O desfecho adivinhava-se. Adivinhei-o, mas só em parte...
Os aguadeiros municipalizados responderam-me tão cheios de razão, tão cheios de razão, que louvado seja Deus de me haverem telegrafado a resposta por e-mail. Se não, era certo e sabido que me custaria mais outro sêlo do correio.
Assim foi. Tinham razão em me estimar consumos porque, de lei, só têm dever de ir ler o contador de seis em seis meses ou uma fórmula legal assim. Tinham por conseguinte razãozíssima em me cobrar sucessivas estimativas de acordo com o histórico, em vez da água (que não consumi) e, sobre tudo, nem lhes falha o inalienável direito a receber no prazo... — Só não sei onde orquestraram o meu histórico de consumo de água porque só passados meses do fornecimento foram lá ler o contador.
Mas tinham ainda mais razão: extravios de facturas são da conta dos correios; nada consigo (com eles). Portanto consigo estava tudo certinho, contas são contas. De somarem à minha a cartinha rezistada com aviso de corte por extravio de facturas nos correios, nem me lembro o que disseram, se disseram alguma coisa...
Ponderando e sendo-lhes claro agora o histórico do meu consumo de água ser zero, a estimativa verteu-se a nada (Aleluia!) — Nada, salvo seja... Salvas as taxas e taxinhas, suas (deles) ou do diabo do governo a cavalo neles. E todos eles a cavalo em mim. O acerto far-se-ia...
Uma conclusão que tiro, limpinha: ando a financiar aguadeiros municipalizados, primeiro, pagando-lhes por sete meses água que não consumi; segundo, acabando seu credor em módica dezena e coisa de euros, aguento pacientemente o saldo de contas, factura a factura, mês a mês, por mais dois meses.
Outra conclusão, que não vou tirar porque me havia de sujar com palavrões, é sobre a cobrança de juros de mora da factura extraviada em Maio e liquidada de boa fé em 23 de Julho. Não me queixo do valor, òbviamente. É da moral que rege toda esta m... — perdão, este comércio!...
Arco da Travessa do Monte, Graça, 190...
José Arthur Leitão Bárcia, in archivo photographico da C.M.L.
Do caso do homem que matou três pessoas com caçadeira, diziam nos telejornais que foi desentendimento antigo de vizinhos por causa dum cão — disseram há um pedacinho no canal de informação da R.T.P que o cão foi ponto da discórdia. — Imagino o brado nas redes ditas sociais se tem morrido o cão...
Também não sei que releva ao caso o comentário (ou comunicado) do sindicato da polícia pedindo mais meios...
Deu-me agora aqui para isto; a soedade a bater deve ser do Agosto a avizinahar-se do Setembro e do Verão a acabar-se... *
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Enquanto a cidade inteira vai digerindo o seu jantar E todas as ruas e praças se lavam com essência de luar Enquanto as estátuas famosas bebem brandies e aveledas E as tílias se entreolham meigamente nas alamedas Vou guardando as margens Velando os lírios do jardim Enquanto à meia-noite encerra mais uma sessão E o senso-comum ressona tranquilo e pesado no colchão Enquanto a cidade inteira lava os dentes e faz toilette E os taxistas recolhem as sombras que restam da noite Vou guardando as margens Velando os lírios do jardim Enquanto a luz do promontório ensina a costa ao barqueiro E arde o rum forte no zimbório e traz lucidez ao faroleiro Vou pondo malha sobre malha com o labor dum tapeceiro Palavra, acorde, o som, a talha e a devoção de um mestre oleiro Vou guardando as margens Velando os lírios do jardim Enquanto a cidade inteira vai feliz na sua faina E o Sol boceja na ladeira ao som do martelo e da plaina Saúdo a bruma e o orvalho e a luz do dia madrugado Guardo as cartas no baralho, meu sono é enfim chegado Vou guardando as margens Velando os lírios do jardim |
Peguei no vol. de el-rei D. Fernando da série dos reis de Portugal do Círculo e li três capítulos. Não peguei na crónica de Fernão Lopes da Livraria Civilização por menos trabalho. O português medieval encanta-me, mas justamente por ele dispersar-me-ia. O volumezeco de Rita Costa Gomes (prof.ª dr.ª) é de 2005, mais ligeiro; pareceu-me que havia de ir por ele mais a eito. Ou pensava eu...
