Uma fotografia rara da última fase da carreira de eléctricos 2A.
O 2 era o eléctrico do Lumiar. A carreira começou em Agosto de 1902 do Rossio ao Lumiar. Em 1921 passou a circular dos Restauradores ao Lumiar. Em 1947 apareceu o 2A, um desdobramento do 2 que se quedava só no Campo Grande. Nesta imagem de 1962 vemos o 2A com a bandeira do Saldanha; depois da inauguração do Metropolitano as carreiras de eléctricos da Avenida foram sendo suprimidas por redundantes com o novo meio de transporte. O 2A manteve-se só do Saldanha ao Campo Grande, presumo, enquanto o 2B, que ia do Martim Moniz ao Lumiar via R. S. Lázaro, Campo de Santana, Gomes Freire, Arco do Cego herdou o n.º da carreira e tornou-se o novo 2 em 1 de Janeiro de 1962. O primitivo 2 foi assim extinto.
Era o princípio do fim dos eléctricos em Lisboa.
Eléctrico 2A, Lisboa, c. 1962.
John F. Bromley, Lisboa: diapositivos 1962–2004, in Flickr.
«Por Portugal [†] Uno e Indivisível», Lisboa, 1973.
Artur Pastor, in archivo photographico da C.M.L.
Falai-me de eléctricos!
Falai-me das avenidas!
Falai-me de arquitectura!...
Eléctricos, Lisboa, c. 1962.
John F. Bromley, Lisboa: diapositivos 1962–2004, in Flickr.
« Fernando Medina, por seu lado, diz que o boom [*] turístico da capital não pesou na decisão de reactivar a linha. De todo. O que pesou foi mesmo a vontade dos lisboetas.»
O Me(r)dina disse e, a boa da Cristiana Faria Moreira do Púbico [isso mesmo], logo titulou a coisa: «Pedido pelos lisboetas, o 24 voltou e logo se encheu de turistas.» O nexo é paradoxal: (re)faz-se pelo indígena; o usufrutuário é o... bárbaro. É como a verdade: a do Me(r)dina e a dos factos. A jornalista, não sei se se apercebe (mais certo é que não), mas acaba por lhe sair uma croniqueta fiel: do frete à realidade. E, do mesmo modo — i.é, sem bem se continuar a aperceber do que faz — a esta ultima (a realidade), soma a jornalista os referenciais que lhe moldam (agora diz-se formatam, não é?...) a mente. Dos termos usados (a linguagem, sempre a linguagem...) o que torna não é o eléctrico 24; é o 24E — quem mora em Campolide aplaude o regresso do 24E; o 24E deixou os carris há 23 anos — chega lavrar pergaminhos antigos de 70 anos a esta aberração 24E — Natércia Santos, de 71 anos, ao lembrar-se do “tempo de menina”, em que andava no 24E; e ao carro eléctrico (com tracção própria) chama-lhe a jornalista carruagem. — Conceitos...
Da fantochada do eléctrico 24 (ou deste 24E) e dos transportes colectivos da cidade já aqui disse há dias: — «Recuperação da carreira para serviço do alfacinha?... Duvido. Cheira-me a coisa para inglês ver (touriste oblige) e publicidade grosseira a uma vereação que governa Lisboa para o estrangeiro mais que para o lisboeta.»
Hoje (nem de propósito no dia que é...) somente acrescento, para quem consiga reflectir, o que escreveu Vasco Callixto n' As Rodas da Capital:
« Os primeiros carros para operários, com tarifas mais reduzidas, apareceram em 1935, em consequência do acordo estabelecido, em 5 de Julho daquele ano, entre a «Carris» e a Câmara Municipal de Lisboa. As carreiras beneficiadas foram as de Belém–Almirante Reis, Praça do Comércio–Alto de S. João, Belém–Caminho de Ferro, Ajuda–Rossio e Poço do Bispo–Rossio.
Em 1936, inauguraram-se mais duas carreiras: a da Rua Domingos Sequeira à Parada do Cemitétio dos Prazeres e a de Campolide a Almirante Reis (pp. 122-123).»
Eléctrico (sinal de perigo), Sintra, 1972.
Jean-Henri Manara, in Portugal (Flickr).
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[*] A onomatopeia portuguesa bum não serve. Deve ser do primado da fonética sobre a ortografia que ditou o chamado «Acordo Ortográfico» de 1990.
Dusty Springfield, Wishin' & Hopin' / The Look Of Love
(1973 1967)
Eléctricos, táxi e pimenteiro, S. Pedro de Alcântara, 1972.
Jean-Henri Manara, in Portugal (Flickr).
