O que eu pensei foi o seguinte: uma série de cartas sobre toda a sorte de assuntos, desde a imortalidade da alma ao preço do carvão, escritas por um certo grande homem que viveu aqui há tempos, depois do cerco de Tróia e antes do de Paris e que se chamava Fradique Mendes! Não te lembras dele? Pergunta ao Antero. Ele conheceu-o. Homem distinto, poeta, viajante, filósofo nas horas vagas, dilettante e voluptuoso, este gentleman, nosso amigo, morreu. E eu, que o apreciei e tratei em vida e que pude julgar da pitoresca originalidade daquele espírito, tive a ideia de recolher a sua correspondência -- como se fez para Balzac, Madame de Sévigné, Proudhon, Abélard, Voltaire e outros imortais -- e publico-a ou desejo publicá-la na "Província". Fradique Mendes correspondia-se com toda a sorte de gentes várias, all sorts of men, como se diz na Bíblia desta terra. Ele escreve a poetas como Baudelaire, a homens de estado como Beaconsfield, a filósofos como S. Antero, e a elegantes como (não me lembra agora nenhum elegante a não ser o Barata Loura) e a personagens que não são nada disto, como o Fontes.
Eça de Queiroz a Oliveira Martins, em Brístol, 10/VI/1885. In Correspondência, 2.ª ed., Lello, Porto, p. 96., apud João Gaspar Simões, Vida e Obra de Eça de Queirós, 3.ª ed., Bertrand, Amadora, 1980, p. 612.
Eça caricaturou assim o Fontes. Raphael Bordallo assim caricaturou ambos...
O Centro Nacional de Cultura tem uma certa... graça. Tem um blogo onde publica trabalhos seleccionados. Um excerto de um desses:
Data de 1888 a inauguração do então chamado T[h]eatro da Avenida e esta designação refle[c]te a própria cronologia urbana, digamos assim: o teatro, inaugurado com uma comédia, constituiu o primeira [sic] edifício referencial de cultura, na recentíssima Avenida da Liberdade, que se ia construindo a partir da destruição do Passeio Publico [sic], dois anos antes. Mas esta circunstância acabou por não valorizar nem o edifício, nem a sua a[c]tividade cultural, sem embargo de época de maior destaque ou qualidade.
O Teatro Avenida duraria até 1967: em 13 de Dezembro [sic], um incêndio deixou-o inoperacional, não obstante ter sobrevivido grande parte da estrutura da sala. Seria demolido a partir de 1970 (...)Duarte Ivo Cruz, «Os mais antigos teatros de Lisboa -- VI. O Teatro Avenida», Blogo do C.N.C., 27/VIII/14.
O que tem graça nem é a grafia de analfabetos, que não tem graça nenhuma; é o estilinho palavroso a arrimar ao erudito, mas oco; a informação concreta que se dele tira cabia em duas frases curtas: o Theatro da Avenida foi inaugurado em 1888 na novíssima Avenida da Liberdade. Ardeu em 1967 e foi demolido em 1970.
O resto é nada, inflado de coisa nenhuma:
Cultura nacional, meus senhores, como expelida pelo centro oficial da dita... Bom!... Norberto Araújo apenas soube dizer, do Theatro da Avenida, isto:
Do lado nascente, no enfiamento do Salitre [Av. da Liberdade, 150], subsiste ainda [1939] o Teatro Avenida.
O Teatro Avenida foi construído nuns terrenos que aqui possuía João Salgado Dias por inciativa dêste, ligado a Alexandre Mó, e a Ernesto Desforges. Inaugurou-se em 11 de Fevereiro de 1888 com as comédias «O Tio Torcato» em que entrou Taborda, e «De Herodes para Pilatos», com António Pedro.
Esta casa de espectáculos -- que nunca caiu em cinema -- também está ligada à história do teatro português; foi o grande teatro de Sousa Bastos, e o palco de glória de Palmira Bastos, na mocidade.
Não possue êste teatro, que alguns restauros sumários tem recebido, um maior interêsse artístico.(Peregrinações em Lisboa, vol. XIV, 2.ª ed., Vega, 1993, p. 39.)