Há décadas que as cousas modernas por cá tendem aos baldões. Sem espanto notei que a onomástica e os topónimos no livro daquela prof.ª da Universidade Nova lhe saíam meios desgarrados. Fernão Lopes é tanto como é, como vem em ser «o cronista Lopes». Aleatòriamente. Estilo hesitante da autora, portanto.
As personagens históricas ora vêm grafadas em português, ora não, embora a forma escolhida seja ao depois coerentemente continuada pela autora. Assim, D. João Manuel, grande de Castela e pai da rainha D.ª Constança Manuel — a que foi mulher do nosso rei D. Pedro —, é D. Juan Manuel. Mas D.ª Constança nunca é Constanza. Nem em solteira lá em Castela...
A filha do rei D. Pedro, o Cruel, de Leão e Castela não é Constanza nem Constança; é Costança, mas deve ser gralha.
Afonso XI de Castela não é Alfonso, mas a sua favorita é Leonor de Guzmán, não de Gusmão. Henrique de Trastâmara (Henrique II de Castela) também não é Enrique, valha-nos...
João de Gante aparece sempre à portuguesa, o que lhe fica bem, mas é duque de Lancastre em vez de Lencastre.
Inês — ou D.ª Inês — de Castro é «a Castro», não sei se pela tragédia se por desprezo... Sem porquê, sua irmã é Juana e não Joana de Castro.
Critérios.
Nos topónimos reparei que as terras castelhanas tendiam a vir em castelhano (Toro — onde Afonso XI teve prisioneira D.ª Constança Manuel antes de casar com o nosso D. Pedro I —, Ciudad Rodrigo...)
Cuidei descobrir aqui um certo padrão: o pendor descai no português, salvo se for terra de Castela. Admitem-se excepções.
Das «cidades prósperas» do «corredor europeu da Europa mais densamente povoada» [?!] como Bruges, Estrasburgo, Colónia, Basileia, Génova e Florença nada aponto ao uso destes topónimos consagrados. Estranha é a referência a «localidades estremenhas como Tomar, Abrantes, Leiria e Alenquer». Nem estremenhas no Ribatejo hão-de ser, incluída ou salva Leiria que não é lá...
Edições decentes de livros de História, em português e não mui antigas, são já doutro tempo, e eram doutro modo, enfim!... Cuido se lhe punha maior rigor, havia regra de seguir o nosso cânone e a onomástica portuguesa consagrada. Talvez os vocabulários, prontuários &c. se hajam entretanto tornado supérfluos ante o internacionalíssimo novo saber da Academia portuguesa. Vai daí tornarem-se raridade manuseada só por certos bichos do mato.
E ia em intermitências cogitando nisto através do 2.º ou do 3.º capítulo quando achei a rainha D.ª Beatriz de Castela, mãe de D. Fernando, «em estreita associação com a famosa D.ª Isabel de Aragão sua sogra». E adiante outra vez «D.ª Isabel de Aragão» (*).
Bem verá o benévolo leitor, a custo, a sogra; trata-se da rainha Santa Isabel, a do milagre das rosas, rainha da paz, mulher de el-rei D. Dinis.
Ora cá está outro padrão, deste não tenho dúvida: mil vezes falasse a autora na rainha Santa, mil vezes lhe omitiria a santidade, ainda que no-la ensine famosa e... sogra. É o padrão laico, republicano e socialista, o que vigora na Academia.
A pérfida rainha Leonor Teles e quási sempre dona, todavia.
Rita Costa Gomes, D. Fernando, 1.ª ed., Círculo de Leitores e Centro de Estudos dos Povos e Culturas de Expressão Portuguesa [ah, pois é Portuguesa, é!], 2005.
(*) A tirada completa é D. Beatriz tinha vivido, ela mesma, em estreita associação com a famosa D. Isabel de Aragão sua sogra, da qual parece ter continuado muitas iniciativas e até um certo estilo de intervenção política em situações conflituosas e é, nos sublinhados que lhe ponho, não um certo mas todo um estilo do discurso corrente contemporâneo. O do jornalismo das TV e dos jornais. Ora vede se estreita associação em iniciativas de intervenção política não soa belìssimamente nos telejornais, hem!?...
