-- Sei, calculo que houvesse camaradas seus que desertaram, que fugiram...
-- !...
-- ... para não ter de cumprir....
-- Fugiram quando?
-- Não sei. Mas para não ter de cumprir o serviço militar, obrigatório, que os portugueses impunham.
«Que os portugueses impunham», diz a gaja de modo a nem se misturar. Realmente portuguesa não é. É licenciada. Em História. Da carochinha.
Sargento Monteiro dos Comandos da Guiné Portuguesa.
(Prós & Contras, R.T.P., 2007 [?].)
HALO-UÍNO
Pela mão de muitas professorazinhas que conspurcam a escola pública, as criancinhas do Minho ao Corvo andam hoje a celebrar a histórica e portuguesa festividade de umas bruxas americanas que vieram para Portugal durante o reinado de D. Dinis. Foram elas (está tudo na Torre do Tombo) que o ensinaram a escrever as cantigas de amigo à luz de velas metidas em abóboras. Diz também a História que D. Fuas Roupinho casou com uma delas, quando fazia surf na Nazaré e que o Professor Karamba vai candidatar-se à compra de 3 escolas. Tens razão, Almada, «isto não é um país, é um sítio e ainda por cima mal frequentado».
João Roque Dias (Livro das Fuças, 31/X/13).
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Exposição «30 Anos de Cultura Portuguesa: 1926-1956» [Henriquina]. Lisboa, c. 1957 [1960].
Estúdio de Mário de Novais, in Bibliotheca d' Arte da F.C.G.
A maior fidalguia da gleba nacional socialista acorreu ao alardo em aclamação geral daquele grande senhor com nome de filósofo grego futebolista brasileiro por ter ele escrito lançado um livro.
Na Idade Média a feudo-vassalagem compunha-se em juramento cerimonial de serviço e protecção entre vassalos e suserano e dali deverem os primeiros de acorrer aos alardos, ao reunir das hostes, em no suserano chamando.
Diz que o feudalismo foi decapitado na Revolução Francesa, de modo que nem sei agora se a descabeçada feudo-vassalagem se transvestiu entretanto em fraternidades de rito escocês ou se mais prosaicamente descambou em cidadania de rabos de palha. Do que para aqui vejo hoje, no feudo que substituiu Portugal, ou a Idade das Trevas se encafuou mesmo debaixo do avental dos filhos da viúva, ou a tenebrosa P.I.D.E. há-de ter sido um côro de meninos ante os mozartianos S.I.S., S.I.R.P., S.I.E.D. e não sei que mais.
Calhando são ambas à uma, se não vejamos. Vassalagem e/ou rabo de palha bem parece ter sido o que em tempos forçou o fidalgo Dias Loureiro a caucionar uma meninice de ouro. O seu desagravo do jugo louvaminheiro em que se viu foi o «vim cá mas não conheço o menino de ouro de lado nenhum» que debitou à imprensa. É sabido o vilão em que entretanto se tornou (ou foi tornado).
O caso no meio deste grande alardo agora é que se saiu o irmão do dr. Tertuliano a reverenciar «o engenheiro de Coimbra», evidenciando-lhe assim gritantemente a macaquice da Universidade Independente. Soa-me mais a desagravo do que a senilidade. Desagravo de ter de ali ir pendurado por algum rabo de palha, embora a desculpa na manga de havê-lo apenas dito por estar gagá possa dar jeito.
Pois se não temos aí um poderoso (e caprichoso) senhor feudal, como se lhe justificam também os meses de prègação autorizada em púlpito do Estado com govêrno adverso, ou a magna aclamação em praça pública, agora, de tão duvidosa tese de mestrado?
(Imagens do pasquim Correio da Manhã, in Porta da Loja, 24/X/2013 [adaptadas em português correcto] e do D.N., 1/VII/2008.)
ECONOMY
Production at Autoeuropa for another 10 days
In November there will be no downdays but in December Palmela plant for four days and seven days in January.
ECONOMIE
Production à l' Autoeuropa pour 10 jours supplémentaires
En Novembre il n'y aura «downdays» (jours sans produire), mais en Décembre l'usine de Palmela pour quatre jours et sept jours à Janvier.
O «sistema mundial» deve andar aí à nora para entender os ziliões de luso-papagaios que se exprimem tão triunfalmente sem nexo. Mas é moderno. Quem há ai que não queira cacarejar a língua da moda? Vamos lá, velhos do Restelo! Só os burros é que não mudam, não dizia o outro?
