A Baixa de Lisboa pelo Natal, Rua do Ouro, c. 1940.
Judah Benoliel, in archivo photographico da C.M.L.
Assim se deveria dizer. Como se dantes dizia e diz «máquinas sínger» ou «laca sunessilque».
Isto se fosse por assimilação natural.
Porém, como blaque fridai é afrontosamente como o haloíno, vamos lá com blaque fridai como que por desprezo. — O O'servador (o «b» deste pasquim entendo que é consoante muda; omite-se) resolveu até educar-nos na rica história da cultura amaricana. Para decerto não morrermos nós, consumidores, num apagado e vil vazio de História em Portugal.
Blaque fridai, fo… rça! (Doutra maneira não se pode dizer «preta»…)
Guife do O-bzz-bzzz-ervador.
José Quintela, «A Farsa de Gaza», in Observador, 26/XI/19.
Um estaminé ao pontapé, Livre partido, 2019.
Modelo em madeira do B747 CS-TJB, «Brasil», da T.A.P. — Transportes Aéreos Portugueses (col. particular) — © MMIXX
Housing First não é só um título em bom português duma coisa qualquer. Nem é uma coisa qualquer. É todo um programa, concebido por finlandeses para acabar com os vagabundos, vadios, indigentes, mendigos, pedintes, pobres, dementes ao deus-dará ou simples desvalidos desabrigados espalhados pelas ruas de Helsínquia.
Ah! E baptizado por eles, finlandeses, com um belo nome amaricano! (Como parecem portugueses!)
Vê-se a coisa agora por cá.
Por conseguinte, não só passámos — nós, os da pátria de Camões — do bárbaro homeless ao anglicismo sem-abrigo — uma espécie de omelesse sem ovos à portuguesa, que é a clássica luso-aculturação ao amaricano com arrimo lusitanizante. — Não só passámos disto que disse, como parámos por estas bandas completamente de querer pensar. Com boa vontade, se não desligámos já definitivamente o cérebro, podemos entender que dar um cunho nosso à Hous… coisa é decalcarmos (=copy/paste) todo o programa dos finlandeses e escarrapachá-lo solenemente na folha de couve Oficial do Governo como Resolução do Conselho de Ministros n.º 50-A/2018, com o pomposo sumário: Aprova o sentido estratégico, objectivos e instrumentos de actuação para uma Nova Geração de Políticas de Habitação (com ortografia assaz mutilada, como calculais). Lá pelo meio do despacho ou decreto ou o raio que é uma Resolução do Conselho de Ministros, pode ler ver-se Housing uma data de vezes. Chic a valer!
Assim posta a coisa, mais parece que foi um Governo do dr. Ant.º Costa que engendrou o programa, o título, e tudo, hem! — Ora adeus ó finlandeses!… Adeus ó sem abrigos!... Adeus ó língua de Camões!
Nota final. Pode parecer bem, mal, ou estúpido descaso, o Correio da Manha (isso mesmo) grafar tecto a par de projêto, mas não se engane o benévolo leitor. O jornalista redigiu mesmo o título cacográfico Lisboa quer dar teto a todos os sem-abrigo. Mas ao depois, o director lá, o Otávio (isso mesmo), olhou para aquilo, leu mentalmente em voz alta e olha!… Fez ao Acordo o Ortográfico que adutou lá no jornal o mesmo que outro também fez ao segredo de justiça.
(Devo a notícia do Correio coiso e o mote do barbaresco Housing Fresta, ou isso, ao meu prezado amigo D.C.)
Como a técnica muda as coisas (ou não muda nada)! — Selfie vai, selfie vem, de toda parte a… Ora bem!…
José Hermano Saraiva, A cidade da História.
(Horizontes da Memória, R.T.P., 23/XI/1997.)
Excursão, Parque, c. l960.
Fototipia animada de A. n/id., in Portimagem.
Dum provável erro na datação do comboio de tropas na Régua (G. Woods, 1974) fui alertado pelo benévolo leitor João Távora, já que o logótipo moderno da C.P. visível num vagão de carga no lado esquerdo da fotografia só teria sido usado de 1981 em diante. Com vaga memória, eu, mas crendo que sim (lembro-me muito do logótipo antigo em comboios e estações, com o C comprido e o P de perna curta formando como uma elipse, e do seu contrastante moderno se lhe ir sobrepondo — tinha sentimentos mistos sobre qual preferia) dei nota ao Sr. Woods no Flickr de poder haver um engano na data de sua fotografia. Respondeu-me ele cordialmente que não, não havia dúvida, porquanto a única vez que viera a Portugal fora naquele ano de 74, que as suas belas fotografias documentam.
Realmente — por acaso ou não — ainda ontem ao almoço me preguntou o meu bom Amigo e confrade Plúvio se o meu pender em que o logótipo mais moderno da C.P. devesse com boa probabilidade ser posterior a 74 era certeza comprovada ou uma vaga ideia minha. Ao que lhe respondi ser a segunda hipótese, com que me parece se convenceu, mas com que acabei afinal polo induzir em erro, desgraçadamente!
