É uma questão já tem sido muito, muito discutida. É uma questão que estava na moda aqui há cinquent' anos. Por tal sinal que um ponto que se discutia sempre era este: afinal o Porto naseceu deste lado ou aquele lado? O Porto mais antigo nasceu em Gaia ou nasceu onde hoje é o morro da sé?
José Hermano Saraiva, Ecografia do Porto
(Horizontes da Memória, R.T.P., 29/VI/1997)
Rotunda da Encarnação, Lisboa, [s.d.].
Fototipia animada. Original de Mário de Oliveira, in archivo photographico da C.M.L.
O vegetativo deputado dos animais resolveu ocupar a indigência parlamentar com as beatas de cigarro (de charuto não sei…) que os animalejos de duas pernas jogam para o chão como escarros. E a deputação de São Bento aprovou sem demora uma linda lei que multa o coiro e o cabelo aos coirões que doravante deitem descabeladamente beatas de cigarro para o chão.
Deu nas notícias.
Já consigo ver a autoridade do Estado erguer-se grave e solene do seu cadeiral na assembleia, tocar para o vizinho dali do 4.º dir. e ferrá-lo com 200 a 4000 éros de multa.
O meu automóvel depois da lei das beat@s do P.A.N., Portugal —© 2019
Este lugar é um dos lugares mais emocionantes que existem em Portugal.
Eu até acho… — Como sabem agora é muito costume, os estudantes fazem umas viagens de fim de curso. — Eu acho que, para acabar qualquer ciclo de estudos, fosse o primário, fosse o universitário, devia ser obrigatório visitar quatro lugares. Sem conhecer esses quatro lugares, não se entende Portugal.
Um era o promontório rochoso de Sagres a apontar o mar desconhecido, o mistério do Infante.
O outro é o glorioso paço das escolas em Coimbra. Coimbra, onde nasceu um rei e uma dinastia e onde hoje existe a glória duma universidade que nos dá prestígio.
O terceiro ponto era o castelo de Guimarães. O castelo de Guimarães, que é uma espécie de berço pequenino onde nasceu Portugal.
Mas o ponto …
José Hermano Saraiva, Em torno da Galafura
(Horizontes da Memória, R.T.P., 22/VI/1997)
Av. da República, Lisboa, c. 1980.
Fotografia de A. n/id.
Confesso sentimentos mistos ante isto. Da cançoneta gosto. Mas ao mesmo tempo, tudo o que lhe vejo e entendo…
Deve ser de ser arte contemporânea; algo entre Mirós e a colecção Berardo; muito valorizado, mas, alguém que explique, que pode ser que se entenda.
Pelo menos aqui, ao contrário dessa arte inodora, a cantiga cheira-me.
Genesis, I Know What I Like
Estrada de Sacavém, Portela, 1938.
Fototipia animada de original de Eduardo Portugal, in archivo photographico da C.M.L.
Esta era a panorâmica do lugar. Da perspectiva cartográfica, pela mesma época, dei conta há pouco (algum) tempo, entre considerações mais ou menos curiosas de toponímia migrante (ia dizer itinerante, mas migrante é um vocábulo tão, tão em voga que me rendi a usá-lo).
Mas, donde se alcança isto?
O benévolo leitor que suba do Relógio à praça das partidas do aeroporto, tanto que aí chegue e consiga uma panorâmica para NNE, no sentido de Sacavém, logo achará. Além na estrada por onde segue a carroça do leiteiro é por onde se espraia a praça das chegadas num socalco abaixo das partidas. À esquerda da estrada entre muros, o casarão meio pardo de que sobressai a fachada é o palácio Benagazil, casa da quinta do Polycarpo Machado. Ainda lá está. Foi há pouco restaurada, ou pelo menos pintada por fora. Acha-se assim de pé, mas agora muito perdida no meio dos edifícios da Autoridade [?] Nacional da Aeronáutica Civil, dos Aeroportos de Portugal da Vinci e mais que haja, que vieram a apinhar este lugar da Portela de Sacavém. Ou do Humberto Delgado…
Seguindo por diante, as primeiras casas à direita, a par da estrada, eram da quinta do Caldas. — Aliás, todas estas terras daqui lá, desse lado do muro, incluída a torrinha ali à direita, eram terras do Caldas. Não sei quem haja sido o Caldas. Quiçá algum parente do Humberto Delgado…
Mais ao longe avista o benévolo leitor outra casa meia encoberta por uma grande árvore. Essa casinha mais as maiores que sobressaem à sua direita no mesmo plano eram da quinta da Trindade, que se estendia até ao arvoredo que lhe remata o horizonte. Do arvoredo para lá há um conhecido organismo ligado ao mar e à atmosfera, mas, naquele tempo em que à terra também se dava importância, era a quinta do Morgado.
