« Alguns dos feridos estão em estado muito grave, o que poderia alterar o balanço final de vítimas do ataque deste domingo a um centro islâmico no Canadá. Ao final [i.é, fim] do dia, quando mais de cinquenta pessoas estavam reunidas para uma última oração numa mesquita no sudeste do Quebeque, dois homens armados entraram no edifício e dispararam sobre os fiéis. Seis pessoas morreram no local. As autoridades detiveram dois suspeitos, um na mesquita e outro a poucos quilómetros. Não foram reveladas as identidades dos atacantes nem por que razão decidiram disparar sobre quem estava no centro. O chefe do governo do Quebeque anunciou a organização esta segunda-feira de marchas de protesto contra a violência e de apoio à comunidade muçulmana que vive na região. A polícia diz que não há outros suspeitos ligados a este ataque que o primeiro-ministro classificou como um atentado terrorista é um acto de cobardia contra inocentes. Justin Trudeau lembrou que o país que lidera não discrimina ninguém por razões religiosas e reforçou a ideia anunciada no sábado em resposta à decisão dos Estados Unidos de fechar as fronteiras a quem viaja de alguns países muçulmanos, que todos os que fogem da guerra, da pobreza e da perseguição serão bem vindos no Canadá.»
A sociedade industrial de concentrados S.I.C. abriu o seu telejornal jornal P.J. (leia-se pejota) ontem ao almôço com esta notícia chocante. Os sublinhados são meus e realçam a linguagem directa e sem rodeios posta na notícia. O contraste entre atacantes e inocentes declara ao telespectador o lado bom e do lado mau do caso. O dó das vítimas justifica toda a solidariedade com os muçulmanos e o ódio aos que os atacam. A chamada dos Estados Unidos ao caso serve para lhe colar o odioso — habilidadezinhas nada subtis do vulgar jornalismo, para condicionar o juízo ao telespectador.
Torno ao caso do padre de Ruão. A notícia da S.I.C., então, não falou em ataque nem atacantes. Foi «sequestro» e os «raptores» eram «dois homens armados com facas». O padre degolado «morreu», passivamente, talvez porque «tinha um golpe na garganta». E Hollande diz que disse que o Daesh foi «o responsável», enquanto o Trudeau classificou sem peias nenhumas o ataque de agora como «atentado terrorista».
Informar é deformar em função das vitimas.
(Jornalistas e imagens da S.I.C.-Noticias.)
Quando se despenhou nos Alpes aquele avião que se despenhou nos Alpes correu célere nas notícias a certeza de que não fôra terrorismo. E não foi; foi «sòmente» o piloto que deu em maluco.
Quando um fulano aos gritos de Alá é grande feriu quatro (um morreu) numa estação perto de Munique a emissora nacional disse simplesmente que o autor do atentado fôra um «jovem alemão». Não sei se o chegaram a dar por doido...
Hoje soube que mataram mais gente numa mesquita no Quebeque (ele há cada uma!...). Pode parecer que continua o mundo doido, mas agora não ouvi nas notícias de maluco nenhum; a emissora nacional informou sem hesitar que foi terrorismo contra muçulmanos (Andreia Martins, «Mesquita no Quebeque alvo de atentado terrorista», R.T.P., 30/1/2017).
Não me lembro de menção a terrorismo contra cristãos no caso daquele padre degolado na própria igreja, em França; consta dessa vez que foram «sequestradores»...
(As Portas de Viena são nas ditas.)
Adenda: diz que o um dos terroristas no Quebeque se chama Mafamede. Pode-se riscar terrorista.
Adenda 2 e correcção: diz afinal que o Mafamede não é terrorista; é testemunha.
Saldanha e Av. da República tirados do prédio do anjo, Lisboa, c. 1950.
Amadeu Ferrari, in archivo photographico da C.M.L.
Houve aí hoje um burburinho desgraçado com o sortido de refug… iados que tocam ou não tocam a Portugal. A Ana Gomes quer uns assim. A Grécia diz que escolher esses é discriminar outros menos assim. E uma carinha laroca que fala em nome da Europa como que decreta que Portugal não pode escolher a gente que há-de receber.
Portugal não tem direito a escolher?!...
Há aqui um problema. Para não haver escolha haviam de vir todos. Se não vêm todos, escolhem-se fatalmente alguns. Logo uns acabarão escolhidos e, havendo de haver escolhidos, alguém haverá de necessàriamente escolher. Se é para Portugal que hão-de vir e não tem Portugal o direito, brincamos.
