O arco de Santo André, ao cimo da calçada do mesmo santo, tirado da Calçada da Graça. O arco formatava enformava uma das não sei quantas portas da cêrca fernandina: a porta de Santo André, pois bem. Sôbre a porta percebemos-lhe o passadiço da guarda, na muralha que seguia caminho da Graça, donde tornava em direcção ao Tejo por S. Vicente.
Foi demolido em 1913 para dar passagem ao progresso.
Arco de Santo André, Lisboa, [1898-1904].
A.F.C.M.L., Fundo antigo, FAN000902.
« Quando a sociedade moderna toma as suas decisões de consumo através de motores de busca, 'websites', redes sociais e recomendações 'online', é essencial estar presente mas também ser relevante, em particular no seu próprio país.
Desde a implementação no novo (des)acordo ortográfico que muitas empresas e marcas 'online' em Portugal sentem uma quebra significativa nas visitas ao seu 'site' e no volume de negócios daí proveniente.»
New Media Consulting, 27/XI/2012.
Armazéns da Matinha, Lisboa, [s.d.].
A.N.T.T, «O Século», Joshua Benoliel...
Adenda:
Relembra-me muito bem o prezado leitor J.P.G. dum seu escrito de antecipação ao problema: -- «Googlar passará, caso o dito aborto se torne obrigatório, a devolver à cabeça apenas resultados em “brasileiro” – isto é, de sites e de blogs brasileiros...» -- O seu artigo é já de Abril de 2008 -- Abril de 2008 -- e, no que escrevia, antecipava com argúcia o que só agora os da New Media Consulting deram em descobrir. Merece leitura o dito artigo porque além de antecipar o problema, corrobora-o com exemplos do reflexo de largo espectro desta patranha ortográfica na economia.
Num tempo em que a nossa vida política como nação é redutoramente posta em termos de Economia, unicamente de Economia -- e sabemos de o próprio Malaca ter proclamado formalmente o aborto tortográfico como político, logo económico -- vemos mais claramente assim a parte que nos cabe neste negócio. E isto é mesmo assim e não pode deixar de ser assim porque os do governo, cá, ou são surdos ou são mesmo estúpidos. Tudo no pressuposto, claro, de não serem afinal meros marcianos disfarçados...
« No gaveto da Av. Guerra Junqueiro o prédio do café Pão de Açúcar (que chegou a ter duas frentes e hoje só tem uma). Não sei se foram as duas frentes do café que lhe mutilaram a fachada do r/c no lado da Guerra Junqueiro. Mas aprecie-o o benévolo leitor aqui como era no princípio, com uma harmoniosa fachada e cércea de seis andares, e compare com aquilo que lá temos hoje, num ocre manhoso e enxertado de mais dois pisos. Não deixe de reparar, caso lá passe, na extravagante altura das varandas do 7.º andar (o 1.º do enxerto). Há-de reparar se o que lá está lhe parece bem (Os primórdios da Alameda, 14/V/2010).»
Fotografia: Alameda de Dom Afonso Henriques, Lisboa, [s.d.]; estúdio de Mário Novais, in Bibliotheca de Arte da F.C.G..
Este blogo tem-se hoje em tal conta que se já cita a si. Isto ou falta de assunto, ao fim de oito anos...
« Na esquina em frente (Av. Almirante Reis, 188 e Alameda, 68), um edifício de quatro pisos que admito ser dos primeiros a ter sido construído na Alameda, por volta de 1939 ou 40 (ou até antes). Lembro-me bem dele, devoluto, já no fim dos anos 80. Ter só quatro andares há-de ter servido bem à desdita que nos calha hoje de vermos um grande mamarracho no seu lugar.
O que se lhe segue (Alameda, 66), em estilo Português Suave [por acaso não; é modernista] e com uma cércea da mesma altura, nem me lembro nunca de o lá ter visto. Não deve ter chegado ao meu tempo. Só conheci o que lá vejo hoje, típico dos anos 70, banalíssimo, sem encanto (Os primórdios da Alameda, 14/V/2010).»