A quinta da Trindade, propriamente, deu em NAV Portugal, que dantes tratava do controlo de tráfego aéreo sob a Direcção-Geral da Aeronáutica Civil — organismo do Estado português — e agora trata do mesmo sob o Eurocontrol…
Quando esta quinta ainda era meramente da Trindade não confrontava ela directamente pelo lado de cá (sul) com a quinta do Caldas. Entre ambas corria a estrada do Poço dos Trapos que levava aos Olivais. Está encoberta esta estrada na panorâmica aí acima, mas há uns fotogramas seus, fugazes, na Lisboa de Hoje e de Amanhã, de António Lopes Ribeiro, mostrando o ponto exacto em que entroncava na estrada de Sacavém (v. 14'28"-14'50" onde um táxi vira da Estr. do Poço dos Trapos para a Estr. de Sacavém, vindo dos Olivais, caminho da Portela de Sacavém; não sei se não viria nele, no táxi, o Humberto Delgado…)
E bom! A Portela de Sacavém, no termo de Lisboa, era como a vemos, dês do ponto em que se encontravam a Estrada de Sacavém, que segue para lá, e a Estrada da Portela de Sacavém, que vinha do Pote de Água.
Neste exacto lugar fizeram, pois, um humbertoporto. Saiu um tanto delgado para tão grandioso nome, mas o que importa não é a História, é a história que se quer contar.
Solar do Caldas (tardoz, virado a sul), Portela de Sacavém, 1938.
Fototipia animada de original de Eduardo Portugal, in archivo photographico da C.M.L.
Estrada da Portela, Portela de Sacavém, 1938.
Fototipia animada de original de Eduardo Portugal, in archivo photographico da C.M.L.
[Mas] era de comboios que lhes queria falar. Vou-lhes falar precisamente da história do comboio.
José Hermano Saraiva, Caminhos de ferro
(Horizontes da Memória, R.T.P., 15/VI/1997)
Saldanha, Lisboa, [1951].
Fototipia animada do original de Firmino Marques da Costa, in archivo photographico da C.M.L.
Viaducto de Entre Campos, Lisboa, 1950.
Fototipia animada do original de Firmino Marques da Costa, in archivo photographico da C.M.L.
O alcaide de Madrid, D. José Moreno y Torres, Conde de Santa Marta de Babío prestes a embarcar no avião da Iberia é acompanhado pelo Ten.-Cor. Álvaro da Salvação Barreto, presidente da Câmara Municipal de Lisboa, mai-lo chefe de gabinete do ministro das Obras Públicas, no aeroporto da Portela, em 15/VI/1950.
Do Diário de Lisbôa do mesmo dia:
Apresentam despedidas no aeroporto da Portela os srs. dr. Nobre Guedes e o sr. Ministro do Interior, que á [sic] condessa de Santa Marta de Babio [sic] ofereceu um lindo ramo de flores; eng.º Nazaré de Oliveira, chefe do gabinete do Ministro das Obras Públicas; o presidente da Camara [sic] Municipal, vereadores e chefes de serviço; capitão Pascoal Rodrigues, comandante da Polícia Municipal, e o director da «Ibéria», sr. La Cerda.
O alcaide de Madrid declarou á [sic] partida que começava a sentir «saudades» de Lisboa, unica [sic] palavra portuguesa que conhece para exprimir o seu sentimento e a recordação que leva das atenções recebidas pelo sr. tenente-coronel Salvação Barreto, e por todos, disse que Lisboa melhora dia a dia e que em breve será das melhores capitais do universo. Concluiu manifestando a sua satisfação pela honra de ser recebido pelo dr. Oliveira Salazar, que há muito admirava pela inteligencia [sic] e que muito o impressionou pela simplecidade [sic] do trato, que muito o penhorou.
Claro que os do archivo photographico da C.M.L. não puderam deixar de lhe chamar anacronicamente — à imagem catalogada — aeroporto Humberto Delgado.
Diabo de propaganda que só produz burrrice!
Que aeroporto Humberto Delgado?! — A fotografia é de 1950, pelo amor de Deus!
(A fotografia é de Firmino Marques da Costa, in archivo photographico da C.M.L.)
Não sei o que é viver sem liberdade. Devo ao Portugal democrático e ao Estado português boa parte daquilo que sou. Sou filho de dois funcionários públicos. Fiz o ensino básico e secundário numa escola pública. Licenciei-me numa universidade pública. Portugal não falhou comigo. Permitiu que um simples estudante de uma cidade do interior, sem qualquer ligação à capital e às suas élites, fosse subindo aos poucos na vida e chegasse até aqui.
João Tavares, Discurso do Dia de Portugal, Portalegre, 10/VI/2019.
Salazar, filho do feitor António e da ti' Maria do Resgate, nasceu no lugar do Vimieiro, Santa Comba, estudou em Bijeu e formou-se em Coimbra. — Falhou Portugal consigo, Salazar, por causa da liberdade ou da democracia, sem qualquer ligação à capital e ao seu escol?
