No fim da comédia do Burguês Fidalgo há várias entradas de bailado da lavra de Jean-Baptiste Lully — aliás a música e a dança da peça inteira são suas. À terceira entrada é o Ballet dos Espanhóis. Já dele cá deixei em tempos duas árias pelo Colégio de Música de Bednarska (Varsóvia); só interpretação instrumental, porque é música que aprecio. Todavia é mais gracioso desfrutá-la na própria comédia-bailado de Molière e Lully — recriação da peça barroca original com luz de 500 velas na boca de cena e com declamação sempre de frente para a plateia. — Entra um moço espanhol, desesperadamente enamorado, a querer morrer disso — Sé que me muero de amor, Y solicito el dolor. — Entram mais uma dama e um cavalheiro que lhe àquele moteja os queixumes de amor sofrido, próprios dos que não sabem amar. — ¡Ay que loucura! ¡Ay que loucura! ¡Quexarse de amor! — Soma-se então um cigano bailarino audaz que lhes rouba a dama, logo encantada do seu bailar. Segue-se que o segundo espanhol, de conluio com o enamorado, entra na disputa ensaiando bailar como o cigano para ter de novo a dama; ensaia, mas a falta de jeito dá-lhe torcer a perna; entra o primeiro que, mesmo ensinado pelo cigano não dança nada, faz só jus aos que escarnecem ser o sapateado flamenco mero exercício de... matar baratas. E sai de cena. Até a dama desiste dele.
Escangalhei-me a rir com o passo; sendo recriação histórica pregunto-me cá se a espanholada a matar baratas é piada do encenador contemporâneo, se dos autores originais da peça. Escárnio de franceses em todo o caso.
O Ballet dos Espanhóis são dez minutos; fica só a 2.ª ária para não maçar, mas o leitor interessado pode recuar ou avançar o cursor do filmezinho a seu prazer. O trajo carregado é bem moda peninsular que os retratos do tempo corroboram; a caricatura teatral fez-me até lembrar os biombos Nambam, com portugueses do séc. XVI muito parecidos...
Bom! Quem aprecie, melhor é ver, que nisto de tanta explicação maior se torna a maçada.
Lully, Ballet dos Espanhóis (ária)
In O Burguês Fidalgo.
PÚBLICO: É de uma pequena aldeia, Alcouce. Guardava cabras, não tinha água em casa, trabalhava a terra, fazia cerca de cinco quilómetros a pé para ir e vir da escola…
De que forma Alcouce contribuiu para ser quem é hoje?Marisa Matias: Permitiu conhecer outra forma de viver [....]
M.ª João Lopes, «Há um Portugal novo que está a nascer», in Público, 23/11/15.
Os «portugueses e as portuguesas» são o disparate feito instituição (como o primeiro termo será sempre, naturalmente, comum de dois, acabam dizendo duas vezes as portuguesas (**); é discriminação do masculino a descaso de toda a moral, salva a imbecil dos novos donos dela agora…) Nada nos livra dele — do disparate — porque a marcha da civilização para a idiotia segue infrene. — E não vê o benévolo leitor como dão agora em punir a reles ordinarice com prisão? Mas só quando dirigida ao belo sexo. Coitados, nem enxergam as contradições em que se emaranham negando positivamente a proclamada igualdade, claro, e demonstrando, afinal, como são as mulheres frageizinhas, indefesas e carentes de protecção. É o mesmo juízo que pare dias da mulher sem naturalmente achar necessidade de dias do homem.
Conceda-se!
(*) Se o ridículo matasse...
(**) Sempre que oiço «portugueses e portuguesas» ou «todos os portugueses e todas as portuguesas», gera-se-me a ideia de que a população de Portugal duplicou. Se calhar tenho o periscópio avariado.
Há dias (na Consoada) andava a Radiotelevisão ou um dos seus sucedâneos com queixumes da ausência de neve na Serra da Estrela. A inculca subliminar não sei se era ou se deixava de ser, mas intuía-se: as «alterações climáticas».
Sem na invalidar, hoje, na emissora nacional, lá se desanuviavam os espíritos com o anúncio de chuva, que haverá de ser queda de neve acima dos 1 400 m de altitude.
Pena os espíritos que (in)formam a opinião pública lhes não ocorrer que para nevar, mesmo com o frio que no alto da serra sempre faz, houvesse de chover.
Pastor com seu rebanho, Serra da Estrella, [antes das alterações climáticas].
Arthur Pastor, in archivo photographico da C.M.L.
