Saloios com o gado manso da praxe deante de... -- Bom! Do edifício onde vem a ser a Universidade Lusophona. Estas voltas teem a sua ironia; a feira, o gado, a saloiada... Enfim, mais rito menos avental, mais batina menos barrete, a praxe á bovinidade tem aqui o seu quê ancestral.
Feira de gado, Campo Grande, 1890-1910.
Charles Chusseau-Flaviens, in George Eastman House.
(*) Dux é nominativo latino cujo plural é duces e não duxes, como dizem por ahi commentadores d' alto coturno e licenciaturas de saldo. Claro que é irreal querer achar noções de latim na mole indigente dicta mais preparada de sempre (ou mais bem..., como sói ouvir-se d' aquelles mesmos taes). Dux é latim para dizer caudilho, chef, leader. -- E só d'esta pequena amostra de synonimos noto como fraqueja o idioma português em vocabulario para designar quem commande, salvo se for o rei. A palavra duque chega-nos do francês duc, não do latim dux (ou ducem), com seu pleno sentido de titular nobiliarchico; título d' alta nobreza mas não de realeza, é bom de notar. Symptoma d' aversão a auctoridade que não a do rei?...
Ou como por pouco nos não cruzámos...
Museu Lapidar Igeditano, Idanha-a-Velha, 2013.
Cliché de Luiza Gonçalves.
Já o cá disse. Era da indústria millennar que os marcos viarios fossem de pedra bem affeiçoada e feitos para durar. E também disse então que a indústria (leia-se arte e engenho de fazer algo bem feito) já não se quere millennar; quere-se emprehendedorismo -- e viva o moderno! -- Ora, quaesquer dous dedos de intelligencia depressa concluem que emprehender como fim em si mesmo é uma boa trêta: um vazio de fanfarrões deslumbrados que não emprehendem nada senão show-off. Tenho aqui a prova do emprehendedorismo em acção e o resultado da acção emprehendida, ou emprehendedora, que é como se agora apregoa.
Valha-nos de as peneiras dos exhibicionistas que inventaram marcos em lata lhes dictarem não botar os côtos no marco antigo. Ou valha-nos o peso da pedra de que foi feito.
E.N. 354, km 20, Idanha-a-Nova (prox.), 2013.
(Revisto.)
Chapa de Eduardo Portugal em 1953 (quiçá no mesmo dia da do Largo do Leão). Arruamento moderno assente num troço da velha circumvallação de 1858, teve o primitivo nome 'Rua do Conselheiro Pereira Carrilho'. Por voltas da I.ª Republica tinha metade da largura actual e muros de contenção do lado S; do N algumas casas terreas e quintaes; começava a edificar-se um ou outro gaioleiro -- v.g. o de esquina com o Largo do Leão (ou estrada das Amoreiras), em primeiro plano, que ainda resiste.
Aqui com todos seus gaioleiros que entre tanto lhe deram feição urbana, mai-la placa central arborizada do tempo em que o gosto pequeno-burguez procurava dar aos arruamentos alfacinhas um ar de 'boulevard'. Os lampiões de pé ajudam ao pittoresco.
Photographia:
«Rua Pereira Carrilho», Lisboa, 1953.
Eduardo Portugal, in Archivo Photographico da C.M.L.
O Largo do Leão em 1953 pela lente de Eduardo Portugal. Desafogado, alguma construcção moderna e bom arvoredo. Um lugar aprazivel.
Em fim de Novembro, início de Dezembro de 2013, as arvores foram cortadas. Tôdinhas. Zêlo do vereador do ambiental e do sustentavel, por alguma moléstia, de certo...
(Não estou a ver que a madeira das árvores ultimamente abatidas em Lisboa seja grande negócio... É?)
Largo do Leão, Lisboa, 1953.
Eduardo Portugal, in Archivo Photographico da C.M.L.
Em 20 de Janeiro, vae uma hora por inteiro. Quem no bem souber contar, hora e meia lh' há d' achar.
Lavrador com juncta de mulas, Alem Tejo, 19...
Arthur Pastor, in Archivo Photographico da C.M.L.
-- Então vocês ainda se tratam assim, com essa cerimónia?!...
-- Pois como nos havíamos de tratar, prima?!
-- Ora essa! Como namorados...
