Rua do 1.º de Dezembro com portugueses, Lisboa, 1961.
Augusto de Jesus Fernandes, in archivo photographico da C.M.L.
Tal como no restaurant do chef Avillez (com dois lês), o prédio do Robles (outro nome chic) foi vandalizado.
Não foi decorado com arte urbana; foi vandalizado! O mesmo design num prédio devoluto, aí sim, seria arte urbana.
Quando a arte urbana dá no chic é assim: vandalismo. No resto é que é bom para o povo.
Imagem de Lisboa S.O.S.
Esta imagem define o culto da modernidade. Culto da modernidade pela modernidade. Culto mais inconsciente que cego, porquanto a modernidade quere-se de encher o olho. Daqui ter-se ali mandado o fotógrafo, a documentá-lo a nós, vindouros, para sabermos que os contemporâneos de 1961 não eram lá botas de elástico. A demonstrá-lo, o desprezo da imagem por aquela porcaria à volta da montra do banco: ferro forjado em Arte Nova de sacadas devolutas ou da porta da loja ao lado, onde, até as cadeiras e mesa modernistas da esplanada eram bafientos para a modernidade já pós-moderna.
Ironicamente, em 2017, um desconstrutivismo tão desconcertante como ecléctico veio e, restaurou a fachada ao edifício.
Siga a próxima moda!
Av. da República, 37, Lisboa, 1961.
Augusto de Jesus Fernandes, in archivo photographico da C.M.L..
Prédio para demolir (Rua D. Estefânia, 63-67), Lisboa, 1961.
Augusto de Jesus Fernandes, in archivo photographico da C.M.L.
Eléctrico 19 com atrelado, caminho do L. de D.ª Estefânia e com publicidade a Lumiar, Santos, 1965.
John F. Bromley, Lisboa: diapositivos 1962–2004, in Flickr.
Eléctrico 24, Lisboa, 1979.
John F. Bromley, Lisboa: diapositivos 1962–2004, in Flickr.
Largo da Abegoaria, actual de Raphael Bordallo Pinheiro, Lisboa, 1973.
Artur Pastor, in archivo photographico da C.M.L.
Uma imagem interessante do Largo da Abegoaria, à Trindade, com um Austin 1100 como o do primo Zeca quase a não caber nela.
O secular convento que deu o nome ao lugar da Trindade era de ante, onde está a casa forrada de azulejo que foi do Manuel Moreira Garcia, galego capitalista de forte crença maçónica, mas que ficou conhecida em vez do galego como a Casa do Ferreira das Tabuletas.
O gaioleiro do séc. XIX na esquina NO largo (à esquerda) foi trocado não sei quando (pelos anos 80) por um mamarracho da C.ª dos Telefones.
Pendurada sobre o largo, a placa dos eléctricos do Carmo: o 5 e o 24...
Por edital de 11 de Fevereiro de 1915 o largo foi crismado de Raphael Bordallo Pinheiro, mas na Toponímia de Lisboa só se o acha caricaturando o nome do autor do Zé Povinho como Rafael Bordalo…
Placa toponímica especial, Lisboa, [s.d.].
Artur de Matos, in Toponímia de Lisboa.
Crowded House, Don't Dream It's Over
(Ensaio nos estúdios da cabeça redonda (Roundhead Studios, Auckland) transmitido na rede, 2016).
Como em MCMLXXXVII...
Houve um tempo em que as gasosas e as laranjadas eram um regalo (já ninguém diz gasosa ou laranjada). Normalmente era no Verão, o melhor tempo do ano, quando a mãe nos deixava comprar em todas as refeições. Também era quando sabiam melhor. Refrescavam os Verões. Adoçavam as férias em casa e, especialmente, na do avô. Soube mais recentemente que em cada terra havia uma fabriqueta de refrigrantes. Indústrias regionais que não resistiram à C.E.E., à modernidade, ao progresso, à mundialização, ou lá o que foi. Era por isso que quando íamos de férias para casa do avô não achavamos laranjada BB ou gasosa Cristalina nos cafés da terra, e comprávamos outra marca que houvesse. Cada terra tinha a sua marca de refrigerante. Mas era bom à mesma: laranjadas e gasosas no Verão eram um regalo, tanto fazia a marca.
«BB», Escolas Gerais, 1972.
Jean-Henri Manara, in Portugal (Flickr).
«Cristalina», Terreiro do Paço, 1972.
Jean-Henri Manara, in Portugal (Flickr).
XXII Grande corrida TV Norte, Póvoa de Varzim.
The Corrs — Dreams
(Hyde Park, Londres, 2015)
… Mas em 2015 já não é bem a mesma coisa…
Dois AEC Regent V, os clássicos autocarros de porta à frente que vieram por 1957-58 e continuaram a chegar até 1966. Aqui de duas séries: o 347 (série 300), de 1958 já com a nova pintura toda verde dos anos 70 e, o 691 (séries 600-700), com a pintura original meia verde meia branca que lhe deram por volta de 1965 ou assim.
