Tendo ao fundo os pavilhões do Júlio de Matos logo supôs o archivista tratar-se aqui da abertura da Av. de Roma. Nada mais fácil, que vos parece?
Pois trata-se da abertura, sim, do troço inferior da futura rua de Fausto Guedes Teixeira (edital de 1948), como a observação atenta ao casarão meio encoberto pelo muro permite perceber. Os terrenos onde passeia a vereação da Câmara (?), onde escavam os operários, onde acampam ciganos, eram a orla Sul da antiga Quinta dos Castelinhos em que se edificou o hospital de Júlio de Matos.
Apreciável desbaste de terras para rasgar a serventia que ali havemos hoje. Cuido que o muro cujos restos se viam era de contenção de terras, que para lá teriam cota ainda superior à das terras que vemos para cá dele.
Fotografias:
Caboucos da rua n.º 8 do sítio de Alvalade (futura de Fausto Guedes Teixeira) nos alvores do bairro daquele nome, Lisboa, c. 1948.
Judah Benoliel, in archivo photographico da C.M.L.
Passei ontem no sítio retratado no postalinho e a passagem de nível foi evidente. -- Ironias!... -- O nível da passagem é inferior -- um desses túneis de má catadura, sombrios e ajavardados pela... arte urbana, parece que dizem... -- É o nível da cultura em direcção ao último estado da civilização: para baixo.
Do ponto do fotógrafo a vista avistava a estrada de Algueirão ladeada de casinhas portuguesas à Raul Lino, alcançando o horizonte: um outeiro com pinheiros (Casal da Cavaleira?). Em Portugal havia este lugar aprazível para morar ou para ir de comboio. Tome o benévolo leitor por lá modernamente as vistas nos sapatos do fotógrafo a ver a pós-moderna e tão apregoada mobilidade barrada (e borrada) nos muros que segregam a gare de embarque das ruas adjacentes. -- Não fora a derrocada do comunismo e Berlim mai-los subúrbios da Alemanha oriental haviam de se desmoronar de inveja. -- A vantagem no entanto é de quem embarque no comboio se não agonia com ver do lado de fora as ruas apinhadas de automóveis, redecoradas com os modernaços condomínios que filharam o chão às moradias e o romantismo ao lugar. Um aviso lhe faço, porém: se houver de comprar viagem nos tranvias saiba que não paga só a viagem; é-lhe exigido que adquira disciplinada e prèviamente o direito de poder comprar bilhete: um cartãozinho de 100 mil réis. Mas, sossegue: a companhia dos caminhos de ferro que lhe solìcitamente vende o bilhetinho de comboio vende-lhe com a mesma generosidade o direito prévio obrigatório de poder comprá-lo. Sem direito a reembolso.
Algueirão - Mem Martins -- Passagem de Nível, c. 1953.
Postal de Ant.º Passaporte, in archivo photographico da C.M.L.
(Revisto.)
Um orante rezando o terço ao fim da tarde pronuncia «crucifixão».
Bom! Há séculos que sabemos da Crucificação e de crucifixos. «Crucifixão», a não ser um crucifixo muuiiiito grãããande e pesado, há-de ser um novo calvário: o de desaprendermos agora tudo, até não sabermos a mais elementar linguagem.
Retábulo do Crucificado, Igreja de S. Jerónimo Real (S. Francisco), Braga, 1962-64.
Robert Smith, in Bibliotheca d' Arte da F.C.G.
Nota: claro que o Priberam cauciona já o estúpido vocábulo; como cabe lá tudo, até sniper, Deus nos valha!
O presidente do Intendente, primeiro-ministro do Rato, tem dois buracões a empecer a viação no cimo da Almirante Reis, ao Areeiro, e na Cruz do Tabuado, mas deve andar entretido noutras m...
(Imagem na Radio do Faial, entre outras.)
Não sei se a Sophia (à grega) alguma vez ancorou em Hidra nem se por lá avistou Pessoa ou se foi devaneio poético.
Sei de se ontem a emissora 2 pôr a cavalo na aluvião grega destes dias, estribada na Sophia evocando Fernando Pessoa em Hidra -- ou Hydra, à grega. Puseram com isso no ar um fonograma -- ou phonogramma, à grega -- declamado por Luís Cintra, ou Sintra, à portuguesa. Estranhei uma tónica aguda -- ou oxytona, em grego -- no Cintra a dizer Hidrá no primeiro verso, destoando do natural paroxítono grego Ύδρα -- que portuguesmente soa Hidra -- e a desarrimar-se ainda mais do terceiro verso debrucei-me ávida.
