Lisboa. O aeroporto. Aterragens da B.E.A. e da T.A.P. Desembarque e encaminhamento de passageiros — assistente de terra em uniforme de Louis Féraud vermelho; o equipamento de terra da T.A.P. ...
O terreiro do Paço com indicação de destinos: Campismo, Castelo de S. Jorge, Estoril.
Tráfego automóvel no Cais do Sodré: autocarros — um Daimler Fleetline na pintura original da Carris; um A.E.C. Regent V com pintura verde mais moderna —, táxis Mercedes Ponton.
Gente que passa, gente que olha, gente que atravessa, gente que circula. Um polícia.
A Rua do Alecrim. Um eléctrico que se esforça.
O comboio do Estoril.
Cacilheiros: o Nacional e o Recordação.
O Tejo. Um paquete estrangeiro como os nossos… eram.
O Tejo e a ponte — travessias: o desembarque dum ferry no Cais do Sodré; um volvo de volante à direita com roulotte — outra vez campismo...
E a ponte.
O Cristo-Rei.
Sesimbra.
Sesimbra nos prolegómenos dum futuro de cimento... Botes emparelhando as cores duma bandeira dum país... dalgo que...
Pescadores que vão...
O filme foi transmitido na Thames Television em Março de 1974. As imagens tão estivais hão-de ser da colheita de 1973. Percebe-se.
Já te disse que esta Praça José de Fontana — assim chamada desde 1915 — foi designada, naturalmente, por Largo do Matadouro, e que nos séculos passados era a Cruz do Taboado, «eira» larga onde morria a Carreira dos Cavalos, em pleno campo.
O jardim data de há cêrca de 60 anos, e recebeu no ano passado [1937] o nome «de Henrique Lopes de Mendonça», escritor, poeta e dramaturgo, autor da letra do hino nacional «A Portuguesa», figura bem alfacinha, irradiante de talento e simpatia.
E aí tens o velho Matadouro municipal de Lisboa. O edíficio foi erguido em 1863, do risco do arquitecto francês Pesarat, e ocupa uma área de mais de treze mil metros quadrados. Está hoje [1938] antiquado e condenado a desaparecer. Irá para o Poço do Bispo, «se Deus quiser».Norberto Araújo, Peregrinações em Lisboa, IV, 2.ª ed., Lisboa, Vega, 1993, p. 57.
Matadouro Municipal de Lisboa, Cruz do Taboado, 1868-81.
Henrique Nunes Phot... — 9, Rua das Chagas, Lisboa.
NUNES, Henrique, Matadouro Municipal de Lisboa, Lisboa, [s.n.], [1868-1881] — 1 álbum (12 fotos), papel albuminado, pb, 19,7 x 26,3cm a 20,8 x 27,3cm ; 44,8 x 60,7, in Biblioteca Nacional do Brasil, Col. de Thereza Christina Maria.)
Tão rural.
Panoramica da Graça sôbre o Castello, Lisboa, [18...]
Photographia de auctor não identificado, in archivo photographico da C.M.L.
Na rede e nos facebooks desta vida há coisas... simpáticas.
Um blogo sobre Lisboa, chamado «Lisboa de Antigamente», assinado por Lisboa de Antanho, que ignora olimpicamente o blogo Bic Laranja, mas suficientemente inspirado para lembrar em 2015 velhos complots nos arrabaldes do tema, na Praia das Maçãs, e tão mal revelados aqui em 2013!...
Há-de ter sido outra epifania...
Os louros são da Quipaedia.
O Caso do Chalet Misterioso
Esta fotografia atribuída ao fotógrafo Paulo Guedes (1886-1947), está titulada pelo AML como «Moradia», não referindo o local e, estabelecendo como data, uma qualquer década de «19--». O processo que levou à identificação do local deste estranho e misterioso chalet, tem algo de novela policial. Tudo por causa daquele prédio que ali se vê atrás. Havia qualquer coisa de familiar na traça daquele antigo edifício. Uns meses depois, procurando imagens para publicar aqui no tasco, eis senão quando, ao rever umas fotos da Praça do Saldanha, deparo nada mais nada menos que com o «prédio do anjo»: Eureka! Fez-se luz!