-- Não, prima; entre mim e o João Garcia nunca houve senão camaradagem... Cá uma simpatia... Como é que hei-de dizer? Calhámos. Talvez da parte dêle, não digo que não... Um flirt... Mas um flirt não é caso para «tu». Ah! «tu», não; era ir longe de mais...Vitorino Nemésio, Mau Tempo no Canal, Bertrand, Lisboa, [1944], p. 55.
border=0 src="https://fotos.web.sapo.io/i/B8215da78/16512842_DYgSG.jpeg" width="327" height="500" alt="Mau Tempo No Canal, Lisboa, Bertrand, [1944] (desenho da capa de Bernardo Marques)" />(Imagem d' outro tempo.)
«Fenomenos de chuva e vento extremos» dizem na emissora nacional.
O verdadeiro fenomeno é esta linguagem -- os franceses chamam-lhe lingua de pau. E extremo, só o exaggêro feito lugar-commum por mentes diluvianas de trivialidades.
(Uma donzella na televisão, em conversa de circumstancia, diz que ama uma bagatella qualquer; nem faz por menos: appreciar, agradar-se, deleitar-se, folgar, gostar, regalar-se não caberiam em tão grande coração, não é...?)
A infantilização das gentes por tutores aparvalhados dá n'isto: Invernos papões, em que borrascas, intemperies, tempestades, temporaes, tormentas ou trovoadas são fenomenos, não naturaes, mas extremos.
Com humanos moldados assim, o fenomeno mais natural são as alterações climaticas, pois é...
«O Ribatejo inundado», Ilustração Portugueza, n.° 313, 19 de Fevereiro de 1912, in Hemerotheca Digital.
Nota: e cá está; o automovel da redacção d' O Seculo que o A.C.P. editou em postal com o título Desempanagem com reboque.
E.M. Matos a [Benafim?], Rib.ª de Algibre, 2013.
Não só os há com Al-. Benafim é um daqueles topónimos de origem árabe que se reconhecem pelo prefixo Ben-. Como... -- exactamente -- Benfica.
E.N. 270, km 18, Poço de Boliqueime, 2013.
Este marco rodoviário tem história comigo. Na minha primeira vez ao Algarve -- primeira em carro meu, eu ao volante; houve outra antes, à pendura... -- dei boleia a um magala. Apanhei-o em Setúbal. Tinha viva a minha tropa e as boleias de tantos automobilistas que me não custou nada dar boleia àquele.
Pois bem, larguei o magala por aqui porque ia eu para Loulé e ele mais para o Sotavento. A estação de Boliqueime era a um passo e a Nacional 270 só me servia a mim, não a ele. Larguei-o, pois, e fiz-me à 270. Andados uns metros, porém, vi o marco a anunciar-me 12 kms até Loulé. Um passinho, depois dos duzentos e tal palmilhados. Ia eu com tempo ao que ia e era hora de jantar. Tornei atrás logo ali, ao entroncamento com a 125 e parei num restaurante. Antes telefonei duma cabina a avisar de que ia jantar e não tardaria.
E assim foi. Comi lulas à sevilhana.
Foi no tempo do meu carro preto. O restaurante fechou.
Há algum tempo li um artigo de opinião no Público em que o autor referia uma entrevista do Dr. Salazar ao jornal Il Tempo de Roma. O artigo era não sei já sobre quê, mas não deixava de mencionar que a dita entrevista fora publicada com cortes no volume Entrevistas; 1960 -1966 (Coimbra Editora, 1967, pp. 101-109) que completa a colecção dos Discursos de Oliveira Salazar. -- Na altura perguntei-me se a menção à publicação parcial da entrevista em Portugal não seria uma alfinetada metida na censura do Estado Novo, coisa habitual na espuma jornalística que nos salpica os dias.
Não sei se foi.
Conto aqui o caso porque o Estado Novo tem sempre as costas largas para tudo em que a imprensa actual resolva tachá-lo, mormente pela censura. Pois se a omissão das passagens em falta foi por censura oficial, bem mal o conseguiu com aquela nota dada ao leitor da data e do jornal que publicou integralmente a entrevista. -- Perante isto dir-me-ão muitos democráticos que o regime era tão nefando quanto á liberdade de imprensa, como estúpido em cerceá-la. -- É uma ideia que vai bem com a bazófia moralona dos arautos da democracia. Claro que, pela superioridade moral, ninguém os bate em razão. O curioso no arrazoado, porém, é que no tal volume de Entrevistas, o texto que antecede a entrevista de algumas passagens do Dr.. Salazar a Il Tempo de Roma é duma entrevista concedida á americana Life e que a revista publicou com algumas deturpações no número de 4 de Maio de 1962.
