(Ben E. King, Don't Play That Song, 1962.)
(Este verbete quase repete um de há anos.)
Em menino achava maturidade nos crescidos. Os avós, os pais, os tios, a sr.ª D.ª Maria do Rosário que foi minha professora primária falavam assisadamente, soavam como gente grande e não me parecia que dissessem disparates. Estivesse frio diziam-me agasalha-te! sem muitos nhanhanhãs; se porventura perguntasse por que estava frio diziam-me que o Inverno é a estação do tempo frio. Isso mesmo também dizia o livro da 2.ª classe...
Nas TV das notícias sobre o cão que mordeu o homem informam a cada hora do frio de Dezembro. Parece que haverá temperaturas abaixo de zero pelo Norte...
Extraordinário!
O corolário são uns conselhos em português... ceboleiro: -- Aconselha-se o uso de várias camadas de roupa!
A geração rasca (a minha) não ensinou sequer a dizer «agasalhe-se!» a esta nova geração diluviana de trivialidades e agora parece que há uma desgraça em cada estação do ano. Duas gerações cuja mentalidade hibernou na creche debaixo de muitas camadas de roupa de marca. Essa a desgraça!...
Página do Livro de Leitura da Segunda Classe (Ministério da Educação Nacional, 1968), in Santa Nostalgia.
Av. de Dom Rodrigo da Cunha ao amanhecer em Dezembro de 73. Sem risco de UVA A nem UVA B, portanto...
Av. de Dom Rodrigo da Cunha tomada da do Aeroporto, Lisboa, 1973.
Arthur Pastor, in archivo photographico da C.M.L.
Ou da juke box da leitaria lá da rua. Ressoa-me agora isto, sei lá eu porquê...
Adriano Celentano, Don't Play That Song (You Lied)
(Versão de 1977 ao vivo em 2008.)
« Na educativa (!!!) rubrica da RTP destinada a pôr o rebanho a falar segundo o chamado acordo ortográfico assisti hoje ao [seguinte] exemplo:
- Traz o teu amigo também
- Trás o teu amigo também
Depois das perguntas da repórter pela rua sobre se traz se escrevia com «z» ou com «s» e acento, a decisão chegou, sábia, de que era com «z», porque correspondia à terceira pessoa do singular do presente do indicativo do verbo trazer.
Perante isto, é imperativo fazer qualquer coisa. Ou mesmo fazer qualquer coisa na terceira pessoa do singular do presente do indicativo [...]»
Nelson Reprezas, «É IMPERATIVO fazer qualquer coisa», in Espumadamente, 18/XII/14.
* * *
Já cá disse da dissolução cultural do índígena por esse instrumento do abastardamento pátrio que é a R.T.P., mas não só... O caso é todavia mais fundo pois mesmo os que queremos, procuramos e nos esforçamos por escapar dos camadões de ganga estrangeira com que nos forram a burrice avulsa e com que nos ferram a imprensa, a rádio e a TV, já nos havemos com defeito.
No tempo e no modo em que a voz do bom povo ditou a Gramática por gerações não havia grande dúvida: a 3.ª pessoa do singular de trazer nunca se confundiria com a 2.ª do imperativo. Para fazer qualquer coisa pelo problema bem posso dizer: traze os amigos todos e, se tens amigas, traze-as também... Ainda assim seremos nada. A civilização de subúrbio importada pelos suburbaninhos mais ilustrados tomou conta da cultura.
Cunha, Cintra, Nova Gramática do Português Comtemporâneo, 14.ª ed., Sá da Costa, Lisboa, 1998.
Martim Moniz de sobre os telhados orientaes da Rua da Mouraria (o que restava dela). A esperteza das demolições para desanuviar o trânsito na Rua da Palma não conseguiu mais do que atrofiá-la em acto contínuo com a notável edificação do Hotel Mundial....
O autocarro (um Daimler Fleetline) devia ser o 8 e o eléctrico do modelo caixote, talvez o 12. Apesar dos prédios decadentes e do estacionamento por tudo quanto é lado, conseguia ter mais encanto do que hoje.
Martim Moniz, Lisboa, c. 1970.
Francisco Leite Pinto., in archivo photographico da C.M.L.