Ajuizai vós da fatuidade da cultura em cima e em baixo...
Fotografias: Theatro da Avenida, Lisboa. Perspectiva de cima Horácio de Novais, 1930, in B.A.F.C.G; perspectiva de baixo, Joshua Benoliel, [s.d.], in A.F.C.M.L.
(Revisto.)
Adenda: O Teatro Avenida de Lisboa.
Comprei o «Público». Eu ia com ideias ao «I», que é só uma letra, mais fácil de ler, portanto...
A senhora comprou uma revista de modas fashion.
«Costume de bain». Journal des Dames et des Modes, 1912-14.
Tornámos à praia; ontem esteve fresco (23º) e encoberto; tornou o vento. O homem que devorava livros não está; o Lincoln não veio; o homem montanha não sei se se já foi... Figurantes incertos, como o vento. Continuemos mais uns dias...
Título em gordas na p. 13 do «Público». O «Público» empenham-se na ortografia, mas sintaxe o «Público» não sabem.
«Banco de Portugal vai passar a supervisionar o Banco Espírito Santo» -- outro título gordo, na p. 16) -- Acordaram agora.
O cronicão João Espada, a p. 43, divaga nisto e naquilo a despropósito de Sophia Andresen e mete-lhe uma «questão procedural» porque não sei quê. -- Onde raio cavou ele este «procedural» agora?! Deriva de quê? Que significa? -- Oscila a seguir a «questão procedural» em «posição procedural»; dá em espadeirar-nos assim com dois «procedurais» pelo preço, talvez, de um chic a valer. -- Eia, valente Espada! A Sorça esteja contigo!
Imagem d' A Mais Louca Odisseia no Espaço, em...
Outra concessão à imprensa. Descobri que «O Diabo» afinal chega à aldeia. Noutros tempos procurei-o em vão. Calhou agora que perguntei por ele e sim, haviam-no. Mas também calha que o atiram para a prateleira mais alta; precisava ter 2m de altura para o achar abaixo dos olhos. Tenho-o agora aqui na praia onde, sem vento, o posso desfrutar.
Grande calmaria, hoje; água fria (18º); calor; ondas abaixo dos geolhos. O mar parece de leite, esplêndido para natacinhas.
Nota-se que uma máquina alisou a areia esta manhã. Sente-se um cheiro, não é mar nem pinheiro, não sei que é. Imagino se deitam algum desinfectante na areia, estes alisadores da dicta... -- Artifícios de tourisme de massas?
Não acho caras na praia. Ontem vimos o Saddam...
Algarve (c) 2014
Repito-me: testes de laboratório o comprovam; o mero enunciar do nome de Salazar provoca reflexos condicionados numa vasta legião de morcelas.
E torno a repetir-me. O que novos testes de laboratório vêm mais e mais a provar é já nem ser preciso enunciar o nome de Salazar, basta referir qualquer coisinha que absurdamente avive nos bestuntos contemporâneos a ideia dos 48 anos de fâchismo, mesmo que não tenha nadinha que ver!...
A última morcela a servir de cobaia nestes testes apresenta sêlo de garantia do I.S.C.T.E.
Cá está o malvado Salazar.
Ao que se diz, na verdade, antes se lhe deve a salvação ermida da Sr.ª da Saúde -- único edifício salvo da razia geral da baixa Mouraria -- justamente por devoção particular de Salazar.
Quanto à demolição da Mouraria e alargamento viário da Rua da Palma, os projectos da C.M.L. vêm pelo menos dos anos 20. Uma busca rápida no arquivo municipal do Arco do Cego dá a prova.
Que tem Salazar com as ideias progressistas da C.M.L. em 1926, afinal?
C.M.L., Arquivo do Arco do Cego, Estudos dos novos arruamentos entre o Poço do Borratém, ruas do Arco do Marquês de Alegrete e rua da Palma, 27/9/1926 (PT/AMLSB/CMLSB/UROB-PU/10/003/05, p. 2).
