Pois que o carnaval seja para todos.
Eu também luto contra a discriminação, Portugal (ou o que resta) — © 2017
O noticiário da emissora nacional às 8h00 desta manhã levou dez minutos dez, cheiinhos de óscares da América. Cheiinhos e bem sustentados, não lhes faltando as ambientais pastilhas antitrampa obamizando como habitualmente tudo o que se escoa da cloaca maxima me®diática quando a exalação é a América.
Isto dito, levou o noticiário depois dele breves instantes na rápida notícia dum aluir de terras na Rua de Damasceno Monteiro, em Lisboa (1 ferido ligeiro e alguns desalojados, a quem interesse) e o inevitável carnaval do Rio, até que acabou.
E acabado que foi o noticiário, entrou uma sempre oportuna reportagem em dia de óscares, sobre os óscares da América, repetindo os dez minutos de óscares da América do noticiário, pouco mais ou menos, mas agora com tisa (teaser no pós-português mercantil em vigor) — & de Oz cagou-se tuuuu… (= and the Oscar goes to, segundo tradução me®diática ou oficial) —, porque era reportagem e não simples notícia.
O corolário deste desconchavo oscarino-noticieiro nacional foi uma pregunta, ao depois, que me a senhora, pouco atenta aos evangelhos radiofónicos matinais, fez:
— Afinal quem ganhou?
— O Lá Lá Lão primeiro (La La Land na tradução oficial) e, depois, o Moonlight (impossível de traduzir, tanto que não traduzem), porque se enganaram.
O singelo comentário da senhora ao galardoado drama dum negro de Miami que se autodescobre, segundo a linguagem redundante da emissora, foi um riso de tão sincero quanto informado escárnio.
— Ena, que mau!
Menos informado eu me confesso: só aí alcancei o argumento do negro que se autodescobre...
— And the Oscar gays to…
Água forte: Piranesi, Vista do Tibre à boca da Cloaca Maxima, 1778. In Antiquarium.
Espectador vem no Aulete de 1881 (1.ª ed.) como pronunciando-se es-pé-ta-dor.
Por acaso apanhei esta manhã no canal da Assembleia da República a audição da Comissão de Cultura, Comunicação, Juventude e Desporto ao Centro de Estudos de Linguística Geral e Aplicada onde se amesenda uma neologista do Português, natural de Carabobo na Venezuela, de sua graça Maragrita Correia. A audição é fastidiosa e a arenga da tal Margarita já a conheço, de modo que lhe apenas dei atenção ao que disse sobre espectador e espetador.
De espectador disse que a escrita é à vontade da pronúncia ou do freguês, pelo que valem as grafias espectador ou espetador; ela própria opta por espectador porque, diz, pronuncia o 'c'. Não sei se a aprendeu do castelhano ou... No Aulete não foi.
Espetador (de espetar), disse, não estava dicionarizada. Não negou o seu uso, mas afirmou a sua ausência dos dicionários. Pois eu não fui vê-los todos nem acredito que os ela visse. Mas procurei no Corpus do Português e, em cerca de 45 milhões de palavras de quase 57.000 textos em português. Nem uma só vez, historicamente, há ocorrência escrita de espetador. Nem por espectador nem de espetar. Há todavia 3609 ocorrências do radical espect- em c. 90 flexões: espectador, espectáculo &c.
Presumamos com boa razão, pois, que ninguém nunca haja escrito o nome espetador derivado do verbo espetar. E presumamos na mesma medida, mas com maior razão, que a ausência daquele vocábulo aberrante também prova a inexistência histórica da grafia espetador como corruptela de espectador. — Sequer por se pronunciar es-pé-ta-dor, como ensina a 1.ª ed. do Aulete, espetador foi alguma vez usado!
O que concluo é óbvio. Os inventores do Acordo Ortográfico aborto gráfico pariram uma grafia disparatada para espectador, que em séculos de tradição escrita nunca se usou.
E diz a tal Margarita que com o «Acordo» a ortografia ficou mais transparente — ela usa este transparente com sentido de evidente. Ora evidente é que por séculos nunca ninguém achou obscuro ou equívoco escrever espectador, espectáculo &c. mesmo não pronunciando o 'c'. Mais. Todo este processo histórico parece atestar o valor diacrítico daquela consoante tal como afirmou Gonçalves Vianna.
