José Hermano Saraiva, Torre da Lagariça.
(Lendas e Narrativas, R.T.P. 2, 29/V/1996)
Na introdução (p. 11) temos António Ferro como cimentador do Portugal retardado e atávico do séc. XX. Logo à entrada do primeiro capítulo (p.15) temos que Portugal no fim do séc. XIX é um país muito atrasado. Intriga-me está lógica de que vindo «muito atrasado» do séc. anterior, o biografado cimente o Portugal retardado do séc. seguinte.
Em meras 4 páginas…
A propaganda tem coisas!…
Ainda na introdução (p. 13) «usando e abusando do poder que lhe foi concedido, Ferro sentou à mesa do orçamento intelectuais e artistas, arquitectando com eles a figura de um ditador messiânico num país pobre que dança o vira e o fandango.»
O trecho é um primor de inspiração literária e lapidar no estilo usado ad nauseam pelo morigerado jornalismo hodierno para qualificar a… democracia de Abril. Tire o A. dele «um ditador» e ponha-lhe «uma democracia», mude o vira e o fandango em festivais de cerveja e rockalhada e, a mesa do orçamento aparecer-lhe-á messianicamente muito mais justa! E o país pobre prestar-se-á como nunca ao epítecto de pobre país! — Se o conseguir entender…
Ao menos o vira e o fandango são nossos.
Mais um livro, enfim, sem fio (colagem de verbetes avulsos com capa de cartolina) com fito apenas de desfazer do Estado Novo. O regime tem tanto de odiado como de ganha-pão para todo o antifascistóide que vegeta democraticamente por aí. Não fosse a parasitice interesseira, não pareceria que quarenta e tantos anos depois o sempre ciciado «fassismo» ainda surgisse tão papão, tão papão que metesse medo. Papões, bem se os topa... — Não diziam cantigueiros, dos outros: «eles comem tudo»?!... Da «Joana come a papa» foram eles que ensinaram melhor. Daqui aos papões foi um trago.
O volume, que me ofereceram de muito boa fé, foi arrematado por 1€ na Feira da Ladra. Uma inconfidência de verdadeiro valor. Ou a prova da barateza da intrujice nos tempos que correm!… O A. de mais esta maledicência indispensável sobre o Estado Novo é apresentado ao leitor incauto com dois grandes qualificativos acima de toda a suspeita: «investigador» e «independente». Duas marcas ISO 9000 de qualidade e acreditação de qualquer pregador antifascista, mai-la sua rica propaganda.
Haverá mais suculento cartão de visita?
— Sim! — Diz que de profissão é jornalista.
Mais: entre pares desta estirpe, este A. é quem se mais tem dedicado «à pesquisa dos aspectos mais sombrios do Estado Novo.» Ora «sombrios» anuncia com alva pureza o que vem. Ninguém cairá na ingenuidade de tomar «sombrio» pelo que se quede singelamente na sombra, desconhecido, e portanto seja pertinente revelar; «sombrio» é claramente antes desdizer com baixeza do que se até já conhecia bem melhor contado, mas que se quere agitar por maldizente propaganda como tenebroso. Qualificar com este lugar-comum o Estado Novo é necessário, mormente quanto os mesteirais de Abril afloram mais e mais estridentes ano a ano, mais e mais impantes dia-a-dia no seu mester de rapina. É preciso ir berrando mais alto para o abafar. Daí o afã crescente em denegrir o Estado Novo. Somente que, denegrir o Estado Novo pela maledicência sobre António Ferro (ou outro que fosse) e ganhar a vida com ele, marca o rasteiro que se pode ser. E bate certo: ficamos informados do cariz do A. e do seu propósito. Dispensamos a leitura.
P.S.. O vir aquela virtuosa apresentação do A. jornalista, «investigador independente» chapada na badana de trás do livro é que se não compreende. Como cartão de visita, qualquer badana, sobretudo a traseira, não me cheira que abone. Que descuido!...
