António de Oliveira Salazar, (Vimieiro de Santa Comba Dão, 28 de Abril de 1889 – Lisboa, 27 de Julho de 1970).
Imagem: «Time», 22/7/1946.
O Sr. Tenente-Coronel Brandão Ferreira pôs na linha esta semana o ministro das finanças -- o que fala a 33 r.p.m. -- por se ter andado a comparar com o autêntico.
« Salazar optou por uma estratégia de fecho do País sobre si próprio. Durante décadas prescindiu da possibilidade de se financiar nos mercados financeiros internacionais. A nossa opção (*) é diametralmente oposta» («Sol», 23/3/12).
O Sr. Tenente-Coronel Brandão Ferreira responde-lhe no tom e com a autoridade que há-de merecer um «rapazola deslumbrado» que as profira, dando-lhe eloquente lição de história comparada.
« Em 1926 havia dois problemas que estavam à cabeça de todos os existentes: o problema da bancarrota e o problema da ordem pública (ou da falta dela) -- talvez o Sr. ministro não tenha ideia, mas Lisboa assemelhava-se à Bagdad dos últimos anos.
A Ditadura Militar foi tratando da ordem pública (sem o que não se consegue fazer nada), mas foi incompetente para resolver o problema financeiro. [...] Por isso foram buscar, novamente, o tal professor de Coimbra. O filho do caseiro do Vimieiro tinha fama de competente mas, também, de pessoa séria, que é um título que os homens públicos hodiernos têm dificuldade em ostentar.
[...] Obteve um sucesso extraordinário, criando um "superavit" nas contas em menos de dois anos. [...] Logo a partir de 1935 conseguiu reunir os fundos suficientes -- mesmo estando "fechado sobre si mesmo" -- para investir na economia que nunca mais parou de se desenvolver até atingir um crescimento de 6,9 por cento ao ano, em 1973 (no Ultramar era ainda superior) [...] Quando morreu viraram-lhe os bolsos e só descobriram cotão e meia dúzia de contos, que ele amealhara para os seus gastos pessoais.
Os senhores, agora, são ávidos de tudo e não dão o exemplo de nada [...] O regime político pós-1974/5 e os órgãos do Estado que o serviram nada conseguiram fazer com mais-valias por si geradas, apenas conseguiram fazer coisas com o dinheiro de outros e a mando de outros. E o recurso aos mercados, que o ministro das finanças tanto gaba, apenas serviu para, agora, termos uma dívida... colossal!
Belo saldo.
Resta acrescentar que, sendo a dívida actual muito superior à de 1926, o País não foi afectado por nenhuma guerra nos últimos 37 anos e que, à excepção de greves, tem gozado de paz social [...]
Não foi assim no final dos já longínquos anos 20.
Portugal teve que atravessar o "crash" financeiro da Wall Street, de 29, seguido da crise da libra (a que nós estávamos ligados), que se prolongou pelos anos 30; e depois apanhámos em cheio com a Guerra Civil de Espanha, logo seguida da II Guerra Mundial [...]
Por isso, Dr. Gaspar, quando balbuciar o nome do Estadista Salazar, comece por se pôr em sentido, depois ajoelhe e a seguir faça um acto de contrição. E fale só do que saiba.»
Isto é só um respigado de «O ministro das Finanças meteu-se com Salazar!», publicado n' «O Diabo» em 24 de Abril. O Sr. Tenente-Coronel é eloquente e magistral. Recomendo a leitura do artigo todo, em voz alta e à família. Especialmente aos mais novos.
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(*) «Nossa opção» é plural majestático?! Muito apropriado.
O secretário Viegas foi anteontem à feira dos livros.
O secretário Viegas zurrou dali à imprensa que «não haverá qualquer revisão do acordo ortográfico» (Lusa, 24/IV/2012) depois de asnear há mês e tal que «íamos aperfeiçoar» o denominado Acordo Ortográfico (TVI 24, 28/II/2012). — Como se o esterco se pudesse aperfeiçoar.
O secretário Viegas percebeu em tempos um verbete meu em que dizia que os mentecaptos comprovadamente já redigem leis («Legislador mentecapto», 25/I/2008). Deu-me razão e destaque (v. «Revista de blogs. Escrever bem», Origem das Espécies, 27/1/2008.). — Referia-me em concreto à lei do fumo, mas o tratado do Acordo Ortográfico afina pelo mesmo diapasão.
O secretário Viegas deixou de perceber o que é claro. Comprovadamente o secretário Viegas tornou-se um mentecapto. É um asno. Bem se vê o trabalho que o levou à feira do livro.
