« Temos um abaixo-assinado de apoio ao 'simplificando a ortografia', que foi assinado pelo presidente e o reitor da Lusófona, precisou [Ernani Pimentel].»
(«Linguistas brasileiros sugerem plano para discutir Acordo Ortográfico no espaço lusófono», Impala, 27/11/2013.)
O Ernani Pimentel saberá o que vale esse sucedâneo de escola que é a Lusófona? -- O alto-comissário Relvas sabe; calhando anda tudo ligado...
A investida de ociosos desembestados contra o idioma português segue infrene. -- Ele era arrear-lhes o cabresto e pô-los realmente a trabalhar no que podem ser capazes...
Ninguém me convence, já, de que estamos aqui não tarda a chover com xis (xover) em cidades com esse (sidades), tal a boçalidade que campeia em cadeirão de ministro. Deu a parvoíce no que havia de dar: «quando alguém propõe a sério –- e é levado a sério por um órgão de soberania –- o que antes era apresentado como absurdo, é porque o absurdo chegou ao Poder (M.ª Clara Assunção, A Biblioteca de Jacinto, 25/11/2013)». Lògicamente, pois, caucionado pelo absurdo, aí tivestes ontem a bestialidade na ordem dos trabalhos. E por conseguinte aí tendes já na agenda que «em Agosto cada país deverá reunir as suas sugestões [de xuva nas sidades], que, por fim, serão abordadas num "Simpósio Linguístico-Ortográfico" organizado pela Academia de Letras de Brasília em Setembro de 2014 (Linguistas brasileiros sugerem &c.).»
Não sei que espécie de loja é isto agora da Academia de Letras de Brasília, nem que prerrogativa histórica, geográfica, linguística ou até constitucional lhe assiste para me vir a Portugal ditar o português. Se dá de se estribar na Lusófona é porque o Ernani deve emparelhar com o Relvas.
Siga então a diligência, co' as bestas à vante.
Diligência, Lamego, [s.d.].
Emilio Biel, A Arte e a Natureza em Portugal, Emilio Biel & Cª Editores, 1906-08, in Flickr.
« Caros amigos, hoje houve o dito encontro da Comissão/G.T. do Acordo com os professores Ernani Pimentel e Pascoale Cipro Neto. [...] O importante neste grupo técnico [mandatado pelo Senado brasileiro] é a sua existência: é a prova provada que no Brasil o Senado está a rever unilateralmente o acordo e que portanto Portugal está a apanhar bonés e arrisca-se a, como em 45, ficar sozinho com uma grafia que ninguém usa, desta vez sem sequer as colónias para acompanhar.»Michel Seufert, há meia hora no Livro das Fuças.
Conclusão: o Brasil já se lança sem pejo a assenhorear-se do português na própria Assembleia da República.
Verdadeiro sentido do cento, Lisboa, 2013.
Fotografia de Mário Vilar, in Livro das Fuças.
Descida para a pista 36 da Portela. Sobrevoo da quinta da Bela Vista e da Av. do Aeroporto.
Pormenores talvez interessantes: o prédio do n.º 101 da Gago Coutinho, de gaveto com a Av. D. Rodrigo da Cunha, com andaimes postos; -- ultimavam-no ou a recebia beneficiação? -- Mais: à direita, um bairro social em lusalite, a que o progresso se encarregou de dar sumiço, nos chãos onde há agora o golfe da Bela Vista. À esq. da Gago Coutinho, abaixo do Parque de Alvalade, o bairro de lata da Quinta do Narigão, que entre tanto também levou sumiço -- nada que se lamente. Por fim a segunda circular; nas adjacências do aeroporto, nem vê-la.
Vista aérea, Lisboa, 1968.
Cliché do C.te Amado da Cunha, in colecção do Sr. Ant.º Fernandes.
(Diário Económico, 26/XI/13.)
Aterragem que inaugurou a nova pista para aviões a jacto do aeroporto de Lourenço Marques, Lourenço Marques, 1970.
Cliché: Cartaxo. Espólio do C.te Amado da Cunha; col. Sr. Ant.º Fernandes.
Reabastecimento dum DC-3 da Linha Imperial, Libreville, 1950.
Fotografia do espólio do Cte. Amado da Cunha, in colecção do sr. António Fernandes.
O linguista (?!) brasileiro Ernani (Hernâni já em novíssima abortografia?)... Ernani Pimentel, dizia, há-de ser tontinho. Tontinho e cábula. Cuido que leu o texto de M.ª Clara Assunção «O acordo ortográfico e o futuro da língua portuguesa» sem lhe contudo notar a fina ironia. Tomou-o a letra e vai daí rapinou-o para se dourar com nada menos que... um novíssimo aborto ortográfico (já por aí há poucos...):
Uma tentativa de resolver tudo
Sugestões reduziriam em 300 horas o tempo de ensino do idioma.
