(Imagem espigada na Internete.)
Anuncia a imprensa nestes dias que Portugal vai ter «saída limpa» do «resgate». Soa bem, não? A endrómina do «resgate» já mascarava por aí o grande empréstimo internacional mendigado para colmatar a 3.ª bancarrota desde 1928. E agora a tal «saída limpa» é eufemismo do estado de necessidade por não haver fiador internacional que caucione mais pedincha. Limpeza, se havemos realmente de vê-la, será na usura dos empréstimos que se hão fatalmente de seguir. Vai ser limpinho!
Fundo de pensões dos trabalhadores da indústria, 1946-48. «O que não foi gasto já sê-lo-á no futuro!», F.I.P., 1957.
Estúdio de Mário de Novais, in Bibliotheca d' Arte da F.C.G.
« Se os grupos partidários a cada momento se consideram candidatos ao Poder com fundamento na porção de soberania do povo que dizem representar, a maior actividade -- e vê-se até que o maior interesse público -- não se concentra nos problemas da Nação e na descoberta das melhores soluções, mas só na luta política. Por mais propenso que se esteja a dar a esta algum valor como fonte de agitação de ideias e até de preparação de homens de governo, tem de pensar-se que onde ela atinge a acuidade, o azedume, a permanência que temos visto, todo o trabalho útil para a Nação lhe é inglòriamente sacrificado. Tem de distinguir-se, pois, luta política e governação activa: os dois termos raro correrão a par.»
Oliveira Salazar, pref. à 4.ª ed. dos Discursos (vol. I, 5.ª ed., Coimbra, 1961, p. XXXIX).
Governação activa, entenda-se, bom governo e a obra dele resultante; simbòlicamente, se quisermos, o Teatro Monumental...
Luta política: o monumental chafurdo naquelas democráticas paredes e, finalmente, o derrube das próprias paredes... -- Livre e (literalmente) democrático, neste cenário, só o alheamento do povo.
Teatro Monumental, Saldanha, 1976.
F. Gonçalves, in Arquivo Fotográfico da C.M.L.
Sabe-se agora que antes do 25 coiso também não havia supermercados.
(Cartilha Abrileira de Manuel, in H Gasolim Ultramarino, 27/IV/14.)
«Pão de Açúcar inaugurou em Lisboa o primeiro supermercado», Diário de Lisboa, 2/V/1970.
In Fundação do irmão do dr. Tertuliano.
Cruzamento da Av. de Roma com a Av. João XXI, Lisboa, 1974.
Artur Pastor, in Arquivo Fotográfico da C.M.L..
Há perto de nove anos referi-me cá à Tinturaria do Chile que existira naquela esquina ali perguntando-me se havia memória dela. E publiquei uma fotografia minha de 2004 onde, dela, da dita tinturaria, se via só lá o sítio. A curiosidade da tinturaria fora-me suscitada por um postal de António Passaporte que me encanta por mostrar este lugar tão familiar com aquele gostinho dos velhos tempos. O nome da tinturaria saltou-me à vista no postal por se achar deslocado; o Chile é um bom pedaço aquém daqui, em Arroios, mas entendia-se: a construção do bairro de S. João de Deus fora uma oportunidade de expandir o negócio. Um fenómeno de empreendedorismo, dirão hoje os novos entendidos, sem embargo dalguns velhos sabichões que, extrapolando à toa o nome da tinturaria dum recorte, puseram a Praça do Chile na Av. de Roma (v. imagem 4).
No Chile nunca a achei, mas é notório que aqui, em Janeiro de 74, o nome da tinturaria do dito, visìvelmente, perdurava.
Edição: António Passaporte (c. 1953) , in Arquivo Fotográfico da C.M.L.
Ninguém se lembrou de perguntar por que dei a fotografia do Tutti Mundi a 1973 ou 74, quando o arquivista a marcou para 198..., mas respondo à mesma: baseei-me noutra da série a cores de Artur Pastor que mostra o troço da Av. de Roma adjacente ao Tutti Mundi e à florista Romeira, em que se vêem dois cartazes de propaganda eleitoral da A.N.P. para as eleições de 1973. -- Ah pois foi! No Estado Novo também houve eleições; as últimas foram em Outubro de 73. e não há-de ser nada plausível que os cartazes de propaganda eleitoral da A.N.P. tenham passado de (ou sequer chegado a) 25 de Abril de 1974; digo isto com a mesma certeza com sei como mudou a Ponte Salazar de nome... -- Além disso, corrobora esta minha conjectura um cartaz da lista da oposição em 73, do M.D.P., chapado no fuste dum candeeiro de iluminação pública e visível noutra fotografia deste lote de Artur Pastor. O próprio autor inscreveu no sobrescrito onde as guardou uma data: Janeiro de 74.
