Esta menhãa andava á procura d' A Hollanda. Não sabia d'ella e não havia mappa que me podesse valer.
Estava aqui, na esquina do Elucidário.
Ramalho Ortigão, A Hollanda, Magalhães & Moniz, Porto, 1885.
(1.ª edição portugueza compilando os artigos sobre Hollanda publicados na «Gazeta de Noticias» do Rio de Janeiro ao longo de uma collaboração de oito anos, onde se descrevem as origens, as cidades e os campos, as casas e as gentes, as colonias, a arte, a instrucção e a cultura dos hollandezes.)
Vasco Santana (ou Narciso Fino, da leitaria Estrela d'Alva), Portela de Sacavém (ou Pátio das Cantigas) — © 2019
(Caricatura de António, 2012.)
José Hermano Saraiva, Barcelos canta de galo.
(Horizontes da Memória, R.T.P., 26/X/1997.)
Num vislumbre de Alcântara em 1940 aparecia um burrico. Pois como os burricos são cada vez mais raros, aqui está outro. Com alguém que nos acena, suspenso no tempo.
Alguém que acena, Santana de cima (a caminho de), 1947 (?).
Fototipia animada dum original de Eduardo Portugal, in Arquivo Fotográfico da C.M.L.
Rua do Prior do Crato, Alcântara, 1940.
Fototipia animada dum original de Eduardo Portugal, in Arquivo Fotográfico da C.M.L.
Elio De Angelis & Lotus 81, G.P. da Argentina, 1980.
LAT Images, in motorsport.com.
Veio-me ontem à ideia o Lotus da Essex, o Lotus 81.
Já nos anos 70 havia marcas comerciais — sobretudo tabacos e bebidas — que se pegavam às marcas de construtores da Fórmula 1. Hoje é em todo o lado: Liga Nos, Volta a Portugal Santander, até uma estação de Metro… Mas nos anos 70 a coisa era limitada, não enjoava. Nos melhores casos entranhava-se até como um cântico: Yardley McLaren, Ligier Gitanes, John Player Special Lotus…
Pois ontem veio-me à ideia o Lotus da Essex.
De 72 a 78 — 7 anos — a Lotus andou ligada aos tabacos da John Player Special. Pareciam inseparáveis, quási se tornando numa e a mesma coisa. O preto e doirado devieram como que as cores dos Lotus. E em 79 os carros pretos da Lotus apareceram verdes a dizer Martini! A coisa não durou mais que esse ano e em 80 os Lotus deram em ser prateados azuis e vermelhos, com publicidade à Essex, uma empresa de compra e venda de petróleo. Tinham os números 11 e 12; o 11, o Andretti e o 12 o Elio de Angelis. Só continuaram daquela cor mais em 81…
Mario Andretti & Lotus 81, G.P. do Mónaco, 1980.
A. n/ id., in wheelsage.org
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Mario Andretti & Lotus 80, G.P. de Espanha, 1979.
Motorsport Images, in motorsportmagazine.com.
Mario Andretti, Ronnie Peterson & Lotus 79, G.P. da Holanda, 1978.
A. n/ id., in reddit.
Ronnie Peterson & Lotus 72, G.P. do Mónaco, 1974.
LAT Images, in motorsport.com.
Um motoqueiro do género brutamontes, o Jaiminho, salvo erro, lá da rua de cima, costumava dizer com gestos largos:
— O Correio da Manhã?! O Correio da Manhã é aquele jornal que dá a notícia do cabo-verdiano que matou o irmão à facada e depois põe uma fotografia de onde o irmão ia cagar.
Foi a melhor definição do Correio da Manhã que houve.
Pois houve! Velhos tempos… O tempo passa e nada fica igual. Todo o mundo é composto de mudança, já dizia o poeta, mas até nem isso. Agora temos o sacrossanto pugresso.
O Correio da Manhã montou-se no cabo e evoluiu do pasquim da gaja boa e da notícia de faca e alguidar na primeira página para o tele-evangelismo. A violência doméstica é a religião que prega. E como prega!…
Não por acaso, o adjectivo doméstico ganhou hoje foros de tão magna sacralidade que se tornou blasfemo fora do catequizador enunciado, como dantes, em que se usava a qualificar empregadas ou animais, domésticos. Ambas estas singelezas do quotidiano se expurgaram dos assépticos subúrbios deste novo mundo. O que temos do pugresso são finalmente colaboradoras e animais de companhia. — Dos animais bem temos visto como pugride o seu deputedo político. E das empregadas domésticas às colaboradoras subjaz a quintessência do mistério que consagra em plena divindade a violência doméstica no altar da sacralização feminina. Não esta no sentido histórico ou romântico, heteropatriarcal do galanteio e da cortesia. Mas como anátema masculino. Daí que fora com galanteios e cortesias e, ámen! agora ao mulherio, na pós-moderna forma de feminismo varonil; meninas, raparigas, senhoras, damas, donas, gajas, tipas, rameiras e toda a restante sorte de coirões que o belo sexo outrora continha valem agora indiferentemente como homens. — Que mundo! — Escaparão à voragem por ventuira algũas moças, por provirem de linguagem aldeã arcaica; desconhecidas, não imaginadas nas redacções sacristias e, inexistentes, portanto.