J/G - As palavras derivadas do árabe e do tupi são grafadas com j. Mas ninguém sabe a origem do termo berinjela. Na proposta de Pimentel, a letra g vira guê.
Exemplos: gerra, geto, jente, jíria.K - Por que escrever quero com qu e caro com c se tudo pode ser resolvido com k?
Exemplos: kero, karo, eskangalhado.X/CH - Como se escreve chuchu? As palavras derivadas do árabe e de línguas africanas supostamente são escritas com a letra x, mas a dança africana chia é grafada com ch. Para acabar com a contradição, Pimentel propõe que o som chiado seja grafado apenas com x.
Exemplos: xuva, xamado, xuxu.S/Z/X - Paralisação ou paralização? O s e o x com som de z seriam grafados com o último.
Exemplos: paralizia, ezame.C/SS/SC/SÇ/X/XC - Todos passariam a ser grafados com um simples s. Nada de perder tempo consultando um dicionário.
Exemplos: sidade, sosego, esesão [*], deser [*], deskanso.H - Por que não jogar fora o h inicial?
Exemplos: omem, elikóptero.Clara Becker, «Contrarreforma; professor de português defende nova mudança na língua e propõe que “xuva” e “sidade” sejam escritas assim», Veja Brasília, 31/10/2013.
Diz que este linguista (?!) está aí para rebentar em Portugal com caução do senado brasileiro para ensinar o novíssimo aborto aos deputados da nossa república. É mesmo o que fazia falta!
(*) Eseção e deser, confesso, levei tempo a perceber: uma é aquilo que foge à regra, outra é o oposto de subir; mais ràpidamente se havia em português de escrever xeção e dexer, com o que cairíamos de novo em grafias duplas ou em facultatividades a la Casteleiro; ora adeus! a mais um estúpido delírio de unificação ortográfica luso-brasileira.
Imagem de Momento Concurso (26.ª ed.).
Há no A.O. de 1990, simultaneamente, servilismo e ignorância relativamente ao Brasil. Pois o diálogo luso-brasileiro é em grande parte um diálogo assimétrico. Ele situa-se num eixo que Eduardo Lourenço qualificou lapidarmente: «ressentimento e delírio». A maneira como nós vemos o Português é própria de um povo que fala e sempre falou a sua própria língua e a difundiu pelo mundo, o mundo de um «império» que no plano mítico-ideológico parece não ter terminado ainda. No Brasil, o Português é a língua do colonizador. Não é, portanto, a mesma, nem poderia ser, a visão da «língua comum», pois os brasileiros parecem sobretudo interessados em acentuar divergências, quer na ortografia quer na sintaxe, afastando-se, muitas vezes conscientemente, da norma culta, procurando factores de diferenciação específica. O próprio preconceito brasileiro relativamente aos falares portugueses [é o] que se reflecte na legendagem de tudo o que é português no Brasil e, no plano da escrita, na tradução de livros ou de notícias de jornais portugueses [...]
José Paulo Vaz, «Ainda as facultitividades do Acordo Ortográfico de 1990 — algumas notas críticas», in A Folha. Boletim de Língua Portuguesa nas Instituições Europeias», n.º 40, Outono de 2012, p. 9, apud I.L.C., 10/II/2013.
Ilustração: Carlos Alberto, História de Portugal, 13ª ed., Agência Portuguesa de Revistas, [s.l.], 1968.
A finalidade é criar uma padronização da nomenclatura da gramática normativa, bem como simplificar a ortografia da Língua Portuguesa. Para 2014 já está marcada uma reunião internacional para discutir se essa padronização das normas do Brasil deverá ser aplicada nos demais países que falam o idioma português.
«'Padronização das normas do Brasil nos demais países [lusófonos]' (!!!)», I.L.C. 8/11/2013.
O Brasil anseia tornar o seu linguajar crioulo idioma internacional e procura-o a cavalo do Português, que no fundo enjeita. A apropriação do idioma é oficial e às escâncaras. Não que se não o fareje há décadas. O que o Brasil pretende agora é o que o sidadão na imagem anda a apregoar. Quem aqui no rectângulo teimar em não ver merece condecoração no 10 de Junho. Pode ser um xupa.
A língua de pau em vigor manda chamar reclusos a três condenados que fugiram da prisão -- na Antena 2 chamaram-lhes por uma vez detidos.