No tempo das tardes de Natal com o circo do Billy Smart e das manhãs de Ano Novo com saltos de esqui na televisão também havia irmos ao cinema: havia os filmes do Trinitá ou do Gendarme no Avis com o pai do Zé, o sr. Possidónio; ou da Música no Coração no Roma ou da Heidi com lotação esgotada no Apollo 70, com a tia D.ª Margarida do Luís. São tudo rememorações de infância que me saem agora do baú, amalgamadas. Calhando algumas aí são do tempo da Feira Popular do Joselito do Poço da Morte, não do Natal. Importa pouco porque num caso ou noutro o hábito era assim, quando os crescidos que se dispunham a levar alguma miudagem do bairro, em rancho, ao cinema; tal como o era, ao depois, revivermos e tornarmos a encenar em brincadeiras de rua as maluqueiras vivas do Gendarme e do cowboy insolente (a Música no Coração era para meninas). -- Aquela do chapadão no mexicano aos 2'10" é que era. E o assovio da melodia não havia quem no não soubesse, todos o sabíamos.
Trinitá Cowboy Insolente, 1970.
Decorações de Natal, Lisboa, 1973.
Artur Pastor, in archivo photographico da C.M.L.
Adenda ao meio-dia e meia: apercebo-me agora de que é a Rua Augusta, tomada de N para S um pouco acima da Rua de Santa Justa; o archivista pôs a etiqueta mal e eu fui na conversa.
Sr.ª Feliz e sr. Sorridente no cimo da Rua do Carmo, diante dos Grandes Armazéns do Chiado no Natal de 1959. O sr. Sorridente sorria por disfarçar a sua visceral oposição ao Estado Novo escondida no bolso esquerdóide da gabardina.
Iluminação de Natal, Rua do Carmo, 1959.
Armando Serôdio, in archivo photographico da C.M.L.
O cavalheiro de chapéu de aba à porta dos armazéns é indisfarçado agente da P.I.D.E. que não suspeita da actividade subversiva do casal sr.ª Feliz e sr. Sorridente, mas só nós hoje é que democrática e òbviamente o podemos saber. Por causa do Vinte e Cinco DAbril e da liberdade...!
Desejos dum Natal feliz e sorridente!
Esta criatura meia alucinada aparece-me em todo o lado. Ontem esteve nos púlpitos da R.T.P. e da T.V.I. 24; só não deu na S.I.C. porque o ministro se empoleirou por lá primeiro. Esta manhã pregava no areópago da T.S.F.. Tão magno fervor e omnipresença assim numa criatura, se não é obra dos céus é diabrura do mafarrico. Certeza certezinha é ser sua única missão terrena vender a TAP.
(Fotograma: «Política Mesmo», T.V.I. 24, 19/XI/14.)
Anteontem passei de raspão no noticiário da Anna Lourença e ouvi um manuel dos Espíritos Santo dizer que naquilo dos submarinos «eu não intervi». Repetiu-o e ficou claro que não quando lhe ouvi «quem interviu foi a E.S.C.O.M.».
Bom, ele não interviu mas intervejo eu (eu intervejo, tu intervês, &c.; do verbo interver...) e intervedes vós que o caso deste manuel dos Espíritos Santo não foi de submarinos; foi de somarinos, pois o único que lhe calhou em trabalho foi ele somar...
Cuidei de mim para mim que isto havia de ter o seu quê de imoral: vá lá da justiça de alguém somar só porque sim, só porque calhou em estar para ali sem mais, sem sequer haver de comprar bilhete da lotaria antes nem nada! Òbviamente equivoquei-me nesta ideia porquanto ontem passei novamente de raspão no noticiário da Anna Lourença e ouvi-a dizer, exactamente como escrevo, que aquilo dos submarinos havia já, afinal, «prescrevido».
Vamos ver que a moral passou do prazo, vai daí somar por nada.
Dinheirama a jorrar ...
Estrangeiros autorizam portugueses a pescar mais 2/3 de carapau no mar de Portugal.
Naufrágio do «Senhora das Dores», Aveiro, 1922. In Memórias de Aveiro, Naufrágios.
Horário 33 d' Os Caminhos de Ferro.
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