(Imagem: The Lycée Times)
(Público, 26/IV/2012.)
Há quem admita o mesmo sobre Rui Mateus.
Pois nada melhor do que ler as crónicas.
« E Nuno Álvares com sua gente era já em um lugar bem convinhável pera a batalha, onde chamam os Atoleiros, uma meia légua pouco mais ou menos aquém de Fronteira, de contra Estremoz. E como Nuno Álvares foi em aquele lugar [i.e. E sendo Nuno Álvares naquele lugar -- a forma foi é do verbo ser e não do verbo ir, que seria idiolecto brasílico absolutamente descabido], sendo já certo que os castelãos vinham à batalha, fez logo descer a pé terra todos os seus homens de armas. E dessa pouca gente que tinha concertou suas batalhas da vanguarda e retaguarda e alas direita e esquerda. E fez concertar os besteiros e homens de pé para as alas e por onde entendeu que melhor estaria para bem pelejar. E tudo isto feito e concertado começou de andar pelas batalhas em cima duma mula esforçando todas as gentes com boas palavras e gesto ledo. E dizendo a todos que lhes lembrassem bem em seus corações quatro cousas. A primeira que se encomendassem a Deus e à Virgem Maria sua madre e o tivessem assim em suas vontades. E a segunda que eram ali por servir seu senhor e alcançar honra grande que a Deus prazeria de lhe dar. E a terceira como ali vinham por defender-se e suas casas e a terra que possuíam e se tirar da sujeição em que os el-rei de Castela queria pôr. E a quarta que sempre tivessem nos entendimentos de sofrer todo trabalho e de apreciar em pelejar, não uma hora mas um dia todo e mais, se cumprisse. E ditas estas palavras os castelhanos eram mui acerca deles. E Nuno Álvares se desceu logo da mula em que andava e se pôs a pé na vanguarda ante a sua bandeira por cumprir aquilo que em Estremoz dissera que, com ajuda de Deus, ele seria dos primeiros que começasse[m] a obra; o valente e verdadeiro cavaleiro que não dissimulava mas cumpria o por ele prometido. E a tenção sua era que os castelãos viessem a pé à batalha. E eles traziam esse propósito, mas, como viram Nuno Álvares com sua gente assim de pé e corrigida para vencer ou morrer, mudaram seu propósito e ordenaram que viessem à batalha de cavalo, atrevendo-se que eram muitos e bem encavalgados e que logo os desbaratariam. E concertaram suas batalhas a cavalo: e toparam mui de rijo em Nuno Álvares e nos seus, mostrando grande esforço e dando grandes alaridos como mouros cuidando os espantar. E ali foi a batalha em volta e bem pelejada. E nos primeiros golpes foram mortos e feridos muitos cavalos dos castelãos. E com as feridas os cavalos alvoraçavam e derribavam-se e seus donos e retraíam atrás. E vinham os outros de refresco que estavam detrás para isto apartados. E assim lhes aveio como aos primeiros, de guisa que prouve a Deus de os castelãos serem desbaratados. E foram mortos dos castelãos muitos: entre os quais morreu aí o Mestre de Alcântara e Pêro Gonçalves de Sevilha e outros grandes. E [o] prior [do Hospital, irmão de Nuno Álvares]. E Martim Anes de Barbudo [a] que se chamava [da banda dos castelhanos] Mestre de Avis. E outros fugiram. E Nuno Álvares vendo em como os castelhanos eram desbaratados, e que fugiam, foi logo a cavalo, com mui poucos dos seus porque tão asinha todos não puderam haver bestas, e seguiram o encalço aos que fugiam uma légua e meia até que, por noite, forçado foi de se tornar.»
Crónica do Condestável, cap. XXVIII (grafia e pontuação muito modernizadas).
(Ilustração: Carlos Alberto in História de Portugal, 13ª ed., Agência Portuguesa de Revistas, [s.l.], 1968.)
Certa vez, na apresentação da aplicação SAP aos quadros duma grande empresa do Estado, alguém, para não estar calado, inquiriu o significado da sigla:
— Serviços Armazéns e Produtos — foi a resposta do vendedor entendido.
Ena! Uma multinacional alemã com nome genuìnamente português...SAP ECC 6.0.
... Que afinal fala um inglês crioulo.
Cfr. o 4584 com o da Ordem dos Arquitectos.
Colares (c) 2012. Cliché de Luísa Gonçalves.
Nota: ainda existirá a Prevenção Rodoviária Portuguesa?...
