praia da Vitória. Como vedes, o palácio ficava no leito da avenida.
Palácio Camarido, Rua das Picoas, 1938.
Eduardo Portugal, in archivo photographico da C.M.L.
Delegados financeiros da Sociedade das Nações no baile da Sociedade Nacional de Belas Artes.
Fotógrafo: Mário Novais.
Data de produção da fotografia original: 1928.
Mantovani, Perfidia
(Latin Rendez-Vous, 1963)
Praça do Duque da Terceira, Lisboa, (post 1894).
Col. Seixas, in José Sarmento de Matos (org. e coord.), Lisboa à Beira Tejo (1860-2010), [Lisboa], C.M.L./E.G.E.A.C., [2010], p. 109.
Vejo à lupa a fotografia do vidro partido e observo a gente que caminha aqui mais perto, na praça do Duque da Terceira (antiga dos Remolares; v. Agostinho de Paiva Sobreira, «Praça Duque da Terceira I-IX», in Ruas de Lisboa com alguma História). Dirigem-se para cá e é notório o ponto de fuga: a estação do caminho de ferro. Persigo-lhe os detalhes; é gente janota. Damas e cavalheiros vindos do comboio seguem o rumo próximo, mais para a Rua do Alecrim, mais para o Corpo Santo. Por contraponto, dou atenção aos que vão para lá, dois junto ao carro americano e mais mais chegados aos barracões da Ribeira; são tipos populares, de jaqueta e barretina saloia; varinas de canastra à cabeça também.
A estação está apinhada de carruagens. A linha do caminho de ferro parece desviada do que é hoje, mais para a beira do rio, mas não; foi o aterro que se estendeu entretanto rio adentro. Mais cá a margem chega quase diante da praça. Uma carruagem deve ter tomado passageiros e vem aqui perto; o boleeiro traja chapéu alto. Outra saindo do molho parece pôr-se a caminho. Ao pé do quiosque duas carroças seguem para lá, como as peixeiras e os saloios, rumo aos barracões do mercado.
Aquela casa mais ao centro não sei o que fosse.
O quiosque, na embocadura da 24 de Julho em aterros, está às moscas; uma barraquinha de refrescos (?) mais à esquerda parece ter um ou dois fregueses.
Acho dous guardas na fotografia; um à sombra da guarita junto ao muro à beira Tejo; outro à sombra da estátua. Sombras longas do quadrante Sul dão hora vespertina ao cliché, mais em dia de Outono que de Verão. Ainda assim há gente de sombrinha (4 damas, 1 menina e 2 cavalheiros).
O Arquivo da Câmara datou esta fotografia como posterior a 1877; tomou como referência a inauguração da estátua do Duque da Terceira. Datar com referência à inauguração do troço do caminho de ferro no Cais do Sodré (4/9/1894) é mais exacto.
A meia década do fim séc. XIX, pouco mais ou menos, o aspecto do Cais do Sodré era como o benévolo leitor vê aqui, do cimo do Grand Hotel Central.
Mantêm-se a estátua e a calçada portuguesa original na praça abaixo. Não sei se se avista o vulto da igreja das Necessidades. O Tejo coalhado de mastros é uma miragem.
In Perspectivas 8/4/2011.
Fui tirar uma fotocópia a este livro para aqui pôr e olha! Parece que se partiu o vidro da fotocopiadora...
Esta manhã às nove havia novas doutra sondagem. Escorre do marketing destas coisas que o culpado da de on-
tem, o encabrestado no «Executivo», já vai por aí outra vez bem largado. Mas cuido que nesta capeia próxima a má rês não chegue para o forcão. É esta a minha sondagem.
(Imagem nas Cinco Quinas.)
Esta manhã às nove havia novas duma sondagem no noticiário da T.S.F.. Algo sobre o culpado pela bancarrota (*), com questionário de escolha múltipla (já pré-enchido, dá impressão). Mereceu-me o caso poucochinho interesse mas em dois pormenores de forma reparei: 1) o tom da locutora, como de pessoa surda se tratasse, vozeando a notícia numa avalancha; 2) na conclusão da sondagem o co‑responsável saiu ferrado pelo nome – Cavaco – mas o culpado principal foi habilmente encabrestado no... – nem “Governo” – no “Executivo”. Que tourada de jornalismo!
