The Shadows, Apache
(Playback de 1969)
(Publicado originalmente em 16/I/16 ao meio-dia e vinte seis, revisto às quatro menos vinte da tarde e tornado a publicar em 28/I/16 porque a gente não lê.)
A lógica da 2.ª circular é análoga à da 3.ª idade -- conhece-se-a sem caso donde haja a(s) anterior(es).
N' O Diabo desta semana (12/I/16) Pedro A. Santos põe, a propósito das obras farónicas dos socialistas e da que está na calha para a 2.ª Circular em Lisboa, a questão de «Onde fica a 'primeira circular'». Uma curiosidade a que responde com a conjectura que me também ocorreu há muito, fruto dalgum conhecimento da história da nossa cidade, mas que não é verdade. Associa ele a 1.ª circular à esquecida estrada de circunvalação de 1852 que de Alcântara, pela Rua Maria Pia, Marquês de Fronteira, S. Sebastião, Duque de Ávila, A. Cego, Visconde de Santarém, L. Leão, Morais Soares (Poço dos Mouros), Alto de S. João e Calçada das Lages (Afonso III), chegava à Cruz da Pedra, entre S.ª Apolónia e a Madre de Deus.
Bom, a verdade é que a circunvalação de 1852 nada tem para a contagem da 2.ª Circular que hoje havemos e onde ùltimamente a vereação cismou em plantar árvores dê lá por onde der. A 2.ª Circular é fruto dos planos de urbanização e expansão de Lisboa do tempo do Estado Novo gizados pelo Eng.º Duarte Pacheco e ordenados num plano de avenidas radiais e circulares. O esquema é também conhecido por Plano Director de 1948 ou plano De Groer. As circulares, contadas do exterior para o interior, seriam:
O plano foi servindo como orientação e sendo adaptado amiúde conforme as circunstâncias até estar esquecido. Mas, como vemos, a circunvalação de 1852 nem considerada estava.
Plano Director de Urbanização de Lisboa, 1948.
In Lisboa — Breve História dos Planos Urbanísticos.
Contrariando a insciencia geral e a falsa conjectura de Pedro A. Santos sôbre o nome da 2.ª Circular em particular, esclareci há dias por cá eu o que pude do caso. Não imaginava era vir tarde. O Dept.º de Contôlo de Trafego da C.M.L. há mais de [quase] 20 annos o esclareceu e explicou a um leitor do extincto diario 24 Horas. E com admiravel entendimento de causa.
Registo que da 2.ª Circular os serviços do municipio soubessem já em 1998 do século passado que era uma avenida — Marechal Craveiro Lopes de seu nome. — Descuraram foi esse nome ser só metade... isto é, ¼ de circular, justamente o trôço do Campo Grande ao Relogio, que d'elle ao marco 0 da auto-estrada n.º 1 a dicta avenida é radial. Por dizer ficou a outra metade, o trôço dicto do General Norton de Mattos, do Campo Grande a Benfica e à Buraca, quiçá por vergonha de ser toponimo postiço a esconder o original, do Marechal Carmona, supprimido por «necessidade de eliminação dos nomes afrontosos para a população, pela sua última ligação ao antigo regime» (Edital 161/74, de 30 de Dezembro).
Pormenores que não interessam.
Não obstante a confusão de radial com circular e de circular inteira com metade ou ¼ d'ella (ou por môr d'isso tudo) lá aventaram de sciencia certa (ou de certa sciencia) na resposta ao indagante leitor do jornal o conceito de que tinham, a final, vaga noção, exemplificando, não nunca com a circumvallação de 1852 como Pedro A. Santos (seria estulto esperar tal conhecimento da Historia da cidade na Camara), mas com uma amálgama da 3.ª circular do plano De Groer (de que fizeram segrêdo e baralharam a sequência) com a Av. Central de Chellas (quereriam em vez dizer Estr. de Chellas e R. Gualdim Paes, mas que importa), no que demonstraram sem espantar a sua idéa duma 1.ª Circular que, no entanto, nunca «pegou».
Pudera!
Tornaram hontem ou antehontem as trombetas noticiosas com a propaganda à idéa fixa da vereação municipal para a 2.ª Circular.
