Apprendi a palavra «sirigaita» com a minha mãe. Quando se casou em 1956, a minha mãe foi morar para a calçada de tal lugar, 67. A uma vizinha -- a D.ª Adelina que já lá morava -- ouviu, sem querer, dizer como soem dizer vizinhas: -- «Quem será a sirigaita que se muda para cá?»
Ficaram amigas. Tanto que a D.ª Adelina ainda nos annos 80 e com oitenta e tal, rija, visitava a minha mãe para tomar chá e conversarem.
Numa d'estas vezes, por esses annos, estava o Brooks comigo a jogar Monopoly ou algo que o vallesse e, como cumprimentei a D.ª Adelina á chegada, educadamente me imitou elle. Mal as senhoras passaram ao chá, porém, e nos deixaram á vontade, perguntou-me elle desabridamente: -- «Quem é aquella velha tão feia?» -- Admirei-me da observação pois, conhecendo eu de sempre a D.ª Adelina nunca me occorreram juízos d'aquella ou d'outra ordem quanto á sua belleza. Para mim a D.ª Adelina era simplesmente a D.ª Adelina.
Mais tarde devo ter fallado do caso a minha mãe que me ahi, então, contou só a historia da «sirigaita» sem commentar o resto.
Imagem: J. P. Machado, Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa, 4.ª ed., Horizonte, Lisboa, 1987.
(Revista a translitteração greco-romana em 1/10 ás dez e um da manhã.)
Houve um autocarro que em tempos circulou da Praça de Londres para o Centro Sul, em Almada. Era um desdobramento do 40 que ganhou alforria como 54. Certo dia meti-me nele...
Centro Sul -- 54, Arco do Cego, 1976.
Guy, in Flicker.
[Afonso Costa] pouco depois de desembarcar na estação de Entre Campos [para succeder a António Maria da Silva no govêrno], cercado de jornalistas, amigos pessoaes e politicos, entre os quaes se vêem os srs. Manuel Duarte, Álvaro Costa, Barbosa de Magalhães, Viriato Lobo e Germano Martins, representante do jornal «O Seculo».
(O vesgo á direita não será director da SIC-N?)
Cliché de Salgado.
Cavalaria, Hipódromo de Belém, 1890-1910.
Foto: Charles Chusseau-Flaviens, in George Eastman House.
Quem disse que Carlos e Ega são, à uma, alter ego de Eça foi João Gaspar Simões na «Vida e Obra de Eça de Queirós». Que o Botelho o tenha bebido por lá não terá, pois, novidade.
(Imagem: Alfarrabista do Quinto Planeta.)
Multidão de peixeiras, mercado da Ribeira Nova, 1900-1919.
Fotografia: Charles Cusseau-Flaviens, in G.E.H.
Aguadeiras, Portugal, 1890-1910.
Foto: Charles Chusseau-Flaviens, in George Eastman House.
Alvores da Av. 28 de Maio. Como o 28 de Maio anda invertido na Historia ensinada pelo regimen de 25 de Abril, esta imagem está invertida no archivo photographico da camara municipal. Symptomatico?...
Bom, referências.
Á mão direita a cêrca do extincto mercado do Rêgo. N'este tempo ainda se construía...
Ao fundo da avenida em construcção a estatua aos heroes da Guerra Peninsular, largo vulgarmente designado hoje como d'Entre Campos, d'antes officialmente chamado Praça Mouzinho de Albuquerque.
Além do dicto monumento, a Av. dos Estados Unidos da America galgando a encosta da quinta da Quintinha até á cumeada onde se desenha a rotunda da Av. de Roma (mal se a lá percebe).
A serventia que d'este lado corta a Av. 28 de Maio, junta á placa central arborizada, é a do Cinco de Outubro (data infausta...) -- Assinale-se que aquelle trôço arborizado lá ao fundo foi primeiramente designado Av. dos Estados Unidos da America por edital de 7/8/1911, muito antes de se rasgar a sua continuação para Nascente do Campo Grande cuja extensão do toponimo foi determinada por novo edital de 29/7/1948. Por fim, sómente n'este trôço a Nascente do Campo Grande permaneceu tal toponimo.