Tirei hoje umas calças lavadas do guarda-vestidos — a sexta-feira é o dia informal («queijoal» à «amaricana»), mas mesmo assim… — Achei-lhe 0,50 € na algibeira. Foram à máquina de lavar e à engomadeira sem se perderem. Olha, deram-me há pedaço para uma bica no «vending». — Barato! Tive demasia…
Reflicto. O «vending» é tão bem apessoado!... Em loiça, cremoso, aromático, quase se cheira. A realidade é que vem em copo de plástico.
Também há jornais assim, mas em saco...
(Sortido de imagens made in Google.)
Um gato vadio esparramou-se a mandriar num dos bancos esponjosos do pátio. Duas senhoras enternecidas prostram-se de ante em admiração e inquirem colegas de trabalho se querem um gato. Tal o enlevo!...
Quando mo preguntam (*) respondo-lhes se já preguntaram ao gato se me quere ele a mim.
Acham-me graça, creio dos sorrisos que me dirigem. Talvez me admirem a tirada de respeito pelo felino sem me medirem muito o alcance...
Retiro-me com sua licença e com o recado de se me oferecerem um cavalo, aceito.
Campinos, Vila Franca de Xira, 1950-70.
Amadeu Ferrari, in archivo photographico da C.M.L.
(*) V. preguntar / perguntar.
Com este também não vamos longe. Arrola ainda por cima o acordita Seixas da Costa para defender o português e resvala na «coação» (por «coacção»). Vê-se bem como anda: é como omite o caco gráfico. Conversa.
O português não interessa senão aos Portugueses. Se interessou a outros foi sempre para sacarem qualquer coisa. Andar em quimeras de português «língua global» ou «língua internacional» não é trabalho; são enfeites. O português vale o que os portugueses valerem e não vale nada sem portugueses, com portugueses apátridas, ou a falarem «amaricano» porque sim, por causa da globalização, dos mercados, do chique, da estupidez, enfim!… O resto são quimeras. Usem os Portugueses naturalmente a sua linguagem e o resto (com licença) cagando e andando.
Estes gajinhos todos -- todos! -- há muito venderam as mães: a língua e a progenitora.
(Já pedi licença.) P.q.p.!
Alto do Parque, Lisboa, Dezembro / 2007.
In Arquivo de Brandão Ferreira.
Enviado do meu Smart Phone...
E o tempo urge...
(O Diabo, 25/VIII/15.)
O que diz o recorte é verdade, especialmente a parte dos humanos e o leão. Mas de Palmyra já alguém viu realmente o templo rebentado? Eu não. Nem, parece, os das notícias.
Mais. Ao trophéu de caça ninguém aceita o frete de o transportar para a sala de caça do dentista caçador, mas as relíquias de Palmyra muitos hão-de comprar.
O programa «Visita Guiada» é interessante. Mostra cousas de ver. Do que tenho visto os convidados são claros e sóbrios na exposição. Aprende-se. Já da apresentadora, a M.ª Paula Pinheiro, nem sei que diga: louvaminheira em exagêro, evidenciando-se com gestos exuberantes, irritantemente interpeladora, interrompe a cada passo e a despropósito, para dizer o quê?
Lugares-comuns. Tolices. Cousas que se esperaria do excursionista deslumbrado e inconsciente da própria ignorância, mas que à nata do jornalismo letrado, como parece que é a apresentadora...
Ao biógrafo do abade de Baçal, João Jacob, chega a corrigir a referência a achados archeologicos como documento (histórico) chamando-lhe objectos. Velada, mas imediata foi a resposta: — fosse um documento escrito, fosse um documento archeologico. — Tal a curteza de vistas que não vejo como ela (ou quem realizou o episódio) o chegue a alcançar... Já no arranque do programa castigara a syntaxe do português: — Neste museu estão reunidos grande parte dos achados archeologicos &c.
Grande parte estão, ou grande parte está? — Pois!...
Isto para nem falar do genérico bilíngue do programa, sendo ao depois a locução toda em... português.
(Visita Guiada = Guided Tour, Ep. 4, Museu do abade de Baçal, R.T.P. 2, 1/VI/15.)