(Fotografia: Alameda de Dom Afonso Henriques, Lisboa, [s.d.]; estúdio de Mário Novais, in Bibliotheca de Arte da F.C.G..)
Soou-me que há agora para ali uma boîte. Na ala nascente ou no torreão desse lado, não sei bem. Nem percebi cá muito bem se o ministério das Finanças cavou dali para dar espaço à boite ou se arranjou maneira de lá caber com ela. Tanto faz. Ainda assim procurei na rede o que de facto para ali resolveram parir. E achei -- acha-se tudo na rede. Chama-se portuguesmente Lust Lisbon e lá vem escrito, ainda em melhor português:
Inaugurou[-se] no mês passado um novo spot dedicado à noite lisboeta [...] o Lust Lisbon abarca dois pisos, numa área total de 600 metros quadrados e oferece um conjunto de serviços e produtos premium em ambiente exclusivo.
A notícia parece que é de Julho, afinal. E eu ando pouco informado destas coisas da moda, como vedes. Mas tiro de lá que deve ser muito fashion este spot dedicado -- não aos lisboetas, notai -- mas à noite lisboeta.
Parece-me que sim, a noite precisava de algo assim, premium. As imagens garridas que mostram o tal Lust também me parecem que sim, que são de ambiente... exclusivo? -- É assim que lhe chamam?!...
Pois a imagem que vos deixo é old fashion. Mas o modo de o dizer é moderno, valha-me isso a vossa indulgência.
Panorâmica do Terreiro do Paço, Lisboa, [193...].
Judah Benoliel, in Arquivo Fotográfico da C.M.L..
« A raça hebraica existia na Peninsula antes da invasão de Tarik e Musa; existia nesta região, como em toda a parte onde o christianismo se tornara dominador, opprimida e aviltada; mas em paiz nenhum a legislação, quer romana, quer barbara, fôra inspirada por tendências tão perseguidoras e de tão profunda malevolencia contra os israelitas, como nesta provincia da Europa durante os últimos tempos do domínio dos godos. O código wisigothico, onde se acham compiladas as leis dos diversos reinados ácerca dos judeus, é nessa parte um modelo de feroz intolerância. As resoluções dos concilios de Toledo, colligidas em grande numero naquelle codigo, tendem a reduzi-los ao christianismo por todos os meios, sem todavia os fundir na população hispano-gothica, ou a extermina-los judicialmente pelo ferro e pelo fogo, o que fez dizer a um escriptor celebre, senão com absoluta exacção, ao menos com agudeza, que as maximas e os principios da inquisição estavam escriptas no codigo dos wisigodos, e que os frades se tinham limitado a compilar as resoluções dos bispos contra os judeus. As particularidades dessa legislação, e até que ponto durava a sua influencia no berço da monarchia, aprecia-lo-hemos no devido logar. Na epocha da conquista mussulmana ella tinha produzido o seu effeito. O desejo de sacudir o duro jugo em que viviam lançou os judeus no partido mussulmano. Já no reinado de Egica (687 a 701) elles trabalhavam por induzir os sarracenos a invadirem a Hespanha, empenho em que os ajudavam os seus correligionarios d'Africa, ácerca dos quaes os chefes do islam haviam seguido o systema invariavel de deixar a liberdade do culto aos povos que submettiam. Descoberta a conspiração, a raça hebraica fora reduzida á escravidão, privada dos bens, e obrigada a abandonar os proprios filhos á catechese christan. Estas providencias, severas até a barbaridade, produziram o que sempre produzem as compressões violentas. Quando circumstancias favoraveis trouxeram a realisação dos desejos da raça proscripta, os invasores mussulmanos encontraram nella ardentes e leaes alliados. Compunha-se o exercito de Tarik em grande parte de judeus bereberes, que pouco antes haviam abraçado o islamismo, talvez simuladamente e com o unico intuito de virem salvar seus irmãos. Era mais um motivo para ligar estes indissoluvelmente aos conquistadores. Assim vemos que, em regra, os sarracenos, para não desfalcarem as diminutas forças com que avassallaram a Peninsula, entregavam a guarda e defensão das cidades que submettiam a guarnições hebreas, o que não só prova quanto os judeus contribuiram para assegurar o dominio mussulmano, mas também quanto avultavam em numero no meio da população.»