José Hermano Saraiva,
(Lendas e Narrativas, R.T.P. 2, 22/V/1996)
«A Perna de Pau», in O Antonio Maria, N.º 28, 11 de Dezembro de 1879.
A entrada do retiro da Perna de Pau, ao Areeiro, Lisboa, c. 1900.
Fototipia animada de original de A. n/ id., in archivo photographico da C.M.L.
« O último reduto, prestes a tombar, mantendo a mesma modesta aparência: a velha porta guarnecida de ferro e as duas janelas igualmente gradeadas, atestando a sua vetustez, dão passagem à luz solar indiferente às evoluções do progresso, animando e confortando aquela veterana casa que primava na apresentação do peixe frito a saltar na frigideira e na salada colhida no momento, rendendo muito merecido conceito ao velho retiro.
A «Perna de Pau», instalada na Quinta de Santo António, pertencia a Fortunato José Ferreira, capitão-de-mar-e-guerra, que a vendeu por quatro contos e quinhentos mil réis, a pagamento.
Foi inaugurada em 1860, tendo sido sua primitiva proprietária Gertrudes Rosa Soares tia de João Gregório da Silva mais conhecido pelo João da Feiteira, simpático ancião, que acompanha ainda de perto os serviços agrícolas da Quinta do Grilo [Quinta da Holandesa?], ao Areeiro, onde reside, das varandas da qual se divisa vasto e esplêndido panorama.
Um tiro perdido colheu a sua tia numa perna, que lhe foi amputada, utilizando, desde então, uma perna de pau que ainda hoje se guarda como troféu e que originou o nome do retiro mantido até ao presente.
Esta celebrada locanda, porventura a mais antiga, a única sobrevivente da fiada de famosos retiros que guarneciam aquela área suburbana, fiel paradigma de eras vividas, hasteia ciosamente, no sopro de vida que ainda lhe resta, o galhardete que a vaga de ruínas lhe trouxe à mão fazendo-a detentora responsável pela continuidade brilhante de um passado glorioso que, a despeito das vicissitudes e vaidades contemporêneas, jamais fenecerá avivando-nos na mente a Estrada de Sacavém.
A velha guarda que a frequentava nesses tempos idos, quando adrega passar-lhe rente espreita-a, com ternura, e presta-lhe, comovida, o culto da saudade.
As cousas falam… — é o título dum precioso trabalho literário do brilhante escritor e meu prezado amigo Doutor João Barreira.*
Que dirão aquelas defeituosas pedras, as carunchosas madeiras e os confusos vestígios ao verem passar, velozmente, as motorizadas viaturas indiferentes ao pretérito, alheias às épocas anteriores, emitido de seus aparelhos motivos wagnerianos e trechos de óperas…
Elas, tocadas de melancolia, nostálgicas dos longínquos e lânguidos sons das guitarras premidas por dedos famosos e em que o fado enternecia e cativava com enlevo, refugiam-se nas sombras da tradição…
Panorâmica s/ a Perna de Pau, ao Areeiro, tomada dos Lagares d' El-Rei, Lisboa, 1947.
Fototipia animada de or. de Eduardo Portugal, in archivo photographico da C.M.L.
De todos os recintos que marginavam esta Estrada de Sacavém, a «Perna de Pau» agrupava elementos ciosamente apaniguados imprimindo-lhe feição típica de pedilecção e radicando-lhe personalidade.