Os do canal da memória tiveram-na de hoje pôr o prof. Hermano Saraiva num dos seus Horizontes da dita sobre a tomada de Ceuta. Os telejornais nem sei se o lembraram. A rapaziada do governo, se ouviu de Ceuta, há-de ter sido por algum eco de import/export que por lá passasse...
O prof. Saraiva terminou o programa evocando Camões, declamando-lhe versos salteados duma elegia escrita estando o poeta em Ceuta (*). O tema da elegia são os temores da infidelidade da amada que ficara em terras de Espanha. Separado dela pelo mar, inspira-se no alto do monte Ábila contemplando o Calpe, do lado das espanhas, onde se ela quedara.
No exórdio Camões compara o seu destino infausto ao da ninfa Eco, condenada por Hera a não se fazer ouvir e poder apenas repetir as últimas sílabas dos outros; assim o poeta em Ceuta, condenado a sòmente ecoar o seu próprio ser primeiro em que teve a plenitude do amor.
Aquela que de amor descomedido
pelo fermoso moço se perdeu
que só por si de amores foi perdido,
despois que a deusa em pedra a converteu
de seu humano gesto verdadeiro,
a última voz só lhe concedeu;
assi meu mal do próprio ser primeiro
outra cousa nenhũa me consente
que este canto que escrevo derradeiro.
[...]
Da tomada de Ceuta e da glória de Portugal tivemos oficialmente hoje menos que mitologia: nem eco.
José Hermano Saraiva, Horizontes da Memória.
(R.T.P., 2002, in Lusitano27BC)
(*) Sigo M.ª de Lourdes Saraiva, Lírica III, Imprensa Nacional, 1981.
N' O Diabo da semana passada sugeriam um livro Segredos de Lisboa (Inês Ribeiro e Raquel Policarpo, Esfera dos Livros) nestes termos:
« Uma Lisboa desconhecida está à nossa espera num museu, num parque de estacionamento ou até numa improvável casa de banho [...] No Largo da Sé desça á casa de banho pública e depare-se com vestígios de um prédio anterior ao terramoto [...] Inês Ribeiro e Raquel Policarpo guiam-nos por uma Lisboa repleta de segredos &c. &c. »
Casas de banho... Confronte-se o estilo com o de Júlio de Castilho a expor novidades antigas, mesmo se até melindrosas.
O nicho da imagem era na esquina do Caracol da Penha com a Rua de Arroios e deu nome ao sítio, estendendo-se a uma quinta adjacente, a Quinta da Imagem de que já falei e tornei a falar: eis o que nos o mestre Júlio de Castliho contou. E como contava:
« O próprio Caracol da Penha (que parece tão calado), se o interrogarmos, dir-nos-á que ainda em 1857 não era mais que uma estreita e pitoresca azinhaga [...] Ora em 1753 morava no seu palácio junto ao campo de Santa Bárbara, defronte do senhor de Murça (o prédio Mesquitela) o conde de S. Miguel, velho; muito perto ficava o nicho da imagem; aí tinha então uma tenda certa mulher, cuja filha entreteve com o conde Álvaro um romance que não vem para aquí, e que desfechou afinal em ter de se recolher a tendeirinha para não sei que mosteiro.
Convença-se o leitor que tudo são romances neste mundo, e de que as esquinas de uma cidade, grande e populosa como esta, têm mais histórias para contar do que Dumas ou Júlio Denís. O caso todo está em saber prestar ouvidos.»Lisboa Antiga. Bairros Orientais, 2.ª ed., v. IX, C.M.L., Lisboa, 1937, p. 172.
Cheira-me todavia que os ouvidos hoje perdem muito por falta de faro para contar o antigo, não sei... Ouvir as esquinas da cidade podia soar como cheirar aquela casa de banho d' O Diabo e no entanto...
Deixo a imagem encantada do misterioso nicho da dita como possìvelmente impressionou o mestre Júlio de Castilho e lhe deu azo a várias histórias. Desencantei-a no archivo photographico. Infelizmente não na achei[-a] com melhor qualidade e consta[ndo] que a chapa do negativo em vidro se partiu.