-- Arre Casteleiro para O.N.U., que o lusofonês já lá está, a cavalo nos acorditas!
Da jukebox do careca da leitaria para a blogosfera.
Black Slate, Amigo
(1980)
Os baixos relevos do ceramista Jorge Barradas na fonte monumental da Alameda começaram por ser coloridos (a estatuária medieval também o era). São alegorias ao trabalho; nelas achamos representadas as artes da lavoura, da pastorícia, da pesca, e trabalhos tradicionais das mulheres e dos homens.
Não conheço fotografias a côres destes baixos relevos, de quando ainda exibiam a policromia original. E cuido que poucos daquele tempo se recordam de os ver assim -- a minha mãe era desse tempo e não me recordo de me falar neles. — Só destas fotografias tive a noção de os relevos terem tido côr. Descorados passam mais desapercebidos e, com ele, também a tradicional divisão dos trabalhos; muitos já nem fazem ideia do que isso era e um punhado doutros, hoje, não deixará sequer que tal se sonhe senão para publicitar as trevas do passado. Disto ocorre-me que a policromia original daqueles baixos relevos diminuída hoje no monolítico cinzento das pedras é por si uma outra alegoria, moderníssima: a dos defensores acérrimos da neo-ortodoxia a que chamam polìticamente correcto.
Fotografias: Fonte Monumental, Alameda de Dom Afonso Henriques, c.1948.
Estúdio de Horácio de Novaes, in Bibliotheca de Arte da F.C.G.
(Revisto aos vinte para as oito da noite.)
Não sei se foi reclamação dalgum vizinho mas esta minha nota há oito dias -- vi há pedaço, antes de almôço -- perdeu razão. Hoje, vinte e nove dias depois da feira dos votos, a fonte monumental da Alameda tornou a trabalhar. Oxalá siga eu perdendo razão sôbre a aparente sabujice.
Fonte Monumental, Alameda de Dom Afonso Henriques, post 1948.
Estúdio de Horácio de Novaes, in Bibliotheca de Arte da F.C.G.
Correio (marco 591), Lisboa, 1940.
Rogério Kahan, in Portugal Velho.
Lutando contra carências de toda a ordem, lançamo-nos ao «arranque» dos T.A.P. [...]
Para começar não havia pistas, nem para DC-3, na Guiné e S. Tomé. O aeródromo de Luanda consistia numa pequena pista de macadame, com pouco mais de mil metros, e um hangar que, simultaneamente, servia de oficina de manutenção aos aviões da Divisão de Transportes Aéreos do Serviço dos Portos, Caminhos de Ferro, e Transportes, de Angola, e improvisada aerogare.
Lourenço Marques, embora dispondo de três pistas entrecruzadas, também em macadame, e de uma pequena aerogare, não oferecia condições para a operação com aviões do porte do DC-4, Skymaster.
Em Angola o apoio rádio era feito pelas estações de radiotelegrafia dos C.T.T. locais, não havia radiofaróis para o serviço aeronáutico, nem serviço meteorológico que fizesse previsões de rota ou de aeródromo.
Dada a urgência com que o governo desejava a abertura da linha, só o DC-3 estaria em condições para operar na futura linha, e, mesmo assim, nos limites que as suas extraordinárias «performances» permitiam.
Mesmo antes das viagens experimentais era patente que a linha de África iria ser explorada em condições inaceitáveis de rendibilidade, de extrema incomodidade para os futuros utentes, e que não passava de um anacronismo aeronáutico. Tudo isso reconheceu o Governo, mas entendeu que o «interesse nacional», mais uma vez, se sobrepunha aos problemas de ordem técnica.
O Serviço de Instrução e o de Operações compartilhavam uma barraca em madeira montada nos terrenos dos Aeroporto de Lisboa. Foi nesse barracão que instalámos a Sala de Navegação, de onde «saíram» os planos de voo para as viagens experimentais.
Para «arrancar» com a nossa Linha Imperial, como chamavam á nossa linha d'África, há que reconhecer que arrancávamos... com modéstia!Eduardo Alexandre Viegas Ferreira de Almeida, «Quarenta Anos de Aviação», Martins & Irmão (impressor), 1995, pp. 71-72.