Imagem da Rádio Comunitária Zumbi dos Palmares (zumbidos palmares)
(*) Na notícia diziam “crise”, que é coisa mais difusa, como a poeira que se atira.
Cabina telefónica, Jardim Constantino, [s.d.].
In Fundação Portuguesa das Comunicações.
Uma cabina telifónica numa Lisboa hoje irreconhecível. O elemento que me permite identificar o local é o gradeamento ao fundo, à esquerda. De resto, nada na imagem se consegue achar no local agora; o prédio à direita, na esquina da Rua Passos Manuel para a Pascoal de Melo: demolido; e o que se vê lá onde o gradeamento acaba é o telhado do «Palácio dos Senhores de Pancas» (Rua de Arroios, 160-174) que ficou ao nível da Rua Pascoal de Melo quando se fez o viaduto. É Norberto Araújo quem nos diz dele:
Ora aí tens êste prédio, n.os 160 a 174, a nascente, ainda com um certo feitio palaciano, de aspecto aliás vulgar, ao qual se encosta o viaduto. É conhecido, a despeito da trasnfiguração, pela designação de «Palácio dos Senhores de Pancas».
Pertenceu o antigo Palácio na primeira metade do séc. XVII ao Desembargador André Valente (o que deu o nome à travessa que sai da Calçada do Combro e em cotovelo acaba na Rua do Século). Depois passou por compra aos Manuéis de Vilhena, Condes de Vila Flor, ainda no séc. XVII, e em 1810 (o tempo da «Sopa de Arroios») era de uma filha de D. Cristóvão Manuel de Vilhena, que casara com o 1.º e único Conde de Alpedrinha, Neto do Marquês de Pombal. Como os Vilhenas eram senhores de Pancas, o Palácio fez-se conhecido por esse título. Em 1863-1864 recebeu grandes transformações urbanas, mas a linha geral das sacadas ficou sensìvelmente a mesma. Já então a quinta havia sido aforada para construções de moradias. O contíguo «Pátio Dias» data de 1883 na forma com está hoje [1938].
Como vês Dilecto, o Palácio Pancas de palácio só tem hoje o nome. É propriedade de Simões, Limitada, e nele estão instalados, além de vários inquilinos, a Escola Oficial n.º 25, uma esquadra de polícia, um colégio particular (*) de «Gil Vicente», e dois estabelecimentos.Peregrinações em Lisboa, 2.ª ed., vol. IV, Vega, 1992, pp. 82-83.
Prédio para demolir (Antigo Palácio dos Senhores de Pancas), Arroios, 1962.
Artur Goulart, in Arquivo Fotográfico da C.M.L..
(*) Colégio particular e não privado; os meios de comunicação hoje só dizem... vós sabeis qual, muito mais à amaricana.
... juntando-se a última sílaba do nome com a primeira do apelido.
* * *
(In Café Portugal, 15/4/2011.)
O Acordo Ortográfico não influi em nada para as línguas oficiais das Nações Unidas.
«O inglês dos documentos da O.N.U. é o britânico com a ortografia de Oxford [...] As Nações Unidas têm 6 línguas oficiais: chinês, inglês, francês, russo e espanhol (desde a fundação da O.N.U. em 1945) e o árabe (desde 1973) [...] Na O.N.U. existe ainda uma "língua de documentação" (não oficial), o alemão; desde 1974, os documentos são traduzidos para alemão pela Secção de Tradução Alemã da O.N.U., sendo os respectivos custos suportados pela Alemanha, Áustria, Liechtenstein e Suíça [...] Se o Português vier a ser admitido como "lingua de documentação" [não língua oficial, note-se] na O.N.U. (bastando, para tal, que os estados da C.P.L.P. se disponham a pagar a factura...), como no caso alemão, os custos seriam repartidos ao pro rata das suas contibuições para o orçamento regular da O.N.U. (considerando um acordo semlhante ao dos países de língua alemã):
[...] Os acordistas, e os brasileiros, gostam de alardear o "astronómico" tamanho do Brasil, relativamente a Portugal, segundo o estafado critério do número de falantes (190 milhões contra cerca de 11 milhões) para justificar a "obrigatoriedade" de Portugal engolir a ortografia brasileira! Mas, quando se fala de pagantes, na hora de fazer as contas, o tamanho muda de figura: de um total de contribuições "lusófonas" para O.N.U. de 34 376 420 [USD] a norma brasileira do português "vale" 62% [c. 3/5] e a norma europeia (Portugal + P.A.L.O.P. + Timor-Leste) "vale" 38% [c. 2/5]. Como se vê muito diferente da relação 1:17 quando se conta apenas o número de falantes [habitantes] brasileiros e portugueses.»