Nicho da imagem outrora no gaveto da R. de Arroios com a Marques da Silva (Caracol da Penha), Lisboa, c. 1900 [1898-1908].
Photographo[s] não ident. [Machado & Souza], in archivo photographico da C.M.L., A1300.
(Revisto. Remissões às dez e meia. Ampliação em 21, ao ¼ para as 2 da tarde, que permite ver o vulto uma quitandeira na soleira da porta que dava para o Caracol da Penha; identificar a placa de prohibido affixar annuncios n'esta propriedade e reconhecer uma caravela foreira à direita da sacada, no lado oposto do nicho da imagem.)
Imaginar o Tejo coalhado de barcos castiços. Coisa dum tempo acabado...
Talvez não.
Soube da Marinha do Tejo. Não estava a par. Tem por lema «alcança quem não cansa». — Por havermos, os portugueses, de trazer há tanto e tão esquecido este lema demos cabo a Portugal. Certa tropa cansada resolveu cansar Portugal inteiro em 74. Mas não vem ao caso...
A propósito duma notícia ...zeca da regatta do Atlântico Azul que há dias comentei, um simpático leitor, patrão de canoa de vela panda, teve a gentileza de me dar completa notícia da Marinha do Tejo e da faina dela. A Marinha do Tejo é oficialmente o pólo vivo do Museu de Marinha e, na prática, o pólo sobrevivo da antiga náutica fluvial de Lisboa e arredores. Sim senhores, a faina do Tejo continua, pese em boa (ou menos boa) hora a faina fluvial ser hoje diferente... Mas nem tudo se perde.
No livro de registo da Marinha do Tejo há embarcações com ano de construção de 1900 a 2015! — Neste tempo plastificado de hoje parece que ainda restam estaleiros, carpinteiros navais, mestres calafates, arrais, patrões e... catraios, varinos, faluas e canoas do Tejo. Algumas delas mais novas do que o século; há onze construídas no XXI. Fragatas é que não tornou a haver. Ainda talvez hajam de tornar...
Nos cais de Lisboa há sete embarcações: a canoa «Ana Paula» e o catraio «Henriques» na marina do Parque das Nações; o «Gavião dos Mares» e a «Salvaram-me» na Doca do Espanhol; a «Senhora do Cabo» na Doca do Bom Sucesso.
Em cais da margem sul esquerda, da outra banda a Salvaterra, há 71 embarcações, 71, segundo soube do prezado leitor.
Pois também por gentileza deste prezado leitor recebi uma formidável reportagem fotográfica da regatta do Atlântico Azul. O autor das fotografias é o sr. Manuel Ventura. Estas em baixo são só três ou quatro. Não é admirável haver-se o Tejo ainda há dias ornamentado com dezenas de velas típicas? Um refrigério desse desencanto da Lisboa hodierna que me torna cada vez mais em alfacinha de secretária. Mérito à Marinha do Tejo.
Marinha do Tejo:
Fotografias:
O vate versejou é tempo de Portugal ter uma mulher na presidência.
Cousa tão bem dita nem precisa ser benzida porque é abençoada a priori. A Maria de Belém deve ir para Belém, sim, não por ser de Belém, mas por ser Maria. Simplesmente Maria.
Acho o feminino pelo feminino um encanto e a imprensa, como os poetas, não cessam de o louvar. Portanto, a menos que hajamos aí Obama, louvada seja a Maria simplesmente.
(Photomontagem com photographias a outro propósito de Leonardo Negrão/Global Imagens e do D.N.)
A pitonisa do regime largou hoje às 9h15 uma nota sonora: 600 anos da conquista de Ceuta no próximo dia 21 — o começo da globalização.
Já antes arrotara elogios à Assumpção Esteves do parlamento. Como também disse que é entendido em gastroenterologia não sei como não percebeu melhor o ar que lhe saía da canalização. Talvez afinal não tenha o tubo digestivo globaligado ao cérebro.
Entretanto, à conta da atmosfera... volátil que paira, vou ali resguardar uma História da Expansão Portuguesa do Círculo, uns volumes da Nova História da mesma da Estampa, umas Obras Completas do Jaime Cortesão e...
(Fotomontagem do fim da globalização a partir da «Bairrada Digital» e d' «O Diabo».)