Conheço a predilecção do pessoal politico d'estes valhacoutos municipaes pelo cimento e pelo alcatrão. Mas, como é negócio que anda deprimido, cheira-me que se propuseram agora aquelles em desbravar novos mercados; como flôres dão pouco (mas já se viu como destruiram os brasões da Praça do Imperio para opportunamente contratarem nova jardinagem politicamente mais correcta) e, como massacrar o arvoredo dos jardins e avenidas da cidade são migalhas que mal pagam a pateada que os votantes alfacinhas hão-de dar nas urnas, vemos os tractantes municipaes n'estes dias empenhados em plantar árvores com tanto ardor que scismam até cravá-las entre alcatrão e cimento; a 2.ª Circular, se não acabar numa Amazónia dos pequeninos há-de vir ser a Floresta Negra de Entre-Monsanto-e-Aeroporto.
Perdão! Floresta Marechal Craveiro Lopes.
Segunda Circular à Az. das Galhardas e a floresta autoctone, Lisboa, 1961.
Arthur Goulart, in archivo photographico da C.M.L.
(O recorte do 24 Horas devo-o ao estimado Plúvio.)
(Revisto.)
No tempo dos campeonatos da 1.ª, da 2.ª, da 3.ª divisões nacionais, com todas as zonas e séries, mai-los campeonados distritais com suas divisões 1.ª e 2.ª também, o dinheiro não abundava. Jogava-se em campos pelados, os sócios quotizavam-se, os putos até aos 14 entravam à borla a par dum adulto — ó vizinho deixe-me entrar consigo! — e... a bola era uma festa, de amadores no genuíno sentido do termo; o bairro ou as gentes da terra não esmoreciam, jogavam ou apoiavam; os clubes não faliam nem acabavam assim... — Ainda há dias o Benfica jogou com o Oriental em Marvila a fazer lembrar esse tempo; clubes de bairro no campeonato nacional da 1.ª Divisão?! E, pregunto-me, se hoje o campo ainda é pelado.
— Ná! Podia lá ser!...
Com tanto fausto para aí agora, tanto profissionalismo, tudo Sociedades Anónimas Desportivas Futebol Club, e não há dinheiro que chegue para tudo nem dinheiro para nada. Hoje há campeonatos organizados por uma liga de clubes (ia dizer rameiras) em que tudo se põe à venda. Daqui, por isso, a prostituição em que os vejo.
Festa rija da subida do Vitória à III Divisão Nacional de futebol, Picheleira, 1977.
Cliché do sr. Vieira da Silva, in De Cabelos em Pé.
Dizem que é historiadora, mas, tenho impressão que é burguesa com cabeça boa para franja. — A rebrilhante Pimentela fez hoje o necrológio do architecto do franjinhas. Lá lhe catou da biographia, para contraste, a linhagem catholica monarchica, o parentesco no Estado Novo, a militancia no Nacional Sindicalismo, o alistamento na Mocidade Portuguesa, o activismo falangista e... — E ao depois diz que por volta da II Grande Guerra a anglophilia lhe virou o tino contra o regimen dando d' ahi em guiar-se — quiçá por iniciatica inspiração — para a luz que guia offuscantemente a Pimentela: a P.I.D.E./D.G.S. Por quatro vezes viu o architecto a luz a que se guiou, tanto que ganhou resplendor.
Abençoada P.I.D.E., sem a qual não haviamos heroes, nem tinha esta Pimentela entretém.
(Photomontagem burguesa do pasquim censurado com fragmento do ganha-pão.)
Soou a notícia há semanas ou coisa. O govêrno ensaia-se em decretar metade do assucar nos pacotinhos da bica. Depois de tê-los — aos do govêrno — besuntando-se-me na torrada do pequeno-almôço meio-sal, hei-de tê-los agora dissolutos no meu café meio assucarado. Ainda um dia destes hei-de deitar-me e acho o govêrno empulgado-me a cama.
(Revisto.)
N’ A Porta de Marfim o prof. Marcello Caetano refere em remate duma longa carta o, nestes dias depois do fim, eleito presidente da coisa.
« É certo que, à parte as de 1969, não consegui fazer eleições que se impusessem pelos seus resultados, porque os adversarios as boicotavam e nos deixavam sozinhos em campo. As oposições não eram ao Governo, mas à Constituição e ao regime, e todos os esforços que fiz para criar uma força política que dentro da órbita constitucional competisse com a A.N.P. (grupo de deputados liberais, SEDES, de que fui o único fundador...) tudo isso esbarrou com a incompreensão e espírito contestário dos meus próprios amigos. Agora têm o que merecem... Mas participam, partilham... Das anedotas que o Marcelinho R. de S. conta perfidamente na «Gente». Estão felizes.»