Mas bem, o portugalinho defunto há muito se decompôs nisto:
Primeiro um mandarete não eleito dos portugueses arroga-se em seu nome (dos ditos portugueses) a dar aposentadoria a mouros. Em Portugal. A expensas de portugueses (ou não?)
Depois uma Ana qualquer Gomes que estrondeia para aí por tudo e por nada arroga-se escolher uns mais do seu particular agrado.
E por fim aquela boneca de Bruxelas: — «Portugal não pode escolher…»
Ouviu-se aí, no caso — além desses anfitriões da casa alheia, que arrotam democracia e jornaleiam sempre com a boca cheia de Povo (e nem falo já mais da estrangeira bruxeliante) — ouviu-se aí, pois, voz a mais algum português?
Pois então falo eu. Donde me vejo, o caso é muito simples: a Grécia pode descriminar como quiser o stock de humanos que lhe saiu para rifar (o S.E.F. ou os fronteiros da Portela do Humberto Delgado haver-se-ão na mesma forma com os mouros que ali calham). Os anfitriões aí atrás que convidem, recebam, alojem e agasalhem em suas casas quem bem lhes pareça; do cão ao barão, é com eles. Na minha casa não há anfitriões; o Zeus sou eu.
(Parto de Alcmena, in art.com)
Nos últimos 366 dias o entertainer de Belém ressoou 1103 vezes nas notícias (ou peças jornalísticas, segundo a conta o estudo do I.S.C.T.E.). O artista de S. Bento foi mais: ressoou em 1225 notícias (ou peças... realmente...)
Bom! Isto soa nas notícias de hoje, pelo que já somam ambos mais uma notícia cada um.
Destas contas tiro que ser presidente é um espectáculo e vejo o espectáculo que é governar; o jornalismo, são variedades sobre o espectáculo.
Festival do circo, Coliseu de Lisboa, 1973.
Artur Pastor, in archivo photographico da C.M.L.
(Revisto.)
Os do archivo phtographico dizem que é a Rua dos Fanqueiros.
Rua de São Paulo, Lisboa, 1973.
Artur Pastor, in archivo photographico da C.M.L.
O merdina fez a festa, atirou os foguetes e apanhou as canas. Não fui à festa do merdina. Podia pisar...
Saldanha e Av. da República sem préstimo ao ciclismo, Lisboa, 1969.
Artur Inácio Bastos, in Arquivo Fotográfico da C.M.L..
Jardim da Gulbenkian com mulheres polícias, Palhavã, 1973.
Artur Pastor, in archivo photographico da C.M.L.
Rua de Barros Queirós (antiga Tr. de S. Domingos), Lisboa, 1973.
Artur Pastor, in archivo photographico da C.M.L.
Fez a jornalistagem um congresso em causa própria mascarado de altruísmo pelo bem comum. É a conta que fazem de si. Pretendem-se jornalistas e não passam de ardinas: distribuidores de notícias. Preocupam-se com «noticias falsas» (do ing. fake news) mas não se ralam de propalar boatos (do port.), se certificados por si; querem alvará exclusivo do noticiário que, só de emanar de si haverá sêlo de verdade. Só um jornalista define, portanto, o que é notícia . O jornalista é um pré-sciente da verdade e um sciente da novidade. Vem-lhe inato da carteira profissional. Calá-lo é censura. Desdizê-lo é heresia.
Os antigos ardinas, agora que penso, também eram assim: distribuíam notícias com a pré-sciente verdade das redacções e a sciência da novidade no colorido do pregão e no arremêsso matutino dos jornais às varandas da gente. Esta jornalistagem assemelha-se-lhe: atira pelo éter vocalizos que ecoam das pré-scientes centrais e arremessa-nos com eles à telefonia da mesa de cabeceira logo de manhã; fica-lhe mal é armar ao fino só porque o apregoa a falar na rádio, que, segundo consta, é chic a valer!
As notícias...?
Esta manhã a emissora nacional jorrou em contínuo: das oito às oito meia, dois noticiários e reportagem de permeio sôbre a trampa da América. Trampa noticiosa, por conseguinte, e de alvará, bem entendido, mas eco (nada mais) da central internacional, até na insinuação da trampa que o novo bama é — ou o fraco bama que a nova trampa não chega a ser. — Só parou de jorrar quando houve de meter noticiário do desporto da bola. O noticiário nacional é, nestes dias, a perigosa trampa da América. E quando assim não é, é o ex-bama da América, esse santo. Em suma, o principal noticiário da emissora nacional é o (o Marcelinho da Gente que se cuide) presidente da América. Com adjectivos que se não é «notícia falsa». Um monólito de maledicência com chancela de jornalismo. Se a central internacional não fornecer notícias, então notícia, cá, é o frio que costuma fazer no Inverno.