Do lado do Campo Grande e para lá d'elle na zona dos Coroxéos vê-se o bairro de Alvalade assaz adeantado.
Contra o horizonte, a cumeada da Bella Vista inteiramente visível, desde as bandas do Areeiro (à direita) até à quinta da Graça, a par da Rotunda do Relógio (esquerda). A meio d'esta cumeada os mais atentos notarão o contorno duma casa de quinta: das Theresinhas; os modernos hão-de conhecê-la por colégio Suzanna de Valsassina.
Por fim, em se endireitando a photographia consegue lêr-se Algés na placa do camião. Não sei por que o diz.
Av. 28 de Maio, Lisboa, c. 1950.
Judah Benoliel, in archivo photographico da C.M.L.
Ah! Para os mais modernos: a Av. 28 de Maio procura-se no Google e nos mapas actuaes pela designação de Av. das Forças Armadas -- as que fizeram o 25 de Abril por fugirem do Ultramar, não as do movimento do 28 Maio.
Não me recordava que houvessem durado estes gaioleiros até tão tarde...
Demolição do troço final da Rua de Campolide, Sete Rios, 1996.
Miguel Waldmann, in Archivo Photographico da C.M.L.
Vista aérea de Sete Rios ao Lumiar e aeroporto, Lisboa, 1977.
Gonçalves, in Archivo Photographico da C.M.L.
Adenda:
Destaque do leitor José Lima a 25 de Setembro de 2014 às 17:36:
A dado passo das Aventuras de Basílio Fernandes Enxertado, sai-se Camilo com os dois mais desbragados estúrdios do Porto de 1847 a reviverem bambochatas de avinhada memória. Como me certa vez sucedeu com um ministro Lino, ocorreu-me de súbito aquele passo de Camilo ontem, não sei porquê, à hora do Telejornal...
Imagem: TV de São Bento apud Telejornal, R.T.P., 23/IX/14.
Estr. de Benfica entre a Palhavã e Sete Rios, Lisboa, 1961.
Artur Inácio Bastos, in Archivo Photographico da C.M.L.
Estrada de Benfica em Sete Rios no entrocamento com a [nova] Av. Columbano [e a velha Estr. de Campolide]. Neste ponto a velha estrada de Benfica foi desviada primeiro, truncadaao depois. Neste ponto confrontava a quinta do conde Farrobo -- ou do Jardim Zoológico -- com a estrada; havia um muro alto. Deste ponto, para a esquerda, seguia a Travessa das Laranjeiras, serventia que ligava a Estrada de Benfica com a Estrada das Laranjeiras em Sete Rios. Deste ponto para trás (para diante na imagem) deixou a estrada de Benfica de ser Estrada de Benfica para ser Rua Professor Lima Basto, mas só até à Palhavã -- daí a S. Sebastião crismaram-na Rua Dr. Nicolau Bettencourt. — Deste ponto em diante (i.é, para trás do fotógrafo) sobrou a Estrada de Benfica que temos, salvo o troço demolido debaixo da 2.ª Circular à Fonte Nova...
Estrada de Benfica, Sete Rios, 1961.
Artur Inácio Bastos, in Archivo Photographico da C.M.L.
É geralmente sabido que a memória é curta. Não será por falta de auxiliares...
Hoje (ontem) tivemos inundações na Palhavã. Uma coisa nunca antes vista, no dizer dum popular, há 40 anos aqui... -- Bom, dos últimos 40 anos deixo aos pés de microfone o procurarem notícia de inundações no lugar, eles que são exímios em estatísticas do género d' o Verão mais frio dos últimos 25 anos.