O altar mais sagrado da violência doméstica é o canal do Correio da Manhã. Acima do Governo e do Diário da República. Reza ladainhas de violência doméstica a cada noticiário como quem reza o terço ao fim da tarde: — Avé violência doméstica, cheia de desgraça, o Correio da Manhã é contigo. — E quando descai na velha faca e alguidar é porque a faca foi empunhada por uma mulher. Foi o caso da Bruna Letícia, mulher ciumenta e possessiva (estou a citar a missa do Correio da Manhã esta noite ao jantar) que degolou o namorado com quem se amancebara (o verbo amancebar sou eu que digo, não os pregadores do Correio da Manhã). Pois nem coabitando com o namorado — circunstância doméstica por definição antiga de séculos — arvorou o acto de haver aquela mulher morto ou matado o seu homem à categoria sagrada da violência doméstica. Nem por haver sido entre a cozinha e a casa de jantar ou o quarto. Não reza o Correio da Manhã de haver nunca tal sido violência doméstica. A Bruna mata o namorado, é o que dizem. Já com a Rosa Grilo também não foi nada violência doméstica, mas aqui há como atenuante uns angolanos, que sempre ressoam como gajos…
Violência doméstica Mata namorado, Jornal Missa das 8 (CMTV, 23/X/19).
Não houve portanto violência doméstica. Se os sacristães do Correio da Manhã o não disseram nem escreveram, logo não se trata de violência doméstica. Isso assim posto é um facto que testes de laboratório não desmentem. Não se pense por conseguinte no caso da Bruna Letícia em tal ou sequer em singela violência. Os termos enunciados pelo Correio da Manhã foram de que a Bruna Letícia se desentendeu com o namorado por ter ele dado os parabéns a uma antiga namorada, e que, por isso, acabaram, ele a e Bruna, aos encontrões. No meio desta… dança, a Bruna nem deu polo esfaquear. A faca calhou matá-lo, e ele, morreu, mais nada. Nada de violência, sobretudo nada da doméstica.
Já na notícia homilia a seguir à da Bruna Letícia o caso foi outro. Completamente diferente. A violência era desde logo doméstica porque o homem agredia verbalmente a ex-companheira. E ao depois até lhe pregou umas cacetadas. O homem e a ex-companheira nem ouvi que houvessem sido casados, se bem que fosse dito que o casal já não vivia junto aquando das cacetadas.
Pois aqui neste caso fica claro: fora de cozinhas e casas de jantar, o homem agredia?
O homem agredia. Foi violência doméstica. É ou não é?
Violência doméstica, Jornal Missa das 8 (CMTV, 23/X19).
(Revisto às 2h00 menos 5 da tarde de 24.)
Há Brandeburgo e brande Kopke.
N.º de frota 286 da Carris com brande Kopke, Av. 24 de Julho, 1967.
© L. Murphy, apud Chris Evans, in «Flickr».
Negócios, 22/X/19.
N.º de frota 44, de mil nove e 48, na carreira… 20 da Serafina? 40 do Centro Sul?
No último caso seria um tri 40.
O Piolho de Alcântara em fundo.
Carris: n.º 44 na carreira 40, Alcântara, 1967.
© L. Murphy, apud Chris Evans, in «Flickr».
José Hermano Saraiva, História e lenda em Montemor-o-Novo.
(Horizontes da Memória, R.T.P., 19/X/1997.)
Viaducto da Régua, lavadeiras e vinha, Alto Douro, 1974.
Jorge Woods, in Flickr.
Ele agora são os «influencers». Não chega a ser macarrónico porque nem português é. É bárbaro cru. Aqui há tempo ainda nos ficávamos pelo dito macarrónico, no caso, por exemplo, dos «fazedores de opinião» (do barbaresco ainda traduzível «opinion maker»). Mas antes, muito antes, de há séculos, havia nome português para esta gente:
— PRE-GA-DO-RES —
Estirpe que degenerou vergonteas e enxertias em tal cópia que o bom povo lhe atribuiu o composto nome de vendedores de banha da cobra.