Este cançonetista para Black é um bocado pálido. E com isso saiu um teledisco em black & white.
Black, Wonderful Life
(A & M Records, Ltd., 1987)
« Assim, mais de duas décadas após a sua assinatura, o Acordo Ortográfico unificador da língua portuguesa consegue a proeza de dividir de facto e de jure os países de expressão oficial portuguesa [...] Onde antes havia uma natural e inevitável clivagem entre o Brasil e o bloco euro-africano da lusofonia existe hoje uma injustificável desunião entre Portugal e os P.A.L.O.P. [...]
Nenhum dos países africanos que ratificou o A.O. fez qualquer esforço ou tomou qualquer medida para o aplicar; em Portugal (berço da língua portuguesa) e no Brasil impera o caos ortográfico-linguístico e usa-se uma mixórdia [...] Não há paralelo nem precedente na história de qualquer grande língua de cultura para esta situação difícil de qualificar.»
António Emiliano, «A C.P.L.P. e a consagração do desacordo ortográfico», in Público, 19/IV/2012.
Nota à margem (ou nem tanto):
Na mesma página do jornal, um Sebastião Rego, jurista, refere-se a uma ocupação «branca» de Portugal (a Alemanha que ocupou Portugal, remetendo-o para o estatuto de protectorado e manipulando por completo as alavancas de soberania do nosso país). Verbera logo de entrada, estupidamente a despropósito (a menos que estivesse a ser mordaz, que não creio), o ditador e seus panegiristas. Mas no fim acerta. Portugal tornou-se um protectorado alemão (a saque por muitos outros apátridas). Quem perceba (como é de perceber) o caso ortográfico como um acto particular da geral e criminosa senda dos quem vêm regendo Portugal desde 1974, facilmente acha algures o propósito deliberado de desmantelar o país e pilhar a nação. Desagregar um idioma é um fundo golpe na unidade dum estado-nação. Fazê-lo alardeando o contrário e mobilizando o sistema de instrução pública nacional é tenebroso sofisma que parece escapar a muitos, desatentos ou já doutrinados. Ele anda tudo ligado. O protectorado que Portugal se tornou é um passo inegável caminho da dissolução. Eis o que é.
Na toleima do cavalheiro Lavoura sobre o «país do negro» lembrou-me o leitor José duma que publiquei há tempo — do átrio do Metropolitano no Campo Pequeno, salvo erro — em que se via colorido o trajar daqui há cinquenta anos.
Ei-la novamente.
Ajunto-lhe uma outra dessa série a cores, na gare da estação do Saldanha, também já publicada em tempos mas a preto e branco, passe alguma publicidade em causa (mais ou menos) própria.
Metropolitano de Lisboa, Campo Pequeno (?), 1959.
Metropolitano de Lisboa, Saldanha, 1959.
Fotografias: Estúdio de Horácio de Novais, in Biblioteca de Arte da F.C.G..
« No encerramento da maternidade Alfredo da Costa, como em tantos outros casos de cortes, há uma palavra mal escondida: negócio. Para que as parcerias público-privadas nos novos hospitais da periferia de Lisboa dêem lucro, é necessário que lhes seja dado fazer um número mínimo de partos que as actuais condições não permitem. A maternidade Alfredo da Costa é a unidade a abater para o efeito.»
José Pureza, «A Racionalização», in Diário de Notícias, 13/IV/2012 [sublinhado meu].
Público, 16/IV/2012.
Fotografia da materninade Dr. Alfredo da Costa do estúdio de Mário de Novais (s.d.), in Biblioteca de Arte da F.C.G..
Vão enviar o Papillon a apaziguar os guinéus? Ele que leve aventalinho também. A ver se ajuda...
Vista aérea de Bissau, Guiné portuguesa, 196... (S.E.I.T. 323530, cx.445, env. 29).
Fotografia gentilmente cedida pelo sr. António Fernandes.
O noticiês é crioulo do «amaricano». O português é outra cousa.
Joeirando a primeira página do «Público», «realocação das verbas» é real ocação (s.f. acto ou dito de cabeças ocas) dos verbos «atribuir» ou «(re)distribuir», do português arcaico, linguagem do tempo anterior ao real ocaso (realocase em amaricano) do léxico corrente nos bestuntos noticieiros.
Adamastor (O)
Apartado 53
Bic Cristal
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Carmo e a Trindade (O)
Chove
Cidade Surpreendente (A)
Corta-Fitas(pub)
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Firefox contra o Acordo Ortográfico
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