Num tempo em que a linguagem da jornalice doutrinária promove a adopção de cães nos exactos termos do perfilho de crianças; — em que o detergente cerebral jornalístico anuncia para alívio geral dos povos que cães lançados a fugir dum canil por causa dum incêndio foram recolhidos temporàriamente em famílias de acolhimento (cf. R. Marinho, M. Cabrita, M. Carrasqueira, «Apelo gerou onda de solidariedade para encontrar animais do canil de Loures atingido pelas chamas, S.I.C., 11/VIII/15);
— em que um canídeo desgraçadamente achado num contentor, mas também condenado por padecer de leishmaniose canina se torna ràpidamente em jovem cão com continha bancária aberta a donativos salvadores quando a leismaniose é incurável nos cães e contagiosa para humanos...
Pois bem, parece-me que num tempo como este, de bichos assimilados a gente, o mais natural é dormir gente há anos ao relento como bichos nos jardins Constantino e de Arroios sem ecos telejornaleiros.
Ou que o homem mais condecorado em combate do exército português esteja em risco de ver penhorada a sua casa e seja omissa nos noticiários de referência a onda solidária e a conta de donativos em seu favor... (cfr. as notícias de Sérgio Vitorino, «Herói nacional arrisca-[se a] ficar sem casa», Correio da Manhã, 31/VII/2015 e de Humberto de Oliveira, «Marcelino da Mata — O dever de ajudar um Herói de Portugal», O Diabo, 31/VII/15). — Bem pode o nosso Ten.-Cor. Marcelino da Mata ficar ao relento como aqueloutros; o cão que acabará fatalmente abatido por doença incurável é que tadinho!... Ponham-lhe dinheiro na conta.
E de falar em exércitos e combates: na notícia duma macaqueação patriótica turística da batalha de Aljubarrota lá para Alcobaça ouvi o exército de João I tomou posição no local escolhido por Dom Nuno Álvares Pereira («Batalha de Aljubarrota recriada 630 anos depois», T.V.I. 24, 16/VIII/15); muito doutrinàriamente o Mestre de Avis é João I — sem Dom — e o Condestável (vá lá, vá lá!) é Dom Nuno Álvares Pereira.
Do que venho vendo, só digo que ser rei de Portugal deve hoje em dia ser tido como polìticamente muito incorrecto porque não merece Dom, nem ganhando batalhas nacionais tão calhadas ao tourisme e ao proscénio televisivo.
Já de ser-se cão...
Ao depois é só pôr o microfone ante um dos farsantes do recreio batalheiro e ouvi-lo dizer com a gravidade das grandes verdades: — foi aqui [em Aljubarrota] que nasceram os Descobrimentos. E foi aqui também que acabou a cavalaria.
Cavalidade, porém, é o que se vê.
Exposição de muares, P. Eduardo VII, [s.d.].
Alexandre Cunha, in archivo photographico da C.M.L.
Vi ontem uma reportagem da regata do Atlântico Azul que reuniu canoas, faluas e catraios (não houve notícia de fragatas) no Tejo. É daquele folclore «histórico» que se agora faz amiúde com patrocínio municipal e com ideia de chamar excursionistas, mas cujo retorno há-de ser menos dos munícipes que de hoteleiros e quejandos. Fica-se o munícipe pela sastifação do cortejo fluvial etnográfico — que é bonito — e com o gozo do notíciário que lhe proclama lìricamente imagens que relembram os tempos de glória dos descobrimentos portugueses («Regata no Tejo proíbe o uso de motores e todos os barcos têm que içar a vela», S.I.C., 15/VIII/15).
Não bastante, achei outros jornalistas menos épicos e subliminarmente mais doutrinários que colaram a esta glória dos descobrimentos com canoas do Tejo uma notícia atrasada das mesmas na reconstituição histórica da Viagem [sic] de João I [...] realizada no dia 19 do mês passado (Ana Rogado, «Regata do Atlântico Azul volta a “pintar o Tejo de cor”», Público, 14/VIII/15).
Nem no justo dia dos 630 anos da batalha de Aljubarrota lhes mereceu el-rei de Boa Memória o Dom.
Quereis estúpidos de maior dó?!...
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