Aquela sensação "familiar" tinha a ver com o "anjo". Depois desta epifania [!!!] o resto foi fácil. Bastou pesquisar no arquivo pela planta topográfica da zona do Saldanha, et voilá! Ali se vê o contorno inconfundível do «Chalet Misterioso» e, logo ao lado, o "prédio do anjo, na esquina da Av. Fontes com a antiga estrada das Picoas (hoje Rua Engº Vieira da Silva). Já quanto à data da foto, a coisa já fia mais fino; a única pista que temos é-nos dada pelo sinal de "Paragem", plantado no candeeiro da esquina. O eléctrico já por ali passava desde 1902, era a carreira 2 (que na altura não tinha número), entre os Restauradores e o Lumiar (Estrada da Torre). Assim sendo, já é possível atribuir a localização exacta e, uma data aproximada, à fotografia d' «O Caso do Chalet Misterioso».[Putativo autor Epifânio], «O último chalet da Avenida Fontes Pereira de Melo» [último?!...], in Lisboa de Antigamente, 27/9/2015 [sublinhados meus].
* * *
Os factos de hoje cá foram as plusões lá fora. Pelo primeiro-ministro do Rato fiquei a perceber melhor o que são plusões: são do mal o menos por causa de haver cada vez uma malha mais fina no cerco do acesso aos â â â... aos plusivos (T.S.F., Noticiário das 13h00, 11'30").
Malha mais fina no cerco do acesso aos plusivos... — Não há dia nenhum em que este pedaço de asno não semizurre. Não há dia nenhum que os pés-de-microfone lhe não estendam o dito. Ao depois sai isto:
Por cada atentado que ocorre há dezenas que não ocorreram (T.S.F.)
« O combate ao terrorismo é um combate de longa duração», que «nos deve mobilizar a todos» e que exige «um trabalho de profundidade e de cooperação» [e] salientou que «há um problema de inserção» social na Europa (Inês Alves, Jornal de Negócios).
Os atentados mais parecem as detenções de coca. Entendido por comparação parece ele ser...
E combate ao terrorismo é como há décadas no Ultramar; mas só agora, quando uma canzoada com problemas de inserção social se ferra raivosamente às canelas de europeus é que o canastrão nos quere mobilizar a todos, aos portugueses. Para as colónias é que nem mais um soldado; não era terrorismo, eram movimentos de libertação!...
Mas esta manhã, de dar-se o caso do dia em Bruxelas, o atropelo rádio-eufórico ia todinho para conseguir pôr no ar, domèsticamente, um desses entendidos em tudo em geral e nas bélgicas em particular ou, em alternativa, qualquer cão ou gato que por lá andasse. Desencantaram o Moedas, que soou pelo éter em directo ao telefone a dizer justamente as coisas de que falou. Enquanto o ouvia na telefonia do automóvel sem no escutar, auscultou-me a senhora:
— Que lá faz este Moedas?
— Ganha-as.
— Sim, mas além disso?
— Não faz mais nada. Talvez ao depois as cá redistribua: a filhos... Ou a irmãos...
Mudei de posto por menos Moedas; no novo posto sintonizado anunciam o Moedas prestes a entrar no ar vindo posto anterior. — Ah grande Moedas! Sempre a postos!...
Pus a dar um terceiro posto onde não tilintavam Moedas, mas onde rangia alguém. A voz era-me familiar: era o Rangel. — E como rangia! — Várias vezes lhe atalhou o locutor por lhe cortar o pio e nada; o Rangel falava desenfreado, não ouvia interrupções do locutor e não se detinha. Jorrava-lhe o umbigo pela verborreia. Falou, falou falou, de Bruxelas, de Estrasburgo, da Europa, de Molenbeek das polícias belga e francesa, de aeroportos, de muito viajar de avião, de tudo e, pela antiga Estr. de Sacavém e pela Almirante Reis (eu), de Arroios ao Areeiro não o ouvi calar-se nem ele parou de falar. O locutor da rádio resignou-se por alturas do cinema Império; deixou o comentador convidado comentar até se calar e fechou o directo: — Tivemos o comentário de Paulo Rangel sobre os atentados em Bruxelas em directo do Porto.
(Imagem de página electrónica não recomendada.)
Esta manhã todas as rádios davam notícia dumas plusões no aeroporto de Bruxelas.
Estragos de bombas em Melsbroek, Bélgica, 1944.
Imagem por John Roberts, in Flickr.
