José Hermano Saraiva, «Abrantes», a Palha e os Mistérios
(Lendas e Narrativas, R.T.P. 2, 15/5/1996)
... Português.
Padrão das Descobertas, Lisboa, c. 1960.
Mário de Novais, in biblioteca d'arte da F.C.G.
Duas da Av. de Ceuta, mais ou menos a par do viaduto de Santana de Baixo, sob o qual passava a Calçada da Quintinha que nela ali entroncava; ou ficava sem saída, não sei... Do outro lado de lá, era donde partia o ramal acesso à auto-estrada do Estádio [estrada da Pimenteira]. — Esta fisionomia deste lugar descobri-a só agora.
A avenida de Ceuta foi feita em aterro sobre o vale e (partes da) ribeira de Alcântara. Aqui a vemos acabada, tempos antes deste lugar ser novamente revolvido pela construção dos novos acessos à Ponte Salazar.
As fotografias hão-de dar aí pelo fim dos anos 50.
As paragens do 20, o autocarro da Serafina, são as que se vêem na banda esquerda da fotografia das três automotoras Allan em que havia uma senhora de vestido encarnado esperando o autocarro.
O campo da bola não sei agora de quem era. Pode ser que algum benévolo leitor no-lo descubra.
Fotografias: Av. de Ceuta a par do viaduto de Santana de Baixo, Vale de Alcântara, 195...
Mário de Oliveira, in archivo photographico da C.M.L.
Calendário da Pasta Medicinal Couto, Couto, L.da, 1963.
In Leilões BestNet.
* * *
A malta que (se) governa em S. Bento resolveu que havíamos agora todos de poder mandar uns bafos à vontadex sem havermos de ser chateados por rebates de velha consciência ou, mais prosaicamente, pela bófia. Tudo numa de curte com amigos, animais e natureza e na comunhão serena dum iá, men! 'tá-se!…
Vai daí enrolaram a lei do charro no plenário com a justificação de que é medicinal. Medicinal era a pasta Couto, mas, como podeis saber, teve de o deixar de ser por regra da Ouropa, da mesma ordem daqueloutra que ditou medidas ao arco da curvatura do pepino que se podia vender na praça. Não obstante, estes cá, agora, de neurónios coriscantes de vida saudável e em sinapses comprovadamente bafejadas pel' a vida é uma curte, resolveram decretar que medicinal é o chamon.
Os publicistas (*) destas benfazejas novidades tão essenciais ao homem contemporâneo, como poder morrer cheio de saúde e irradiando qualidade de vida, vieram prestes urbi & suburbi agitando parangonas: há nada menos de 100-subscritores-100 da «área da saúde», de diversas especialidades e adjacências mé®dicas, incluídos uns quantos investigadores de ciência omissa mas de defensorismo acérrimo jornalisticamente firmado que avalizam a descoberta (**). Convenhamos na enormidade do quantitativo apresentado, a acompanhar com a qualidade evidenciada, de mais a mais quando em contrário a este anúncio herbimedicinal nem delírio brotou na imprensa, nem efeitos secundários se acharam em quaisquer bulas de infarmédica desautoridade. — Avanços médico-me®diáticos (ou mé®dico-mediáticos, o leitor escolha) democraticamente absolutos — por sem oposição — num progresso da investigação científica insofismável, é o que é.
E assim, neste desbravar científico do homem novo — individualmente ou com mulher, animal ou natureza apensas, para ser inclusivo q.b. —, em que testes laboratório-me®diáticos comprovaram irremediavelmente os malefícios do croquete na cafetaria hospitalar ou nas cantinas desses depósitos de abortos inconseguidos e de potenciais eutanásicos, catalogados na categoria dos edifícios público-privados como escolas e lares, só me resta uma dúvida: o progresso científico e humano por aí ora anunciado decorre simplesmente da ganza ou deve-se já ao foçar adiantado em algo ainda mais... medicinal?
__________
(*) Púbico (exactamente) e Saco de Plástico à cabeça, com restante me®dia em auspicioso coro.
(**) V. «Médicos e investigadores defendem legalização da cannabis para fins medicinais», Diário de Notícias, 9/1/2018.
O Natal já foi no ano passado e daqui nada vamos em 20 de Janeiro... Natal, prendas (ele é mais prendinhas), presentes...