O abrigado espaço destinado às tipóias e outras viaturas por onde se ingressava pelo portão de madeira contíguo ao portal de ferro para entrada dos peões e a que há pouco me referi, espaço cuja área era protegido por velho telheiro; a proximidade do tanque, onde as alfaces, as couves, os rabanetes e variada hortaliça trazida da horta à nossa vista em padiolas, eram diligentemente lavadas e artistìcamente agrupadas por espécies na carroça a que, horas depois, jungiam o boi ou o macho que vinha — entre varais — dar termo na Praça da Figueira ao sobrante vegetalismo que atapetava a terra destinada a hortejo; a tipóia de travão corrido e parelha sob o astuto olhar do cocheiro a nosso lado na extensa mesa comum onde o comedido das vozes sofria a alternativa que o decorrer do repasto provocava; tudo isto imprimia um cunho especial que a herança do tempo impunha e a respeitável tia Narcisa, última locandeira, falecida em 1912, acalentava acolhendo, sorridente, a categorizada freguesia.Especialidades culinárias, em designados dias, desafiavam comensais afeitos a tais saboreios e desse contacto ininterrupto, emergia um comunicativo bem-estar que contagiava massas heterogéneas, garantindo-lhes ideal prazer a que os acordes da guitarra e a maviosidade dum estilo garganteando letra adequada, agradàvelmente ouvida, punha a nota intrínseca indispensável e epilogante.
Nas «Farpas», o notável e erudito prosador Ramalho Ortigão dizia-nos:
A «Perna de Pau», o restaurante célebre bem conhecido de todos os estômagos com tendências bucólicas, de todos os estômagos impelidos pela nostalgia das hortas para fora de portas no tempo do tomate — organiza com os primores da estação a nova lista dos seus acepipes.»
João Monteiro, A Estrada de Sacavém, Lisboa, Grupo «Amigos de Lisboa», 1952, pp. 77-79.
Grupo de «estômagos com tendências bucólicas impelidos pela nostalgia das hortas», Retiro da Perna de Pau, pelo tempo do tomate dos anos de 1900.
Fototipia animada de original de A. n/ id., in archivo photographico da C.M.L.
«Lastimoso período da nossa História, que o homem sensível não pode discorrer sem lágrimas! É reservado às almas ferozes o verem com indiferença aproximar-se o momento de ser derribada às mãos da perfídia uma monarquia de 7 séculos, abatido um trono em que se sentaram tantos príncipes respeitáveis, perseguida e expulsa uma Real Família adorada de seus povos, destruídas as leis, os usos e a própria religião do Estado (p. 185).»
O vol. 1 da edição da Afrontamento inclui os dois primeiros tomos da «História Geral da Invasão dos Franceses &c.» e versa a invasão, remontando os acontecimentos à ascensão de Napoleão, à campanha do Rossilhão e traição da Espanha, à Guerra das Laranjas, à diplomacia afincada do Príncipe regente D. João para apaziguar as tenções de Napoleão, até à preparação e fuga da corte portuguesa para o Brasil. Com mais miudeza dá conta da invasão, ocupação e saque dos franceses em Portugal e revoltas de Espanha, até Maio de 1808. Os dois primeiros tomos foram publicados em 1810, muito à data do que contam; de actualidade jornalística, poderia dizer-se. O estilo é claro e simples, em português genuíno, sintacticamente actual (a semântica há naturalmente de ser lida em contexto, como texto histórico que é) e nada eivado de galicismos nem (coisa muito hodierna) anglicismos. A ortografia é, naturalmente, a de 1945, com revisão cuidada, salvo, que me lembre, do topónimo Pirenéus, grafado Pirinéus.
Li-o há décadas para um trabalhinho escolar e, talvez dele, não tirei o devido gozo da leitura.
O benévolo leitor interessado em História bem contada que leia este volume da edição da Afrontamento pode passar as c. 130 páginas de estudo introdutório; mais não são que prolixidade académica, com «proposta de leitura», tiradas cheias de estilo como «interiorização da exterioridade» e «exteriorização da interioridade» e, uma ainda melhor: de que Acúrsio das Neves é «um doutrinador da sua época historicamente atrasado». Ser «da sua época» e «historicamente atrasado» em simultâneo é um achado só visto em doutrinadores de estudos introdutórios da sua própria época, mas historicamente adiantados, já o leitor vê!…
José Hermano Saraiva,
(Lendas e Narrativas, R.T.P. 2, 15/V/1996)
Sinais. Crónicas radiofónicas com as impressões de Fernando Alves acerca disto e daquilo que veio no jornal ou que foi posto a correr como notícia pelas centrais da homilia mundial.