Em tempos escrevi que os baixos relevos do ceramista Jorge Barradas na fonte monumental da Alameda começaram por ser coloridos e que não conhecia eu, como não conheço, fotografias a côres deles, dos anos em que exibiram a policromia original. Além das fotografias de Horácio de Novais que nos deixavam percebê-lo e que publiquei em tempos, recordou-me há dias um benévolo leitor o documentário cujo o excerto em baixo mostra as alegorias ao trabalho representando as artes da lavoura, da pastorícia, da pesca, e trabalhos tradicionais das mulheres e dos homens que o autor ceramista lavrou e pintou na fonte monumental da Alameda.
Claro que a policromia só se percebe no excerto do documentário em preto e branco, como os tempos de chumbo da longa noute que nos legou a Alameda e obras assim. Deve ser por isso que os democràticozinhos a desprezam tanto. Talvez nos seus escombros queiram edificar uma Alameda 25 de Abril para mostrarem obra como a ponte.
António Lopes Ribeiro, Lisboa de Hoje e de Amanhã
(1948)
Os guardiães da nossa aculturação chamam agora Elizabete II à rainha de Inglaterra. Bando de incompetentes! A rainha de Inglaterra é Elizabeth. E é II porque I era a mãe.
(Jornal das 8, T.V.I, dia de S. José de 2016)
Casa dos Lanifícios, Rua Augusta, 125 – Lisboa, c. 1900.
Joshua Benoliel, in archivo photographico da C.M.L.
Paco de Lucía, Ramón de Algeciras — Malaguenã Salerosa (Ramirez / Galindo).
Álbum: Dos Guitarras Flamencas en América Latina, 1967.
Pintura: Gabriel Picart. Montagem de Marie Maurice.
A fonte monumental da Alameda secou outra vez. Tempos formidáveis devemos viver que, com tanta maravilha técnica, tanta inovação, tanto empreendorismo, não conseguem manter a funcionar uma obra de hidráulica de 1948.
No pós-floresta da 2.ª circular (com sistema antipássaros), o mais tardar pela campanha das autárquicas, hão-de dar-lhe um jeito.
Fonte monumental, Alameda, 1948-70.
Artur Pastor, in archivo photographico da C.M.L.
(*) Monumental... -mente seca. E sem sistema antipassarões. Deve ser do Estado novo a que chegámos.
Dire Straits: Sultans Of Swing
(Rockpalast 79)
O tanque do Neptuno anda nestes dias em obras. Desmantelaram as pedras do bordo no lado da Tarantela.
Instalação da fonte do Neptuno, Estefânia, 1951.
Armando Serôdio, in archivo photographico da C.M.L.
Na investigação para a parte portuguesa do Atlas Linguístico da Península Ibérica, Lindley Cintra conta, percorreu todas as províncias portuguesas em 1953 e em 1954 para registar os falares das gentes. À laia de introdução deixou nótulas sumárias do modo e do temperamento local.
Para responder ao questionário, terá o dialectólogo de procurar alguém que represente com fidelidade o tipo de .falar característico da localidade — em geral um homem ou uma mulher de meia-idade, nascidos no lugar e ali residentes sempre ou quase sempre, analfabetos (de modo a não haver o perigo de estarem influenciados pela linguagem escrita). Do acerto na escolha deste informador depende muitas vezes o êxito de todo o trabalho.
[...]
No Alentejo, era fácil escolher os homens que iriam responder ao nosso questionário. Mas por motivos diversos dos de Trás-os-Montes. Aqui [no Alentejo] não precisávamos de procurar os informadores nas suas próprias casas. Não esquecerei nunca as praças centrais de certas vilas alentejanas e os jornaleiros aos magotes, esperando por alguém que os viesse contratar. Não esquecerei também certos funcionários de câmaras municipais a quem eu me tinha dirigido na esperança de que me ajudassem: «Ó F.! Vai ali à praça buscar um desses que para lá estão, um desses mais brutos, que nunca saíram de cá, que nunca viram nada!» E, daí a pouco, para o próprio jornaleiro, já vindo à nossa presença: «Deixa ver os dentes!» (Tratava-se de verificar se tinha algum defeito na dentição que prejudicasse a pronúncia, precaução que éramos sempre obrigados a tomar.) «Tu serves! Amanhã estás a tal hora na pensão onde estão estes senhores! E ouve lá? Lembras-te de algum outro , bruto como tu, e que também lenha boa dentadura?» Dois dias depois, no entanto, o mesmo jornaleiro fazia questão de estar na paragem, à partida da camioneta que nos levava e havia certa comoção na nossa despedida. Tinha sido tratado como homem, como o homem digno, nobre na sua capacidade de sofrer um destino injusto, que um inquérito linguístico tinha bastado para nos revelar.