Ora bem, de «prendas» e «presentes», ou de «presentes» por «prendas», por duas ou três vezes critiquei por aqui a moda moderna agora em voga de todos na TV dizerem «presentes». Alguém me todavia alertou da ligeireza de tal juízo e, com razão. As alfinetadas com que procurava furar o balão da modernidade televisiva chic a valer foram irreflectidas e guiadas, no caso, somente duma impressão particular de pouco ouvir dizer «presentes» dantes, em pequeno, até à moda das telegabrielas cá chegar.
E em medida, preconceito, também…
Empreendendo na questão, então, presente é dádiva; prenda é dom. Consultando ao depois a Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira aprendi que Camões, João de Barros e Frei Luís de Sousa abonam «presente» [1] justamente como dádiva, enquanto Fernão Mendes Pinto, na mesma época, abona «prenda» [2] como dom. Parece haver um uso clássico com aqueles sentidos distintos. Abonam o uso mais moderno de «prenda» como «presente» Rebelo da Silva e Júlio Brandão [3].
(Fascículo in Mercado Livre.)
[1] «Dá-lhe de ricas peças um presente / Que só pera este efeito já trazia», Camões, Lusíadas, I, 61; «Partindo o mouro com esta resposta, tornou logo com um presente de carneiros, galinhas, limões, laranjas e outras frutas da terra», João de Barros, Décadas,II, Liv. 7, cap. 7; «… visitando-o com mimos e presentes», Frei Luís de Sousa, A Vida do Arcebispo, I, cap. 6, p. 197.
[2] «Estes portugueses todos três eram homens honrados… e de mui boas partes, assi no esforço, como nas mais prendas de suas pessoas, Fernão Mendes Pinto, Peregrinação, cap. 80, p. 112.
[3] «Diante de Deus estamos unidos. Quero dar-lhe uma prenda que nos recorde a alegria triste deste dia», Rebelo da Silva, A Casa dos Fantasmas, cap. 14, p. 61; «Escolho quem me dê uma prenda mais rara, de mais proveito quando o Sol der 100 voltas…», Júlio Brandão, Perfis Suaves, p. 10.
A mediocridade vigente segue flamejante. Só ela explica que uma mediocridade como Constança de Sousa haja sido requisitada agora (há dias) pelos publicistas do jornalismo medíocre para uma entrevista, depois dum mandato ainda menos que medíocre e do fogo cerrado dos magazines estivais. — Quadrilheiros cruéis fazendo joguete com uma idiota sem chama nem recato?…
Bom! O que disse a pobre e ouvi publicitado saiu-lhe com a mediocridade esperada: o país é só «treinadores de bancada», opinadores de chacha e ela uma desgraçada vítima de misoginia e sexismo. — Ah, pois é! Havia de ter ido à A.P.A.V. Em quanto a isso tornou ao parlamento e à docência na Universidade Autónoma de Lisboa!...
(Imagem adaptada do Sapo.)
« O ministério [das Finanças] alega que os bilhetes [para o camarote presidencial do campo do Benfica] não são vendidos, pelo que não têm qualquer valor pecuniário (telejornal da TV do Correio da Manhã, dia de Reis do ano 18)».
A redução do conceito de vantagem a «valor pecuniário» é — dizendo-o com palavras caras — artifício de prestidigitação. Mais prosaicamente e com maior propriedade, por alegações daquele estilo, se reduz o ministério das finanças a ministério da treta e, por ela, se denuncia o ministro a si mesmo como repimpado aldrabão.
Esta semana, notícia da tomada da sineta do Eurogrupo pelo «campeão» da imagem: reportagem típica decalcada das da bola com o repórter na terrinha do «herói» entrevistando o colega de escola, a empregada (fino!) ou qualquer cão ou gato que tenha inter-àààgido coa vedeta enquanto moço: ficamos a saber que o gajo era campeão da carica em Vila Real de Santo António e comia 4 carcaças 4 com manteiga ao pequeno almoço a acompanhar com Nesquik ou Toddy Pronto. Melhor, que me lembre, só pão com Tulicreme. — Caganda português!
(Imagem não sei donde, na rede.)
O cheiro de lareiras espalhado no ar frio em noites de Inverno como que traz rememorações de campo. Mesmo em lugares suburbanos. Querer-se-os-ia assim, tranquilos e serenos como no campo.
Votos dum ano novo sossegado!
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