Um jovem talentoso que queira singrar na carreira exclusivamente através do seu mérito, a melhor solução que tem ao seu alcance é emigrar. Isto é uma tragédia portuguesa.
Id.
E … a liberdade, o Portugal democrático e o simples estudante de uma cidade do interior, sem qualquer ligação à capital e às suas «élites» que foi subindo aos poucos e chegou até aqui graças ao Portugal democrático e ao Estado português … não emigrou?!
Calhando, como disse sem noção do que já dissera, falece-lhe ser talentoso e ter mérito!…
Fique-se, pois, com a liberdade de alçar os pés por cima das mesas.
(A imagem do Governo Sombra é da «Sábado», uma revista brasileira que sai à quinta em Portugal.)
Vista aérea do Instituto Superior Técnico, Lisboa, ante 1934.
Fototipia animada do original de Pinheiro Correia, in archivo photographico da C.M.L.
Destaque dos blogos do Sapo para hoje.
Uma desgraça nunca vem só.
A Sr.ª D. Maria Luísa cortou um dedo a folhear uma revista.
E eu, cagou-me um pombo no automóvel.
Se eu houvesse de fazer um museu ali, chamar-lhe-ia «RESTAURANTE DO ATUM — museu».
José Hermano Saraiva, A meia hora de Lisboa
(Horizontes da Memória, R.T.P., 8/VI/1997)
Av. de Paris com putos na rua e ciclista natural antes (muito antes) da beatice das ciclovias, Lisboa, 195…
Mário de Novais, in Bibliotheca d'Arte da F.C.G.
Repesco a imagem do CS-TSD com o Areeiro inacabado contra o horizonte de há semanas. Ou melhor, de c. 1950.
Porque…
T.A.P. — Transportes Aéreos Portugueses, DC-4 Skymaster CS-TSD, Aeroporto da Portela, c. 1950.
A. n/ id. Espólio do C.te Amado da Cunha. Col. do Sr. Ant.º Fernandes.
Porque foi efeméride de data redonda em 27 de Maio passado — fez 70 anos – a inauguração da nova ligação semanal Lisboa/Londres/Lisboa, com o DC-4 Skymaster CS-TSD. A tripulação foi: Cte. Marcelino, Pil. Silva Soares, Nav. Muller, R/T José António Pereira, Mec./Voo Coragem e Moura, A/B Ana Duarte. A bordo seguiam jornalistas e outros convidados.
«... O avião descolou do aeroporto de Lisboa às 10h20 da manhã e voou sobre o aeródromo da Ota. Avistando Monte Real a Este, veio a sobrevoar Espinho chegando ao Porto após um voo de 55 min. Dali rumou a Lugo, na Galiza, sobrevoando a província do Minho. Cruzou a fronteira entrando no território de Espanha a 9000 pés de altitude (c. 3000 m) com tempo formidável. Quando sobrevoava a baía da Biscaia, com uma 1h30 de voo, um magnífico almoço frio foi servido aos convidados. A primeira das ilhas do Canal a ser avistada após a Bretanha, quando se rumava para Cherburgo, foi a ilha de Jersey. Tendo sobrevoado Southampton, rumámos ao aeroporto de Northolt, o ponto de convergência de todas as companhias aéreas europeias, a onde chegámos 10 minutos adiantados ao horário.»
Apud TAP Air Portugal, Noticiário, N.º 3/89, 8/5/1989.
C.te Marcelino, DC-4 Skymaster, 1947-1960.
A. n/ id. M. P. Carneiro, in Rita Tamagnini — Livros.
A linha aérea Lisboa-Paris foi aberta vai para 71 anos. A viagem inaugural da nova rota foi realizada pela T.A.P. na terça-feira, 10 de Agosto de 1948, dia de S. Lourenço. Durou 5 horas, como previsto, e foi feita no DC-4 Skymaster CS-TSB. A tripulação foi: C.te Marcelino, Co-Pil. Louro, Nav. Décio, R/T Serpa, Mec./Voo Luís e Gonçalves, C/B Lopes e A/B Françoise. A bordo seguiram 25 passageiros, carga e correio. À imprensa declarou o Cor.-Av. Carlos Magalhães, director dos T.A.P.:
Mais um passo na aviação civil portuguesa no sentido de dar cumprimento ao programa estabelecido pelo Governo para nos levar a ocupar no mundo aeronáutico o lugar que nos compete.
Cor.-Av. Carlos Magalhães, director dos T.A.P., apud TAP Air Portugal, Noticiário, N.º 6/88, Junho 1988.
Após pernoita, o regresso foi na quarta-feira 11/08/1948, de acordo com o horário estabelecido.
T.A.P. — Transportes Aéreos Portugueses, DC-4 Skymaster CS-TSC, Lisboa, c. 1955.
A. n/ id. Espólio do C.te Amado da Cunha. Col. do Sr. Ant.º Fernandes.
José Hermano Saraiva, A sedução Algarvia
(Horizontes da Memória, R.T.P., 1/VI/1997)
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