Alexandre Herculano, Historia de Portugal, T. III, 2.ª ed., Viuva Bertrand & Filhos, [Lisboa], 1853, pp. 208-209.
(Fotografias: Mocinho judeu marroquino, Photo Flandrin, s.d., in e-Bay; Moura judia de Marrocos, por Greg, in Flickr.)
Agora com um pèzinho de dança.
Fred Astaire e Rita Hayworth, The Shorty George
(William Seiter, Nunca Estiveste tão Linda, Columbia, 1942)
The Corrs, Only When I Sleep
(Yokohama, 1998)
De: [Fulano de tal]
Enviada: sexta-feira, 5 de Outubro de 2012 09:30
Para: 'presidente[arroba]cm-alpiarca.pt'
Cc: 'assembleiamunicipal[arroba]cm-alpiarca.pt'; 'museudospatudos[arroba]cm-alpiarca.pt'
Assunto: O LETREIRO NA RECEPÇÃO DA CASA DOS PATUDOS
Exmo. Sr. Presidente da C. M. de Alpiarça,
Peço licença de tomar um nadinha do seu tempo com um assunto que cuide talvez menor, mas que tem a sua importância.
Visitei ontem a Casa dos Patudos. Fui de Lisboa nesse propósito, pois a não conhecia. Fui recebido com uma indecorosa «agressão». O letreiro que aponta a recepção tem um ofensivo erro de português: «RECEÇÃO» (lê-se, obviamente, «recessão»). Reclamei dele aos funcionários e, depois, ao Sr. Director da Casa. São pessoas atenciosas que me ouviram a reclamação e os argumentos. E justificaram-se com o designado «Acordo Ortográfico» e com ordens da Câmara.
Há-de perdoar-me, Sr. Presidente, espantar-me de que a Exm.ª Câmara de Alpiarça enverede por um descaminho que é propagandeado aos sete ventos nas TV (sem direito nenhum de resposta ou contraditório) fazendo crer aos incautos cidadãos num ilegítimo facto consumado. A verdade que as televisões omitem é que o designado «Acordo Ortográfico» não é lei em Portugal. Uma Câmara Municipal não é o comum dos cidadãos, tem outros meios de sopesar as leis, deve agir sem precipitação e sem devastar o património legado. – Refiro-me ao idioma, mas não só.. – Ora o designado «Acordo Ortográfico» não está em vigor. A ortografia do português rege-se pelo Decreto 35 228 de 8 de Dezembro de 1945, com as alterações do D.L. 32/73 de 2 de Fevereiro. São, estas, as leis da República plenamente em vigor.
O designado «Acordo Ortográfico» é um tratado internacional. Malogrado pelo voluntarioso II Protocolo Modificativo nos termos da Convenção de Viena (art. 10.º – interdição de alterar o texto; e n.º 4 do art. 24.º -- obrigação das cláusulas de entrada em vigor logo desde a adopção do texto – ; cf. J. Faria Costa e F. Ferreira de Almeida, «O chamado ‘novo acordo ortográfico’: um descaso político e jurídico», D.N., 13/2/12). Nulo que é, não vigora na ordem jurídica internacional. Não tem, assim, como suster-se na nacional. A menos que emanasse de lei da Assembleia ou de decreto do Governo. Tal não é o caso. – E no caso o que vemos? – Vemos as duas resoluções (R.A.R 35/2008, de 29 de Julho e R.C.M 8/2011 de 11 de Janeiro) alcatruzando o designado «Acordo Ortográfico» ilegitimamente como que com força de lei, fazendo tábua rasa das verdadeiras leis em vigor. Um verdadeiro descaso jurídico, para não dizer pior...