Quem notou o cartaz do M.D.P. na Av. da Igreja em dia farrusco foi o leitor José Lima, que sugeriu que a fotografia, em sendo de 74, houvesse talvez de ser posterior ao 25 de Abril grande acidente nacional, justamente por causa daquele cartaz de propaganda eleitoral. Cuido que ambos nos deixámos influenciar pelas democráticas paredes de Lisboa feitas num chafurdo com a propaganda eleitoral pós-Abrilina e não concebemos possível sequer tal desalinho durante o Estado Novo. A realidade é sempre mais prosaica; em havendo eleições, natural é que se vejam cartazes da propaganda; e ainda mais certo é que quantos mais libertadores e revolucionários haja à solta, mais furiosa e anárquica estampagem haveremos de ter. Por mais censura ou fâchismo com que nos lavem o cérebro, a besuntice eleiçoeira mai-los seus recados medram tão facilmente como qualquer erva daninha.
Av. de Roma, Lisboa, 1974.
Artur Pastor, in Arquivo Fotográfico da C.M.L..
Há qualquer coisa que me intriga naquela dos meninos cultivando árvores. Não me refiro ao contraste com a C.M.L. actualmente, que as corta em vez de as plantar... O que estranho são os prédios de que lá falei como sendo na Rua das Picoas (actual R. Eng.º Vieira da Silva) que não calham nada com esta imagem agora. Não o sei explicar, não calham...
Rua das Picoas, Lisboa, c. 1900.
Alberto Carlos Lima, in Arquivo Fotográfico da C.M.L..
Outra curiosidade com esta imagem qui é a quinta da condessa de Camarido, cujo palácio se vê nitidamente na elevação ao fundo da rua. Quedava-se ele exactamente no leito (hoje) da Av. da Praia da Vitória, do lado do Teatro Monumental.
Um perspectiva de lá para cá pelos anos 30...
C.T.F. (Correios Telégrafos e Faróis) Lisboa-Norte, Picoas, 1929-38.
Francisco dos Santos Cordeiro, in Fundação Portuguesa das Comunicações.
A Rua das Picoas de hoje é uma sobra da antiga estrada das Picoas, ela mesma um troço do velho caminho que ligava o Campo de Santana ao Rego e cujos troços iam sucessivamente mudando de nome: a Carreira dos Cavalos (R. Gomes Freire até ao Largo do mesmo), Estrada da Cruz do Tabuado até à Tr. do Abarracamento do mesmo nome (R. Gomes Freire até à R. da Escola de Medicina Veterinária), Estrada das Picoas (ruas Eng.º Vieira da Silva e das Picoas) e Rua das Cangalhas (Conde Valbom).
Francisco Heitor de Macedo & al., Obra do alargamento de Estrada da Cruz do Tabuado. Projecto. C.M.L., Arq. do Arco do Cego, PT/AMLSB/CMLSB/UROB-PU/09/00787, p. 8.
Antes da Rua Almirante Barroso.
Antigo matadouro, Lisboa, c. 1900.
Paulo Guedes, in archivo photographico da C.M.L.
A legenda diz: «Culto da arvore; alumnos da eschola plantam arvores no antigo Largo do Matadouro» («O culto da arvore», Illustração Portugueza. n.º 209, 21/II/1910, p. 245.)
O antigo Largo do Matadouro é a praça fraternalmente dedicada ao maçon José Fontana, um paladino das classes laboriosas do tempo do socialista Anthero de Quental e das Conferencias do Casino.
Calhando, as arvorezinhas plantadas pelos meninos da eschola em 1910 ainda lá lá estão. E calhando, em levando lá hoje meninos da eschola, talvez elles educadamente apaguem as garatujas que outros meninos (que de certo são da eschola, mas não são do côro) teimam em fazer no coreto (o coreto vê-se-o ahi em construcção). Se não, que os ensinem a separar o lixo ou outra d'essas acções pias da nossa egualitaria e tolerante post modernidade.
A estrada por onde se alinham os gaioleiros que se vêem á direita é a das Picoas, hoje Rua Eng.º Vieira da Silva. Gaioleiros recentes em 1910, nos limites d'uma propriedade chamada Terras do Alto que abarcava os quarteirões desde a Casal Ribeiro até alli. Pelo meio percebem-se as embocaduras das ruas Fernão Lopes (morou n'ella o Saramago, em puto) e Actor Taborda (n'esta, o Eusébio diz que passava por muito lá...)
O muro em segundo plano é o que marcava o perimetro do matadouro das Picoas, onde houvemos posteriormente o Mercado do 31 de Janeiro (outro toponymo das esquerdas), a meias depois com o Forum Picoas e com o Saldanha Residenso. O matadouro foi d'alli para os Olivaes; não ennobrecia nada o lugar nem o que se quiz lá pôr ao depois.
...
Claro que são dictos os meninos estar a plantar arvores, mas o homem de chapéu de côco á republicano foi quem cavou o buraco...
Alumnos plantam arvores, Largo do Matadouro, 1910.
Phototypia animada de orig. de Joshua Benoliel, in archivo photographico da C.M.L.
A revista Mais Educativa, distribuída gratuitamente (quem na pagará?) aos miúdos e às miúdas das escolas secundárias, saiu-se em Abril com isto:
«40 Anos de Liberdade», Mais Educativa, 14/IV/2014, p. 30.