Esta agora soma mais de 40 anos, é de 1946, mas retrata o exacto local duma das cheias de hoje (ontem): os baixos da Palhavã (vulgo Pr. de Espanha), justamente na embocadura das actuais avenidas de Berna e António Augusto de Aguiar. -- Para melhor localização, sabei que tendes na imagem a Av. de Berna à mão direita, a Estrada de Benfica segue para diante (começava no Largo de S. Sebastião) e, à mão esquerda, sem se ver, fica o palácio Azambuja, onde funciona actualmente a legação de Espanha. A casa mais próxima do eléctrico era pouco mais ou menos onde poisa o arco triunfal trasladado da Rua de S. Bento para aqui. Ao fundo, por sobre um casarão brasonado que bifurcava o caminho, sobressai o bloco hospitalar do Instituto Português de Oncologia que se inauguraria em 1948. -- Do que vedes, pois, não são novidade nenhuma as inundações no exacto lugar da Palhavã (vulgo Pr. de Espanha) onde se hoje (ontem) deram. Do mesmo já tivéramos notícia em 1912, no tempo ainda do velódromo...
Inundação, Palhavã, 1946.
Ferreira da Cunha, in Archivo Photographico da C.M.L.
Agora que as gaitas de foles se calaram com a secessão (talvez só até à próxima geração), haviam os comuns ingleses de fleumàticamente exigir também um referendo: se aceitam ou não os montanheses dalém da muralha de Adriano no seu reino.
Haendel, Música Aquática: Alla Hornepipe.
(Hervé Niquet, Le Concert Spirituel, B.B.C. Proms 2012.)
Terra portuguesa com rua direita, calçada, ruas travessas, posto de telefone público e bomba de gasolina. Algures na primeira metade do séc. XX, é o que conjecturo.
Povoado, Portugal, s.d..
Fotografia, A.N.T.T., Fundo d' «O Século», Joshua Benoliel, ....
Adenda em 23/IX/14:
O leitor Marques descobriu o lugar. É a Vila de Monforte, mais precisamente (segundo comentário anónimo que não sei se é o mesmo) a Rua do Visconde da Luz...
A quantos se ouve hoje o u de Guiana e de guianês? Perdeu-se na simplificação dos acentos do Acordo Ortográfico de 1945. Simplificação que o Acordo Ortográfico de 1990 estultamente piora em (entre outras coisas) querer tirar o acento gráfico a argúis, redargúi (confesso que aprendi o verbo redarguir pela leitura e enveredei por -- naturalmente -- lhe não pronunciar o u, até aprender...). Pois ou me engano ou não tardamos em ter os neoletrados de 90 para aí a dizerem arguis como se o ouvem já os iletrados do eduquês enunciar o verbo arguir: sem se lhe ouvir o u. É como quem diz sequestro (sekestro) nas TV.
E ao depois há-de a simplificação continuar, extirpando-se os uu emudecidos pela engenharia lexicográfica: ficaremos com Giana, gianeses, mas ninguém redargirá por não saber que é argido de burrice.
(Recorte de Rebelo Gonçalves, Tratado de Ortografia da Língua Portuguesa, Atlântida, Coimbra, 1947, p.182.)
Do meu querido e generoso amigo Sr. António Fernandes, que bastas vezes me obsequia com achados das suas colecções. Esta manhã estendeu-me de mansinho um tomo com a contracapa para cima... -- Trago-lhe uma coisa, a ver se lhe interessa.
Quando o viro e vejo o que é, exlcamo -- Isto é obra rara, senhor!
Fez a maior questão de mo oferecer.
-- Sim senhor, com certeza... -- rendo-me, mas não incondicionalmente. É obra rara e de certeza lhe custou boa soma. Fiz menção de lho pagar, já que era um enorme o favor que fizera em ma achar. Insiste-me que não e diz-me que a arrematou na Feira da Ladra por valor tão ínfimo que o envergonharia dizer-mo. E desarma-me: -- Um livro com esse título não há-de ser destinado a si? -- e saiu.
Resta-me fazer-lhe público e penhorado agradecimento.
Adamastor (O)
Apartado 53
Bic Cristal
Blog[o] de Cheiros
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Chove
Cidade Surpreendente (A)
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