Foi isto que, pese embora mais sucintamente, pude explicar às pessoas que me gentilmente receberam na Casa dos Patudos ontem à tarde, pois que se dispuseram a ouvir-mo por breves minutos. E só por ele me deram razão, não deixando, por fim, de se admirar por no caso do pseudovocábulo do letreiro à entrada não haver com certeza visitante brasileiro que o haja de enetender. O brasileiro pronuncia audivelmente o «p» de «recepção» e, concomitantemente, escreve-o. Ora se nem tal extravagância – «RECEÇÃO» – consta do Vocabulário Ortográfico da Academia Brasileira de Letras, um dos fautores do designado «Acordo Ortográfico», com grande probabilidade nem brasileiros instruídos reconhecerão a pseudografia «RECEÇÃO», em havendo de visitar a Casa dos Patudos. Mais depressa hão-de confundi-lo com a famigerada «recessão» que nos assola, em escrita mal amanhada. «RECEÇÃO» não existe no vocabulário brasileiro
Pelo exposto, Sr. Presidente, apelo à melhor compreensão da bondade destes meus argumentos e peço-lhe que possa rever, com base neles, o mal feito, revogando por conseguinte a aplicação do designado «Acordo Ortográfico» na Exm.ª Câmara a que preside e órgãos dependentes.
Se ainda assim entenderdes, V. Ex.ª e a Exm.ª C.M. de Alpiarça, que haveis de manter a infausta decisão de seguir numa escrita tão desfiguradora do nosso idoma como falaz no propósito da unificação ortográfica com o Brasil, como ficou demonstrado, aceitai-me a resignada sugestão de se mudar ao menos aquele nefando palavrão do letreiro da Recepção da Casa dos Patudos. Pode fazer-se sem contrariar o designado «Acordo Ortográfico», já que o Portal da Língua Portuguesa (que «instrói» naquela nefanda escrita) admite a grafia «recepção» graças ao seu uso no Brasil. Desta forma evita-se, quanto mais não seja por mero decoro, «agredir» com grafia aberrante quem tem o gosto de visitar a Casa dos Patudos. O caso é que, se o dito «Acordo Ortográfico» nos junge «uma falta de unidade na expressão estética em língua portuguesa que, no caso em apreço, é portador de um correlativo desprestígio institucional», como diz um despacho da C.M. da Covilhã rejeitando-o, então havemos só de concluir que com a grosseira escrita «RECEÇÃO» na Recepção Casa dos Patudos se não há senão de deslustrar o finíssimo legado de José Relvas. Aos olhos de quem o visita por o admirar torna-se, pois, a recepção o contrário do que devia.
Com os meus agradecimentos,
[Fulano de Tal]
(Lisboa)
Ultimamente (já lá vai quase um mês e meio) também não vim a saber mais nada.
(In Aluga.pt)
(MSN Notícias.)
(MSN Notícias.)
O Rui e o Nuno — o Nuno era mai' novito — tinham uma avó, a D.ª Engrácia (nome cheio de graça) e uma «visavó», que era a D.ª Amélia. Parecia-me certo ouvi-los tratarem ambas por «avó», todavia meio deslocado. O que me despertava a atenção era a simetria de tratamento contra a assimetria natural de avó e «visavó». Claro que não me ocorria nada disto com estes termos tão elaborados de simetrias e assimetrias; não naquela idade. Intuía-o. Fazia-
-me espécie. E lembra-me de, com ele em mente, haver comentado o caso ainda uma ou duas vezes. Claro que isto não era assunto e a resposta foi só natural: — «É mesmo assim; é normal».
Recordou-me agora destas coisas mas não foi por nada do que digo. Foi sòmente porque me lembrou que a D.ª Amélia, que já tinha certa idade como se entende, cria que àquele general (isto deve ter-se passado em 74) lhe chamavam Spírola porque usava aquela coisa, a «spírola», num olho.