As crónicas são datadas e continuam até hoje. Mas as impressões do A., jogos de palavras mais ou menos literários de intelectual de esquerda (passe a redundância) glosando temas de nada para moralização geral têm um fundo necessário, gramsciano, que fatalmente deve tomar as mentes. E daí continuarem até hoje. A missionação nos anos 90, como antes, era assim. 20 anos depois é pior. Fernando Alves é um espirituoso mais além das espécies camilianas: é um jornalista. A cada adjectivo ou aposto, uma ironia, ferrando o alvo a abater:
... E o inenarrável «site» da American Patrol. A «Internet» dá abrigo a tamanhas maravilhas, mas é muitas vezes a «Big» Orelha da bufaria da América borrada de medo [...] É aqui que se encontram os delatores [...]
Glenn Spencer, cidadão do mundo livre, criou, a partir de um escritório em Los Angeles, uma página de delação na «Internet». Lá encontramos lancinantes avisos: «Os mexicanos invadem o SO dos Estados Unidos. É a reconquista com apoio do governo mexicano e a tolerância do Estados Unidos.»
A página instala uma espécie de mccarthismo cibernético, não já contra os comunistas, mas contra os outros americanos.
Glenn Spencer [...] tem orgulho em colaborar gratuitamente com a polícia compilando toda a informação disponível sobre a entrada ilegal de mexicanos nos Estados Unidos.
No «site» da American Control o patriota Spencer recebe elogios de agentes da polícia pelo entusiasmo vigilante que contraria «a inutilidade dos esforços do governo norte-amerciano». Mas foi o governo norte-americano que criou o monstro, que instigou a sanha delatora [...].
Piadola final de pretenso antifascista sempre obrigado à clandestinidade pelo neofascismo, agitando a superioridade moral que lhe vai nas entranhas. Cuidado!
Pelo sim, pelo não, desligo o computador, não vá Glenn Spencer localizar-me na rede.
(«Big Orelha», Sinais, p. 56.)
Reler ou ouvir estas crónicas hoje é a prova dos anos que tem já a missa, mesmo que datada.
Vem com um disco compacto com 20 crónicas. É a parte em missa cantada. Quando comprei o livro em 2000 não me apercebia destas coisas.
Fernando Alves, Sinais, 1.ª ed., Oficina do Livro, [Lisboa], 2000.
Publiquei há dias à conta da Quinta da Saúde uma planta de 1909 cuja luz faço agora com o inventário do que ela contém e do que lhe corresponde actualmente.
J.A.V. da Silva Pinto, A. de Sá Correia, Levantamento da Planta de Lisboa: 1904-1911: planta 12 K (des. por F. Santos), Lisboa, 1909.
Planta referente a: Rua do Conselheiro Moraes Soares, Cemitério Oriental (ao Alto de S. João), Quinta do Pinheiro, Rua do Sol a Chellas, Quinta do Sol, Quinta da Curraleira, Quinta Nova, Quinta do Loureiro ou Quinta do Poço, Casal Novo, Quinta dos Sete Castellos, Rua do Barão de Sabrosa, Rua 4 de Agosto, Rua Sabino de Sousa, Azinhaga dos Sete Castellos, Azinhaga do Arieiro, Quinta do Sabido (ou da Ladeira), Quinta da Saúde, Quinta do Manuel dos Passarinhos, Azinhaga dos Baldaques, Quinta da Silveira, Horta da Cera, Quinta da Brazileira, Quinta da Pimenteira, Quinta do Papagaio, Quinta do Saraiva, Estrada do Poço dos Mouros e Quinta do Manuel Padeiro.
Actualmente: Rua do Sol a Chelas, Quinta da Curraleira, Rua António Luís Inácio, Rua Melo Gouveia, Rua Barão de Sabrosa, Rua Quatro de Agosto, Rua Sabino de Sousa, Travessa dos Baldaques, Rua Dr. Oliveira Ramos, Rua Actor Vale, Rua Actor Joaquim de Almeida, Largo Mendonça e Costa, Rua Carvalho Araújo, Rua Lucinda Simões, Rua Ângela Pinto, Rua José Ricardo, Rua Edith Cavell, Rua Actor António Cardoso, Rua Morais Soares, Calçada do Poço dos Mouros, Rua dos Heróis de Quionga, Rua Cavaleiro de Oliveira.