O que vai dito para espetador serve para receção e não só.
Uma nota final. A muleta da tal Margarita no I.L.T.E.C. e na audição (um Zé Pedro Ferreira) usa barbarismos como estandardização e rodriguinhos lexicais como interpretadores. Grande intérprete havemos nós aí na vanguarda da lexicografia do português com este acordita, hem!
Faz annos que morreu. Na emissora nacional dão conta que se perderam as masters; não matrizes; as masters.
Noutro posto (T.S.F.) diz (como uma espécie de qualidade) que vestia diferente, o Zeca; não se vestia... Vestia diferente.
Uns rendem-se ao bárbaro, outros vegetam pelo creoulo. O Português hoje é isto; uma alienação pegada entre duas negações.
Da aculturação ao bárbaro em curso acelerado saiu há semana e meia um disco, por artistas portugueses de nomeada, a comemorar quem? — O David Bowie. — A divulgação do discozinho vinha já de há um mês e tal, na emissora nacional: um disco Antena 1; uma espécie de chancela de qualidade (no fundo um ferrete de idiotas nos portugueses). Aguardo com esperançoso júbilo o anúncio de um disco B.B.C., por artistas ingleses, de homenagem ao grande baladeiro antifacho.
Da TV do café despega-se a notícia: o I.R.S. pré-preenchido. Parece evoluído, mas é rudimentar. Vejamos: preenchido (pré-enchido) é meio feito, mas inacabado; logo pré-preenchido será redundantemente menos; talvez meio de meio; 1/4 de acabado, afinal.
Ou não saber dizer as coisas...
Bem me dizia meu pae, já lhe custando ver as letras meúdas dos impressos fiscaes: — Enche-me aqui o papel, tu que és moço, que eu já não vejo. — Eram tempos menos elaborados, mas concisos da realidade e da lógica.
Ecoa da emissora nacional o Nicolaço: ...o dinheiro tem de pagar imposto...
É outro desfocado da realidade; o dinheiro não paga nada. O(s) dono(s) do dinheiro talvez... Mas é tal a distracção que ainda agora, sabendo-se que o dinheiro se foi, não há quem saiba (ou diga, ou pregunte sequer), quem o movimentou.
Desgraçado dinheiro sem dono que nem de ser achado aproveita; logo que o acham o dão por perdido, mesmo não aparecendo o dono!...
E com isto de lhe nem nunca referir o dono, sae-se o entendido do Nicolaço que era o dinheiro que havia, ele só por si, de pagar imposto?!...
Pois, talvez sim! Com o fantástico I.R.S. pré-preenchido...
Nau Portugal, in Prof2000.
(Desta já a não resgatamos...)
Tavira, Algarve — (c) 2016
Numa scena de rua tirada ao cruzamento da Luciano Cordeiro com a do Conde de Redondo, que publiquei há dias, o sr. Valdemar Silva contou algo extraordinário, que transcrevo:
A Tabacaria-Papelaria que se vê no prédio de gaveto já lá estava no prédio anterior que foi demolido em 1963/1965, mas por falta de acordo com o senhorio antigo nunca saiu de lá, mesmo quando se efectuava a demolição. O prédio novo (este) construiu-se à volta e por cima da Tabacaria. Recordo-me por morar, mais abaixo, na Rua da Sociedade Farmacêutica.
Lembrava-me duma photographia do lugar, de António Passaporte, que tenho num álbum seu, Postais de Lisboa, editado pela Câmara. Lá se vê o gaioleiro demolido. A imagem vai em baixo, tirei-a dele, mas não tem definição para aferir os dizeres na montra da tabacaria. Percebo, contudo, as cervejas e refrescos na loja adjacente. E o engraxador (de ante a carrinha) também já ali tinha poiso a par do marco do correio. As portas da tabacaria (da esquina) para cá, que se vêem, vinham do n.º 91 ao 99. Este último foi o que se manteve no edifício que veio a ser construído no lugar, na única porta que tem serventia para esta R. de Luciano Cordeiro — em Maio de 14, uma loja de photographias, tal como lá estava na scena de rua de 1967. A tabacaria Fidalgo é que se já lá não via em 2014, porém. Teve epílogo antes.