Liberdade poética, dir-me-ão. Pois, mas no descaso na liberdade da rima e da métrica, ancorou em Hydrá... debrucei-me avidá também dava ao poemeto...
Em Hydra, evocando Fernando Pessoa
Quando na manhã de Junho o navio ancorou em Hydra
(E foi pelo som do cabo a descer que eu soube que ancorava)
Saí da cabine e debrucei-me ávida
Sobre o rosto do real ― mais preciso e mais novo do que o imaginado
Ante a meticulosa limpidez dessa manhã num porto
Ante a meticulosa limpidez dessa manhã num porto de uma ilha grega
Murmurei o teu nome
O teu ambíguo nome
Invoquei a tua sombra transparente e solene
Como esguia mastreação do veleiro
E acreditei firmemente que tu vias a manhã
Porque a tua alma foi visual até aos ossos
Impessoal até aos ossos
Segundo a lei de máscara do teu nome
Sophia de Mello Breyner, in Os Poemas sobre Pessoa, apud Aprender até morrer.
Rebelo Gonçalves, Tratado da Ortografia da Língua Portuguesa, Atlântida, Coimbra, 1947.
Vende-se democracia a povos que não distinguem um preso político dum político preso.
Distribuição de propaganda, Saldanha, 191...
Joshua Benoliel, in archivo photographico da C.M.L.
Tirada do lado da pastelaria Luanda.
Av. dos Estados Unidos, Lisboa, c. 1953.
Salvador de Almeida Fernandes, in archivo photographico da C.M.L.
Três choupos num gaveto perdido do B.º de São Miguel. Isto é arquitectura, benévolos leitores!
Gaveto da Rua de António Ferreira com a de Frei Amador Arraes, Lisboa, 1964.
Armando Serôdio, in archivo photographico da C.M.L.
Ontem de manhã o pé de microfone da emissora nacional reportava grave e oficialmente de Atenas. Dizia das sondagens darem em primeiro o Siriza, em segunda a Nova Democracia e em terceiros os neonazis, e que isto é que era perigoso.
Os neonazis em terceiros eram os perigosos; comunistas em primeiros, nada...
Sátiros (Praxíteles), Museu Arqueológico Nacional de Atenas. (c) 2007.
Hoje a notícia na emissora nacional.
Há doentes com sucessivos agendamentos e cancelamentos de cirurgias para que administrações hospitalares não paguem operações no privado (Frederico Moreno, «Hospitais enganam utentes com falsos agendamentos de consultas e cirurgias», R.T.P./Antena 1, 23/I/2015).
«No privado»?! Agora falamos todos assim, não é verdade?...
Dantes falava-se a alguém em particular, agora só se faz tal coisa em privado. -- Não que esteja mal, mas, porquê tudo privado?...
Um paisano, um individuo qualquer, é um particular ou é um privado?
Dantes telefonavam por engano para minha casa, perguntavam se era do Liceu Felipa e respondíamos: -- Não senhor! É uma casa particular. -- Se isto viesse a dar-se hoje com um jornalista, responderia: -- Não senhor! É uma casa privada. (?!)
«Privado» é o particípio passado do verbo «privar» que tem o sentido de tirar ou recusar a posse de, o direito a ou, simultaneamente, de conviver intimamente com...
«Privado» é também adjectivo para dizer o que não é público.
Adjectivo!
Vender os bens nacionais a gente que financie a ideologia (ou a falta dela) no poder é moda desde pelo menos 1834... Sabemos que de sempre a jornalistagem abraça de alma e coração as modas e se agacha ao poder, mas, como actualmente não sabe mais de 30 palavras nem conhece a Gramática passou a dizê-lo (ao «privado») como substantivo, designando assim pessoa ou coisa particular. -- É isso aquele «paguem operações no privado.» -- O abuso do «privado» e a supressão do «particular» é mais um desses casos do amaricano a fazer de muleta a papagaios que não lêem, não aprendem, desprezam dicionários, ignoram o Português, e que devêm em parvajolas tão falhos de léxico corrente, trivial e quase infantil como ruir, derruir, desabar, desmoronar; claro que se despencam estrepitosamente do jornalismo, a colapsar, só a colapsar porque é o que lhes ressoa do amaricano.