(General Spínola. Imagem do Guglo.)
Com esta agora, passados estes anos todos, vejo que havia afinal quatro cinco Donas Amélias lá na rua...
Curiosa carruagem. Parece um monocarril. O Larmanjat? -- Mas ele inda existia o Larmanjat no reinado de D. Manoel II? — Pois em assim sendo o lugar da fotografia seria...
Portugal. Roi, [s.l.], 1908-10.
Foto: Charles Chusseau-Flaviens, in George Eastman House.
Vinha ontem o cançonetista Tozé Brito a atravessar a rua ao pé da Sociedade Portuguesa de Autores. Seguia a falar com uma moça, provàvelmente ia a dizer-lhe: — «Olha naquele automóvel o autor do blogo Bic Laranja!»
Rua Gonçalves Crespo, Lisboa, 1967.
Augusto de Jesus Fernandes, in Arquivo Fotográfico da C.M.L.
Notas:
A Sociedade Portuguesa de Autores engoliu os dois prédios mais à esquerda na imagem (os dois mais bonitos), mas o prédio edificado de novo é que foi classificado pela câmara, não os demolidos.
O n.º 58 desta rua, o quarto a contar da esq., ainda lá está mas tenho impressão que se já não safa.
(Revisto em 5/XII/24 à tardinha. O do n.º 58 safou-se. Foi restaurado.)
Convidaram-me para uma palestra, uma conferência. Palestrante de alto coturno: professor doutor não sei das quantas, aulas na universidade tal, inúmera obra publicada, coluna no jornal (na rede acha-se depressa o pasquim, a coluna não...)
Mandam-me os objectivos da coisa:
A palestra leva duas horas; vejamos as boas vibrações...
Beach Boys, Good Vibrations
Tournée das boas vibrações, 1976 (com parabéns ao Brian do Paul e da Linda McCartney).
(Julho de 2012.)
Vai a gente à Wikipaedia pelo «Povo que Lavas no Rio» e que nos sai? — «Uma canção portuguesa, um fado». — Nada mal. Porém, factos, é só. Data da composição (letra e/ou música) nada; quais as várias (se as há) gravações em disco por Amália, zero; menção ao «Fado Victoria», nicles — a Joaquim Campos, sim, mas só de passagem, como autor da música. A Alain Oulman, que aparece às vezes referido ao fado (v.g. «Encontro Amália e Don Byas», Columbia/Valentim de Carvalho, 1974), népia.
Que sobra?
Lavagem do poema com Omo antifascista, pejando-o de descabida dimensão política em alternativa ao «Fado de Peniche». Mas é isto redigido assim, displicentemente e sem fundamento nenhum. Só insinuação, vede a introdução da teoria:
« Talvez devido a esse mesmo facto, as opiniões quanto à interpretação da letra de Pedro Homem de Mello, poeta português de excelência, divergem em absoluto: enquanto alguns críticos crêem que o poema imortalizado por Amália Rodrigues seja um depoimento de amor ao povo português o qual, ainda segundo esta linha de pensamento, enfrentava uma situação de grande pobreza no tempo da ditadura salazarista, considerando o país da época como sendo rural e economicamente pouco desenvolvido face à industrialização europeia [... ]»
Pois é: talvez. Teoria por sugestão para catecúmenos esquerdóides. Factos, como manda o fugurino em qualquer enciclopédia? Que importa.
O caso piora.
Aquele apôsto «de excelência» a Pedro Homem de Mello não é inocente. É, afinal, o novo detergente Homo em acção. O enciclopedista apropria-se do «Povo que Lavas no Rio» e engrossa o disparate logo a meio do 2.º parágrafo em que o guia o seu atormentado espírito: o enlevo de fanchono pelo poeta Homem de Mello que, só dessa condição (não duvideis), não podia ser senão «de excelência». Vai daí o autor mune-se de lixívia gentil na nova lavagem arco-íris:
« [...] outras correntes tendem a ver nas suas estrofes uma lírica de cariz fortemente ligado à homossexualidade masculina, acentuada pelos contornos de incursões às tabernas populares, onde o narrador teria procurado os seus parceiros, e visto recusadas as suas investidas ou, mais ainda, qualquer envolvimento sentimental mais profundo.»