A photographia deve ser de (?) c. 1958; o edifício na esquina diametralmente oposta, que foi sede da TAP, estava em construção. [O edifício de que se vislumbram os andaimes não é o de esquina e que foi emparcelado ao da TAP, mais tarde; é além dele; é o n.º 80, onde há ou houve uma garagem Auto-Embaixador e foi construído depois de 1955. Não invalida que a photographia seja de 1958, pelo que lhe mantenho a data.]
Rua Luciano Cordeiro ao Conde de Redondo, Lisboa, c. 1958.
In C.M.L., António Passaporte. Postais de Lisboa, [Lisboa], 1998, n.º 32.(p. 83).
Palácio das Exposições e Festas, Lisboa , 1941.
António Passaporte, in archivo photographico da C.M.L.
Quase o deixaram cair de maduro para o poderem inaugurar. — Exposições e festas; a propaganda por excelência.
Lisboa Lisbon, Portugal — Luísa Gonçalves © 2016
O portugalinho democrático, modernaço e europeu tornou-se num lugarejo tão bem frequentado como eficazmente regido. Por pategos de excelência.
Abertura do noticiário da sociedade industrial de concentrados (S.I.C.) à 1h00 da tarde:
Três bandidos (perdão, reclusos) serraram as grades da cadeia (perdão, estabelecimento prisional) de Caxias e puseram-se a cavar.
Há dias foram notícia umas armas que também cavaram... da arrecadação de material de guerra do Comando-Geral da Polícia de Segurança Pública.
E há semanas tinham sido uns moiros de Argel (perdão, migrantes) a cavarem nas barbas da guarda de fronteira na Portela do Humberto Delgado.
Terra sem rei nem roque. Quem se pode admirar do saque?!...
Banquete Metralha em Ivan Saidenberg ou num lugarzinho perto de si...
Ou da reles bandidagem.
Antiga Estrada Militar às Portas de Benfica, Lisboa — © 2017
O presidente da comichão para lamentar de intendência à Caixa Geral de Depósitos demitiu-se. Nas tubas da imprensa deu razões murais (exactamente) que o afligiram, sopradas com palavras como «obstaculizar»: tudo grandes princípios de honra honorabilidade e oratória de excremência; coisas assaz típicas de deputedos, deputados, enfim! Mas no fim nem percebi bem. Fala-se só para aí em «é se miasses; é simiezes»... Teletexto telefónico. Telé telé...
Esta fixação do jornaleirismo em geral e dos deputedos em particular — ...putados, digo — em se meterem democràticamente na quadrilhice sôbre o teor das conversas telefónicas particulares daqueles dois, Sentino & Domingues, tem graça. Mostra a semântica das «liberdades e garantias» segundo a regra de S. Bento; mostra o sentido das prioridades desse quarto poder auto-eleito que nos reza do altar político-me(r)diático e; mostra, em última análise, o senso geral que se produz hoje da realidade.
O que se sabe desde que o caso deu em folhetim é que:
E andam para aí à procura de mais provas de quê nos telefonemas dum estúpido?
Caixa Geral de Depósitos, Crédito e Previdência, Calhariz, 1966.
Armando Serôdio, in archivo photographico da C.M.L.
Rua de Luciano Cordeiro ao Conde de Redondo, Lisboa, 1967.
Augusto de Jesus Fernandes, in archivo photographico da C.M.L.
O autocarro é o 11, a carreira mais... sexy, digamos, de Lisboa. Ia da Picheleira para a Buraca.
A legenda diz azinhaga em Benfica. Vá que esteja certo. Não diz mais. À primeira vista podia ser a velhinha Estrada das Garridas, com aquele muro e o portão a recordar-me o que sobra dela ali onde a crismaram modernamente Rua da República Peruana, por alturas da Alameda do Padre Álvaro Proença. Seria o portão aquele nas traseiras do Laboratório Nacional de Investigação Veterinária...?
O panorama de Benfica a Sintra não no dá por muito certo.
Ideias?...
Photographia de Joshua Benoliel em mil novecentos e carqueja. No archivo photographico da C.M.L.