C.M.L., Arquivo do Arco do Cego, Anteprojecto de prolongamento da avenida Almirante Reis entre o Socorro e largo de São Domingos e da ligação da rua da Palma entre a Guia e o Poço do Borratém, 17/11/1926 (PT/AMLSB/CMLSB/UROB-PU/11/851, p. 1).
(Photo-montagem a partir do Livro das Fuças.)
E vai o segundo dia sem vento. Estranho, mas não me queixo. Cheguei a convencer-me de que nunca deixasse de soprar vento nesta praia. Mais que posso dizer agora é que a água continua fria. Quanto ao resto pouca novidade: o homem que devorava livros lê devotamente o «Público»; os devotos da vida saüdável continuam peregrinos, para cá e para lá, conforme os leva a crença; paradoxalmente a embocadura da praia é um formigueiro de sapiens sapiens sedentários; se aqueloutros peregrinam pela rica saüdinha às aras da vida sã, os últimos prostram-se a Hélios no primeiro m2 de areia que acham.
Concessão à Radiotelevisão Portuguesa brasileira que ontem colou o novo folhetim à 50.ª corrida da TV por môr de maior publicidade. Mérito a algumas caras que por genuína afición se não escondem dos toiros; a Cinha e o treinador José Peseiro; este como bom aficionado não deixou [de] lamentar aos microfones da R.T.P. o fim do magazine tauromáquico dos sábados. Parece-me que caiu o recado em saco rôto. O Cáceres há-de tê-lo ouvido, mas não piou...
50.ª Corrida TV, R.T.P. em directo, 2014.
Os peregrinos da vida saüdável vêem-se poucos à tarde. Admito que de tarde esteja mais calor para romagens às aras virtuaes da vida sã pela beira-mar (e que até faria mal), mas, e à tardinha, quando a caloraça amaina? Será por coincidir com a hora do terço?...
Algarve (c) 2014
Hoje trazemos merenda, ficamos o dia todo. Vamos um bom pedaço mais lá para deante, além donde se os humanos apinham. Além mesmo donde as gaivotas vão... largar a carga...
Afinal não fomos tão além.
Algarve (c) 2014
Aqui ao lado, à nossa beira, chegam pae mãe e filha. Pousam a tralha, cravam o chapéu, deixam a filha a tomar conta e abalam, pae e mãe, prestes, para levarem uma velinha ao altar da vida sã. Juntam-se aos demais devotos da vida saüdável que formigam como costume, para lá e para cá. Um que passa com passada comprida venera, porém, a um deus menor: vem equipado como os da selecção de football; junta às passadas largas um abrir de braços como, querendo dominar o terreno de jogo, não dando espaço ao adversário. Como objecto de veneração traz vestido o n.º 7.
As ondas marulham ao longe na maré-baixa. O Sol a pino despeja uma modorra calma sôbre o areal; aqui a senhora dormita; vista da toalha a païsagem tremula no calor; a espaços, som de vozes, distinctas, quase se lhe percebendo palavras. A falésia atrás apruma-se, alaranjada contra o azul que rebrilha. Em fundo uma cigarra compõe a canícula, que o rugir dum motor vem contrariar...
Algarve (c) 2014
Não é o de 88.
Incêndio, Chiado, post 1954.
Fotografia, A.N.T.T., Fundo d' «O Século», Joshua Benoliel, cx. G, lote 0, negativo 345.
Tempo encoberto, como ontem. Vamos à praia só de tarde; imos mais cedo, o calor na' aperta...
Ante nós há um pastiche algarvio. Condimento-o no meu espírito com rememorações de estiagem a valer, canícula das antigas, em que o mormaço à tarde modorrentava o chilreio dos pardaes e os corpos da gente e, nas noutes, embalava a fadiga aos pinheiraes onde uma agulha não bulia. Pensamentos vãos num Verão pastiche de Primavera atrasada. Nem o calor é já o que era. O pastiche de subúrbio, ante nós, é imagem disto mesmo que é.