Rubens, c. 1630 | Aos benévolos leitores que
SANTO E FELIZ NATAL . |
A porta do palácio Ratton tornou-se um circo histriónico. Aparece lá cada um! O espelho da nação propondo-se a presidente da república...
Por lá o cata-vento mais espertalhonamente mediatizado dos últimos dez, quinze anos vê-se já certo em Belém onde, consigo, «as portuguesas e os portugueses vão tentar recriar a esperança»... Para si a certeza do primeiro passo duma «caminhada de cinco anos» (leia-se tacho); para os portugueses ditos «portuguesas e portugueses» ao modo dos donos morais disto tudo, a vaga esperança na forma tentada.
Em Rapoula gentes das histriònicamente referidas como «portuguesas e portugueses» rejubilam com um traste que construíram e revestiram com as caricas de 200 000 cervejas para fingir de árvore de Natal. Pouco admira que lhe comam democràticamente as papas na cabeça. Haja bebida!
Na Nazaré um surfista cumpre o sonhado sonho de cavalgar ondas a tocar violino: diz que gente referida por histriónicos cata-ventos como «portuguesas e portugueses» é atraída anualmente pelo fenómeno, aos milhares.
Haja música!
Artista popular, Ribatejo, 1976.
Marques Valentim, in Portugal velho.
Um homem de 29 anos morreu por negligente administração hospitalar. Os administradores diz que proveram entretanto (tarde) a que se não repetisse e demitiram-se. Andaram sem noção das coisas?! Não perceberam no que incorriam?! Que responsáveis serão estes?...
Na emissora nacional deram notícia do caso às 8h30 desta manhã referindo-se ao falecido como «o jovem de 29 anos». Por três vezes. Outra imprensa usa (e abusa) desta linguagem que inculca juízos nas mentes e vicia a percepção da realidade à gente. Infantiliza. A ponto de acabarmos com administradores como aqueles.
Pois o Menino Jesus do Guglo é isto.
Notas em tempo:
1) Premindo a imagem no Guglo, este opera a pesquisa com a chave «Boas Festas!».
2) Optando pela pesquisa de «Mais imagens de Boas Festas!» a primeira representação duma Sagrada Família é dum cartão de «Boas Festas/Season Greetings» da Faculdade de Ciência e Tecnologia da Universidade de Fernando Pessoa, de 2011, apresentada para aí à 210.ª opção.
3) Pesquisando com a chave «Feliz Natal!» a primeira Sagrada Família é uma a do blogo Comida de Conforto, apresentada para aí à 75.ª opção.
Eis a projecção do Natal pelo portal do mundo cibernético. Figuração da realidade?...
Ouço às dez na sociedade industrial de concentrados que o Pedro Coelho disse que, consigo, o Banif tinha levado o sumiço que levou na mesma e exacta maneira.
Portugal é isto.
Venda ambulante, Terreiro do Paço, 1978.
Frank Thompson, in Portugal velho.
De Portugal em 1935. Cujo enigma se decifra em Linda-a-Pastora.
O benévolo leitor José Lima catrapiscou na rede este postal de Ant.º Passaporte muito, muito a calhar, onde se pode ver o lugar de Linda-a-Pastora no sopé dos outeiros e os moinhos bem distintos na sua cumeada.
A quem se interesse por estas antiguidades bucólicas e pelo melhor ou pior atulho em que elas devêm, sabei que o confrade José Leite tem nos seus preciosos Restos de Colecção um rico verbete sobre o Estádio Nacional com raras imagens do aprazível vale do Jamor antes e durante a construção do Estádio.
Estádio Nacional de Ténis, Linda-a-Pastora (prox.), c. 1950.
Postal de Ant.º Passaporte in archivo photographico da C.M.L.
(Imagem da F.P.C.)
(Imagem da F.P.C.)
Bem me parecia que o Jamor não era descabido. E já Queijas me lembrara, por restos dos moinhos que vejo de Linda-a-Velha na estrada que dali vai a Queluz. Há imagens do Estádio Nacional — não sei se aéreas, se postais do António Passaporte — em que as cercanias a N se apresentam despidas de betão e destas coisas que agora humanizam a païsagem, em que me lembrava duma série de moinhos naqueles cabeços. Talvez fosse delas... Andei em sua busca e não as achei. Confesso que enveredei então por outra busca, B. Korhmann, que não foi imediata, e que me deu a final isto; mas foi como ir ver às soluções...
Hei ainda de ver se descubro bem o enquadramento da estrada — o vale do Jamor já foi tão revolvido que nem sei se a estrada subsiste. Calhando não. As casas quase de certeza.