Não havia nada de coisa nenhuma. Havia a fazer... tudo. Sob a batuta do homem que atrasou o País, fez-se. Particular (agora diz-se «privado», à parva) interessado em sequer começar a empreender tudo do nada, não se acharia jamais -- não compensaria a trabalheira nem o investimento. Depois de tudo pronto e a laborar livremo-nos da modéstia e despreze-se a herança. Venda-se tudo ao desbarato para pagar festanças...
Triste nação em liquidação total.
Aeroporto de Bissau, Guiné Portuguesa, 196... (S.E.I.T., nº 237535, cx. 445, env. 19).
Fotografia gentilmente cedida pelo sr. António Fernandes.
A entrevista de Maria Luís Albuquerque à SIC revela dela uma inconsciência social grave ao referir-se aos seus rendimentos e padrão de vida. Não tenho dado atenção à senhora ao ponto de dela ter uma imagem da sua capacidade. Apenas noto que ou não percebeu como vive a maioria dos portugueses ou acha que se pode comparar com essa maioria.
Manuel, H Gasolim Ultramarino, 21/X/13.
O dr. Salazar, dos da I.ª República, dizia que «uns eram piores que tudo, alguns melhores que os outros». Os que se por ventura ainda aproveitavam, ensinavam-nos, e eles lá aprendiam um módico de humildade que os levava a procurarem encavalitar-se aos ombros de gigantes para, em fim, alcançarem horizontes mais largos.
Hoje o escol que temos é qualquer coisa que nem sei dizer o nome: encarrapita-se aos ombros de anões para conseguir ver diante os muros da universidade da moda -- de preferência com graffitti para ser parecer modernaço. A percepção da realidade vai dali aos muros do condomínio e só se desvia no caminho da cabeleireira, antes de dar nas TV.
(«Uma escolha pessoal de Passos», Sol, 5/VII/2013.)
As eleições foram quando, já...?!
Há três domingos, pelo menos, que não vejo a fonte monumental da Alameda ligada. Não era perciso ser bidu para adivinhar que a garantia das últimas obras daria só até à lotaria autárquica. Era?
O agramatical Saramago teve-se muito na conta de semi-deus. Ao depois de nobelizado as televisões endeusaram-no o resto que faltava. Das diabruras saneadoras no Diário de Notícias ou de aconchegar a roupa ao pêlo da primeira mulher nem pio. E também não consta que tenha agradecido o jeito nobelitante ao Sousa Lara. Enfim! Desde Homero que é consabida a sobranceria dos inquilinos do Olimpo mai-lo seu caprichoso pôr e dispor dos mortais.
Por estas e por outras nem estranhei quando lhe ouvi que o olímpico Acordo Ortográfico não era muito consigo. Sabia ele ser bem aquilo mais um capricho dos deuses para amofinar os mortais e que, no fim, o paganismo anti-católico ou os arremedos da musa do samba é que são sagrados.
Não estranhe o benévolo leitor, pois, os ínfimos Job e Caim -- ou a bíblica Sodoma -- saramagalmente grafados com minúscula. Nem se admire de ser Deus um senhor surdo como um velho qualquer. Os diabretes dos revisores lá estão, e guardam a saramagal escritura como os anjos do texto, pontapeando aspas em discurso directo ou demais pontuação. Mas o diabo, o diabo, é sambar com o pato!
Saramago, Caim,, 12.ª ed., Caminho, 2011.
Imagem de João Roque Dias no livro das fuças, apud Aventar.
Placa toponímica, Vinhais, 2013.
Cliché de Luísa Gonçalves.
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Vale a pena parar para visitar o que resta do pequeno castelo. A torre de menagem e outras torres foram apeadas, com a pedra fez-se a igreja da vila velha. Tudo ali é ainda extremamente arcaico, tudo consserva o selo de não violada genuinidade e não é nenhum delírio pensar que o pequeno burgo, com algum restauro, podia servir de exemplo do que foram as pequenas vilas medievais que serviram de base para o arroteamento da terra transmontana e ao mesmo tempo de exposição permanente do fumeiro do enchido, famoso por estes lados mas difícil de achar. Isso justificar-se-ia se alguma vez se concretizasse a aspiração dos moradores de abrir a fornteira com a Espanha, que aqui está perto, duas dezenas de quilómetros. «Fronteira aberta, boa estrada, umas piscinas nesta serra, e isto mudava como a noite para o dia», diz-me o sr. Lopes, com quem me acho a conversar. «Mas há muita construção nova, a mostrar progresso», arrisco. «É obra do Fundo de Fomento da Habitação. Aqui não há futuro. A gente nova vai-se toda embora. Não há uma fábrica. Tudo vem da agricultura, mas os leirões da terra, em socalco até lá a baixo ao rio, não aguentam máquinas e têm de ser surribados à força de braços. Ora neste mundo já não há braços para isso!» A paisagem, caindo abruptamente sobre o vale confirma o argumento. «Mas é muito bonita esta vista», digo por dizer. A resposta vem cerce: «Se as pessoas vivessem da vista não precisavam de barriga.»