Roque Dias, O acordo ortográfico, o português nas Nações Unidas ou uma história (muito) mal contada, Outubro de 2010 (sublinhados meus; recomendo a leitura do artigo todo).
Quando primeiramente olhei para esta intrigou-me aquele prédio ao cimo; parecia um desses caixotes de vidro modernos, despropositado nesta fotografia de 1938. Afinal era fácil; é uma vista do novo troço da Av. Almirante Reis (novo em 38) além da Praça do Chile. À esquerda, no outro lado da rua, o fim do muro do Hospital de Arroios; nem tudo estava acabado no quarteirão do Império. O prédio que me fez espécie é o do Pão de Açucar, na Alameda (nº 70), ainda em construção – foi dos andaimes que tirei a parecença com um mono moderno. Mais além dele, já levantado, o nº 233 da Almirante Reis; e ao depois lá ao cimo no enfiamento da avenida – o melhor é ampliar – o Areeiro e as características... oliveiras (será?) que o marcavam. A minha mãe há-as de ter conhecido.
A fotografia é tirada da esquina da Praça do Chile, dum 1º andar; um prédio abaixo do Estúdio Pinto Barata que já ali está, salvo erro, desde os anos 60.
Trabalhos de instalação de cabos telefónicos, Av. Almirante Reis, 1938.
In Fundação Portuguesa das Comunicações.
Por um canudo é hoje. Nos Correios actualmente é tudo outsourcing fornecimentos e serviços de terceiros. Até os carteiros.
A garage dos Correios era numa casa com um sobrado na Rua Tomás Ribeiro, nº 6 que ficou conhecida justamente por esse nome: Garagem dos Correios. Os C.T.T. tiveram lá uma estação de correio e fecharam-na há poucos anos; não sei se venderam o imóvel só para irem pagar renda a um senhorio da Filipe Folque ou se houve mais qualquer coisa. Certo é que negócios de administradores dos Correios venderem imóveis mais ou menos ao desbarato em condições suspeitas sairam na imprensa...
Não sei se esta imagem é na dita casa da Tomás Ribeiro.
Oficina de automóveis dos correios em plena actividade, [s.l.], [ante 1938].
Francisco dos Santos Cordeiro, in Fundação Portuguesa das Comunicações.
(Fotomontagem de artigos de limpeza com artigo de jornal, I, 12/4/2011.)
* * *
Este Bichara é uma cavalgadura. A Lusa, a R.T.P. e os jornais (salvo honrosas excepções) não lhe ficam atrás.
Portugal «abusa» das consoantes mudas? Pois o Brasil abusa do pretoguês; o Bichara abusa do descaro; e os jornais abusam da «voz do dono»
Perguntem aí esses jornalistas à jorna ao Bichara o que faz afinal uma dessas abusadas consoantes que diz ele que é «muda» (será decerto surdo) e «inarticulada» no novo Vocabulário brasileiro (cf. «Adoptar, verbo transitivo»).
Perguntem-lhe lá se sabe ele o que é o valor diacrítico das consoantes etimológicas. Se não, que consulte Gonçalves Viana, Ortografia Nacional; Simplificação e Uniformização das Ortografias Portuguesas, Livraria da Viúva Tavares Cardoso, Lisboa, p. 72 e ss. Ou se lhe custar menos que atenda ao Houaiss.