Tem graça falar eu aqui em autocarros AEC clássicos e da sua clássica pintura verde porquanto na página da Carris, clássicos são só os laranjas, de 1975 em diante. Parece que não havia autocarros antes…
Autocarros 25 e 39, Terreiro do Paço, 1972.
Jean-Henri Manara, in Portugal (Flickr).
_____
Agradecimento particular ao João Marchante. Obrigado!
C.A.T. — Cabos Armados e Telefónicos, Ld.ª, Venda Nova, 1962.
Mário de Novais, in Bibliotheca d' Arte da F.C.G.
Em tempos escrevi sobre Raul Alves Fernandes.
Esta igreja, dos Santos Doze Apóstolos — obra sua, juntamente com o asilo «A Caridade» (1928) e o preventório de São José (1957?) — dá a fachada para a Rua Barão de Sabrosa. É dessa rua a imagem.
Igreja dos Santos 12 Apóstolos e asilo «A Caridade», Alto do Pina, anos 50 (?).
Mário de Novais, in Bibliotheca d'arte da F.C.G.
Atlantic, Tintas, Terreiro do Paço, 1972.
Jean-Henri Manara, in Portugal (Flickr).
Ávila, Cabos Eléctricos, Terreiro do Paço, 1972.
Jean-Henri Manara, in Portugal (Flickr).
[...] Duas cores e cheiro: branco, branco, branco, branco doirado pelo sol, que atingiu a maturidade como um fruto, pinceladas de roxo uniformes para as sombras, e um cheirinho suspeito a cemitério. O fruto que chega a este estado está a dois dedos do apodrecimento, e é talvez por isso que a ideia do sepulcro me não larga nas noites brancas e pálidas em que me julgo perdido num vasto campo funerário…
O céu aproxima-se de mim. Da açoteia chego às estrelas com a mão. A aragem do mar é tépida e o cheiro persiste… Voluptuosidade e morte… Tenho a sensação criminosa de apertar nos braços uma mulher que se entrega, no momento em que entreabre a boca sucumbida — num vasto campo-santo, onde os espectros imóveis e brancos, de sudário, olham e esperam… O fruto vai completar o seu destino. Cheira que tresanda…Raul Brandão, Os Pescadores, Porto, 2003. p. 148.
Rua da Falésia, 47, ex-pinhal de Albufeira, 2018.
De manhã saio em Olhão deslumbrado. Céu azul-cobalto — por baixo chapadas de cal. Reverberação de sol, e o azul mais azul, o branco mais branco. Cubos, linhas geométricas, luz animal que estremece e vibra como as asas de uma cigarra. Entre os terraços, um zimbório redondo e túmido como um seio aponta o bico para o ar. E ao cair da tarde, sobre este branco imaculado, o poente fixa-se como um grande resplendor. É uma terra levantina que descubro; só lhe faltam os esguios minaretes. Duas cores e cheiro: branco, branco, branco, branco doirado pelo sol, que atingiu a maturidade como um fruto, pinceladas de roxo uniformes para as sombras, e um cheirinho suspeito a cemitério. O fruto que chega a este estado está a dois dedos do apodrecimento, e é talvez por isso que a ideia do sepulcro me não larga nas noites brancas e pálidas em que me julgo perdido num vasto campo funerário…
O céu aproxima-se de mim. Da açoteia chego às estrelas com a mão. A aragem do mar é tépida e o cheiro persiste… Voluptuosidade e morte…Tenho a sensação criminosa de apertar nos braços uma mulher que se entrega, no momento em que entreabre a boca sucumbida — num vasto campo-santo, onde os espectros imóveis e brancos, de sudário, olham e esperam… O fruto vai completar o seu destino. Cheira que tresanda […]
A habitação primitiva é um cubo com uma porta com uma porta e uma janela. Em cima a açoteia, para onde se sobe por degraus de tijolos, e muitas vezes sobre a açoteia o mirante. Entro num e noutro destes buracos com as telhas assentes em canas. Todos eles reluzem de cal. Dois compartimentos: a chaminé, que é o nome da cozinha, e a casa de fora. Uma esteira no chão, uma cama com uma colcha de seda, que só serve nos dias de festa, uma cómoda e um bancal de renda. A um canto um pote e o indispensável pincel. Caia-se tudo. Caia-se o lar e os degraus. Caia-se sempre. É um delírio branco. Subo à açoteia — a melhor parte da casa. O homem de Olhão tem por ela uma paixão entranhada. Se um vizinho a ergue, ele nunca fica atrás — levanta-a logo mais alto. É que a açoteia é o seu encanto: sítio esplêndido para respirar, eira para a alfarroba e o figo, e quarto para dormir no Verão sob um pedaço de vela.
Raul Brandão, Agosto de 1922, in Os Pescadores, Porto Editora, 2003. pp. 148, 154.
Fotografias: Artur Pastor, Olhão, uma visão de África e Olhão, geometria de formas, 194…-65 (ART016034 e ART016035, in archivo photographico da C.M.L.)
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