Luís F. Lindley Cintra, Estudos de Dialectologia Portuguesa, 2.ª ed., , Sá da Costa, [Lisboa], 1995 (Introdução).
Aldeia esquecida [Monsaraz], Alentejo, 1940-70.
Artur Pastor, in archivo photographico da C.M.L.
D. Marcelo, o afectuoso, quase a abrir o discurso ao Corpo Diplomático com:
« Devem [vocês] provavelmente esperar que quebre o protocolo (…) Pois não vos vou desapontar.»
Para não desapontar, vertamos os interlocutores ao singular:
« Deve [você] provavelmente esperar que quebre o protocolo (…) Pois não te vou desapontar.»
Mesmo sem próclise [interpolada] o crioulo nunca desaponta, portanto, quebra-se a Gramática também.
E quase a fechar, vai de optimizar com o p muitíssimo audível (minuto 33:52). No discurso publicado oficialmente, porém, optimizar vem escrito sem p. Que papel estaria D. Marcelo, o aftoso, a ler? Papel de notas falsas ou pergaminho de mau coiro?...
Discurso do Presidente da República sobre a política externa portuguesa
na apresentação de cumprimentos pelo Corpo Diplomático.
Palácio Nacional da Ajuda, Lisboa, 10 de Março de 2016.
(Revisto. O som do tubo pode sair fanhoso, mas não foi de propósito.)
Já com o Rangel foi assim. Tanta genialidade que nem o Benfica jogando se sobrepõe à irmandade.
(In Arrozcatum.)
Panorâmica do alto de S. Sebastião da Pedreira na direcção do Campo Pequeno, Lisboa, [s.d.].
Espólio de Eduardo Portugal, in archivo photographico da C.M.L.
O Alemtejo não tem sombra
Senão a que vem do céu
* * *
A esquerda baixa e o cante mundial alvoroçaram-se com a Raposíada alentejana dum moço com coluna semanal no Espesso. Estranhando o escarcéu dispus-me a ver por mim como valeria o gèniozinho do saco de plástico tão formidável polémica.
Dez e meia da manhã, sábado, procuro o volumezinho no escaparate da biblioteca 3,5 € do Pingo e lá o acabo de achar, às pilhas, no chão, atrás do dito escaparate. — Bom prenúncio...
Passo o talho e enquanto aguardo o loto da peixaria abro a obra do génio moço para matar a espera:
« Dez e meia da manhã, sábado, 20 de julho (sic) …»
Paro.
Fecho o volumezeco e ainda o olhar diagonal sobrevoa nubladamente um «batizar» e uma «exceção» na página daquela linha. Antes de sair a pagar, deixo-o cuidadosamente nos congelados, à direita da pescada n.º 3 para fritar.
Para ler do Alentejo recomendo o Brito Camacho.
Adamastor (O)
Apartado 53
Bic Cristal
Blog[o] de Cheiros
Carmo e a Trindade (O)
Chove
Cidade Surpreendente (A)
Corta-Fitas(pub)
Delito de Opinião
Dragoscópio
Eléctricos
Espectador Portuguez (O)
Estado Sentido
Eternas Saudades do Futuro
Fadocravo
Firefox contra o Acordo Ortográfico
Fugas do meu tinteiro
H Gasolim Ultramarino
Ilustração Portuguesa
Lisboa
Lisboa de Antigamente (pub)
Lisboa Desaparecida
Menina Marota
Meu Bazar de Ideias
Paixão por Lisboa
Pena e Espada(pub)
Perspectivas(pub)
Pombalinho
Porta da Loja
Porto e não só (Do)
Portugal em Postais Antigos(pub)
Retalhos de Bem-Fica
Restos de Colecção
Rio das Maçãs(pub)
Ruas de Lisboa com Alguma História
Ruinarte(pub)
Santa Nostalgia
Terra das Vacas (Na)
Tradicionalista (O)
Ultramar
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