Zarôlho, Má-Cara, Gineto, Carraça, Sagüi, Gaitinhas, Guedelhas, Malesso, Doida, Manel e M.ª do Bote, Rosa Coxa, são alcunhas. É malta dos «Esteiros», do Pereira Gomes. Fossem de Eça, seriam figuras de galeria com melhor garbo. Em vez de alcunhas teriam cognomes.
A frase é de Eça, para dizer o castiço que se dissolve na civilização e no progresso. Leio-a em João Gaspar Simões, Vida e Obra de Eça de Queiroz, 3.ª ed., p. 163. O pastiche que vejo ante a varanda invoca-me, pois, as meiguices primitivas do Algarve.
Outra ideia que tiro de Eça naquele livro é a de que os deuses do Olympo, se se não deixam morrer nas florestas, acabam empregados numa qualquer secretaria. O progresso e a civilização tudo esmagam. Se o «genius loci» do pinhal do concelho se não deixou já aqui imolar com os últimos pinheiros, foi porque se filiou num partido e acabou empregado na câmara de Albufeira.
O areal ampliado pela baixa-mar é um afã de gente beata: uns que vão, outros que vêm; todos demandam o mesmo: o resplendor da vida saudável. Intrigante é caminharem em sentidos opostos, todos, pelo mesmo; como se o graal estivesse tanto para lá como para cá, que o mesmo é não estar em lado nenhum. Ou está: na sua crendice induzida. Uma crenndice que se lhes reconhece mais febril conforme caminhem mais apressados.
Não é dos crentes. Se crê nalgo, é no «Público», que será outra crendice. Lê-o sob um chapéu de limão.
...
Fechou o jornal, mudou de crença; afinal deu em romeiro, foi para lá...
Vimo-los ensacar a mercadoria anteontem, temporões e apressados. A barraca ficou deserta. — Fuga à A.S.A.E.? — A senhora aventou festa; havíamos de lhes dar três dias. Três dias passados, ei-los de volta à venda, aai!
Há dias atmosfera estava lavada. Esta manhã há névoa fina sobre o mar e nuvens daquele lado... Não se anunciam ondas gigantes... Temperatura do ar amena, fresco à sombra; água fria; dão-na a 19º, mas nã' deve passar dos 18º — o meu pé fez de termómetro.
...
Melhor de tarde; sem vento; a água aqueceu, mas não se pode falar em caldo. Poucos humanos, menos romagem para cá e para lá. Calhámos tornar esta tarde justamente ao mesmo lugar da manhã: entre os espanhóis da sombrilla laranja e a moça de biquini verde, toalha escarlate, saco amarelo e que está a ler o livro branco à sombra do guarda-sol azul.
A melhor tarde.
Desenhos em P.C.P. ponto PT e «Ler antes de morrer».
Fotografias: Algarve (c) 2010-2014.
Parece-me que o bairro novo da Encarnação veio a ficar na zona de olival. O arvoredo maior, com algum romantismo, pode ser que seja o que separa ainda hoje o bairro da Av. Cidade do Porto. E a estrada que se desprende pela esquerda é a Rua da Quinta de Santa Maria que liga à praça Norte, onde temos hoje a Associação Desportiva e Cultural da Encarnação e Olivais.
Parece-me, mas mais certo é isto ficar no lugar do viaduto do R.A.L. 1 e a rua que digo ser da Quinta de Santa Maria, ser antes a Dr. Alfredo Bensaúde. Ou por ali, enfim!...
Rotunda da Encarnação, Lisboa, 1944.
Eduardo Portugal, in Archivo Photographico da C.M.L.
A melhor invenção desde que inventaram o...
O melhor invento para o vento não levar o...
A melhor invenção desde que haja...
Hoje anda a fazer caretas. E a água continua fria. Sofrível. Vento como de costume; dá-me ideia de que esta praia nunca despede o vento; pelo menos de há dez anos para cá, que nos 10 anteriores não cuidava eu em tais defeitos... Um único me lembra: o calor; tanto assim que por uma alergia acabei freguês do ... até hoje.
Poucas gaivotas pairam por aqui. Em tempo houve pára-pente, mas acabou. -- Gaivotas sem penas...
Aqueles trouxeram o piruças para a praia...