Dizer «privado» por «particular» é anglicismo que já enjoa, senhores! Derivar «privatizar» (e porque não «privadizar», ou «privadar»...?) de «privado» é engano; grossa estupidez a cavalo do amaricano «private»; pois se privado deriva já de privar, porquê o rodriguinho dum novo verbo para dizer vender?!
É toda uma aculturação de quem desce ao seu buraco mcdonaldiano na civilização.
(Revisto. A imagem é dum repórter d' «A Patada» por aí.)
O escritor de livros detrás do subdirector apresentador detrás da infectologia da S.I.C. também diz sekéstro.
(Imagem catada no livro das fuças.)
Sabe o que é impatante? E sujacente?
Trítico?...
Elítico...?
Não sabe...
Bom, não digo que tamanhos disparates me admirem dada a mole de indigentes escolarizados que Portugal tem obrado para pendurar nas estatísticas. Mas não deixa de chocar o rol de bojudas asneiras que a I.L.C. desfia há semanas. Aldrabões e politiqueiros ditaram lei a afinar a ortografia pelos bestuntos mais imbecis, cretinos, ignorantes e iletrados que pode haver (o português modernaço); ora esses, impiedosamente, aplicaram-na. Agora cubram-nos de diplomas de doutor.
O recorte do escudo elítico é da página do Governo.
Em 20 de Janeiro, vae uma hora por inteiro. Quem no bem souber contar, hora e meia lhe há-de achar.
Saloios com uma carrada de hortaliças, Loures, 195...
Artur Pastor, in archivo photographico da C.M.L.
O Vasco dos Açores está aborrecido com a debandada dos «camones». É chato. O Vasco e gente como o Vasco, que sem centelha de patriotismo se empenha em vender-nos mediante comissão a quem der mais, já está por tudo; até o exército popular da China lhe servia para cobrir a retirada dos «camones» -- No domingo à noite, o presidente do Governo Regional dos Açores, Vasco Cordeiro, defendeu a possibilidade de as instalações da Base das Lajes, na ilha Terceira, serem usadas por chineses (Marta Moutinho e Mariana Adam, «Governo afasta China da base das Lajes», Económico, 19/1/2015). -- É curioso este Vasco não ter sugerido para ali os espanhóis; sempre capitalizava sem mais despesa aquele www.azores que é a marca registada do alcouce em que Portugal, com tratantes mercantilistas como esse Vasco, se tem tornado.
Bach, Concerto de Brandeburgo n.º 3 em Sol maior [3.º and. -- Allegro].
(Ensemble de Música Antiga de São Francisco, Voices of Music)
Esta gente do jornalismo, hoje em dia, é de dó. Que os bípedes que se locomovem por aí em geral leiam pouco mais que A Bola e nada mais saibam, ainda é como o litro; que se esperaria?! Mas que uma mole acreditada em viçosas licenciaturas ressoe essa vulgar estupidez iletrada nos noticiários, Deus nos valha!
Trasanteontem uma locutora moça tão ignorante como lhe quem lhe redigiu o teleponto noticiava um acontecimento no «portão de Brademburgo» (Brá-dem-bur-go). Foi na abrasileirada R.T.P. e daí o disparatado «portão» em vez de «porta». Já Brademburgo!... Donde brotou tal coisa!?
No canal ao lado, uma mais madura -- portanto com idade de poder ter adquirido um nadinha mais de cultura geral -- chapava em cheio, não com o portão, mas com a porta, vá lá! -- Mas de quê?
De Bràdemburgo, outra vez!
Em simultâneo, a esta última, aparecia no rodapé outra rafeirice... Desgraçada língua!
Jornal da Noite, S.I.C., 13/1/15.
Ganhou hoje foro de notícia radiofónica a velha questão de dizerem ró-naldo ou ru-naldo. Vão mais de sete anos que emiti sentença com moderado meio termo, mas, como dizia o outro, só os burros não mudam. Vem assim a ser que, empreendendo novamente na questão e achando agora a vedeta inflada com três balões doiro e eternizada em bronze a ombrear com as melhores representações da fertilidade, não podemos em nenhum caso dizer senão ró-naldo, com primeiro ó bem aberto, ao modo mais fadista e gingão.
Penedo Comprido ou Menir do Oiteiro, Monsaraz (prox.), s.d..
In Guia da Cidade.
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