Valha-nos que vamos em 20 de Janeiro e, como diz o povo, em 20 de Janeiro vai uma hora por inteiro e quem bem souber contar, hora e meia lhe há-de achar. Prenúncio de dias maiores, mais soalheiros, o que anima. Mas claro que este prenúncio só não será boato (ou «notícia falsa» como eles elaboram por défice lexical) se forem jornalistas a contá-lo.
Ardinas vendedores de jornaes, Lisboa, c. 1900.
Paulo Guedes, in archivo photographico da C.M.L.
(Revisto às 20 para as 11 da noute. E mais um pedacinho em 21 às 11.)
Quando não há que dizer fala-se do tempo. Fá-lo o jornalismo, fá-lo a Direcção-Geral do Piruças e, já agora, faço-o eu.
De há dias preenchem os notíciários o vácuo que os ocupa com o frio. Estamos no Inverno e o frio no Inverno é sempre uma grande notícia. Bafejá-lo em onda média ou frequência modulada ajuda, mais que não seja, a aconchegar o tal vazio. Fosse Verão e tínhamos incêndios...
Depois de almôço era uma reportagem por Trás-os-Montes a preguntar aos transmontanos acerca do frio. No outro dia foi na Serra da Estrela. — Parece que sim, faz frio, mas a gente entrevistada não no acha mais que ao costume; o tom do repórter é que não tolera imperativos de normalidade e vai daí insinua desdém ao dizê-lo ao ouvinte; como se a gente daquelas bandas não pudesse saber melhor do costumeiro frio de Inverno do que ele próprio, jornalista entendido no rigor da Meteorologia do Mar e da Atmosfera, como em tudo, e mais as notícias.
Pois bem, ajudando à infantilização geral há, na rádio, também de há dias, um aviso da D.G.S. recomendando à gente (ou melhor, à população, que é como se fala nestes avisos) que proteja as extremidades, use luvas, gorro e cache-col. — Faltou lembrarem-se do cache-nez, que é chic a valer, ou mandarem fungar no lenço de assoar para não discriminar os ranhosos, coitados. — Não se esqueceram todavia foi de mandar espirrar para o cotovelo em vez de pôr a mão à frente; de feito, evita-se o contágio por passou-bem, mas sinceramente, parece recomendação para contorcionistas: espirrar na dobra interior do braço ainda sou capaz sem esfôrço; já no cotovelo, porém, é gymnastica a mais. Devem ser estes que agora assim falam, recomendam e dão avisos que me recomendavam em invernos passados que vestisse roupa às camadas. Ao bom povo basta-lhe um agasalhe-se! se for caso. E às pobres bestas, em nas havendo, agasalhá-las-á ele também se necessário. Mas esses ceboleiros cuja inteligência hiberna desde a creche debaixo de camadas de roupa de marca, não tendo mais que fazer, julgam sermos todos infantilóides assim como eles.
Efeitos do nevão junto ao mercado do 31 de Janeiro, Lisboa, 1945.
Ferreira da Cunha, in archivo photographico da C.M.L.
E se quere saber mais, ligue para o 800 24 24...
O brâmane que se fez mandarete do portugalinho e ilhas teve ontem (ou já quando foi) as maiores honras na Índia. Tudo porque é o primeiro da raça de lá a presidir o governo num país de cá, da Europa. Os índios incharam com o feito e receberam-no até com upgrade, dando-lhe honras de chefe de Estado. Nada disto é racismo. Racismo seria um homem branco governar a Índia. Ou Goa, que fosse!...
Rua Direita de Goa, in Jan Huygen Van Lindschoten, Itinerario: Voyage ofte Schipvaert van Jan Huyghen van Linschoten naer Oost ofte Portugaels Indien, 1579-1592 (=Descrição da viagem do navegante Jan Huygen van Linschoten às Índias Orientais portuguesas), Amsterdam, 1596.
Imagem em Índia Portuguesa.
Parece que morreu o George Michael.
Capa da Voga com Linda Evangelista, Cindy Crawford, Naomi Campbell, Christy Turlington, & Tatjana Patitz que fizeram o playback no teledisco do artista da Liberdade.
...
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