Influenceeiros (à atenção dos Priberantes ou da Academia das Sciencias), in Oráculo de notícias em 19/X/19.
Abonos para minha memória e vossa curiosidade:
Falazarem
Fialho, «Os Gatos», vols. 5 e 6 (pasquinadas originais de 1890 e tal)
— … amigos falazarem
— … logo a falazarem do caso…
Falazavam
Aquilino, «Terras do Demo» (1919)
— … o que elas falazavam não sei eu…
Falazar
Manuel Ribeiro, «Planície Heróica» (1927)
— … aquele falazar é já de zorata…
Falazava
Samuel Maia, «Mudança d’ Ares» (1915 ou 16)
— …Manuel Caseiro, remexia, falazava… a acordar o pessoal…
Notas: o Aulete na rede dá o verbete (original) com o abono de Samuel Maia; os restantes abonos foram colhidos do Corpus do Português; na 5.ª ed. do Dicionário da Língua Portuguesa, da Porto «falazar» tem entrada; no Dicionário Prático Ilustrado, Lello, 1976, não consta.
Recorte: Maria de Aljubarrota, «Uma curiosidade», in O Diabo, 11/X/2019.
Ontem apanhei o 44. Coisa rara. Vi que nem vai já para o Cais do Sodré. Fica na Rotunda, a que chamam Marquês até nas «catacumbas» do Metro, porque talvez a memória seja um escolho ao progresso… (ou porque necessite o Sebastião José de sucessiva invocação de profanos por môr dalgum rito de veneração iniciático…)
Bem, quando tive o passo para ir para o lyceu, gostava de passear no 44. Não sei porquê. Foi das carreiras em que passeei mais, a par do 15. Talvez por terem sempre autocarros modernos (um gosto ecléctico de modernidade só meu, ingénuo e genuíno, porque inconsciente e infantilmente me desagradavam os então moderníssimos Volvos de 1975. Os Daimlers no 15 eram dos baixinhos, com três portas, uma originalidade sem par na frota da Carris. E ao depois, do 44 tenho até aquela história do fourty four.
Desse tempo, lembro-me de quarenta e quatros verdes (raros), laranjas (já mais vulgares), Daimlers direitinhos como os da série deste 849 e também dos outros raros direitinhos da série 851-855, que eram mais direitinhos. O que nem nunca pude imaginar foi um 44 (ou um Daimler da Carris) com estas cores em 1967. — Que estranha coisa!… — Um marketing destes era deveras elaborado para o Portugal atrasado de Salazar, haveis de concordar!…
Autocarro 44 (Daimler Fleetline n.º de frota 849 da Carris), Moscavide, post 1967.
© L. Murphy, apud Chris Evans, in Flickr.
O Acordo Ortográfico é isto. Mas é que é mesmo!
Hoje vi um cão, um cãozinho, a sair do Metropolitano. Saía por ele. Trazia um bípede atrelado.
Metropolitano de Lisboa, Saldanha, 1959.
H. Novaes, in Bibliotheca d' Arte da F.C.G.
O bípede do cão não era cego.
José Hermano Saraiva, Arruda, verdade e lenda.
(Horizontes da Memória, R.T.P., 12/X/1997.)
« Acaso, não é este o país em que toda a gente, gente de prestigiantes e consagradas qualificações — doutor Eurico Brilhante Dias, doutor Pedro Passos Coelho, doutor Daniel Oliveira, doutor Rodrigo Moita de Deus, jornais como o Público ou o Diário de Notícias —, quadriplica? Não dera já o próprio Plúvio conta disso? »
E quando o partido dos animais proclama — Conseguimos! … Quadriplicámos o número de mandatos! — atinamos na prosperidade da espécie.
«Produção de Muares», Boletim dos Agricultores, n.º 1341, [imp. 1949].
Dep. de Agricultura dos E.U.A., in Biblioteca da Universidade do Texas.
(*) O mote para o título e para o verbete choveu-me dum confrade pluvioso.
Happy sods socs!
Ou a manifestação duma civilização convictamente… apalhaçada. Mas, vá lá a gente dizê-lo. Alguma colega do lado, que respeitamos, ainda vem e diz com legítimo orgulho que o filho, que até chegou a assistente universitário, as usa.
Justino (bebé) Trudeau recebe solenemente o primeiro-ministro da Irlanda com meias à Mel Brooks. A Sorça esteja com ele.
(In Esquire, 4/V/17.)
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