O archivista diz que é da Vá-Vá. Mais certo ser ali a mota do Chico. Mundo de miragens…
Esplanada da Luanda, Av. de Roma, c. 1970.
Artur Pastor, in archivo photographico da C.M.L.
Abertura [Prolongamento] da Rua Actor Vale ligação com a rua Carvalho Araújo, Lisboa, 1944.
Eduardo Portugal, in archivo photographico da C.M.L.
O meu Amigo Mário Cruz pôs o caso de a casa da Quinta do Bacalhau ser o casarão aqui retratado por Eduardo Portugal em 1944, no enfiamento da Rua Actor Vale. Respondi-lhe que, pois, pode parecer, mas não. A casa da Quinta do Bacalhau tinha pilastras, esta não tem. Tinha ela no andar nobre uma ordem de 7 janelas em simetria 1 + 1 + 3 + 1 + 1, a que se vê tem 6 janelas sincopadas no 1.º andar do alçado S, virado ao fotográfo. Aquela era na Estrada de Sacavém, esta que diz o meu velho Amigo era na Az. do Areeiro, c. de meio quilómetro a SE.
A casa rústica da fotografia de Eduardo Portugal era a casa da Quinta da Saúde, que confrontava a N com a quinta da Ladeira ou do Sabido, a S com a Quinta do Manuel dos Passarinhos (actual L. Mendonça e Costa), a O com a dita Az. do Areeiro (actual R. Carvalho Araújo) e a E (grosso modo) com os barrancos da Barão de Sabrosa.
No Levantamento da Planta de Lisboa: 1904-1911, planta 12 K, vê-se esta casa da Quinta da Saúde com seus jardins e suas abegoarias no quadrante sup. esq. Noutra planta, talvez dos anos 1920 ou 30, a casa em forma de L da fotografia de Eduardo Portugal vê-se desenhada no limite à esq.
J.A.V. da Silva Pinto, A. de Sá Correia, Levantamento da Planta de Lisboa: 1904-1911: planta 12 K (des. por F. Santos), Lisboa, 1909.
Projecto do prolongamento da rua Actor Vale através da Quinta da Ladeira, 1929-41, f. 61.
Arquivo Municipal de Lisboa, Núcleo Histórico, PT/AMLSB/CMLSBAH/PURB/002/03835.
(Revisto às 20 para as 10 da noite.)
O melhor será andar com uma fita métrica no bolso. E com um spray dos árbitros para marcar a área. E se tiver de ir ao mar e passar na área de outro cidadão? Pago portagem?(Comentário de B.B. à… revelação do André Pan, in Observidor [exactissimamente], 15 de Maio do ano da peçonha.)
Ou o Observador como último suspiro da imprensa em Portugal (no que resta dele).
Ana Suspiro, «Layoff [sic]. 5 a 7 mil pedidos há espera [sic] &c», in Observador, 8/V/20.
Panorâmica da Penha de França para Norte, Lisboa, c. 1909.
Fototipia animada dum or. de José Arthur Leitão Barcia, in archivo photographico da C.M.L.
Quando publiquei a da Quinta do Bacalhau conjecturou-a a benévola leitora Mandarinia para os lados das Olaias. Estava em boa medida, certa; a quinta do Bacalhau, cuja história antiga não curei ainda de saber, estendia-se para a proximidade da Quinta das Olaias. Aliás, se gente ainda há com memória da Quinta do Bacalhau, será por esses lados além do Alto do Pina, pelas costas da Rua Barão de Sabrosa e da Az. da Fonte do Louro. Nas bandas da Encosta das Olaias, portanto. Mas a Quinta do Bacalhau descia até à beira da Estrada de Sacavém, caminho de hortas e retiros que, saindo do Largo de Arroios levava ao Arieiro e prosseguia até ao seu anunciado destino pela Portela e Encarnação (ponto geográfico no nó de estradas designado depois por Rotunda da Encarnação e hoje mais por nó do Prior Velho, também dito do RALIS).