São cegos.
Fotografias: Algarve (c) 2014. Rosca em Tribord.
Há qualquer coisa de desolador na praia com este vento. Mesmo com gente à volta a sensação de desolação impõe-se. Tento entrar na água e sou o único; o restante queda-se nas toalhas, acoita-se atrás dos chapéus de sol tombados fazendo de pára-vento. A quietude dos veraneantes contrasta com a agitação forte no pano dos chapéus reforçando a sensação de desolação que me dá. E quem passa, passa vestido, agasalhando-se do vento fresco, segurando os sombreiros. Mas nem todos...
Algarve (c) 2014
Passou agora uma ali com umas asas tatuadas nos lombos. Que perfeito injinho!...
A pp. 163 dá o Soeiro a definição do Comunismo: -- « [...] na quadrilha, riscos e lucros eram repartidos por igual.» -- Perfeito! Definição cabal da coisa só pela «quadrilha». A repartição por igual é sofisma para... para injinhos.
Nos Classix Nouveaux havia um vocalista careca. Sentou-se aproximadamente aqui a três, quatro metros!...
(Imagem: Discogs)
As tias avisavam-nos ontem de orcas no Algarve. Além disso, a tia Antónia avisava mais dos fundões, das arribas e de tantos perigos caídos da invernia para os noticiários. As tias andam muito a par destas notícias assim e com isto põe-se a senhora candidamente para mim, ao depois, que lhes devemos tomar os avisos a sério...
Toda esta conversa de orcas, &c. me traz à lembrança o cinema catástrofe e o Paulo João. O Paulo João não era nenhum génio e quando se pôs lá na rua com a fanfarronada de que já vira o último grito em filmes catástrofe, saiu-lhe: -- «Fui ver a Càrota, a baleia assassina.»
(Recorte da Orca em Vamos ao Nimas.)
Um estimado correspondente referiu-me gentilmente um sublime trecho de música, o qual, se houver por bem, e se gostar tanto dele como eu, gostaria que partilhasse com o resto da nossa cibernética família. O seu autor, Francisco Filipe Martins — pode não o conhecer e daí a ref. — teve o seu passamento há cerca de um mês, donde, como dizia o saudoso António Silva: — «Deste, já não há mais!» — A guitarrada chama-se «Canção da Primavera»; que nome adequado, não acha?
Acho sim senhor! E acho poder ouvir-se com prazer mesmo no pino do Verão. Obrigado!
Imagens de Coimbra: Charles Chusseau-Flaviens, in George Eastman House.
Manuel Telles Bastos, Figueira da Foz, 2014.
(Corrida R.D.P. - TV.)
Perderam a cabeça. Para a semana há mais.
Querem fazer da Ginga heroína e por pouco uma benemérita. É sempre a velha história do bom selvagem, do indígena em estado puro até à chegada dos portugueses...
... Não tem direito a ser pronome?
(Conjugador da Priberam.)
Lista de pronomes pessoais discriminados pela novíssima Gramática: a gente, a malta, o pessoal, o people, vossemecê (este por ser dos modos da sopeira se dirigir ao chauffeur), &c.
Viemos cedo esta tarde. Vento fraco; costuma soprar mais rijo pela tarde (nem de propósito, como deu em soprar justamente agora). Preia-mar, praia encolhida, e já cá vejo a família do homem montanha, em que os cavalheiros são de ler o jornal e as damas de ler revistas. -- Por acaso uma das senhoras está a ler um livro. -- Por outro lado, eu sou o dos calções amarelos, numa toalha amarela, com uma almofada amarela. Quem me queira descobrir procure-me debaixo dum chapéu verde às riscas, escrevinhando...
Peguei nos «Esteiros», que releio, e adeantei uns capítulos. A passagem de o Gineto ser «um merda» vem a pp. 71 (1.ª ed., fac simile do Público). Calhou-me lê-la numa aula quando me impingiram o neo-realista Pereira Gomes na disciplina de Português do 7.º. Confesso, naquele tempo, hesitei a leitura deste passo; a professora Ilda instou-me a continuar. Severamente, com o mau modo que tinha: -- «Parou de ler porquê?! Continue!» -- Ninguém se atreveu a rir, que era o meu medo. Há-de ter sido a única vez que tirei gozo duma repreensão duma professora. E disse «merda».