Perguntem-lhe se a cedência de Portugal à grafia brasileira até nas maiúsculas dos nomes dos meses e das estações do ano é irreal, se não conta, ou se não demonstra quem cede a quem. Perguntem-lhe à luz disso, se o freguês não estiver ainda cego pelas consoantes «mudas», se vê nas duplas grafias de «húmido/úmido», «amámos/amamos» o Brasil ceder uma migalha que seja ao Português do cânone.
Digam os srs. jornalistas à besta do Bichara que todos os acentos por que choraminga pode o Brasil ficar com eles (e a ver vamos se não fica), embora nem um só faça grande falta ou baralhe a leitura, salvo o do verbo parar («pára» vs. preposição «para»; uma invencionice bicharo-malakenha, ao cabo e ao resto). O Brasil não cedeu em nenhum dos acentos realmente importantes, os de marcação tónica - e não fónica - do Acordo de 45 (Bases XVII e XIX; os das esdrúxulas, falsas esdrúxulas e agudas como «cómodo/cômodo», «António/Antônio» e «bebé/bebê»).
O Brasil cedeu no trema, só no trema, e apenas no trema porque o trema é uma ninharia. Além de que é coisa de bárbaros, tal como escrever ato, ator e ação. Portugal (ou antes, o Malaka) vergou-se em 90 a tudo o que o Brasil repudiou em 45, e pretende-se com a proeza - está à vista - que Portugal (que ainda é quem conta) seja moço de frete para carregar Angola e Moçambique para o português brasileiro.
Ignóbil! E ninguém grita - «Colonialismo! Colonialismo!», pá?!...
Fiquem-se com esta e vão lá, srs. jornalistas, perguntar a final de contas ao arvorado Bichara e ao seu impedido Malaka que «grupo de países tem um peso que antes não tinha»? - Talvez São Tomé e Cabo Verde, que ratificaram o 2º protocolo modificativo atirando com o aborto aos queixos de Portugal... - Terá Portugal menos dignidade que nações rassabiadas com a História? Ora o Brasil, a ovelha ronhosa do Português, fala agora por nações soberanas onde o idioma não tem nem nunca teve questão?!... Vale o brasileiro; anda-se de cavalo para burro, como os do saco de plástico.
Pois bem, o que isto é está à vista. Os srs. jornalistas - os à jorna e os mais que isso -, respectivos chefes de redacção e competentes directores fazem muito eco de democracias, de liberdadezinha de expressão, de contraditórios, &c. e só pespegam aos leitores com a propaganda dos do aborto gráfico. Contra, parece que não há ninguém senão o Graça Moura em dias ímpares e em certas fases da Lua. O Facebook vai a caminho das 120.000 pessoas contra o acordo - talvez 25% dos portugueses registados na tal «rede social», como gostam os jornalistas de chamar àquele domínio rádio-eléctrico. Pois nenhum jornal faz do caso notícia!
Os deputados à Assembleia votaram quase por unamimidade o aborto gráfico e, da nação que os mandatou e lhes paga o ordenado, não oiço ninguém, nem uma pessoa (ou cidadão, como arrotam tanto os políticos), a favor do desconchavado "acordo". - Desacordo em toda a linha, portanto: os deputados não ouvem a nação. Pontapé no cu!
Uma Iniciativa Legislativa de Cidadãos, acto raro de exercício de cidadania e de direitos cívicos pela nação portuguesa só por si seria notícia. Pois com uma proposta de Lei concreta já redigida, com recolha de assinaturas em curso para aquela ser submetida à votação da Assembleia e o que temos é isto: uma imprensa de Bicharas e Malakas. Pff!
(Texto revisto às 11h00 de 13 de Abril.)
Num reclamo desses que a Câmara semeia pelos passeios da cidade, um banco do Estado anuncia protecção. Interrogo-me se alguma companhia de seguros nacional fará seguros de saúde por causa do aborto gráfico. — É que, morre-se do coração!
O aborto gráfico...
Os do aborto gráfico dizem lá na Base IV alínea b) que se eliminam as consoantes ditas mudas (por eles, que são surdos...); entre os exemplos dão o verbo adoptar. Ora esses do aborto gráfico são os mesmos que propunham haver até 1 de Janeiro de 1993 [A.O. (1990), art. 2º] um vocabulário ortográfico comum do português. Até hoje não há nenhum, comum. Adiante.