José Hermano Saraiva, O Tempo e a Alma. Itinerário Português, 2.º vol., Círculo de Leitores, imp. 1987, p.171.
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Em Vimioso -- aprendi há dias -- em Outubro... é Outono. E a índole cultural do concelho está patente no seu «cartaz».
Notoriamente.
Recomendo a feira de burros no domingo, 13, em S. Joanico, com repasto na aldeia e desfile asinino pelas ruas, depois, até ao fim da actividade. Quem lá não possa ir assistir tem aqui a consolação do desfile asinino na redacção do cartaz, mai-lo pedaço de asno que o assina.
« Já agora, um pormenor curioso: a Convenção [Ortográfica Luso-Brasileira] de 1945 nunca chegou a ser um tratado bilateral. Para haver um tratado solene bilateral ambas as partes têm de o ratificar. Ora, o Brasil apenas ASSINOU a C.O.L.B.; nunca [a] chegou a ratificar. A assinatura produz alguns efeitos nos termos codificados pela Convenção de Viena sobre Direito dos Tratados, de 23 de Maio 1969, mas não vincula plenamente os Estados. Por isso, ao contrário do que se diz por vezes, em 1945, o Brasil não "roeu a corda". Simplesmente nunca ratificou o Tratado; e, para as coisas serem mais claras, revogou o acto de assinatura (isso, sim, é um acto contrário ao princípio da boa fé e de não atentar contra o objecto e fim do tratado (art. 18.º, al. a), da C.V.D.T.).»
Ivo Barroso em acção contra o Acordo Ortográfico no Livro das Fuças, 10/X/13.
Em bom português, qualquer um entenderá, «roer a corda» há-de ser eufemismo bem simpático para qualificar quem cometa um acto contrário ao princípio da boa fé. E pior: tal acto de -- digamo-lo mais puramente -- má fé do Brasil foi, na prática e para todos os efeitos, atentar contra o objecto e fim daquele tratado, cujo alcance era, recorde-se, a mera unificação ortográfica entre duas partes, Portugal e Brasil, e não apenas uma, Portugal (coisa estulta e sem sentido, mas que é o que acaba sempre por ser...)
Perante a miserável pantomima do Acordo Ortográfico de 1990, uma única atenuante da má fé brasileira em 1955 (e não em 1945) poderia eu conceder: a de que foi muito mais clara, imediata e definitiva na quebra dos trautos do que o cínico vício de mérito do 2.º protocolo modificativo, cujo expediente foi o insidioso arregimentar pelo Brasil de dois arquipélagos irrelevantes para somar três ratificações, torcendo a lógica e necessária unanimidade subjacente ao propósito duma ortografia única, válida com seriedade para as sete (ou oito) partes signatárias. E a coisa foi, como se nada fosse. Ora que índole se tira disto?
Ou que índole se vê agora daqueles tratantes que já procuram decalaradamente fazer tábua rasa do que quiseram viciar, para elevar finalmente a sua perfídia a um novo patamar...? -- Não andará o Brasil paulatinamente a tomar de assalto o idioma Português para com ele acobertar e fazer vingar o seu enjeitado crioulo?
Tenho para mim que esta rábula é deveras eloquente da materialização da boa e da má fé no mundo em 1945 e hoje. Desta elaborada vigarice, não descurando obviamente o seu repugnante teor, forçar a nação portuguesa a ter de pactuar com o tratado do Acordo Ortográfico de 1990 é sobremaneira humilhante. Pois humilhar-nos parece ser só do que os nossos governantes são capazes nestes dias...
(Imagem da Loja Frenesi.)
(Revisto às dez e vinte e cinco da manhã de 12.)
E que raio tem esta alfaiataria de fatos que ver com fetos?!... Se tratam de fatos havia de haver situações de afatar e não de afetar...
(A prova dos fatos -- ou dos fetos -- é no D.R., 2.ª Série, N.º 190, 2 de Outubro de 2013, pp. 30091. O anúncio desta alfaiataria é de Francisco Valada, promovido na I.L.C..)
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