Ora bem! Esta miúda meia hippy em 1971, em Vilar de Mouros, parece uma garrafa meia vazia/meia cheia da festarola dos 40 anos Abrilinos! Vê-se-a meia despida porque era o fachismo, não havia pronto-a-vestir; e vai meia vestida porque o fachismo proibia o nudismo.
Falta de liberdade do caraças, pá!
(Século Ilustrado, 14/VIII/71. Fotografia de Armando Vida, in Porta da Loja)
Acrescentaremos, apenas que, aparentemente, o G.B. [Grupo de Bilderberg], só começou a interferir — antes disso não se lhes dava confiança para tal — com o nosso devir colectivo, quando numa das suas reuniões (19/4/1974), ocorrida no hotel d’Arbois, em Megéve (Alpes Franceses), propriedade de Edmond Rotschild, se terá dado luz verde à alteração de regime em Portugal — coisa que, certamente, nunca terá passado pela cabeça de nenhum capitão de Abril…
A partir daí – e por razões e processos que são objecto de especulação — foi alcandorado a uma espécie de “secretário” ou “representante permanente” do G.B., na antiga Ocidental Praia Lusitana, o Dr. Pinto Balsemão, grande amigo dos Reis de Espanha, também convivas nestes eventos. Provavelmente desde 1983.Ten.-Cor. J. J. Brandão Ferreira, «Portugal e o Grupo de 'Bilderberg'», in O Adamastor, 26/VI/13.
(Sêlo de correio de dois tostões e meio, 1935)
O cidadão Papillon deu ontem em tecer louvaminhas na emissora nacional ao presidente da Comissão Europeia. Tal o descaro que no meio de salamaleques servis dignos dó ouvi-o dizer o como se sacrificou Durão Barroso em largar o cargo de primeiro ministro pela Comissão e como lho devemos agradecer aclamando-o a Belém (Contas do Dia, Antena 1, 14/IV/14).
No feudalismo, o ritual da homenagem firmava a sujeição do vassalo ao senhor, por quem havia de bater-se nas batalhas, em troca de protecção e favor.
Com os jacobinos, mais immixtio manuum ou menos osculum, a feudo-vassalagem pouco mudou. No fim, sempre o cidadão vassalo recebe uma dádiva da mão de seu senhor...
Tacho de barro n.º 3, da Feira da Louça.
Tutti Mundi Drugstore, Lisboa, [1973-74].
Artur Pastor, in Arquivo Fotográfico da C.M.L..
Escrevia anteontem confrade Manuel que acabara de ouvir na R.T.P. um tipo dizer que antes do 25 de Abril não havia pronto-a-vestir em Portugal. E rematava: é isto o jornalismo.
Jornalismo não havia de ser, mas é no que o jornalismo se tornou; coisa que o jornal escreva ou que no telejornal vá para o ar tem foro de verdade indeclinável. Torna-se lei da Natureza e doutrina do Mundo. Ao invés, aquilo que os noticiários omitam, é porque nunca existiu.
Portanto, antes do 25 de Abril não havia pronto-a-vestir em Portugal, como não havia jornalismo. Havia era censura a dar com um pau. Hoje, como graças ao 25 de Abril a censura acabou, temos o jornalismo, pois...
(Diário de Lisboa, 19/12/1968. Da Fundação do irmão do dr. Tertuliano.)
Praça de Alvalade, Lisboa, 195...
Judah Benoliel, in Arquivo Fotográfico da C.M.L..
Certa vez publiquei a imagem de cima ilustrando uma conversa acerca duns que dizem «controlar as rotundas». Convencera-me de ser no cruzamento da Av. de Roma com a dos Estados Unidos e nem me ocorreu a praça de Alvalade. Ao tempo, a rotunda que me palpitava na memória, de ver em moço numa fotografia antiga, era a do cruzamento com a Av. dos Estados Unidos.
Cruzamento da Av. de Roma com a Av. dos Estados Unidos da América, Lisboa, 196...
Artur Pastor, in Arquivo Fotográfico da C.M.L..
Esta rotunda empolgava-me muito mais do que o insípido cruzamento sobre o viaduto subterrâneo que conhecemos. Tinha outro encanto, era doutros tempos, duma primeva idade de ouro que me falhara, que o destino me não dera a experimentar. Lembro-me de nos espantarmos dela com emoção, eu e um velho amigo da mocidade em descobertas olisipográficas, quando descobrimos que o dito cruzamento tivera uma rotunda antes do viaduto.
Cruzamento da Av. de Roma com a Av. dos Estados Unidos da América, Lisboa, 197...
Artur Pastor, in Arquivo Fotográfico da C.M.L..
Por 1970-71 a fisionomia destes dois cruzamentos da Av. de Roma mudou. Tem graça que o bairro de Alvalade teria então sòmente vinte anos de construído e, não obstante o planeamento cuidado, o progresso material das décadas de 50 e 60 constragia ali, já, a vida urbana. O crescimento das cidades em altura (para cima ou para baixo) é mera entropia. O progresso material como o entendemos é uma contraditória ilusão. E a sua estética desde aí, parece-me que nem isso.
Av. da Igreja e Pr. de Alvalade, Lisboa, [c. 1973].
Artur Pastor, in Arquivo Fotográfico da C.M.L..
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