Este palacete do n.º 12 da Pr. do Saldanha, à esquina da ex-avenida, agora beco, da Praia da Victoria vi-o à venda faz umas semanas. Não sei se já foi vendido. Cuido que não. Uma casa destas, se não for para deitar abaixo e fazer um mamarracho não interessa a ninguém. — Nunca o vi habitado. Há meia dúzia anos vi-o dado à campanha do Pedro Coelho, o que me admirou. Mas não há-de ser muito de estranhar; o outro palacete no Saldanha que, a par deste, ainda não viu o camartelo foi onde assomou o tratante do Mário Soares em 85 quando ganhou as presidenciais. Cheiram-me sempre estas boas casas fechadas, que ora estão uma vida por habitar, ora são aqui ou ali facultadas a campanhas eleiçoeiras — cheira-me cá, eu — andarem dadas a confrarias mais ou menos discretas de irmãos lojistas. Daqui aos partidos...
É só um palpite.
A chapa é de Joshua Benoliel, para aí de há cem anos, e acha-se no archivo photograhico da C.M.L.
P.S.: repare-se nos frescos do frontão do piso superior (também os havia no frontão da Av. da Praia da Victoria e entre os arcos das janelas sul do 1.º andar e a cimalha) apagados por um novo proprietário cerca de 1939 (v. «Prédio na Praça Duque de Saldanha, 12» — Nota Histórico-Artística, in D.G.P.C.). Marcas da involução do gosto.
Para calcar o estrume que nos afronta hoje em dia.
Saldanha, Lisboa, 1965.
Armando Serôdio, in archivo photographico da C.M.L.
Alguém abriu os portões do manicómio. Loucos furiosos confundem anatomia com construções sociais. Instituíram uma sofisticada polícia do pensamento com missão de igualdade de género para capar o senso comum. Dementes, não notaram que as cadelas não alçam a perna para mijar.
A imagem do missal das actividadezinhas para meninas lançado no Index Librorum Prohibitorum é adaptada dum comissariado do pensamento certo.
A febre municipal das bicicletas vai por tudo: de obras rijas e de encher muito o olho (e esvaziar o erário municipal) como nas avenidas da República, Duque de Ávila, e adjacências; a obras escusadas de pintura de faixas de rolagem comuns em ruas, avenidas e praças, onde qualquer velocípede desde sempre pôde legalmente circular. Agora somam-lhe vias reservadas a transportes públicos. Na Av. do Aeroporto pintalgaram no chão em tal faixa reservada um boneco de velocípede privilegiando esses incensados veículos de tracção animal a par de táxis, autocarros e camionetas da carreira, que hão-de ter de negociar a via de circulação não reservada se os quiserem ultrapassar.
Podem sempre manter o privilégio da via reservada e seguir atrás dos ases do pedal.
Av. do Aeroporto tomada da Portela para o Areeiro, Lisboa, c. 1944.
Eduardo Portugal, in archivo photographico da C.M.L.
Em terra que faz gala em escaqueirar tudo o que é tradição... Notável!
Praça de toiros, Campo Pequeno, 19...
Paulo Guedes, in archivo photographico da C.M.L.
Sem deixar de ser empolgante, leitor melómano. Ora aprecie!
Trio de Guitarras de Barcelona — Entre Dos Aguas (Homenagem a Paco de Lucía)
Palácio da Música, Barcelona, 2015
José dos Santos — Boa tarde! MORTE EM BARCELONA! 💥💨 ... (R.T.P., 17/VIII/17).
Morte em Barcelona! Que bombo de locutor que se não atura. Mudo de canal e torno ao começo.
Rodrigo de Carvalho — Boa noite. Barcelona está em alerta máximo, no que é já considerado um ataque terrorista: uma carrinha avançou pelo famoso passeio das Ramblas e atingiu um número indeterminado de pessoas. Estão confirmados 13 mortos e 50 feridos &c. &c. (Jornal da Noite, S.I.C., idem).
Cuidaria eu que 13 mortos e 50 feridos só seriam um número indeterminado para quem não soubesse fazer contas. Vejo que também o é para telejornalistas.
José Hermano Saraiva, A Rama do Castanheiro
(R.T.P. 15/VII/2007)
Paco de Lucía & Ramón de Algeciras — Entre dos aguas
(R.T.B.F., 1981)
Vista aérea sobre o campo do Vitória, Lisboa, 1955.
Mário de Oliveira. Arquivo Fotográfico da C.M.L..
Esta história havia de sair no dia 16, quando faria — cuidava eu — 40 anos que aconteceu... — Há pedaços de infância assim, perdidos em terças-feiras do passado que conseguimos reconstruir, como os Legos, justamente, dessa mesma infância.
Pois bem! Mas o caso deu-se duas semanas antes. Enquanto remontava aqui os Legos desta história, eles não encaixavam no dia 16: o dia a seguir ao feriado de Agosto era quando seria sempre certo estarmos para a terra. E esta história deu-se, não na terra, mas nas terras; umas que caíam em ribanceira do alto do campo do Vitória para o lado da linha de cintura. A ribanceira era alta e a pique. Eu e o Tonico fomos lá dar por fora da rede, contornando o campo, a ver se conseguiríamos entrar nele. Não na saltámos porque tinha ela uns bons 5 m de altura. Como lhe não achávamos buraco raso, fomos dando a volta. Até que chegámos ao beco sem saída donde se ligava a rede do campo com o muro da escola primária. Para não andarmos a volta toda ao contrário, volta longa, resolvemos descer a ribanceira ali e atalhar pelos Embrechados, que sempre seria mais perto. Eram umas seis para sete da tarde e nenhum de nós aparecera para lanchar. A minha mãe não, mas a madrinha do Tonico haveria de lhe chegar umas lambadas, só disso, logo que tornasse a casa.