* * *
Ontem disseram-me de o eléctrico 24 estar de volta aos trilhos. Parece que sim... Mais ou menos... O 24 já circula entre o [Largo de] Camões e Campolide leio numa notícia. É daquelas notícias de banha da cobra. O carro eléctrico anda por lá, sim, em... manobras. Carreira regular, ainda se não sabe quando. Recuperação da carreira para serviço do alfacinha?... Duvido. Cheira-me a coisa para inglês ver (touriste oblige) e publicidade grosseira a uma vereação que governa Lisboa para o estrangeiro mais que para o lisboeta. Ignorante, ainda por cima. Ou não fosse o presidente da Câmara tripeiro. Do eléctrico 24 sabem nada: a carreira ia do Carmo à Rua da Alfândega; passava na Trindade, nunca no Camões; jamais desceu ao Cais do Sodré: era uma linha circular quase perfeita da Baixa à Baixa porque se completava no Carmo com o elevador de Santa Justa. Da mesma maneira, composto com o ascensor, o eléctrico 5 que se vê na imagem era uma ligação da Baixa à periferia de Benfica pelo trajecto alternativo de Campolide, S. Sebastião, Palhavã e Sete Rios por fugir ao congestionamento da Avenida. — Alguém me diga cá se o elevador de Santa Justa se conjuga hoje em dia dalguma maneira com a rede de transportes colectivos de Lisboa; do preço do bilhete ao estatuto de miradouro que define o elevador como marco turístico está bom de ver...
Ora esta espécie de eléctrico 24, agora, é mais disso mesmo. Os pergaminhos do eléctrico do Carmo que lhe colam são cuspo de propaganda de chicos-espertos para enganar gerações de ignorantes e inocentes excursionistas. Honesto seria pensar uma rede de eléctricos capaz para a cidade e arredores e polvilhá-la de pitorescos de postal ilustrado onde se justificasse.
Agora isto, este 24 anunciado, mais não é que um desses truques publicitários, com trajecto inventado nas ruínas da antiga rede de eléctricos da Carris. E se o lá conseguiram pôr agora em manobras foi porque os trilhos foram tão bem assentes no passado que após décadas de abandono ainda se aguentam com tal serviço.
Fábrica de café Tofa, Linda-a-Velha, post 1962.
Mário de Novais, in Bibliotheca d'Arte da F.C.G.
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O paganismo dos dias decretou que hoje é dia do café. Uma concessão civilizacional a emparelhar com o dia da mulher, bem vejo. — Acho que sim; aprecio amba-las cousas. — O que me faz espécie é o santoral da sociedade industrial de concentrados (S.I.C.) comemorar este dia de São Café com reportagem sobre uma bebida de «pó de bolota». «Pó de bolota» deixa-me a cismar: primeiro, pó de bolota não é necessariamente bolota em pó (moída); depois, se o «santo» do dia é o café, que tem a bolota (ração de porcos) que ver com...? Só porque parece, mesmo não sabendo nem cheirando?!...
Santa trapalhice!
Notícia de bolotada requentada na S.I.C. no dia de S. Café de 2018 (14/IV/2018).
José António Madaleno Geraldo, José Maria Hermano Baptista: Um Herói na Primeira Grande Guerra Mundial, 2.ª ed., Âncora, [Lisboa], 2013.
Memórias da Grande Guerra na primeira pessoa. Manuscrito do 2.º sargento José Maria Hermano Baptista.
O eléctrico n.º 501 pertencia a uma pequena série de três carros, construídos em 1913 e montados em zorras de grande distância entre eixos, como se bem vê nesta imagem. No caso concreto desta carreira, os três carros foram abatidos ao serviço em 1968 (A.M.T.U.I.R.).
Portanto, já os não conheci.
« Olhar para esta imagem de mim e da Rita Blanco é um misto de angústia e de prazer [e petróleo]. O que posso dizer? Éramos muito novos. As fotografias são terríveis porque o tempo destrói» (João Botelho).
Já sabia do chic que faz girar o mundinho (girar porque só mete gente gira...) Fatalmente não poderia morrer (eu) estúpido. E prontos! Fiquei agora a saber quem era o Manel.
Lede! Mas lede mesmo! Lede tudo que vale a pena.
P.S.: quem anda a Leste fica na sombra, mesmo que seja o P.R. (leia-se, public relations) do partido dos media.
P.S. 2: — Frágil? Isso não é uma coisa de paneleiros? — alguém me diz.
Philippe Jaroussky, Aux plaisirs, aux délices, bergères (ária cortesã — Pierre Guédron, c. 1614).
(Olivier Simonnet, Lully l' Incommode, 2009.)
Bach, Sonata em Sol maior (BWV 1038).
(Bach Dancing & Dynamite Society, Spring Green, Wisconsin, 2015.)
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