Quem são os do aborto gráfico? — Pois, os países da C.P.L.P. que firmaram o Acordo, pode parecer... — Mas não! Não são sequer os três países que o ratificaram ao abrigo do 2º protocolo modificativo, a saber: o Brasil mais dois ínfimos arquipélagos atlânticos alçados por países na vertigem de Abril.
Quem julgais então que se empenhou no tal vocabulário do português que havia de ser comum? Os ínfimos arquipélagos atlânticos?!... Pois bem, para bom entendedor... acabamos de identificar donde são os do aborto gráfico.
Atentai agora em duas coisas: 1) um vocabulário dum só país não pode ser comum, mas... 2) sendo oferecido ao presidente da República Portuguesa e aceito solenemente por ele, passa por valer para Portugal e não se fala mais nisso. Sigamos.
No vocabulário em questão, brasileiro, estranhamente existe o verbo adoptar, com pê, a par do verbo adoptar, mutilado. Afiançam-me do Brasil que ninguém por lá diz (nem escreve) à-dò-ptar em vez de à-dò-tar, logo o verbo adoptar parece deslocado; aquele pê etimológico não se ensina no Brasil.
Em Portugal também ninguém diz â-dò-ptar, mas o pê etimológico tem valor diacrítico (escreve-se para marcar o timbre aberto da vogal que o precede e cuja dicção tende a fechar-se em |u| na fala portuguesa), logo, o pê de adoptar é tão sonoro quanto a vogal |ò|. Demonstra-se assim que não há letras mudas em português mas que se pode em vez disso chamar surdos aos ignorantões que o não entendam.
Como foi aquele verbo adoptar parar ao Vocabulário brasileiro não sei, mas faço uma ideia; foi de Portugal, tal como idioma. É conhecido que autores portugueses têm sido ultimamente publicados no Brasil fazendo questão de que se lhes não mexa na grafia: o Saramago e o Sousa Tavares são dois desses. Deduzo que das obras destes autores, o verbo tenha sido adicionado aos dicionários (adoptar foi registado no Aurélio com remissão para adoptar) e daí tenha acabado por entar no Vocabulário brasileiro. Com inteligência, boa literatura e discreta perseverança já tínhamos o método para o Brasil tornar ao bom português sem desatarmos nós a pontapear a ortografia. Em vez disto, bestas a soldo que conspiram pelas lojas e cujos mandaretes campeiam pelo governo e pela imprensa optaram pela asneira primorosa. Como se não bastasse, da ardilosa inépcia da Academia malaquenha para conceber um Vocabulário português, chegamos a um competentíssimo copy/paste decalque do Vocabulário brasileiro que o I.L.T.E.C., a mando do governo, há-de ter pago às empresas de informática contratadas (por ajuste?) para alimentarem o Portal da Língua Portuguesa. É lá que aprendemos com toda a erudição: adoptar, com pê, existe em português, mas é brasileiro.
Se não quer adoptar o brasileiro pelo português assine para uma Proposta de Lei.
(Texto revisto.)
O lugar deste marco do correio em Lisboa é relativamente fácil de identificar – é no Campo Pequeno – mas... Não é estranha aquela rua donde vem o eléctrico? Tão estreita?! – Ele havia eléctricos na Av. da República, logo, passa-
vam no Campo Pequeno, mas aquela rua não é a Av. da República...
Pois não, não é!
Vendo bem pode ser a continuação da António Serpa ao Norte do Campo Pequeno. Era por aí que a linha dos car-
ros eléctricos da Rua do Arco do Cego entroncava na do Lumiar depois de percorrer o Campo Pequeno pelo lado oriental. Esta ligação da linha do Arco do Cego com a do Lumiar só algo tardiamente se fez... – cuido que li algo sobre isso nos trabalhos de Cruz-Filipe sobre a história da Carris.
Viatura postal e carteiro retirando a correspondência do marco, Campo Pequeno, [s.d.].
Francisco dos Santos Cordeiro, in Fundação Portuguesa das Comunicações.
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