The Archies — Sugar, Sugar
(1969)
« Hoje em dia, aquella denominação, nem é desprezivel nem affrontosa. O progresso indultou o jogador; deliu-lhe da fronte o antigo ferrete.
[...] Se eu viesse á luz no seculo XVI, este meu mister de jogador era synonymo de vadiagem (Ord, l. V, tit. 82). Nas minhas tertulias, devidas á sorte feliz da tavolagem, lograria apenas reunir jogadores. Se nascesse no seculo XVII ou XVIII, os corregedores dos Philippes, de D. João IV e Pedro II, e dos reis subsequentes, se eu désse bailes, carregavam-me com as leis sumptuarias por sobre a pêcha de vadio. Em tempo de D. João V, D. José ou D. Maria, tanto o Camões do Rocio, como o Marques Bacalhau, como o Pina Manique mandavam-me responder do Limoeiro pela procedencia dos meus lustres, dos meus sophás, dos meus jarrões, dos meus contadores marchetados, dos meus bronzes, dos meus frescos, dos meus pendulos, dos meus pavimentos de xadrez lustroso. E vestiam-me talvez uma das librés dos meus criados.
Póde ser que, em outras eras tenebrosas, a felicidade no jogo fosse malsinada de fraude e roubo. Hoje não.»Camillo Castello Branco, «O jogador», in Noites de insomnia, offerecidas a quem não póde dormir, n.º 4 — Abril, Chardron, Porto/Braga, 1874.
«Placard», o nome escolhido pela Sancta Casa Holy House para as apostas desportivas, in poker.pt.
Afinal o quintal alto na Rua da Alameda dos Capuchos sempre tinha uma porta cá em baixo dando serventia para a rua. Era deste lado. Estoutra photographia tomada por Judah Benoliel do lado da dicta Alameda para o Palácio Centeno cá no-la mostra. Lisboa, circa 1953 — pelo menos a julgar da de Eduardo Portugal...
Uma Cecília Henriques — não imagino quem seja, mas deve ser defeito meu porquanto é pessoa importante, senão não seria entrevistada na TV — acabo de a ouvir dizer de si — sempre fui mandona — e reforça — bossy — não fosse ser mal entendida. Também diz que é muito «easy going», muito comunicativa (*).
Julgo que representa a civilização de aviário para a qual foi necessário o complexo sistema de avisos amarelos, laranjas e vermelhos da Meteorologia — perdão, Mar e Atmosfera — conjugados com recomendações radiofónicas da Direcção-Geral de Saúde de está friu, friu, muito friu; proteja as 'tremidades, use luvas, gorro e «cache-col» porque... é Inverno.
Aviário climatizado para manter negócio, in A Vindima.
(*) Alta Definição, ep. 365, na sociedade industrial de concentrados S.I.C. em 4/2/16 [2017].
Antre a Alameda dos Capuchos e o Campo de Sant' Anna a rua fazia uma garganta estreita, onde cabia, à vez, um autocarro, vá lá. As casas velhas de ante o palácio Centeno (à esquerda, onde acaba a calçada de Santo António dos Capuchos) foram demolidas e o sítio tornado mais desafogado a bem da viação urbana, mas em desprimor duma ignorada ruralidade: aquele muro alto contém um quintal alto soalheiro, com com latada visível árvores de fruto e, de certo, horta também. Faz-me bem lembrar a casa do tio Jacyntho e da tia Recarda na Vila Nova, com a diferença do muro desta que tinha uma porta cá em baixo, a dar serventia para rua...
O autocarro é o 23 do Desterro. A chapa é da Eduardo Portugal, circa 1953.
Mais uma bem documentada no archivo photographico da câmara municipal — «Obras para a colocação do lago e estátua de Neptuno», como se fosse no Largo de D.ª Estephania. — Trata-se, sim, da Praça do Chile; a chapa foi batida de andar alto no n.° 5 da dicta praça e a rua à direita é a de Pereira Carrilho, que se vislumbra até à Alves Torgo vinda do Largo de Arroios.
Naturalmente as obras são de remoção do tanque e da estátua de Neptuno para posterior colocação, ali, da de Fernão de Magalhães que ainda lá vemos agora. A photographia é de Judah Benoliel, circa [em 29 de Agosto de] 1950.
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