Daqui ao fim, o verbetezinho é um ridículo desconchavo, insinuando a imoralidade da gente das tabernas por não tolerar e ter como indecoroso o comportamento homossexual. — Muito certamente era assim pela «grande pobreza no tempo da ditadura salazarista»!... — E eis como é subvertido num hino à homossexualidade um fado que é elemento da cultura dos portugueses, um poema que muito simplesmente canta a força do povo no seu viver agreste, para lá de «haver quem [no] defenda» ou de «quem compre o [seu] chão sagrado» (quem no ofenda, portanto).
Mais, a comunhão do narrador com aquela condição, que o povo não deixa de reconhecer pois até na morte o cuidará, talhando-lhe a força de braço «as tábuas do [seu] caixão», isto é, dando-lhe sepultura digna. --, pois até essa comunhão do narrador com o povo nos factos da vida é reduzida pelo doutrinador verbete a egoísmo exibicionista de reles larilas nessas sempre tão apregoadas paradas «gay». Grande elogio ao poeta «de excelência», não haja dúvida! Não fôra a carga de sentimento que as guitarras de fado carreiam e o canto sublime de Amália e aquelas estrofes não teriam, como não têm, mais colorido nenhum do aquilo que se nelas lê. Mas a Wikipaedia é isto, enfim: obsessão introdutória antifascista e quatro supositórios de paneleirice pegada.
(Capa do single no Museu do Fado.)
Portugal. Rue de Lisbonne [Calçada do Carmo], 1900-1919.
Foto: Charles Chusseau-Flaviens, in George Eastman House.
E ajudou a quê, realmente...?
« O Verão de 2012 foi o melhor da história da TAP, o que permitiu que no terceiro trimestre do ano, o grupo que agrega a companhia aérea de bandeira atingisse lucros de 87 milhões de euros, mais 29% do que no homólogo. Este valor não terá sido suficiente para anular os prejuízos do semestre.»
Ana Pereira, «Verão ajuda Grupo TAP…», in Jornal de Negócios, 8/XI/12 (sublinhado meu).
Portanto, cessem já ideias de encarecer a privatização venda dação.
Não sei se o benévolo leitor o tem por hábito mas aconselho-o. Se fizer favor, vá clicando no símbolo do «Não ao Acordo Ortográfico!» aí na margem. Há ali sempre novidades que nunca transparecem nos noticiários da situação (especialmente os da TV). Há dias a Professora Maria do Carmo Vieira observou no Público a ilustração duma notícia onde...
... o Ministro da Educação, emoldurado numa sala de aula do 1º ciclo, tem por detrás de si um quadro, preenchido com um trabalho de Língua Materna, especificamente de gramática (classificação morfológica dos vocábulos de uma frase). Para além da aberração ortográfica [...] «alegria» passou, repentinamente, de substantivo abstracto para adjectivo, tal como está escrito, pelas mãos de uma criança, assim ensinada a fazê-lo, no referido quadro. Erro grosseiro inadmissível e, com ironia, associado ao Ministro da Educação, em visita a uma sala de aula do 1º ciclo, coluna de todo o Ensino.
Maria do Carmo Vieira, «Aberração ortográfica e erro grosseiro», in I.L.C. Contra o Acordo Ortográfico, 4/XI/12.
E é ver o ar de leve enlevo do sr. ministro mai-lo desvanecimento da (presumo) regente escolar aformoseando a asneira. A exacta mesma expressão que vi nuns tolos a içarem bandeira nacional ao contrário faz ele um mês.
Fotografia: Publico, 31/X/12.
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