Dizia acho eu que Fernão Lopes que em cousas muito antigas, certidão não podia haver. Mas estamos aqui falar de há menos de meio século!…
Coisa fraca, a memória da gente. Engana-se mais depressa ela mesma do que aquilo que se deixa enganar…
Ora, para pôr finalmente a verdade nos trilhos venho agora aqui com a capa e o rosto do Boletim C.P. do primeiro trimestre de 1974 que o muito estimado confrade Manuel do H Gasolim Ultramarino, atenta e graciosamente, me presenteou ontem à tarde.
Não há nada como sem dúvida.
Boletim C.P., n.os 535/537 — Janeiro-Março de 1974.
(Gentileza do confrade Manuel.)
9 = um (anúncio de dias e Daimlers Fleetlines), in Gazeta dos Caminhos de Ferro, 1897, 1/1/1967, p. 368.
A censura era tramada. O falecido baladeiro José Branco cantou a liberdade e teve certa «canção proibida» porque mencionava qualquer coisa a propósito de um soldadinho que não regressara.
Os não soldadinhos desertores regressaram todos. Coisas de exércitos de fujões sempre a bufar que a luta continua.
Comboio de transporte de tropa, Régua, 14/4/1974 17/IV/1974.
Jorge Woods, in Flickr.
José Hermano Saraiva, A História continua.
(Horizontes da Memória, R.T.P., 16/XI/1997.)
O artigo refere o Freitas. Mas diz muito, muito mais do outro. Um medíocre que antes de ser tomado por acaso numa esquina da História, que o projectou, andava já — só Deus saberá como — ao colo do Estado. Desgraçada sina!
Prima o benévolo leitor a notícia para ler.
Pedro Soares Martinez, «Freitas do Amaral também se enganava… pois nunca votei em Mário Soares», in O Diabo, 8-XI-2019.
Há aquela anedota no meio aeronáutico de no «cockpit» dos grandes aviões de passageiros dever ir um só piloto, acompanhado dum cão. O piloto para pilotar; o cão para morder o piloto se ele tocar nalgum comando de voo.
Das piadas à realidade vai curta distância. Há restaurantes onde os cães entram, mas gente que fuma fica à porta.
Os animais são coisa de importância. E eu, claro, dou-lha.
Certa vez preguntaram-me umas senhoras se queria eu um gato vadio. Respondi-lhes com uma pregunta que pareceu justa: se tinham elas já preguntado ao gato se me queria ele a mim. Voltaram-me as costas sem mais, como ofendidas.
Hoje andou um juiz num tribunal de família e menores a inquirir um cão sobre se gostava mais do dono ou da dona…
Hoje, também, ouvi uma boa. A corja eleita para governar a gente prepara o homicídio por receita médica. A gente não vale nada. Já os cães…
José Hermano Saraiva, Boa terra, melhor gente.
(Horizontes da Memória, R.T.P., 9/XI/1997.)
Avenida de Fontes com a Martens Ferrão, Lisboa, 1967.
Augusto de Jesus Fernandes, in arquivo fotográfico da C.M.L.
Melhor! A paisagem mudada, o orgulho do moderno prédio já não de rendimento, mas de sétimo andar com elevador (o luxo da burguesia média-alta do tempo da mini saia) — senão a câmara municipal nem lá tinha mandado o fotógrafo documentar a formidável pós-modernidade. Em 1969 seriam os 20 andares do Imaviz e em 71, salvo erro, os 25 do Sheraton, um pedaço de avenida (e não só) mais acima — 5 estrelas!…
E a ortografia despida, como a de Queirós do Eça nas edições dos Livros do Brasil. Aquelas que na melhor hipótese eram encadernadas em vermelho e dourado.
Sou deste tempo. A rua onde nasci ver-se-ia ao fundo, não fora (fôra ou fora?!…) a furgoneta pão-de-forma (fôrma ou forma?!…) a passar.
Avenida de Fontes com a Martens Ferrão, Lisboa, post 1902.
Paulo Guedes, in archivo photographico da C.M.L.
E bem! Não há muito a dizer. É o pittoresco das avenidas novas por 1900. O «maldito» predio de rendimento, que os contemporaneos condemnavam por desfear os lotes que se queriam para chalets á franceza. Ou á suissa. Tres andares! Uma brutalidade de volume (no séc. XXI diz-se pomposamente «volumetria», quasi parece scientifico), contrastante da bucolica rusticidade arrabaldina dos lugares por se onde espraiaram as taes avenidas. Novas. — Vede o casario além! Do fundo do taipal a São Sebastião da Pedreira. A igreja lá se vê, cortando ainda o horisonte com sua tôrre sineira. D'antes as terras, e até os lugares, eram assim: nada acima do campanario atalhando horisontes.
Aquella casa branca em segundo plano é no leito da rua onde nasci. Claro que nem havia rua e eu só nasci mais tarde. Já a paisagem mudara… Mas a orthographia aqui é seguro ser como a de Eça de Queiroz na 1.ª edição d' Os Maias.
António Silva (ou «Evaristo, tens cá disto?!), Portela de Sacavém (ou Pátio das Cantigas) — © 2019
(Caricatura de António, 2012.)
— Ó Evaristo! Tens cá disto? — Pátio das Cantigas, 1942.
E ainda!
Notastes vós, benévolos leitores, a Maria da Graça dizendo em português açucarado:
— Ó pessoal! Ele ainda fica tiririca quando a gente pregunta «Ó Evaristo, tens cá disto»?
De preguntar, exactamente!
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