Testes de laboratório o comprovam; o mero enunciar do nome de Salazar provoca reflexos condicionados numa vasta legião de primatas. -- Faxismo! e o desfiar de chavões antifaxistas primários assimilados como as morcelas assimilam o sangue e a gordura do porco são o urro pavloviano feito lugar comum que dali resulta.
O que novos testes de laboratório têm vindo a provar é que já nem é preciso enunciar o nome de Salazar, basta insinuar obra da sua época.
Nesta imagem da abertura do troço inferior da Rua Alexandre Herculano em Lisboa, em 1940, mal houve alguém louvando o novo asfalto de 1940 (por acaso era empedrado) bem assente e sem crateras, não tardou a desencabrestar-se o pide antifaxista de serviço...
Ferrei-lhe lá uma garrochada na cernelha, rematada com adorno à C.M.L. que se quis fazer desentendida da lide, talvez por se livrar de coices dalguma cavalgadura que lá presida...
A imagem em boa resolução da abertura do troço inferior da Rua Alexandre Herculano em 1940 para desfrute do leitor inteligente e interessado. Prima para fazer zum ampliar, s.f.f.
Rua Alexandre Herculano, Lisboa, 1940.
Eduardo Portugal, in Archivo Photographico da C.M.L.
(Gralhas revistas às dez para as cinco da tarde.)
No tempo do Trindade e do Nicolau consta-me que o ciclismo ainda era o desporto mais popular. O football tem pergaminhos mais burgueses...
Aqueles dois, Trindade e Nicolau, correram a rivalidade entre o Sportem e o Benfica de Norte a Sul e, com ele, contagiaram Portugal. Até hoje. Como tudo na vida o Ciclismo era mais duro que hoje. Nas célebres corridas do Porto - Lisboa diz que os ciclistas era costume pararem nalguma taberna à beira caminho quando lhe dava a fome, trincarem uma sande de presunto, beberem um copinho de três, tornando então a montar na bicicleta para continuarem a corrida. Foi numa disputa destas que se o meu pai fez do Sportem.
Equipa de ciclismo do Sporting, Albergaria-a-Velha (Rui Paiva, 1961).
Aspecto da Rua de São João dos Bem Casados antes da República, mas já no tempo do carro eléctrico. É irónico o garotito estar de cabeça enfaixada e o amigo maiorzinho ver-se ao lado com um cacete na mão, mas não é só ele...
Hum!...
Fato prompto a vestir por 4$000 (lê-se quatro mil réis). Percebe o benévolo leitor como o cifrão marcava o milhar, decerto...
A República deslocou a unidade para a casa do milhar e chamou-lhe ESCVDO. Dividiu a nova unidade em centavos e eliminou assim a ancestral unidade monetária portuguesa, o real, que nos vinha do séc. XV, salvo erro.
Percebemos-lhe (aos republicanos) o apagar de memória na reforma monetária. A voz popular, porém, guardou ainda por quase cem anos o uso dos nomes antigos do dinheiro. O fato prompto a vestir pode ter passado (sem inflação) a custar 4$00 (quatro escudos) na República de 1910, mas sabemos como o povo o continuou a dizer -- quatro mil réis ou quatro «merréis», o que é o mesmo -- até nos virem uns vendilhões de pátrias para cá com o dinheiro estrangeiro da Europa. -- Cuido que foi em Jorge de Sena que li (nos Sinais de Fogo) que os portugueses tinham o Escudo e contavam em tostões. É verdade! Nas fracções continuaram por dezenas de anos os populares a contar com base no tostão (100 rs. e depois $10) e mesmo no cruzado (400 rs. ou quatro tostões) até no fim restar ainda memória viva nos 10, 15 e 25 tostões que a minha geração aprendia, pouco dizendo um escudo, um escudo e cinquenta centavos nem dois escudos e cinquenta centavos. Aliás, mais depressa me calhava dizer dois [mil] e quinhentos ou cinco coroas por 2$50 (o preço duma tablette regina de morango ou laranja na mercearia do sr. Albino) do que o exótico dois escudos e cinquenta centavos. Centavos no dinheiro português foi paridela republicana que as gentes raramente usavam na fala corrente, eu me parece. Já não fui do tempo do meio tostão, mas dificilmente acredito que alguém o haja habitualmente dito 5 centavos, como cunhado nas moedas.
Feitas as contas, ao cabo e ao resto, se bem que o vintém (20 rs.) ou o pinto (480 rs.) hajam esquecido, o real permaneceu vivo da silva a cavalo no escudo, tanto nos mil réis como nos contos de réis que todos, sempre ou quase, diziam. E ainda que para o fim do dinheiro português se omitissem os réis nos contos da linguagem corrente, eles não podiam deixar de estar implícitos, já que conto é a forma primitiva de dizermos milhão em português: dizer um conto de réis ficou até aos nossos dias como a única forma de dizer um milhão de reais ou réis. -- Cuido ser escusado dizer aqui ao benévolo leitor que réis é a forma sincopada do plural reais porque o já entendeu; posso todavia acrescentar com proveito dalguns, talvez, que réis por reais se começou a usar tão cedo ou tão tarde como o reinado de D. Sebastião, vede só donde vem isto!