Reclusos ou detidos é que eles não estão (e também não são), mas distinguir ser de estar também importa pouco à imprensa. Por isso os três bandidos a monte não aparecem directamente adjectivados no jornal pelo que realmente são -- um homicida reincidente, um homicida frustrado e um assaltante burlão; o Público diz que «são caracterizados como perigosos» sem se comprometer em afirmá-lo ele mesmo. Um diz-que-diz que é o modo de os jornalistas brincarem às notícias moderando o perigo. Para o jornal. Com o leitor sucede o contrário; mais certo é agravar-se-lhe o descuido com tanta cerimónia jornaleira em dizer as coisas como elas são. Uma marca de quão estúpida é hoje a civilização. No Oeste selvagem eram menos letrados e apesar disso menos burros: pregavam cartazes dos bandidos em cada poste e todos sabiam a cara do perigo. Destes que se puseram agora a monte nem conhecemos a cara nem ficamos a saber que são ciganos.
O linguista, que é presidente do Centro de Estudos Linguísticos da Academia de Letras de Brasília, liderou o movimento "Acordar melhor", que resultou num livro em 2008, com críticas ao Novo Acordo Ortográfico [...]
«Agora partimos para o plano internacional, com o Simplificando a Ortografia. Não nos interessa jogar pedras, mas buscar medidas conciliatórias e evolutivas [?!]. A nossa intenção é adequar o acordo antes que ele seja obrigatório», afirmou.
[...]
O linguista chegará a Portugal no dia 15, e fará uma conferéncia na Assembleia da República. Ernani Pimentel afirmou que estará disponível para conversar também em universidades, academias de letras e escolas de segundo grau. Entre os dias 25 e 28 de Novembro, também estará no país o professor brasileiro Pasquale Cipro Neto.
[...]
O linguista também se diz contrário à queda do acento diferencial (como em pode e pôde [!!]) , e às actuais regras de uso do j e do g [!!!].«Linguista brasileiro apresenta em Portugal projecto para simplificar o português», Lusa / R.T.P., 14/XI/2013.
~~ « » ~~
A Assembleia da República, sempre pronta para ouvir estrangeiros sobre assuntos de política interna, foi a mesma que ignorou todos -- TODOS -- os pareceres emitidos por entidades portuguesas sobre o Aborto Ortográfico. TODOS -- note-se -- NEGATIVOS. Para assunto agora tão importante para os brasileiros, acaso foi convidado algum português a dirigir-se ao Congresso brasileiro sobre o mesmo assunto? E sendo a Academia das Ciências de Lisboa o órgão consultivo do Governo em matéria de língua, porque não remete a A.R. o brasileiro para a A.C.L.?
João Roque Dias, «A vergonha (em repetição)», Livro das Fuças, 15/XI/2013.
A Miranda nunca chegou comboio. O destino deixou o caminho de ferro aquém, nas Duas Igrejas, a salvo erro 8 km. Faltou-lhe este pedacinho assim.
O comboio entretanto acabou. Fechou. A linha incompleta foi desmantelada (quiçá pelo sucateiro Godinho), a estação foi abandonada e do descaso geral até os burros se quase extinguiram.
Quase. Faltou-lhe um pedacinho assim.
Um burro parece então que arrebitou as orelhas e se lembrou de fazer uma estrada. Para substituir o velho caminho de ferro (quase) até Miranda e valer à erma E.N. 221. Fez um moderno I.C. -- um I.C. 5 com concessionária de exploração e tudo. Mas um I.C. 5 com craveira modesta, com feitio de estrada nacional... 221: uma faixa para lá, uma faixa para cá.
Muito bem! Quem saia de Mogadouro para Miranda não acha auto-estrada, mas tem ali duas estradas de feitio nacional, iguaizinhas, uma daqui, outra dali -- paralelas; ambas com uma faixa para lá, outra para cá. Tão erma uma como ermada a outra. Claro que o I.C. é interdito a tractores de lavoura, motas Zundapp ou burricadas.
Pretensões de auto-estrada sem no ser?
Talvez.
Com subvenção à concessionária em função do lá-vai-um?
Não sei.
Certo é toda a sinalização rodoviária remeter o tráfego para o I.C. 5, tirando-o da E.N. 221... Mas não inteiramente. O I.C. 5 não esticou até Miranda. Ficou como o caminho de ferro, nas Duas Igrejas, a salvo erro 8 km. Faltou-lhe este pedacinho assim.
E.N. 221, km 0, Miranda, 2013.
Adenda de mote jaapiano:
Almeida (o forte) cuido que sempre foi mal azada. A fama de inexpugnável foi faca de dois gumes, especialmente com a má sorte de explodir o paiol da pólvora dizimando a guarnição, pondo a praça à mercê da esfarrapada tropa francesa.
A vitória francesa tem o enorme mérito que se tira destes factos e da boleia até casa provida pela marinha inglesa, sua vencedora.
Saem todos honradoa desta história. O corolário está aí no desajeitado nome da rua.
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