Quando há pedaço contei a historieta à senhora, perguntou-me se não era a professora comunista, por ser tão sisuda com o Soeiro Pereira Gomes. Calhando era.
Recebemos recado... Gás ligado. Banhos frios, doravante, só na praia.
Algarve (c) 2014
Desta vez não quisemos o ..., o do costume, para castigo de lento servir e apressadas contas... Viemos ao ..., o rei dos frangos. Poucos bípedes (dos sem penas) para comer. Estranho!... Nem houvemos de esperar.
Algarve (c) 2012
Hei-de comprar azeitonas e pão; amanhã vou ser frugal. A barriga cheia deu-me agora tal inspiração.
No telejornal deu uma reportagem com um Fittipaldi apanhado 230 km/h numa auto-estrada. Tinha pronúncia do Norte, carago, e à Guarda justificou-se -- «Pensei que vinha a picar-se comigo e afinal... era a Guarda.»
Com o jornalistas que lhe perguntaram por que vinha a 230 km/h ainda teve mais espírito: -- «Foi porque havia um à minha frente, que senão vinha a 300.»
Emerson Fittipaldi no McLaren M23 parado nas boxes, Silverstone, 1975.
In Diário Motorsport.
O título é um suspiro que deveio em graçola nossa bem calhada às crónicas estivais que por vezes boto ao papel. Estas são de...
Tempo fresco. A senhora diz que sim, mas que está bom, há pouca gente... Acho muita; sempre mais do que a minha misantropia aprecia. Afastamo-nos da embocadura da praia.
Algarve (c) 2012
Tempo meio fresco: a brisa habitual cuja constância incomoda. O chapéu cá se aguenta com os puxões do vento; comprámos um parafuso que firma o chapéu de sol na areia, para não voar. A coisa parece funcionar.
Dos boletineiros do teletexto tirei a água a 20º. -- Não sei!... Parece mais fria. Mas só até às primeiras braçadas...
A atmosfera está lavada, sem raspas de neblina; não sei se houve chuva por aqui nos últimos dias (choveu em Lisboa até anteontem...)
Esquecemo-nos das maçãs... Não temos gás... À saída de casa já lá vinham da praia aqueles velhotes madrugadores que reconheço. São as primeiras «caras» deste ano.
Esquecemo-nos da água.
Não me lembrou já que este lugar possui um genius loci? Chegámos ontem á meia-noute. Os automóveis são casulos estanques; quando abro a porta diante dos tios envolve-me de assalto a aragem do pinheiral. Primeiro encantamento.
Enquanto tiramos a bagagem cantam grilos; dali a nada tenho-os em coro com a Amália, que pus a dar baixinho no transistor fanhoso. Resgato uma cerveja perdida do frigorífico e ponho-me no breu debaixo dum céu de infindos pontos de luz. Segundo encantamento.
Algarve (c) 2011
E o sono tolhe este autor liru. Imos dormir.
Sardinhada. -- Diz-me a senhora que se vai lambuzar de praia este ano; dispõe-se bronzeamente a ficar morena. (!) -- E as sardinhas ainda estão ao lume...
Sardinhada de Vasco, in Aldeia das Gralhas
Avenida desafogada, mas com estacionamento bem composto.
O autocarro de dois pisos mais cá (não é o que vira à esquerda) parece um dos novos autocarros que vieram em 1947, da marca Leyland, que tinham cabina à direita e que, precisamente por serem tão altos, deixaram muitos lisboetas com receio e admiração. Digo que é um daqueles primeiros autocarros, pela pintura, que difere da do que vira à esquerda para a Manuel da Maia ou para a Av. do México.
Av. de Guerra Junqueiro, Lisboa, 195...
António Passaporte, in Arquivo Fotográfico da C.M.L.
E a que escadote terá subido o fotógrafo para bater esta chapa?...
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