Pois da vetusta antiguidade do dinheiro português quero voar prestes para a modernidade do prompto a vestir e que inclui barretinas e barretes de toda a sorte, mercadejados agora em euros...
A imagem presumirá o benévolo leitor que é anterior à República. É falso. Não se deixe enganar: a democrática e sempre sábia R.T.P. garantiu-nos já pelos 40 anos do 25 de Abril grande acidente nacional que andar na moda antes da revolução não era fácil para qualquer português, era muito difícil, porque não havia pronto a vestir, e depois do 25 de Abril [grande acidente nacional] tudo se tornou mais fácil [...] (Telejornal, 1.º Canal, 11/IV/2014.)
Pois é. Tornou-se tudo tão fácil como falsificar a imagem do princípio do séc. XX com um prompto a vestir necessariamente pós-abrilino. Nem o talho n.º 46 no outro lado da rua podia então existir. Bifes, torresmos e sobretudo enchidos são conquistas do aviadas ao povo... em Abril, ou podia lá não ser?!...
Fotografia:
Rua de São João dos Bem Casados (ou de Silva Carvalho), Lisboa, 1901-1908. Arquivo Fotográfico da C.M.L.
O sumo sacerdote da religião do cicloturismo saiu-se com a nova de o seguro dos automobilistas dever pagar por acidentes causados por ciclistas. A imprensa deu-lhe cobertura. O caso não é brincadeira, portanto.
Entendo que sim e até mais.
Entendo que todo o ás do pedal que se desmorone duma bicicleta e esmurre o trombil no asfalto deve poder reclamar indemnização ao automobilista mais próximo num raio de légua e meia, independentemente de haver sido ele (o automoblista) parte ou não no acidente. O Mundo há-de perceber que o cicloturista é um sacerdote do velho templo rodoviário dado agora como oblata à Suprema Divindade Ambiental; como tal é legítimo que sacrifique uma rês automobilista sempre que tenha o infortúnio de tombar do seu altar das duas rodas.
Bicicletas Liberator, 1899.
Poster de Jean de Palealogue (PAL), in Ride Vintage.
Dionne Warwick, Walk On By
Imperio Argentina, Los Piconeros
(Carmen la de Triana, 1938)
Sara Montiel, Los Piconeros
(Carmen la de Ronda, 1959)
Vi hontem a 50.ª Corrida TV. Parecem os da R.T.P. ter ganho vergonha; tornaram a transmittir uma corrida. -- Digo isto porque já annunciaram nova transmissão para 25/7 e pareceu-me que teem mais transmissões na agenda, para Agosto.
Havemos de ver se percebi bem.
A S.I.C. e a T.V.I. escusaram-se sorrateiramente da Tauromachia a dada altura. Emquanto lhe pareceu chic era vê-las a compôr o ramalhete da própria tourada com o inúmeros fofos e giros do high life. Á primeira investida dos defensores animalejos mostraram os cabrestos que são e acolheram-se aos curros. Tão mansos que nem para cernelha dão.
(4/VII)
(Imagem: 50.ª Corrida TV, R.T.P., 2014.)
- Uma, para somar à daquela burrinha...
- Outra, pelo continuado empenho em me alfabetizarem...
Há muito que batemos no fundo, mas podemos ir continuando a escavar.
(Recortes d' O Diabo de 15/VII/14.)
Amália, Fado Malhoa.
E a melhor versão de «This Masquerade».
Gira-discos em móveis-rádio; álbum dos Carpenters da loja da Amazon.
(Publicado com o título «Pela noite dentro» em 14 de Setembro de 2008.)
Regresso de Sidonio Paes de sua visita ao Alem Tejo e ao Algarve, Lisboa, 1918.
Joshua Benoliel (attr.), in Archivo Photographico da C.M.L.
Moradia, Quarteira, 198...
Artur Pastor, in Arquivo Fotográfico da C.M.L.
Aldeamento algarvio, Quarteira, 198...
Artur Pastor, in Arquivo Fotográfico da C.M.L.
Lembro-me desta imagem. Não sei se em cartazes de agências de viagens, mas recorda-me. No tempo em que o Algarve não era para todos.
Foi empreendimento afamado. O Sporting, nos anos 80, fez os seus estágios de pré-campeonato anos a fio na aldeia olímpica deste empreendimento, onde dispunha dum ginásio e dum campo relvado. O cross das amendoeiras em flor corria-se no pinhal adjacente. Em redor pouco mais havia.
A primeira pernoita da minha primeira incursão no Algarve foi num dos apartamentos, cuido que já contei a história...
Nos alvores dos anos 90 tornei a andar por lá em aventuras juvenis e devaneios namoradeiros. Onde isso já vai!... -- Mas tocou-me o espírito do lugar. Há lugares assim, onde habita um genius loci. Sinto que ainda se acha pelo pinhal, quando lhe não calha cavalgar os ventos sobre a falésia. Mas noto-lhe de ano a ano os tombos no betão...
...
Tudo isto decaíu. Hoje até o troço final da estrada das Açoteias que desemboca neste exacto ponto se avergonha; diz que é a Rua da Exposição Canina, veja-se lá a importância que certas coisas tomam...
Talvez a moça se conserve.
Aldeia das Açoteias, Algarve, 198...
Artur Pastor, in Arquivo Fotográfico da C.M.L.
(Redigido na noute de S. João de 2014.)
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