Na democrática e livre América a imprensa não censura nadinha; apenas deturpa as palavras dos outros.
O exame previo do Estado Novo -- ou censura como preferem os ciosos antifascistas -- tem costas largas. A verdade é que as omissões dos democratas, ainda durante o Estado Novo e depois d'elle, sommadas ao ruido distractor, deram e dão no mesmo: censura deliberada e ludibrio descarado de opinião pública.
A III.ª Republica é tão ou mais censoria que o Estado Novo. Peor; acoberta-se na imperiosa Liberdade para passar por democracia. Um logro em todas as medidas.
Na Porta da Loja publicam-se paginas d'O Seculo e do Republica com retrospectiva do anno de 1973. Graças ao exame previo, e independentemente d'elle, cada jornal abafava o que não agradava á sua linha editorial: -- o Republica alardeava os actos da opposição ao govêrno em extensos paragraphos, mas os successos adversos á sua lucta dava-os de raspão; assim, o caso da capella do Rato valeu columna e meia [inteira] de jornal, em quanto a eliminação do Amilcar Cabral pelos proprios camaradas do P.A.I.G.C. foi mettida n'uma phrasezinha, não mais. -- O Seculo, por seu lado, mencionava (bem) a visita de Marcello Caetano á Inglaterra, como retribuição da visita a Portugal do principe Philippe pelos 600 annos da Alliança Luso-Britannica; não dava conta da manifestação internacionalista contra Portugal nem das diatribes do padre Hastings ou de Mário Soares nessa occasião, em Londres.
Vê-se que havia mais censores e mais fórmas de censura, que não o conhecido exame previo do govêrno, mas hoje ninguem o diz...
Recorda-me a proposito do prof. Marcello Caetano pouco depois, em Março de 1974, commentando mais um ruidoso clamor da opposição (sempre sonnante, apesar do exame previo) sôbre notícias que havia ou deixava de haver ácerca da intentona das Caldas:
Há por aí frequentes queixumes de que não temos por cá uma informação completa. Nada, porém, que de verdadeiro se passa que ao público interesse, deixa de ser trazido ao conhecimento dele.
Pois bem. Da triumphal informação completa parida como cravos em G3, alguem diga se por ventura ouviu notícia d'este passado caso:
Nos primeiros dias de Outubro [de 2013], ocorreu uma situação assaz grave no Centro de Tropas Comando, na Carregueira [...] O caso conta-se em poucas linhas. Naquela noite, dois praças entraram no gabinete do oficial de dia e agrediram violentamente o capitão que estava de serviço.
Ten.-Cor. Brandão Ferreira, «Acontecimento grave no seio das Forças Armadas», in O Adamastor, 13/XII/2013.
A censura acabou, não dizem? Portugal tambem.
Imagens: jornal República, in Porta da Loja; prof. Marcello Caetano, in Praça da República.
De há muito que o discurso esquerdóide da nossa imprensa ultrapassou o mero salivar pavloviano se rememora o tempo do Estado Novo. Tornou-se, para todo e qualquer acontecimento, paranóia obsessiva.
Ontem o editorial do «Público» dizia: num tempo em que ser português era sinal de opróbrio e de vergonha, Eusébio resgatou o nosso orgulho e devolveu-nos a dignidade (cf. «É sempre a "meme" coisa: o mito de Eusébio e a lenda dos três efes», Porta da Loja, 6/I/14).
Neste apropriar despudorado da memória admira-me como se não ensaiaram a dizer que cada golo de Eusébio fôra um golpe no regime ou que cada chuto na bola era um pontapé em Salazar. -- Que teve Eusébio contra o Estado Novo ou com a Abrilada?! Cuidam com aquela conversa endeusar mais Eusébio por o colectivizarem?...
Que mentes doentias, sempre a recomporem-me a História e a realidade com delírios fantasmagóricos.
(In Ser Benfiquista.)
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