(M.ª Helena Prieto, A Porta de Marfim, Lisboa, Verbo, 1992, p. 108.)
Curiosamente a entrada de comentário da autora à carta é.... 24 de Janeiro de 1983 e escreveu unicamente: «A 9 de Maio de 1978 respondias-me com amigável malícia.»
(*) Título revisto, inspirado no comentário de Manuel.
A alegoria de amanhã.
Carro americano, Atêrro, 1880.
José Chaves Cruz, in archivo photographico da C.M.L.
In James Murphy, Plans Elevations Sections and Views of the Church of Batalha, in the Province of Estremadura in Portugal by Fr. Luis de Sousa; with remarks. To which is prefixed an Introductory Discourse on the Principles of Gothic Architecture, London, I. & J. Taylor, High Holborn, 1795.
Bloco das Águas Livres, Lisboa, 1959.
Architectos: Nuno Teotónio Pereira, Bartolomeu da Costa Cabral; prémio da I.ª Exp. Gulbenkian, 1955. Photographia: Fernando Manuel de Jesus Matias, in archivo photographico da C.M.L.
Do substantivo bloco para designar o que se rotula Arte, aos prèmiozinhos e prèmiozões que o corroboram, há todo um sentido do Belo, assaz insensato incensado, que emana não sei donde e resvala para não sei quê. E nós dele con... vencidos.
Deixá-lo!
Como tenho pouco gôsto no Inverno e aprecio dias maiores, em dia de S. Sebastião não sou só laranjinha na mão, mas repito-me sempre que em 20 de Janeiro vai uma hora por inteiro e que quem bem souber contar, hora e meia lhe há-de achar.
Campinos, Ribatejo, 1950-70.
Amadeu Ferrari, in archivo photographico da C.M.L.
O eléctrico 13 que se via ainda ontem para Carnide numa garganta da Estrada das Laranjeiras ia justamente aqui, só que se via vindo de lá para cá. O prezado leitor José Lima foi quem catou bem o ponto no mappa: Estr. das Laranjeiras 218, na exacta confluência da Rua das Laranjeiras com a Estrada das dictas. — Se me não engano agora, a Rua das Laranjeiras (à esq.) designou-se Azinhaga da Ponte (ou Fonte) Velha; descia, como ainda desce, da Palma — lugarejo ancestral que se por ali conserva encravado entre edificado pós-modernista-ò-pós-modernaço e rodovias xpto.
Um pouco adeante, caminho de Sete Rios, achava-se o chafariz das Laranjeiras ante a quinta do conde de Farrobo, que marca ainda agora o entroncamento da Estrada das sobredictas Laranjeiras com a Calçada da Palma de Baixo. O progresso não lhe deu cabo (ao chafariz) mas deu-lhe uma reviravolta...
Na Calçada da Palma de Baixo, nº 2 (photo em cima, à dir.) via-se na primitivamente o portão e placa da Quinta das Rosas, tal qual se o ainda lá pode ver agora, afortunadamente; o alargamento da Calçada da Palma de Baixo fez-se à custa do largo do chafariz.
Justamente na calçada, imediatmente a seguir ao portão da Quinta das Rosas há hoje uma serventia de acesso à Quinta das Palmeiras onde, segundo a leitora Zazie, era o colégio do Infante de Sagres. Cuido que fosse assim.
Photographias: 1) Rua e Estr. das Laranjeiras, 2) Chafariz das Laranjeiras e 3) Calç. da Palma de Baixo (Ed. Portugal, 1944); 4) Col. do Infante de Sagres (Kurt Pinto, 195...). In archivo photographico da C.M.L.
Qualquer venerável que se fine passa por ela. Que terá a franco-maçonaria com a basílica da Estrella?
Photographia de Mário de Novaes, in Bibliotheca d' Arte da F.C.G.
O marco que se vê dá os 300,9, 500,9 ou 700,9 metros num km desconhecido. [Estupidez. O marco indica os 700 m do km 9. Parece-me que hoje se queda por lá o marco dos 10,1 kms. A estrada cresceu!]
Estrada Nacional ...? Portugal, [s.d.].
Mário de Novais, in Bibliotheca d' Arte da F.C.G.
Eléctrico de Carnide, Palma de Baixo (Estr. da Laranjeiras), c. 1950.
Judah Benoliel, in archivo photographico da C.M.L.