O confrade Manuel recorda no Gasolim o acidente ferroviário entre Algueirão – Mem Martins e a Portela de Sintra em 20 de Dezembro de 1965. Dá notícia sumária do caso — um comboio de mercadorias partiu inexplicàvelmente de Sintra pela contravia e chocou de frente com um tranvia com destino a Sintra — e remete-nos ao blogo de Algueirão – Mem Martins onde uma nublosa recordação do caso aparece comentada a propósito e a despropósito por gente mais ou menos coisa...
Alguns comentários são testemunhos de memória oral, mas — fatalmente, nesta era democrática... — lá se nota a colagem pavloviana duma tragédia de aparentes razões prosaicas ao malévolo regime do Estado Novo. — Nem sei como era permitido haver comboios...
Os idiotas que lá misturam a P.I.D.E. e a censura podiam ler com proveito o insuspeito Diário de Lisbôa de 21/12/1965 fotocopiado para o Mundo pelo «pai da democracia» lá na fundação que a rica dita lhe subvenciona. Está tudo no jornal, expressamente visado pela censura e em melhor reportagem dos factos do que livremente se hoje lê na imprensa, aposto. Fàcilmente perceberiam (ou não, dependendo do embotamento doutrinário) que contar e identificar vítimas esquartejadas por acidente tão violento como o que se deu é mais difícil que trautear a tabuada. É ler o jornal, por conseguinte, e o do dia seguinte também para ver como o inquérito foi entregue à Polícia Judiciária por se ver o Delegado da Procuradoria-Geral da República da comarca de Sintra a braços com tanto trabalho, já então, que não seria capaz de produzir conclusões em tempo útil. Eis a pista. Calhando a curiosidade histórica actual dar em vasculhar o arquivo da P.J. talvez nele ache as almejadas provas da conspiração do silêncio entre o «fâchismo» e a C.P. que alguns doutrinadamente atribuem ao caso. À parte isso outra conclusão mais simples — e não serão precisos grandes trabalhos para lhe chegar — é que a memória é curta e atraiçoa. Se partirmos do erro de que a tragédia foi três dias depois de ter sido, em poucos jornais dessa data errada lhe acharemos notícias. Isto se as sequer procurássemos, claro, como apesar de tudo parece que foi com o autor do blogo de Algueirão – Mem Martins, sr. Hugo Nicolau, que menciona o Correio dos Açores como fonte da notícia que deu do caso.
Quem se interessar pela explicação da tragédia tem, pois, pistas sólidas para seguir.
(Págnas do Diário de Lisbôa de 21 e 22 de Dezembro de 1965 à conta Fundação do irmão do dr. Tertuliano.)
Recuando 80 anos — devem chegar para calcar com merecimento a avantesma em tipo-passe que aqui pespeguei onte'.
Pois recuando 80 anos, uma de Portugal com muito bom aspecto, concordareis. Mas, onde?
(Cf. Susana Frexes, «N.A.T.O. relaxada com acordo entre P.S. e P.C.P.», Expresso, 14/XII,15.)
O tipo-passe é da XXI.ª comissão liquidatária.
Parece que hoje já não há escola. Sente-se no tráfego em Lisboa.
Av. de Fontes Pereira de Melo, Lisboa, 1975.
Fotografia de Rob Mieremet, in Portugal Velho.
Ilhas dos Açores fustigadas por temporal?
Não. É o aviso vermelho.
(R.T.P. 3, 15/12/15)
Adamastor (O)
Apartado 53
Bic Cristal
Blog[o] de Cheiros
Carmo e a Trindade (O)
Chove
Cidade Surpreendente (A)
Corta-Fitas(pub)
Delito de Opinião
Dragoscópio
Eléctricos
Espectador Portuguez (O)
Estado Sentido
Eternas Saudades do Futuro
Fadocravo
Firefox contra o Acordo Ortográfico
Fugas do meu tinteiro
H Gasolim Ultramarino
Ilustração Portuguesa
Lisboa
Lisboa Actual
Lisboa de Antigamente (pub)
Lisboa Desaparecida
Menina Marota
Meu Bazar de Ideias
Paixão por Lisboa
Pena e Espada(pub)
Perspectivas(pub)
Planeta dos Macacos (O)
Pombalinho
Porta da Loja
Porto e não só (Do)
Portugal em Postais Antigos(pub)
Retalhos de Bem-Fica
Restos de Colecção
Rio das Maçãs(pub)
Ruas de Lisboa com Alguma História
Ruinarte(pub)
Santa Nostalgia
Terra das Vacas (Na)
Tradicionalista (O)
Ultramar
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.