Muito bem! Até aqui, que tem a história de especial? Uma história de miúdos, dir-me-eis. Pois, mas ao resolvermos enfrentar a ribanceira ali naquelas terras a coisa tomou foros de alpinismo. Sem arneses nem petrechos que hoje fazem de actividades que tais brincadeira de meninos. E putos como eu e o Tonico enveredámos assim por uma descida a pique só com mãos agarradas a ervas e pés em barrancos de terra solta. Com esforço, foi só no sopé do cabeço terraplenado em que era e é o campo do Vitória, quando o declive se tornava menos acentuado, que se deu o caso: dispusemos-nos a enfrentar ali a descida de frente para a base do monte como caminhada mais fácil, e não já dependurados às ervas, de costas, como alpinistas de ocasião em escalada descendente. Ainda assim o plano era demasiado inclinado e as pernas logo aceleraram em passo de corrida mal a gravidade lhe mostrou a sua força. Na corrida desenfreada ribanceira abaixo, com as pernas em alta rotação a ver se nos aguentávamos sem tombar, senti um arranhão no pé e pensei — Já me aleijei! —, mas o que me doeu não me deu grandes cuidados. Porém, logo que parei no fim da descida e olhei para o pé, vi um rasgão enorme na carne fina do artelho e, através, uma visão irreal: o meu osso, branquinho, branquinho, a espreitar.
Apavorei-me.
— Já me aleijei! — gritei ao Tonico. Quis chorar mas não conseguia. Corri para casa — Ó mãe! Ó mãe! — aflito.
Em casa, a minha mãe não achou graça ao ferimento. Lavou-mo com água oxigenada (sim, ainda a havia nas caixas de primeiros socorros), ligou-me o pé e chamou um táxi (naquele tempo havia água oxigenada, mas não havia I.N.E.M.). Fomos ao hospital de S. José. Coseram-me a ferida com nove pontos. Portei-me como um herói. Nem chorei como um outro que lá estava na enfermaria e que berrava desalmado, coitado, enquanto o cosiam de ter caído sobre umas garrafas partidas no meio duma briga. O gajo era maior que eu...
De regresso, em casa, eram só mimos comigo: pedi uma almofada para pôr sob o pé como vira ao meu irmão quando estivera lesionado com um joelho de água dos juvenis do Vitória onde jogava a suplente. Foi ele mesmo que ma foi buscar, coisa extraordinária! E foi ele que me deu a notícia, que sabia me iria animar, de no sábado seguinte a Radiotelevisão tornar a dar o Espaço 1999. Cá está o marco que me permite situar no tempo exacto a memória: de acordo com as Catacumbas do Espaço 1999 cuidei que esta história se passara na terça-feira anterior à estreia na R.T.P. da segunda série do Espaço, no sábado de 20 de Agosto de 1977. As Catacumbas dizem que se basearam no anuário da R.T.P. — Má fonte: a data está errada. A cronologia não bate com o hábito de estarmos na terra depois do feriado de Santa Maria de Agosto. Consultei, a tirar dúvidas, pois, os Diários de Lisboa de Agosto de 77 (para alguma coisa, além do simples sorver dinheiro ao erário dos portugueses, a fundação do irmão do Dr. Tertuliano havia de servir) e a conclusão é inequivoca: vi aterrado pela primeira e única vez na minha vida uma porçãozinha do meu esqueleto em 2 (e não em 16) de Agosto de 1977. A segunda série do Espaço estreou-se em 6 de Agosto de 1977, para minha enorme sastifação, então.
Diário de Lisboa (supl. 7 x 7), 6/8/1977.
Esta manhã doía-me o artelho deste pé, mas deve ser reumático.
Nunca numa vida inteira esperei vir a ver a Fátima Campos Ferreira cantar em dueto com o Rui Vitória. Ele ao princípio pode não parecer muito o treinador do Benfica, mas ao depois é.
Clannad, Brian Kennedy e grupo coral Anúna — In A Lifetime.
(Catedral da Santíssima Trindade, Dublin, 2011.)
Para quem não conseguiu ver o fenómeno.
Barroco rockabilly, ou a formidável reedição das célebres pasquinadas sobre D. João V segundo a douta recriação histórica da Radiotelevisão Portuguesa. — Esta frase é mais barroca, ela, do que todos os episódios da série Madre Paula. Só não é mais rockabilly porque nada consegue bater o penteado da personagem do infante D. Manuel Bartolomeu, irmão de el-rei.
Cena da «Madre Paula», ep. 5, R.T.P., 2017.
Desde então deixei-me disso, mas há uma dúzia de anos ainda me deu a ideia de gravar um disco compacto (à maneira das cassetes) com um rol cantigas que me apeteceu levar para férias. Repesquei do baú da música ligeira umas velharias que me ainda não cansara de ouvir, para ao depois ouvir a caminho e, por lá, onde veraneava e veraneio (aprecio de há muito o viver habitual, até nas férias). Cançonetas, então, a recordarem-me agradáveis Verões havia muito passados e que cristalizaram, daí cá, em memória musical da última dúzia de verões. E o caso é que desde 2005 sempre que as ouço, dentro ou fora de época, os sons trazem-me um devaneio de bem estar em férias em que me de imediato deixo levar. A selecção de 2005 cristalizou-se em memória musical dos meus verões. A selecção de 2005 cristalizou-se-me n' a memória musical de Verão.
Esta é 3.ª da ordem. É como é.
Bruce Hornsby & The Range — The Way It Is
(1986)
Adamastor (O)
Apartado 53
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