Não sei se da parca legenda inscrita na panorâmica se conseguirá quadrar com o presente o que se via aí há mais de 100 anos. Nem sei se ajudarão essoutras duas a seguir, dos anos 30, em que se acha casa. A primeira é uma vista aérea de sobre o Colégio Vasco da Gama, hoje do Sagrado Coração de Maria; a segunda é tirada das terraplenagens da Alameda D. Afonso Henriques, apontando à Rua Actor Isidoro, em embrião. Desafio o benévolo leitor a descobrir nelas a casa da Quinta do Bacalhau e a mudança que se deu nesta parte da cidade.
Vista aérea sobre a R. Pereira Carrilho, Az. das Freiras a Arroios, Inst. Sup. Técnico, R. Alves Torgo, futura Alameda e quintas do Areeiro, Lisboa, c. 1934.
José Pedro Pinheiro Corrêa, Pil.-Av., in archivo photographico da C.M.L.
Terreplenagens na Alameda, Lisboa, 1939.
Eduardo Portugal, in archivo photographico da C.M.L.
Últimas notas:
Tomo a casa do 256 da Estrada de Sacavém como a principal da Quinta do Bacalhau. Bem o parece, mas não sei se foi inteiramente assim, pois havia outra casa grande no coração desta quinta. Vê-se-a pela metade na margem direita da panorâmica, a 2/3 da altura. Ela sobressai numa elevação natural, no justo lugar onde em 1921 se construiu a Creche do Alto do Pina, hoje Casa dos Plátanos.
Uma descrição mais completa da panorâmica lá em cima escrevi eu há pedaço tempo aqui.
A máscara do acolhimento aos refugiados. Primeiro chamaram-lhes hóspedes. Mais precisamente os hóspedes de um hostel [i.é, pensão] lisboeta estariam infectados com Covid-19. Depois os hóspedes passaram a refugiados. Donde? De que conflito? As notícias não diziam. Em seguida os hóspedes-refugiados passaram a «requerentes de protecção». Mas logo de imediato os requerentes de protecção se transfiguraram em requerentes de asilo ou apenas em requerentes. Pelo meio havia também a possibilidade de serem designados como «pessoas retiradas» do hostel o que os colocava mais ou menos no patamar dos turistas. Entretanto aconteceu que alguns dos hóspedes, refugiados, requerentes de protecção que também podiam ser apenas apresentados como requerentes ou requerentes de asilo desapareceram. Aí a terminologia ganhou novos termos: de repente tínhamos «19 migrantes de hostel de Lisboa». Ou noutras versões os «imigrantes do hostel».Não tivemos muito tempo para assimilar estas novas designações porque a dado momento fomos esclarecidos que os «estrangeiros do hostel em Lisboa já estão em quarentena na Ota».
Estávamos portanto com os migrantes, imigrantes, «pessoas retiradas», estrangeiros, hóspedes, refugiados, requerentes de protecção ou de asilo devidamente instalados na base da Ota quando fomos informados que alguns tinham ido para a mesquita de Lisboa e outros, a fazer fé nos jornais, estavam em fuga: «Dezanove refugiados de hostel em Lisboa com casos de coronavírus estão em fuga». Mas em fuga de quê ou de quem? Então os refugiados não tinham sido acolhidos exactamente porque vinham a fugir? E que sentido faz que fujam requerentes de protecção ou de asilo?…
M.ª Helena Matos, «As máscaras começaram a cair», in O’servador, 3/V/20.
A imprensa faz que informa. Mascara. A xô dona Helena faz que levanta o véu, não desmascara.
Quem fomenta, pois?! Quem patrocina? Quem paga? Quem recebe? — Quem são os mascarilhas? — Que espécie de tráfico é este que, vemos, anda aí?
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