A pregunta dum benévolo leitor suscitou-me a lembrança dumas fotografias da Estrada da Luz que mostram que a feitura do viaducto da 2.ª circular ali veio a desviar aquela velha estrada do seu leito primitivo. E de facto a casa que vedes à esquerda na 2.ª e 3.ª imagens a seguir (está de pé mas não há-de ser por muito pois há annos que se acha destelhada nas traseiras, que sempre dá menos nas vistas) tem um alinhamento excêntrico ante estrada actual. Nada menos que o alinhamento primitivo da Estada da Luz.
Simples curiosidade.
Photographias: 1) 2.ª Circular no cruzamento da Estr. da Luz, Lisboa (A. Goulart, 1963); 2) e 3) Obras do viaducto da Luz na 2.ª Circular, Estr. da Luz (A. Serôdio, 1965); 4) Viaducto da Luz, Estr. da Luz (A. Serôdio, 1966); 5) Prédios em demolição, Estr. da Luz (A. Madureira,1968). In archivo photographico da C.M.L.
Os papagaios das notícias «avançaram» hoje que as bombas de gasolina vão ser fiscalizadas. Não eram?!...
Até ao início do corrente ano, o controlo metrológico em Portugal era assegurado pelas Direcções Regionais da Economia — entretanto extintas, pelo que o Instituto Português da Qualidade procedeu à qualificação de empresas privadas [i.é, particulares] para o exercício destas atribuições, actualmente, e que são designadas Organismos de Verificação Metrológica (O.V.M.). Estes O.V.M. verificam a conformidade dos instrumentos de medição dos postos de abastecimento, emitem o respectivo certificado e procedem, ainda, à selagem dos equipamentos garantindo, assim, a sua conformidade legal com as respectivas normas que regulamentam o controlo metrológico, e que acima estão identificadas («Controlo Metrológico como nova atribuição da E.N.M.C.», Min. da Economia/E.N.M.C,16/12/15).
Pelo Decreto-Lei 291/90, de 20 de Setembro, a superintendência do controlo metrológico das bombas de gasolina cabe ao Instituto Português da Qualidade. O I.P.Q. pode reconhecer e delegar em terceiros a verificação e fiscalização das bombas (art. 8.º, n.º 1). Como manda mas não executa, incumbiu as Direcções-Regionais de Economia (apesar de não haver regionalização, parece que tem havido regionalização administrativa) de coordenar, fiscalizar e verificar as bombas (art. 8.º, n.º 2). Com a sua extinção (das D.R.E.) a fiscalização e aferição das bombas foi então trespassada a empresas qualificadas pelo próprio I.P.Q. em Organismos de Verificação Metrológica que, vem ver-se, carecem de ser elas próprias fiscalizadas.
Assim, resumindo:
Talvez os O.V.M não sejam de fiar, mas, como sabemos se a E.N.M.C., o I.P.Q. e as ex-D.R.E. são/eram? — Porque sejam públicos estes e particulares aqueles? — E neste caso se nos fiamos mais dos órgãos do Estado porque não faz simplesmente a nóvel E.N.M.C. o que faziam as ex-D.R.E. a haver-se de chamar particulares ao processo? Sairá porventura mais em conta pagar aos de O.V.M. para fazer o que faziam as ex-D.R.E. havendo ainda de pagar a E.N.M.C. para fiscalizar os O.V.M.?
Confusos? — Pois então explicai-me também da competência dos municípios na aferição metrológica...
(Fotografia da estação de serviço da Soc. Comercial Guérin na Rua José Estêvão em Lisboa de Horácio de Novais, na Bibliotheca d' Arte da F.C.G.)
Paco de Lucía, Entre Dos Aguas
A Assembleia da República, órgão legislativo por definição constitucional, padece duma maioria de esquerda. Daí me não espantar do resumo do Diário da República de hoje: três resoluções — não leis, notai! —, mas três resoluções que são palavras de ordem. A assembleia foi tomada por agitadores panfletários que — isto é extraordinário — tendo o poder legislativo nas mãos não passam do seu estado primário: a propaganda por via de, não leis, torno a dizer, mas resoluções e recomendações ao Executivo. Qual é o imperativo duma recomendação?...
O decreto regional, por seu lado, e o seu objecto, são o exemplo acabado da desagregação institucional e da entropia posta na ordem jurídica do Estado. Comparável desagregação das instituições do Estado português, nem nas invasões francesas tenho impressão; garantidamente nem nos tempos filipinos.
(Revisto às dez menos vinte da noute.)
Transpõe a Directiva que altera a Directiva que altera o Decreto pela sexta vez... — Bate certo.
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